O Roque e a amiga
Estão ambos ali ao cimo
da avenida, há um ror de tempo, a quezilar. Nos dias de calor sonham com o
lençol do rio, que passa lá ao fundo. Sempre traz uma frescura e lembra-lhes o
mar, e o mundo para além dele. Fora disso contentam-se com a baixa pombalina,
que lhes dormita aos pés.
Um tem formação romântica
e um espírito clássico. Recolhido nas abas do capote, hierático e definitivo,
parece um rei de pedra, dos antigos. Bem pode o mundo quebrá-lo mas não o
torcerá, porque a razão não deixa.
O outro tem formação
clássica e um espírito romântico, e uma alma que não se lhe confina às arcadas
do peito. Traça no ombro a capa esvoaçante e avança para o mundo de cabeça
erguida, de barbicha à dandy,
gaforina ao vento. O génio todo está no sentimento.
Sempre que ali passo
bato-lhes à aldraba e empurro a cancela. Para saber quando resolvem a contenda.