sábado, 22 de fevereiro de 2014

O último maçaricão-esquimó 17

(Cont.)
           O maçaricão voou alguns segundos na horizontal, e logo o andamento baixou. Teve que descer, para ganhar velocidade e outra vez altitude. Podia agora ver claramente o mar, onde as cristas brancas das ondas se erguiam da água escura. Às vezes uma vaga erguia-se tão alto, que só por um ou dois metros não atingia as aves em luta.
            Uma onda gigante elevou-se diante deles. O maçaricão venceu com esforço a inércia das asas e sobrevoou-a a custo. Mergulhou em seguida no leito da onda, esforçando-se por continuar em frente. A próxima crista era mais baixa, e ele ultrapassou-a com segurança. Mas atrás dele a grande vaga atacava, raivosa, as tarambolas. Três aves mais fracas lutaram em vão por ganhar altitude, e ficaram sem forças, penduradas no ar. Nenhum grito se ouviu. A vaga cresceu e engoliu as aves. Passou, e elas tinham desaparecido. A natureza, tão selectiva em todas as coisas, é ainda mais exigente quando se trata da morte. Os mais fracos não pedem compaixão, nem lhes é concedida misericórdia.
            O bando esforçou-se por continuar, voou rente à água, lutou encarniçadamente para ultrapassar as cristas das ondas. Gozou, para respirar, as pequenas pausas de segundos, no ar sossegado dos seus leitos. Então, de um longo talvegue cresceu uma muralha fervilhante, mais alta que todas as vagas anteriores. A espuma fustigou as asas do maçaricão. Durante segundos teve que lutar com os violentos turbilhões da corrente para se manter no ar. Mas a espuma varreu uma parte da neve que se lhe colara às asas. Por um minuto estas puderam mover-se no ar com toda a força. Depois a neve sobrecarregou-as de novo. Apenas a certeza de que a frente fria seria em breve ultrapassada fez o maçaricão aguentar.
            Muito lentamente o ar foi-se tornando mais quente, tão lentamente que mal se podia sentir a mudança. Então a neve transformou-se repentinamente em chuva. Estava ali a parede branca de neve diante deles, e após uma nova crista estalaram-lhes gotas de chuva nas penas. Alguns segundos depois já tinha derretido a neve das asas. O maçaricão conduziu o resto do bando subindo em frente. A dor e o cansaço depressa desapareceram, as aves podiam voar outra vez normalmente e os músculos repousaram. A neve desapareceu na escuridão. Uns minutos depois romperam a frente fria e atingiram uma zona húmida e tranquila.

                                              
O CORREDOR DA MORTE

            ... E por vezes, nas tempestades do Nordeste, bandos de maçaricões espantosamente numerosos eram empurrados pelo vento para as costas da Nova Inglaterra, onde pousavam completamente extenuados. A sua caça era então um exercício fácil, podendo simplesmente abater-se à cacetada. A Nantucket chegavam em bandos tão grandes que as reservas de munições da ilha não eram suficientes. E a carnificina parava, até chegarem munições da terra firme.
            Os atiradores chamavam-lhes “aves-massa”, pois no Outono os maçaricões eram tão gordos que o peito lhes rebentava quando caíam no chão, e a camada de gordura era macia como massa de pão. Não admira que fossem tão perseguidos, pois deviam ser um bom petisco à mesa.
            Eram mansos e confiantes, e voavam em bandos tão densos que podiam facilmente ser abatidos em grande número... Dois caçadores que forneciam o mercado em Massachussetts ganharam 300 dólares com os seus tiros a um único bando... Crianças vendiam as aves a 6 cêntimos por cabeça... Em 1882, em Nantucket, dois caçadores abateram numa manhã 87 maçaricões... Em 1894, no mercado de Boston, já só apareceu um único à venda.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O último maçaricão-esquimó 16

(Cont.)
         O maçaricão mudou de direcção e as tarambolas seguiram-no, embora só as que vinham logo atrás dele pudessem ver que ele rodava para Leste. Acumulada entre as rémiges, a neve colava-se-lhes nas asas. E estas, que ainda há poucos minutos reagiam prontamente às flexões e distensões dos músculos do peito, eram agora pesadas e rígidas. Rodavam no ar como remos, desperdiçavam energia, empurravam o ar para baixo em vez de o aspirarem, de modo a provocar a corrente indispensável ao voo. A sua velocidade diminuiu até ficarem quase imóveis, um bando desordenado e confuso, a cerca de mil e quinhentos metros sobre o mar. Então o maçaricão dirigiu-se mais para Leste. Começou lentamente a descer e, através da gravidade, ganhou a velocidade que as rémiges encharcadas não podiam atingir. O andamento era agora normal, mas tinham que perder altitude para o manter. Do deserto cinzento, lá em baixo, o mar crescia para eles.
            O maçaricão foi descendo lenta e progressivamente, adaptou o ângulo de ataque das asas à pressão da corrente de ar, de modo a poderem manter a velocidade com um mínimo de perda de altitude. Às vezes abrandavam os turbilhões de neve e por momentos era possível manter a horizontal. Mas logo voltava a neve, de novo mais densa, as asas ficavam pesadas, e o maçaricão tinha que voltar a descer.
            As costas da Nova Escócia e da Nova Inglaterra estavam já a várias horas de distância, atrás do nevão impenetrável. À sua frente, quem sabe se apenas a alguns minutos, estava a atmosfera mais quente e mais tranquila, para lá da tempestade. Porém, mesmo depois de ultrapassarem a frente fria, tinham que continuar a voar na direcção do mar sem fim, para evitar as nuvens geladas que agora os empurravam impiedosamente, cada vez mais perto da crista das ondas. O maçaricão sabia disso, não por reflexão mas por comportamento instintivo. Por uma vaga inspiração que lhe dizia também estar algures uma fêmea à sua espera, quando os musgos e os líquenes da tundra ficassem verdes de novo, e o tempo do acasalamento voltasse.
            O maçaricão possuía músculos peitorais e tendões bem mais fortes do que as pequenas tarambolas. Mas agora doíam. Mesmo a ele, custava-lhe um extraordinário dispêndio de energia vencer a dificuldade trazida pela neve incrustada nas asas. Uma vez que perdiam altitude, atingiram de novo as camadas de ar inferiores, instáveis e agitadas. A formação rompeu-se, mas as aves continuaram juntas, fazendo-se ouvir por altos gritos. Cada ave estava sozinha num mundo de vento e neve, e só este gorjeio fremente as ligava umas às outras.
            Durante longo tempo voaram no ar frio, sem poderem observar a rota. O maçaricão procurou manter a altitude, até os músculos do peito e as fibras todas do corpo lhe vibrarem de dor e de cansaço. Ao gorjeio das tarambolas juntou-se em breve um assobio agudo, cada vez mais forte. Era o ruído da neve estalando na água.
            Então o maçaricão conseguiu ver através da cortina branca. Vagas de crista prateada apareciam à sua frente, cresciam espumando e desapareciam lá atrás. O nevão abrandou e as tarambolas podiam ver-se de novo. Voavam ao acaso, atrás do maçaricão, e as mais fracas iam ficando para trás. Estavam mais próximas da água, pois tinham que sacrificar ainda mais altitude para poderem acompanhar as mais fortes. A neve colava-se-lhes às pontas das asas. E, mal se derretia com o calor do corpo, logo outra se acumulava.
(Cont.)

Gado de abate

O barão António Vitorino é um conhecido empadão, feito a seu tempo com a melhor nata do PS.
O que o não impediu de vir há dias trocar sorridentes galhardetes públicos com Vítor Gaspar, a propósito da apresentação dum texto que desvenda a real natureza do entrevistado, o qual, além de ministro das finanças, também foi cognominado de psicopata social.
Deste modo, as supinas elites mais não fazem que lamber-se mútua e impudicamente o pêlo, enquanto tornam a pátria num lupanar e instauram no país os valores do bar de alterne.
Quando os magarefes e os facínoras assim se misturam e confundem, aos portugueses apenas reservam este papel de gado de abate. Uns tantos vão sobreviver.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

"Quiseram construir um país melhor para os filhos e para os netos. Mas enganaram-se ao pensarem que podíamos mudar."

«Não queremos mudar. Queremos esta miséria, admitimo-la, deixamos passar.»

No tempo em que os animais falavam

Os filhos da puta ainda não tinham roda livre. Agora a música é outra.

Tua

Quando então contemplarmos a albufeira
lembraremos um estranhamente belo
rio tumultuoso que mordia as próprias margens
como um cão insubmisso que morde o próprio dono

e que morreu, vitimado
pelos seus próprios ímpetos
que escondiam turbinas.

[A. M. Pires Cabral, Gaveta do Fundo, Tinta da China]

O último maçaricão-esquimó 15

5

            O maçaricão manteve exactamente o rumo sul. Quando os montes escarpados do Lavrador desapareceram da vista, deixou de poder orientar-se por qualquer marca no terreno. Apesar disso dirigia o bando com uma segurança infalível. Algures, no jogo de forças cósmicas entre a rotação e o magnetismo terrestres, havia uma linha de orientação, uma direcção em relação à qual o seu cérebro estava perfeitamente alinhado. Mantinha o rumo sem esforço. Um instinto velho de séculos completava inconscientemente esta obra-prima, que pedia meças às maiores realizações da consciência no reino animal.
            A noite ia a meio. Oitocentos metros abaixo do bando estendia-se a costa alcantilada da Nova Escócia e o cabo Breton, orlado de branco pela rebentação. O maçaricão já algumas vezes tinha parado aqui, mas desta vez o ano já ia alto, era já tarde, uma escala estava fora de questão. O bando necessitara de cinco horas para atravessar o golfo de São Lourenço. E agora voava sobre a ponta do cabo Breton, na direcção do Atlântico, que se abria perante ele como uma goela escancarada.
            O maçaricão mudou entretanto para uma posição mais cómoda, no meio das outras aves, e aí se manteve uma hora, cedendo o comando a uma tarambola. Então, vinda do continente canadiano, aproximou-se uma frente fria. Surgiram turbulências e ele colocou-se de novo à cabeça. O ar frio, mais pesado, empurrava para cima as camadas de ar inferiores, mais quentes. E uma vez que, a grande altitude, a temperatura era mais baixa, a humidade do ar quente condensava-se e provocava precipitação. Primeiro aguaceiros e depois neve, à medida que as temperaturas baixavam.
            Os turbilhões do ar davam que fazer ao bando. A princípio nevava apenas lentamente, mas depois os flocos tornaram-se maiores, amontoavam-se uns nos outros sobre as asas das aves, e dificultavam o voo. Instintivamente o maçaricão ganhou altitude e todos o seguiram. Nas camadas superiores o ar era mais calmo, mas as nuvens de neve tornaram-se mais densas. As aves puderam de novo fazer a sua formação, mas tinham que confiar sobretudo na intuição, na percepção dos turbilhões fornecida pelas pontas das asas. A tempestade de neve era agora tão violenta que cada uma delas mal podia ver o companheiro que a precedia. Mas mantinham a altitude que tinham atingido.

            Não era possível avaliar a velocidade de passagem da frente, para Leste. Apesar disso, em parte por lembrança de anteriores migrações, e sobretudo por intuição instintiva, o maçaricão sabia que à velocidade de 80 quilómetros por hora iriam encontrar de novo a frente fria. Mas então voariam à frente do temporal, uma vez que este se deslocava mais lentamente do que eles. Assim, teriam que alterar o rumo e voar com o temporal, para Leste, em direcção ao mar aberto.
(Cont.)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Farroncas de novato

Ali à Ponte do Ladrão, ainda debaixo da saia da mãe-serra, rosna como fera à solta. Mas já o vi nos areais de Penacova, de orelha murcha e rabo entre as pernas, um sendeiro a meter dó.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

138 mil

É verdade, embora não pareça! 138 mil portugueses tristes levantaram o dedito, para afirmar que Sócrates deve ser impedido de falar meia hora na RTP1, aos domingos à noite.
É de se compreender. Quem há muito vive intoxicado pelos desfiles das meninas, que dia após noite são convidadas a descer à sala, a exibir espartilhos de modista e perfumes de espanhola, acaba por confundir realidades da vida e ficções de passerelle. A passerelle é das putas, evidentemente. Mas uns e outras merecem o que têm e os espera.

O último maçaricão-esquimó 14

(Cont.)
           As aves levantaram voo, ganharam altura e cerraram a formação, com o maçaricão à cabeça. Tudo aconteceu com a precisão habitual, dir-se-ia quase automática. Ele e muitas tarambolas já tinham alguma vez superado este sobrevoo outonal do oceano, mas guardavam disso apenas uma vaga lembrança. A maior parte ficou confusa quando, de manhã, só mar deserto e vazio se estendia por baixo deles. Mas continuariam a voar sempre em frente, passaria mais uma noite e uma manhã, e debaixo deles estender-se-ia ainda o mesmo mar. As aves sabiam que ele era um elemento hostil, só em terra e no ar se sentiam à vontade. Mas quando não havia agitação no mar e excepcionalmente a água estava calma, poisavam algum tempo na superfície líquida e permitiam-se uns momentos de descanso. Porém, nadavam muito desajeitadamente. As suas penas não eram suficientemente gordurosas e encharcavam-se rapidamente. No alto mar raramente havia condições que permitissem poisar, mesmo momentaneamente. Por norma tinham que realizar o longo voo sem qualquer pausa, sem alimento e sem descanso.
            A luz calorosa do Norte brilhava ainda atrás deles, no céu do Lavrador. Mas apenas voltariam a ver terra quando poisassem na margem de um rio, na selva húmida da Guiana ou da Venezuela, com as penas desgrenhadas e os músculos entorpecidos de cansaço. No entanto, ao levantar voo, fizeram-no sem hesitação nem medo. Não reconheciam o dramatismo do momento, sentindo apenas um vago alívio por terem finalmente iniciado a viagem. Era uma bênção que os seus pequenos cérebros não pudessem abarcar a nua realidade. Criaturas minúsculas como eram, simples matéria aprisionada pela terra, desafiavam, mesmo assim, o mar e o céu imensos.

                                               O  CORREDOR  DA  MORTE

            Para incrementar e divulgar o conhecimento humano. Instituto Smithsoniano, Washington. Relatório anual da comissão de vigilância, sobre o ano que finda em 30 de Junho de 1915...
            Durante os meses de Agosto e Setembro, muitos anos ainda após meados do séc. XIX, chegavam à Terra Nova e às ilhas da Madalena, no golfo de São Lourenço, milhões de maçaricões-esquimós, que obscureciam o céu... Grupos de 25 e 30 homens abatiam num único dia duas mil aves, que iam para a feitoria da Companhia da baía do Hudson, em Cartwright, no Lavrador.
            Os pescadores costumavam salgar estas aves em barricas. À noite, quando dormiam nas escarpas da costa em grande número, homens equipados de lanternas para as encandear podiam aproximar-se delas e abatê-las em massa, à cacetada.

Pingacho

Né Ladeiras mirandesa. Agora o original de Paradela.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O último maçaricão-esquimó 13

(Cont.)
         A sua impaciência foi crescendo e ele achava-se dividido entre o desejo de partir e o de esperar um pouco mais. Esta intranquilidade serenou um pouco quando começou a voar com o seu bando, junto à costa. Eram longos troços, com ele no comando. Então algumas aves abandonavam a formação e juntavam-se, às duas e três, a outras tarambolas que partiam para o Sul. Quando chegou Setembro e as noites se tornaram de repente mais frias, o bando já tinha apenas metade do tamanho inicial. Dos bancos de nuvens que deslizavam do mar caíam de vez em quando grandes flocos de neve. As últimas tarambolas já tinham partido. Restava apenas o seu bando, para além das gaivotas e dos eider-reais.
         Os arandos ficaram inteiriçados sob o gelo e já não deitavam sumo, tornando escasso o alimento. E a gordura que todos tinham armazenado como reserva de energia para a travessia do oceano começava já, demasiado cedo, a ser utilizada.
         Finalmente o maçaricão não pôde mais refrear o impulso migratório. E, após um dia tempestuoso em que as temperaturas pouco tinham subido além do ponto de congelação, caía a noite fria quando ele bateu as asas e se elevou no céu sombrio. O tecto de nuvens estava baixo e o bando organizou rapidamente a formação, dirigindo-se para o mar, com forte vento de frente. A esta altitude o vento fustigava-o já como uma tempestade, o que lhe reduzia a velocidade para metade. Frequentes rajadas tempestuosas desorganizavam a formação, e um par de tarambolas mais fracas ficaram para trás. Antes de perder de vista a acidentada costa do Lavrador, o maçaricão soube que não poderiam prosseguir o voo nestas condições. Por isso voltou para trás e poisou o bando numa encosta abrigada do vento. O temporal bramia por cima deles.
          Tinham falhado a partida. Mas agora tanto as tarambolas como o maçaricão estavam impacientes por iniciar a longa viagem. Tentaram-no em vão mais que uma vez. Inquieto, ele esperava condições mais propícias, mas estava a fazer-se tarde e os dias bons eram raros. As névoas aclaravam, porém o vendaval rugiu três dias e três noites, para os lados do Sul. Com interrupções, as aves continuaram a devorar caracóis e arandos já murchos. E ao quarto dia o vento mudou. Mais fraco e mais frio, soprava agora do Norte. Este vento de cauda era tão desfavorável como o vento de frente, pois dificultava o equilíbrio do voo e afectava os delicados controlos reflexos das rémiges. Durante três dias o vento norte assobiou. Até que lentamente acalmou, e no terceiro dia à noite virou de Oeste, agora apenas uma ligeira brisa. O maçaricão tinha aguardado este vento de lado. E a noite caiu, clara e fria.
(Cont.)

Lavar o cu a meninos

Com pó de talco. E cremezinho para as assaduras.

Um bom remédio

É rir.

É por demais penoso aturar as caras patibulares deste bando de escroques

Mas esquecer-lhes as façanhas é pior.

O último maçaricão-esquimó 12

4

            Monotonamente sucederam-se noites de voo sem fim e dias inteiros a comer, nas águas paradas de pântanos. Atrás dos viajantes, a luz esverdeada do Norte era cada vez mais fraca, e os seus peitorais ficavam cada vez mais fortes. Incansavelmente voavam todas as noites até à alvorada. Nos pântanos salgados da baía de James havia alimento abundante. E ficaram aqui muitos dias, empanturrando-se com os minúsculos bichos do lodo, até finalmente o Sul os chamar de novo. O maçaricão conduziu-os directamente para Leste. Dirigiram-se para o Lavrador, sobre as alturas do Quebec, na direcção dos recifes de gneisse do golfo de São Lourenço.
            A madrugada seguinte apareceu fria e nebulosa, e no ar havia um penetrante cheiro a sal. As aves notaram-no e o maçaricão guiou-as em frente, até que surgiu a aurora de um dia cinzento e sem sol. O ar aqueceu um pouco, os bancos de nevoeiro dissiparam-se, e atrás dos farrapos de nuvens viam-se, aqui e ali, manchas acastanhadas. Era o planalto costeiro, rochoso e escalvado. O cheiro a sal tornou-se mais forte e o maçaricão sabia que se aproximavam do mar. A névoa tornou-se de novo mais espessa. Mas ele manteve o rumo, embora à sua volta tudo fosse impenetravelmente branco. De repente chegaram-lhe aos ouvidos o estrondo da rebentação e os gritos das gaivotas. O maçaricão começou a descer em voo planado. Com glissagens ocasionais, controlou a velocidade de descida. As tarambolas rompiam a formação mas seguiam-no. Nivelaram o voo alguns metros acima da água, tomaram a direcção das ondas e voaram sobre as cristas, até que as escarpas surgiram da neblina. Na sua frente erguia-se uma imensa parede rochosa. O maçaricão voara às cegas durante várias horas, mas falhara a costa apenas por um quilómetro.
            As aves ganharam altitude, deslizaram sobre as falésias e poisaram. Lá estavam por todo o lado os ramos dos arandos, não muito diferentes das urzes. Em certos locais, os frutos purpúreos e carnudos eram tão grandes que ocultavam a folhagem, e as aves começaram imediatamente a comer. Um vento frio chegava do mar e alguns chuviscos caíram sobre elas. Após uma hora pararam de comer e encostaram-se umas às outras. Voltaram as cabeças contra o vento, para que a chuva deslizasse sobre as penas e escorresse pela cauda.
            Agora tinham apenas que comer durante duas semanas e acumular gordura para o longo voo do Atlântico, até à América do Sul. Agosto ia a meio e o Verão no Lavrador quase tinha passado. As noites geladas alternavam com dias carregados de nevoeiro. Elas comiam as bagas dos arandos, comiam e comiam, até as pernas e os bicos e as penas e os excrementos ficarem manchados de sumo púrpura. Quando por vezes a névoa se dissipava e aparecia o sol, o que era raro, voavam até à praia, na maré baixa, e procuravam caracóis e camarões.
            Todos os dias deparavam com pelo menos um bando de tarambolas-douradas. O maçaricão deixava então de procurar alimento, e passava uma vista de olhos pelo bando, à procura dum companheiro da espécie. Mas não aparecia nenhum, e do género das narcejas apenas as tarambolas-douradas faziam caminho por aqui. Havia, porém, muitas outras aves, sobretudo gaivotas, que gritavam roucas na neblina. Em frente da costa passavam eider-reais, em infindáveis bandos pretos e brancos. As tordas-mergulheiras e os araus, com as suas asas curtas e o voo pesadão, grasnavam e brigavam ainda nos picos da falésia, onde tinham criado as ninhadas.

            Nesta inactividade, o maçaricão e as tarambolas acumularam gordura muito rapidamente. Os seus peitos ficaram outra vez redondos e macios, da gordura armazenada sobre os poderosos músculos. Agosto ia no fim, e de novo a antiga inquietação se apoderou deles. Quando o tempo aclarava e o vento era favorável, milhares de tarambolas levantavam voo e dirigiam-se para Sul, sobre o golfo de São Lourenço, na direcção do imenso Atlântico. Mas o maçaricão esperava ainda, qualquer coisa o refreava. O seu pequeno cérebro podia senti-la, embora não a soubesse definir. Vagamente considerava apenas que os maçaricões-esquimós tinham que seguir este caminho, no regresso da tundra.
(Cont.)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O último maçaricão-esquimó 11

(Cont.)
         Pela manhã, a tundra lá em baixo não era já tão cinzenta e monótona. Manchas escuras e sinuosas atravessavam o terreno. Desde o cair da noite, as aves tinham deixado para trás seiscentos quilómetros, e agora aproximavam-se da fronteira dos bosques subárcticos de abetos. Os prolongamentos escuros que penetravam na tundra eram vales de rios florestados. Estes vales protegiam os pequenos abetos das tempestades de neve, e permitiam-lhes sobreviver. Aos primeiros alvores da manhã, as aves desceram na zona pantanosa de um lago. Repousaram por uns momentos e começaram a comer logo que a manhã clareou.
            Com as suas pernas altas e o bico encurvado, o maçaricão sobressaía claramente no meio das tarambolas, que tinham penas mais escuras e bicos mais curtos. Sendo concorrentes e inimigas na reserva, as duas espécies migravam em conjunto há inúmeras gerações, e aqui misturavam-se como iguais. Chegavam outras narcejas - pernas-amarelas, borrelhos, pilritos-das-praias  -  que andavam por ali e se retiravam. O maçaricão observava-os cuidadosamente, pois algures na tundra imensa deveria haver companheiros seus.
            Comiam durante todo o dia, e só ocasionalmente faziam uma pausa para descanso. Quando chegava a escuridão, voavam de novo. Durante a subida era frouxa a coesão dentro do bando. Mas, logo que ganhavam altura, faziam rapidamente a sua formação em cunha, graças à qual a raiz da asa de cada ave era sustentada pelo turbilhão da asa precedente. O maçaricão assumiu o comando e as tarambolas cerraram formação atrás dele, com elegância e leveza, como se tivessem treinado longamente a manobra. Elas não tinham escolhido conscientemente um chefe. Este tinha que se esforçar particularmente para vencer a resistência do ar, e para obter impulso ascencional e velocidade. Uma vez que o maçaricão era o voador mais forte, o resto do bando colocou-se atrás dele. E as tarambolas organizaram a sua formação tão espontânea e automaticamente como respiravam.
            Depois de voarem algum tempo, as linhas escuras abaixo deles entrelaçaram-se num verdadeiro tapete. Encontravam-se agora sobre os bosques de abetos, e a tundra tinha ficado para trás. Outras narcejas voavam directamente para sul, na direcção dos planaltos, mas o maçaricão conduziu o bando para Sueste, em busca dos arandos do Lavrador. Ocasionalmente entregou a chefia a uma tarambola, e tomou posição no meio da formação. Mas, após um curto repouso, retomou o lugar inicial.


O CORREDOR DA MORTE

                        SESSÕES  DA  ACADEMIA  DAS  CIÊNCIAS  NATURAIS
                        DE FILADÉLFIA  -  1861

            13 de Agosto. Presidência do Dr. Leidy, com a presença de nove membros. Foram apresentados os seguintes artigos para divulgação: Robert Kennicott, “Sobre três novas formas de cobra cascavel”; Elliott Coues, “Notas sobre a ornitologia do Lavrador”...
            Um extraordinário número de maçaricões-esquimós chegou à costa do Lavrador, vindo dos locais de nidificação situados a Norte. Estas aves voam muito rapidamente, em bandos enormes, contando muitas vezes vários milhares de exemplares... Eu próprio pude observar uma espantosa ilustração da persistência com que se agarram a determinados locais de alimentação, mesmo quando severamente molestados. A maré alta ia alagando uma zona pantanosa com cerca de um acre de extensão, onde abundavam os caracóis que eles tanto apreciam. Embora ali estivessem cinco ou seis caçadores, que de todos os lados disparavam incessantemente contra as pobres aves, elas continuavam a circular sobre nós, confundidas e excitadas, apesar de muitas delas irem sendo atingidas e caírem ao solo. Pareciam muito preocupadas com a possibilidade de os caracóis, seu petisco habitual, lhes poderem escapar...

            Por determinação da comissão editorial e bibliotecária, são divulgadas as seguintes sessões da Sociedade de História Natural de Boston, de 1906/1907...
            Comunicação n° 7 - Dr. Méd. Charles W. Townsend e Glover M. Allen, “As aves do Lavrador”... Numenius borealis (Forster), maçaricão-esquimó. Um hóspede de Outono no Lavrador, antigamente muito abundante, hoje muito raro.

                                   Vem Agosto e tu estás à beira-mar
                                   Mil belos maçaricões chegam todos os dias.

            Packard escreve deste modo: “A 10 de Agosto de 1860 apareceram os maçaricões em bandos. Vimos um que tinha bem um quilómetro e meio de comprimento e quase outro tanto de largura. O barulho que faziam parecia às vezes o vento que zune no cordame dum navio de mil toneladas...”.
            Porém, aquando da nossa visita à costa do Lavrador, no verão de 1906, já não vimos um único maçaricão-esquimó. Falámos com muitos habitantes daqui e todos concordaram em que ele ficou de repente reduzido, sendo outrora muito disseminado. Agora, no Outono, avistam-se apenas dois ou três, ou mesmo nenhum. O capitão Parsons, do barco postal Virginia Lake, disse-nos que ainda havia muitos, aqui há 30 anos. Nesse tempo, antes do pequeno-almoço, abatia ele uma centena, chegando mesmo a atingir vinte com um único tiro. Os pescadores dizimavam-nos aos milhares... Tinham as espingardas preparadas nos pontões e atiravam aos bandos que chegavam aqui, matando 20 ou 25 aves por cada tiro. Resumindo, podemos dizer que os habitantes do Lavrador sempre perseguiram o maçaricão-esquimó, mas só entre 1888 e 1890 verificaram que os efectivos se tinham reduzido. A partir de 1892, só um pequeno número destas aves, antigamente tão abundantes, visitou a costa do Lavrador... Parece que esta espécie está em vias de extinção.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

La Molinera

Né Ladeiras mirandesa.

O último maçaricão-esquimó 10

          (Cont.)
          As incansáveis asas bateram-lhe mais depressa. O ar comprimiu-se fortemente contra o seu corpo aerodinâmico. O turbilhão do bando invisível foi-se tornando maior, e era de facto mais forte do que todos os outros que encontrara nessa noite. A sua impaciência cresceu. Uma leve esperança, meio reacção instintiva e meio vago pensamento consciente, agitou-se-lhe no cérebro. Estava iminente o fim desta interminável procura de companheiros da espécie? O maçaricão aumentou a velocidade, até lhe doerem os poderosos tendões do peito, um dos tecidos mais fortes em todo o reino animal.
            Aproximou-se do bando. Na escuridão, só agora iam tomando forma as aves que o precediam, primeiro vaga, depois mais claramente. Durante um bom minuto o maçaricão apenas pôde reconhecer a linha desvanecida da sua formação, mas agora via claramente cada uma das aves. Só voadores fortes e rápidos, como os gansos, os maçaricões e as tarambolas-douradas voavam assim, nesta formação em coluna, em diagonal ou em cunha. Através dela, cada ave tirava partido do turbilhão da ponta da asa da ave precedente, sem que fosse perturbada pela esteira de turbulência que ela deixava atrás. E o maçaricão sabia que os gansos ainda não voavam para Sul. Ficou ainda mais impaciente, voou ainda mais depressa.
            A distância diminuiu rapidamente, e as aves que o precediam tomaram forma nítida. Eram pequenas, muito mais pequenas do que ele. Mas agora já não sentia a rejeição instintiva que o levara a não dar qualquer atenção aos maçaricões-norte-americanos ou às narcejas. Continuava a sentir o mesmo impulso de se juntar a um bando. Soltou um grito de chamamento discreto, responderam-lhe tarambolas-douradas.
            Tratava-se de um grupo de quarenta ou cinquenta aves, e o maçaricão alinhou na parte de trás da cunha. Reduziu a velocidade e anunciou a sua presença com uma série de gorjeios rápidos. Todo o bando respondeu em uníssono com trinados fortes. O ímpeto do maçaricão ficou silenciado. No mais fundo de si agitava-se ainda um indefinido sentimento de solidão, mas a partir de agora já não voava sozinho.

            De entre as mais de trinta espécies de narcejas que todos os outonos migram do Árctico canadiano para o Sul, apenas a tarambola-dourada é um companheiro de viagem adequado para o maçaricão-esquimó. Ambos têm velocidades de voo semelhantes e apreciam idêntico alimento. Mas há ainda outra razão mais importante. As tarambolas e os maçaricões são voadores particularmente resistentes, e rejeitam a rota terrestre sobre a América do Norte, que todas as outras aves de arribação adoptam. Em vez disso dirigem-se para leste, até às costas rochosas do Lavrador, da Terra Nova e da Nova Escócia, e daí voam directamente para Sul, sobre o Atlântico. Vencem esta etapa de 4 mil quilómetros ou mais, num esgotante voo de quarenta e oito horas sem escala. Não fazem qualquer paragem até alcançarem terra, na costa norte da América do Sul.

            Muitas vezes junta-se às tarambolas-douradas um grande fuselo americano, e ocasionalmente acompanham-nas outras narcejas, na longa rota do Atlântico. Esta rota é de facto um encurtamento, mas só o maçaricão-esquimó e a tarambola-dourada a percorrem regularmente todos os outonos. Entre as aves do Árctico, só eles possuem a força e a velocidade de voo indispensáveis para fugir ou enfrentar as tempestades do alto mar, que não são raras. Além disso, graças a esta rota, elas podem usufruir dos arandos escuros que amadurecem no Outono, e crescem abundantemente nas encostas e nos planaltos do Lavrador. As aves que migram sobre o continente privam-se destas reservas de alimento. Ao contrário, na primavera, as tarambolas e os maçaricões têm que seguir a rota habitual sobre as planícies do Oeste, pois nessa altura os arandos estão endurecidos e mortos, debaixo da neve. No Lavrador ainda domina o inverno, quando o Árctico se cobre já dos verdores da Primavera.
(Cont.)

A. M. Pires Cabral

O milhafre e o pintassilgo

Vejam como - disse um dia o milhafre - 
com a agudeza da minha vista, a rapidez 
do meu voo, o poder das minhas garras,
desordeno facilmente o corpo breve
das pequenas aves.

Não são de admirar - continuou - 
a sabedoria e a bondade do grande arquitecto,
que assim me arquitectou
tão excelentemente
para a excelente tarefa de matar?

Sabedoria talvez - respondeu o pintassilgo,
debatendo-se nas garras do milhafre - 
bondade, nem por isso.

Enfim, há sempre quem seja do contra - 
suspirou o milhafre, enquanto dissecava
com o bisturi do bico as carnes do herege.

[Gaveta do fundo, Tinta-da-China]

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O último maçaricão-esquimó 9

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            Hora após hora voou o maçaricão num ritmo poderoso, rápido e regular. Os seus batimentos de asa eram fluentes e leves. Principiavam por baixo do abdómen e abriam-se largamente por cima do dorso. Cada batimento constituía uma complicada sucessão de passos, harmoniosamente ajustados uns aos outros, fundidos, numa fracção de segundo, num elegante movimento único. As asas funcionavam numa combinação perfeita de superfície aerodinâmica e hélice impulsora. O vento desempenhava diversas funções durante o voo.
            O plano da asa, junto ao corpo, cortava o ar como a superfície de um avião. Deste modo criava-se pressão no intradorso da asa, daí resultando sustentação, exactamente aquele impulso que possibilita o voo. No maçaricão isso era conseguido apenas através da forma aerodinâmica da asa. O batimento fornecia impulso, mas nada tinha que ver com a sustentação no ar.
            A superfície exterior da asa era composta sobretudo por fortes rémiges sobrepostas. Elas eram a hélice do sistema de propulsão da ave, e produziam a corrente de ar que fornecia sustentação aos planos alares, junto ao corpo. Em cada batimento, as rémiges executavam uma complicada sucessão de posições. Quando a asa baixava, elas deviam mover-se deste modo: o bordo de ataque baixava e subia o bordo de fuga, funcionando assim cada pena como pá de uma hélice, que aspirava o ar e criava impulsão. Quando a asa subia, o ângulo de ataque das rémiges tinha que ser ao contrário, assim se criando impulsão suplementar. A superfície alar junto ao corpo produzia continuamente tanto impulso que não se perdia altitude, mesmo quando a asa se movia para cima. A regulação perfeita das penas era um reflexo que não podia ser conscientemente controlado, pois o maçaricão executava três ou quatro batimentos de asa por segundo, o que lhe permitia uma velocidade de oitenta quilómetros por hora.
            Ocasionalmente o maçaricão entrava no turbilhão provocado por uma ave que seguia adiante dele. Com as suas asas ultra-sensíveis podia detectar mesmo tão insignificantes vestígios. Por norma, uma leve alteração nas condições aerodinâmicas do voo era o primeiro sinal de que se aproximava de um bando de aves. Quando deparava com tais turbilhões, o maçaricão aproveitava-se deles. Seguia-os, deixando-se arrastar como uma asa pela coluna de ar horizontal. Assim mantinha a impulsão correcta, e as asas podiam funcionar com um pouco menos de esforço.
            Porém, com excepção das tarambolas-douradas, nenhuma narceja era tão rápida como o maçaricão. E assim ele alcançava sempre os bandos que voavam na sua dianteira. Primeiro ouvia os ténues gorjeios, através dos quais as aves comunicavam. Depois o turbilhão tornava-se mais forte. E finalmente surgia o bando, confundido com o cinzento do céu. O maçaricão acompanhava-o durante algum tempo, mas acabava por ultrapassá-lo, devido à sua maior velocidade. E continuava a voar sozinho.
            Nessa noite aconteceu isso várias vezes, pois as camadas de ar por cima da tundra em arrefecimento estavam agitadas, e a maioria dos bandos voava à mesma altitude, um pouco acima dos níveis de turbulência. Pela manhã o maçaricão deparou com uma esteira mais larga, e adaptou o batimento de asa às novas condições de impulsão. Voou assim durante longo tempo, e o turbilhão causado pelas pontas das asas das aves que o precediam manteve-se inalterável. Desta vez ele não alcançou o bando automaticamente. Ainda não era o tempo de migração dos patos e dos gansos. Nesta altura, só duas espécies eram tão velozes que o maçaricão as não podia ultrapassar sem esforço. Tinham que ser tarambolas-douradas... ou maçaricões-esquimós.»
(Cont.)

Continua a dizer que o velho tá xexé!

E um dia dás conta que andaram a apalpar-te as nalgas!

A. M. Pires Cabral

Amoras segundo S. Francisco

Como as inquietas aves ribeirinhas,
Também nós fazemos em Agosto
a nossa safra de amoras,
evitando com prudência os picos
que as dificultam e tornam cobiçadas.

Bendita sejas, irmã silva, que nos dás
as amoras e os picos.

Que de tudo se precisa nesta vida.
(Na outra, por enquanto, não se sabe.)

[Gaveta do Fundo, Tinda-da-China]

Ai róró!

Né Ladeiras mirandesa. Canção de embalar ou toada brejeira?

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Diz a LER

«Um editor que lê é um editor fracassado.» (Constantino Bértolo, editor espanhol)
Pelos vistos é mais do que verdade!

Deus nos pertuja!

A tômbola das facturas premiadas que este governo inventou, no intuito de aumentar a cobrança fiscal, delimita aos cidadãos o quadro mental que o governo lhes aponta, e é a definição perfeita de abjecção.
Mais perfeita só aquela que se há-de mostrar, não tarda, mal o primeiro sortudo seja contemplado com um carro topo de gama. Vaidoso e cheio de orgulho, a puxar lustro aos cromados, vai mostrar ao bairro inteiro que a boa estrela distingue os bons patriotas.
Deus nos pertuja desta mala-sorte!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

É isto que acontece

Quando a realidade baralha o discurso dos jogadores da vermelhinha.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

"Olha, cego mortal, e considera" ***

Que basta um vírus mesquinho, para te deixar toda a semana a pão e água.

[*** Verso de Francisco de Vasconcelos]