terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Adivinha

Se o crude  é caro, chove; se ele é barato, troveja.
Quem é que, por enquanto, ganha sempre?!

Ferralha aos cafres

Os cabrões faziam negociatas, vendiam ferralha aos cafres, compravam as decisões de responsáveis canalhas. Um forrobodó.
O mexilhão herda a dívida, que tem as costas largas.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Ventos

Do Norte vem o cieiro. É seco e frígido, e corta as carnes da gente, como um gume. Já do Sul chega o suão, bem mais macio e molhado. Entre um e outro, venho o diabo e escolha.
O sol, que é um vagamundos, já deu começo à volta do filho pródigo. Vem de longe e ainda demora, ainda tem que passar pelas Sete-Pipas, e a Cruz de Pedra, e o descampado todo, até subir ao pico do castro de Casteição. Só aí os corpos folgarão.
A festa é por isso antecipada, prematura como todas as esperanças. Desde há séculos que o mundo sabe estas coisas, salvo quem anda a aprendê-las.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Votos

Aos muitos canalhas do meu país, votos de muito bom Natal.

A quem pediu, nas Finanças, uma cabra refinada

Aí a tem em funções, com vários chibos à volta!

Sebastianismo 10



Visão do autor: uma no cravo e duas ao lado!
«Existe um profundo equívoco no modo como histórica e sociologicamente se tem interpretado o fenómeno do sebastianismo. Com efeito, este não se tem constituído apenas como um negativo ponto histórico de chegada: o cume da expansão marítima portuguesa na segunda metade do séc. XVI e o princípio da decadência histórica posterior. Diferentemente, o sebastianismo tem-se constituído também como positivo ponto de partida ou como motor ético que tem forçado, nos últimos 400 anos, cada português a agir, crendo que no seio da injustiça social geral propulsionada pelas elites que dominam o poder político e económico, algo ou alguém lhe alterará a sorte desgraçada, encaminhando-o para uma vida mais próspera. (…)
Assim, a crença sebastianista tornou-se a última esperança do português – contra ou paralelamente às elites reinantes, o sebastianismo aposta num recomeço, reconstruindo a vida bloqueada pelas políticas do Estado, acreditando que o futuro pode repetir o passado longínquo e a actual população ou os seus filhos (ainda) podem ser felizes. (…)
O português em geral não usufruiu da imensa riqueza proveniente das especiarias, do açúcar, do ouro, do café, das oleaginosas, sempre monopolizada por fidalgos e funcionários régios ou por aventureiros. Sentiu que algo que pertencia a Portugal inteiro como país e nação era usufruído apenas pelas elites ligadas ao Estado e sentiu-se incompleto e irrealizado. Assim, por um estado de necessidade, o sebastianismo consiste numa representação mental generalizada, constitutiva da mentalidade de todos os grupos sociais. Ou, como regista José Enes, “o heroísmo [do Império] expirou em catástrofe” (…).
Sintetizados no sebastianismo, desenham-se os 4 complexos culturais constitutivos da personalidade do português:
Complexo Viriatino – baseado na imagem de Viriato, homem impoluto, puro, virtuoso, soldado modelo, chefe guerreiro íntegro, homem simples, pastor humilde que se revolta contra a prepotência do ocupante estrangeiro, conduzindo os lusitanos a sucessivas vitórias (…).
Complexo Vieirino – Nação superior: da decadência do Império a partir de D. João III, do fracasso de Alcácer Quibir e da perda da independência, nasce o assombro de nos sentirmos insignificantes depois de nos termos sabido gigantes na descoberta da totalidade do mundo. Pe. António Vieira, resgatando o providencialismo de Ourique e o milenarismo judaico de Bandarra, dourou-nos o futuro com o regresso anunciado às glórias do passado, agora sob o divino nome de V Império. (…)
Complexo Pombalino -  Nação inferior: no final do séc. XVIII, após 250 anos de domínio exclusivo da Igreja Católica na formação da mentalidade colectiva portuguesa, (…) Portugal reconheceu a sua pobreza intrínseca – o comércio urbano e as exportações encontravam-se nas mãos dos ingleses, o pão era confeccionado com farinha branca inglesa, o carvão importado da Inglaterra, os trajes tecidos de seda de Lyon e das fazendas dos teares de Manchester, a louça provinda de Itália, as berlindas armadas em Paris, escolas públicas inexistentes, estradas reais inexistentes, (…). Pela Europa culta ostentavam-se os espectáculos públicos nacionais como exemplos de barbárie e superstição: autos-de-fé, procissões penitenciais e touradas. O Marquês de Pombal reagiu a esta situação catastrófica revolucionando o todo de Portugal – tesouro régio, educação, economia, urbanismo – assente na profunda convicção de que a Portugal nada faltava para ser igual aos restantes países, caso se alterasse o perfil das elites, insuflando-lhes um banho de Europa. (…)
Complexo Canibalista -  (…) Se quiséssemos definir o tempo moderno e contemporâneo da cultura portuguesa entre 1580 (perda da independência) e 1980 (acordo de pré-adesão à CEE), (…) defini-lo-íamos como o tempo do canibalismo, o tempo da culturofagia, o tempo em que os portugueses se foram pesadamente devorando uns aos outros, cada nova doutrina emergente destruindo e esmagando as anteriores, (…).
Para efeito do ambiente educacional e social, cada português percorre na sua vida, recorrente e ciclicamente, estas quatro figurações da história e da cultura pátrias. (…)
Assim, ainda que de origem histórica profundamente negativa, o sebastianismo constitui igualmente uma espécie de motor ético dos portugueses, forçando-os a acreditarem ser o futuro melhor do que o presente, mesmo que para tal se sintam obrigados a fugir da medíocre elite portuguesa, que do país se apodera como coutada sua, e emigrar, como o fazem hoje.»

[A propósito do tema, que aqui finda: a função dos pensadores é abrir janelas ao povo, a quem falta o tempo de pensar. Janelas de lucidez, de racionalidade, de progresso. Isto em sociedades saudáveis, não na nossa!]

Solstício

Deitei um filho ao mundo, escrevi um livro ou dois, fiz uma casa nova na paisagem. E tirei a tralha dos caixotes antes que a noite chegasse. Encerei bem as madeiras, limpei as lixaradas, fiz a cama em que me vou deitar. No fim saí ao alpendre a sondar o horizonte. Era ainda o mesmo que avistei, há uns cem anos por pouco, numa antiga madrugada em que os olhos se me abriram pela primeira vez.
Encontrei à minha frente a Orion, com a Betelgeuse e as três Marias no meio, desenhadas num céu que suspendeu as névoas para me surpreender.
Rejubilei do presságio e fui dormir. É que me falta enraizar umas árvores, e acordar cedo para sujeitar à horta os alhos mais as favas. Já está aí o tempo deles.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sebastianismo 9

Dois sobre a seita:
Eduardo Lourenço
«Em Heterodoxia (I), Lourenço atribui o atraso português à ausência de uma mentalidade europeia desde a segunda metade do séc. XVI. O primeiro parágrafo de “Europa ou o diálogo que nos falta” refere que o mundo da cultura portuguesa arrasta há quatro séculos uma existência crepuscular. (…) Esta existência crepuscular deveu-se e deve-se a três absolutas ausências com que o nosso país respondeu “à cisão religiosa das reformas, à criação da físico-matemática e à filosofia cartesiana”. Assim, o caudal de conhecimentos que tínhamos erguido com a empresa dos Descobrimentos “perdeu tudo o que tinha de vivo e prometedor, para conservar apenas o comentarismo ruminante estéril. Nascera assim o sebastianismo, como não-resposta de Portugal ao avanço científico, religioso, cultural e económico da Europa Ocidental. O sebastianismo é uma não-resposta que nos compromete num outro caminho mental – o do “irrealismo prodigioso”. (…)
Operando uma ligação histórico-cultural com o povo judaico, Lourenço explica que “Portugal não espera o Messias, o Messias é o seu próprio passado, convertido na mais consistente e obsessiva referência do seu presente, constituindo até o horizonte mítico do seu futuro. ” Numa palavra, Portugal esconde-se no seu passado, incapaz de abordar desinibidamente o presente. (…)»

Boaventura de Sousa Santos
«Sousa Santos compreende o mito sebastianista como representativo de um tempo português passado, “sem tradição filosófica nem científica”. “Enquanto objectos de discursos eruditos, os mitos [como o sebastianismo e o V Império] são as ideias gerais de um país sem tradição filosófica nem científica. O excesso mítico de interpretação é o mecanismo de compensação do défice de realidade, típico de elites culturais restritas, fechadas no brilho das suas ideias.”
Neste sentido, o mito sebastianista coincide temporalmente com o início de um período de obscurantismo cultural: “A partir do séc. XVII, Portugal entrou num longo período histórico dominado pela repressão ideológica, a estagnação científica e o obscurantismo cultural, um período que teve a sua primeira manifestação na Inquisição, e a última nos quase 50 anos de censura salazarista. A violação recorrente das liberdades cívicas e a atitude hostil à razão crítica fez com que acabasse por dominar a crítica da razão geradora dos mitos e esquecimentos com que os portugueses teceram os seus desencontros com a história. (…) O Encoberto [o mito sebastianista] é a imagem da ignorância de nós mesmos reflectida num espelho complacente.” (…)
“Dada a distância entre as elites culturais e o cidadão comum, o nível de interiorização é relativamente baixo, e portanto o sebastianismo, se teve amplo apoio popular no séc. XVII, foi gradualmente perdendo este apoio nos séculos seguintes até não passar, hoje, de um discurso registado por uma ínfima elite cultural. (…)
É um discurso de decadência e de descrença, e quando projecta uma ideia positiva do país fá-lo de um modo elitista e desfocado, e por isso está sempre à beira da frustração, da queda e do ressentimento.”»

Acerca da premeditação destas catástrofes

Só imbecis e canalhas é que ainda têm dúvidas

Mordaça fascista

Sócrates não pode dar a entrevista pedida pelo Expresso, por ordens da escumalha corporativa de juízes, ou magistrados, ou investigadores.
Ao advogado de Sócrates não é permitido, pela secção de Lisboa da Ordem dos Advogados, dar a público peças processuais do recurso apresentado.
O motorista Perna, afinal, parece que não andou a atravessar os Pirinéus com malas de dinheiro do patrão às costas. Diz-se que nunca foi a Paris. O que não quer dizer que a imprensa amiga não afirme todos os dias o contrário.
Aos portugueses em geral pouco interessam tais assuntos. Há séculos habituados a ser o corno da história, não querem saber quem é que os anda a foder.
Já outros, mais sabidões, preferem a chafurdice do comentário metafísico. Indiferentes ao duro facto de que Sócrates está apenas a ser frito no fogo mediático e na opinião pública, sem direito a contraditório nem a defesa.

Equívocos e a força deles

Guardo no arquivo um par de imagens de há vinte anos. A primeira é do Carlos Cruz, por então publicista e estrela maior da comunicação. Exultava ele numa emissora qualquer, duma capital do centro da Europa. Alguém algures tinha presenteado os portugueses com a benesse de organizar o Euro 2004. Mais do que eufórico, o homem estava fora de si. Portugal tinha vencido uma grande batalha, e realmente o país não coube em si de contente. (Hoje é sabido no que esse equívoco deu.)
A segunda imagem é do Jorge Coelho, ministro das Obras Públicas. De sorriso aberto às câmaras, anunciava os planos dum túnel na Serra da Estrela, entre a Covilhã e Seia. Os próprios ecologistas (e os amadores da Serra e do ambiente) exultavam com o projecto, pois desse modo o mundo cruzava a Estrela sem molestar as urzes e as carquejas. O túnel nunca se abriu, e aos morcegos coube a maior perda. Foram privados dum tecto, numa galeria escura, onde dormiriam regalados de cabeça ao pendurão.
Dizem que as ideias ganham força quando tomam conta da cabeça das massas. E os equívocos também. De tais matérias se fez a lucidez honrada do Velho do Restelo. Taxado de cobarde e pusilânime, indiferente a insânias colectivas, ficou na Praia das Lágrimas a vociferar sozinho, contra a temeridade e a vã cobiça. A história andou quinhentos anos até lhe dar razão.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sebastianismo 8

Sequazes (2).

António Quadros
«(…) O mito sebastianista originar-se-ia da junção de dois mitos europeus anteriores: o mito do Encoberto, de raiz popular hispânica e europeia (…); e o mito do V Império, mito bíblico e expressão do desejo inconsciente dos povos do estabelecimento dum reino definitivo de paz e de justiça no mundo. (…) “Camões é o maior dos sebastianistas”. (…)
António Quadros eleva a obra de António Sérgio a centro detractor da teoria sebastianista. Sérgio é estatuído como adversário frontal do sebastianismo. (…) Trata-se de compreender a diferença radical entre história positiva, fundada em factos e documentos, e mito, estrutura inconsciente da mentalidade dos povos, de que a poesia seria a intérprete mais correcta. (…)
De facto, António Sérgio, como qualquer historiador positivista ou empirista, alimentado exclusivamente de factos, não compreendeu a profundidade e a natureza do mito sebastianista. (…)
A teoria de A. Sérgio, por preconceito racionalista, foi incapaz de compreender a natureza profundamente cultural do mito sebastianista, como narrativa compensatória e consolatória de um povo que:
- com supremo orgulho na criação dum império mundial, se viu humilhantemente desprovido de riqueza, poder, prestígio e até de independência;
- desde o séc. XVI intuía ser incapaz de favorecer a sua vida pela objectividade do trabalho, pela disciplina do esforço, pela capacidade de iniciativa, já que as elites parasitárias cortesãs não só impediam a ascensão social, como repartiam entre si as benesses cumuladas pelos proveitos retirados dos Descobrimentos, do ciclo da pimenta e do ouro, da escravatura, do café.

José Marinho
« (…) José Marinho aceita e não aceita o sebastianismo como um mito. Trata-se de um mito enquanto forma de conhecimento em ruptura com a história factual e positiva e a configuração imaginária da cultura portuguesa; não se trata de um mito porque um povo isolado não tem o poder e a capacidade de criação de mitos, apenas a humanidade como um todo a teria. (…)»

Pinharanda Gomes
«(…) Segundo Pinharanda Gomes, o movimento sebastianista tem duas fases: “a pré-vieirina, que intelige o Desejado como pessoa singular, seja ela Sebastião, António Prior do Crato ou um Bragança; e a pós-vieirina, que intelige o sebastianismo como sistema de filosofia política, que mantém a eleição de Portugal para a edição do Reino [o V Império]. (…)
Após proceder a uma síntese histórica do movimento sebastianista e dos seus opositores, conclui Pinharanda Gomes sobre os aspectos positivos do movimento sebastianista: “Na melhor das intenções, o sebastianismo constitui uma tentativa de revigoramento da Cruzada, um desejo de reaportuguesamento da Pátria, para que um povo velho não se apagasse da história”.»

Joaquim Domingues
(…) Assinalando ter sido a teoria providencialista a visão dominante da história de Portugal até Alexandre Herculano, Joaquim Domingues aclara em seguida a teoria da história deste autor, de Teófilo Braga e de Sampaio Bruno, concluindo ter sido com a obra deste último que se reergueu e renovou a antiga visão providencialista. (…)
Assim, a análise da história de Portugal muda radicalmente de foco: Portugal passa a ter um destino, constitui-se como um ser com uma finalidade. É justamente em função deste novo foco que faz sentido a aparição de Cristo a D. Afonso Henriques na batalha de Ourique narrada por Frei Bernardo de Brito, faz sentido a visão quinto-imperialista esboçada em Os Lusíadas e desenhada com pormenor por Padre António Vieira, faz sentido a gesta heróica e aventureira dos Descobrimentos – um território periférico e imensamente exíguo da Europa descobrindo e dominando um império geograficamente descomunal – e finalmente faz sentido o mito sebastianista; (…)
“Não temamos o descaminho – não escreve Deus direito por linhas tortas? -, hoje como outrora a via real a trilhar é a da aventura, ousada mas racional, com risco mas com rasgo. Deixemos os caminhos por demais trilhados, a certeza dos métodos confirmados, a segurança das normas gerais. Na manhã de nevoeiro, todos os caminhos estarão irreconhecíveis”.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Pastor

Aos meus pés o rio passa
- vai lamentando o pastor -  
e eu fico, a vê-lo passar!
O rio corre para longe
até se cumprir no mar.
E quem passa é o pastor.

Sebastianismo 7

[anterior]
Sigamos o exotismo dos sequazes (1):

Sampaio Bruno
«(…) Neste sentido, Sampaio Bruno desloca a essência do mito e do movimento sebastianistas para a totalidade do Homem ou da Humanidade. Na verdade, o Encoberto não seria D. Sebastião, mas o Homem na sua universalidade. “Dissipe-se a nuvem que encobre o herói. O herói não é um príncipe predestinado [alusão ao rei português]. Não é mesmo um povo [alusão ao povo judaico e ao povo português]. É o Homem. O sebastianismo seria assim a expressão em Portugal de um movimento ontológico constitutivo de toda a humanidade: o messianismo.»
Teixeira de Pascoais
« (…) O sebastianismo evidencia-se como um elemento intrínseco à cultura portuguesa. A “raça portuguesa” apresenta um conjunto de elementos constitutivos que lhe são específicos e que a diferencia de todas as restantes (…); o “génio” da língua expressa no sentimento de saudade; a independência religiosa do povo, expressa na primitiva igreja portuguesa ou Igreja Lusitana; a lenda sebastianista; as primitivas leis portuguesas, baseadas nos costumes regionais; a transmutação espiritual da paisagem nas obras estéticas portuguesas. (…)
O sebastianismo, integrando constitutivamente a alma portuguesa, deixara de ser determinante para a história de Portugal. (…) De igual modo, torna-se necessário abandonar o positivismo cientista e o experimentalismo europeu, com predomínio das ciências naturais e matemáticas, e retornar à antiga escala axiológica onde dominavam os valores morais e nacionais. “Duas grandes qualidades possui o povo português: o Génio Aventureiro e o Temperamento Messiânico. (…)»
António Sardinha
« (…) Monárquico e integralista, Sardinha defende uma visão sebastianista da História de Portugal, como forma de superação do decadentismo politico-partidário presente na 1ª República, e como reassunção da identidade permanente de Portugal. Na sua obra, o sebastianismo encontra-se sempre subordinado a uma filosofia política peninsularista, designada por “hispanidade” ou “iberismo”. (…) Defende a visão histórica, cultural e psicológica do sebastianismo como “filosofia da nossa Raça, e como crença activa no regresso do “grande amanhã de Portugal”. (…)

Fernando Pessoa
  «Fernando Pessoa apresenta-se a Adolfo Casais Monteiro como um “sebastianista racional”, isto é, um estudioso e um crente num messias salvador de Portugal. (…) Sebastianista porque não se limitou a crer e a reproduzir poeticamente o conteúdo das Trovas de Bandarra e os argumentos do Padre A. Vieira, mas intentou actualizá-los para o séc. XX, nomeadamente a teoria do V Império. (…) Revela ser Pessoa uma das mais altas figuras da filosofia esotérica portuguesa, escrevendo sobre este tema não de um modo despiciendo ou diletante, como um simples amador, mas de um modo empenhado, quase militante (…).
Pessoa considera a fundação de Portugal como materialização territorial e espiritual da Ordem do Templo – posteriormente a partir do reinado de D. Dinis designada como Ordem de Cristo (…). Justamente quando a Igreja Católica esgotou o seu múnus evangélico, pervertendo-se, assenhoreando-se de Portugal por via de instituições “estrangeiras” (o tribunal do Santo Ofício e a Companhia de Jesus), surge em Portugal o “profeta” do V Império, Bandarra, anunciador de “O Encoberto”, isto é, do “Cristo de Portugal”, o rei D. Sebastião. (…)
“E a nossa grande Raça partirá em busca duma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas “daquilo de que os sonhos são feitos”. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal ante-arremedo, realizar-se-á divinamente. (…)»

Um pouco mais de sol

E o país ficava limpo do fadário funesto que é o seu há quatro séculos.
E o PPD foi a principal gazua de que o rebotalho destas elites se serviu, para reverter a trajectória política, cultural, económica, educativa, social, e até humana, que Portugal iniciou há 40 anos. Não fora Abril, e toda essa gentalha ressonaria tranquila no regaço do salazarismo, em que todos nasceram e medraram.
Um pouco mais de sol e isto mudava. Mas ainda não foi desta.

Poeirada

Poeirada. Poeirada.
Mais poeirada com vénia: 
Você não sabe do que a casa gasta. Ou parece. Não ficou surpreendida com a nega da entrevista. Vai ter muito com que se surpreender. Carlos Alexandre e os gajos do MP estão-se cagando para os direitos, liberdades e garantias. Eles são a lei e sabem-se totalmente protegidos ao mais alto nível. Quem ainda não percebeu isto, e imagina que os magistrados que prenderam Sócrates trabalham sem cobertura, é porque não sabe nada do que se passa. Sócrates é para apodrecer na cadeia até que esteja reduzido a um farrapo perante a opinião pública. Nem oportunidade terá de mostrar que não verga e se mantém um homem digno. A sua dignidade ficará dentro das grades da prisão, e cá fora só ecoará em toda a imprensa o labéu de corrupto da pior espécie. Enquanto isso, os que o lá puseram rebentam de gozo e o povo enaltece a coragem da justiça que prendeu o cabrão que se fartou de roubar enquanto era PM e depois foi para Paris estoirar o produto do roubo em luxos. O João Araújo bem pode perder mais um mês a juntar argumentos contra a prisão do cliente. Os magistrados vão limpar o cu aos papeis que lhes vai entregar. Você já esqueceu o Freeport e a Face Oculta, de que o Marquês é uma versão muito mais refinada?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Passo em frente

Com o encarceramento preventivo de Sócrates, a direita que de novo atraiçoou o país deu um passo em frente. O único que ainda poderia salvá-la.
Agora não há alternativa: ou esta justiça transforma em crimes provados os indícios e suspeitas que administra, condenando Sócrates, ou só pode acabar pendurada num candeeiro.
Já para a imprensa de canalhas, vendidos e irresponsáveis, que por aí campeia e lhe serve de trombeta, qualquer tempo é oportuno para virar a casaca.

Sebastianismo 6 - O V Império

[anterior]
Na peugada de D. João de Castro (neto), o Padre A. Vieira engendrou para Portugal, no crepúsculo trágico do séc. XVII, a nebulosa do V Império. Teorizou-a e deu-a como certeza futura.
Portugal é caracterizado como:
- a nação d’O Encoberto, identificado como um rei português futuro;
- a nação possuidora de um destino messiânico, concretizador da vitória sobre os turcos;
- a nação criadora do V Império;
- O Encoberto, já revelado pelas Trovas do Bandarra, era nada mais que o rei João IV, futuro Restaurador.
E o que é o V Império?
«Consiste no estado perfeito e realizado ou consumado do Reino de Cristo em todo o mundo, reino em que todos os príncipes e nações e povos viverão em paz e segurança: cessarão todas as guerras, as comunidades serão boas observantes da lei divina, sendo Cristo adorado e obedecido por todos; pressupõe-se que a justiça seja universal, o bem-estar pleno e todas as qualidades humanas negativas desaparecerão.
Onde se localizará o V Império?
Localizar-se-á na totalidade geográfica da Terra, e não no Céu, segundo a ortodoxia católica.
Quando se cumprirá o V Império? (…)
O V Império opera-se em momentos sucessivos:
- primeiro convertem-se os gentios, ou povos gentílicos;
- depois convertem-se as nações judaicas;
- todas as heresias serão combatidas e eliminadas; (…)
- haverá um dilúvio de sangue como se fosse um novo baptismo, ou seja, uma mortandade anterior;
- haverá cada vez maior vocação de padres, maior a intensidade nas orações a Cristo e à Virgem Maria, maior a difusão da palavra de Cristo pelos Pregadores, uma superior iluminação do Espírito Santo e um crescente número de milagres, acompanhado pelo aumento do poder militar dos reinos cristãos.
Quanto tempo dura o V Império?
- não se sabe.
Quando acaba o V Império?
- terminará com o aparecimento do Anticristo, o qual dominará durante 45 dias;
Quem promove o V Império?
- dois futuros imperadores: O Sumo Pontífice de Roma e o rei D. João IV.»
O Padre António Vieira aponta ainda um ano para o início da instauração do V Império: 1666.
[seguinte]

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Força maior

Este blogue não existe para retirar leitores ao NYT ou ao Osservatore Romano. Pratica apenas a tortura do sono, por ser crime andar aí de olhos fechados.
Há poucos dias passaram por ele, em 24 horas, quinhentos visitantes. É sinal de algum alento.
Mas há mais vida para além deste blogue, como havia para lá do défice, conforme o outro dizia, com razão.
Por motivos de força maior, e até futuro aviso, o Ladraralua pára aqui.

Tecelões

Não há nada que falte dizer sobre os malefícios que o Santo Ofício provocou na Europa durante séculos. E sobre a tragédia que o mesmo constituiu para os povos ibéricos nunca o bastante será dito.
Torquemada foi o primeiro inquisidor-geral de Espanha, onde semeou a iniquidade sem limite à sombra dos pendões da Justiça, da União e da Misericórdia. Confessor e conselheiro espiritual de Isabel a Católica, induziu a criatura a instalar a Inquisição para o serviço de Deus.
Por onde quer que ele andasse, fazia-se acompanhar dum escudo pretoriano de 250 seguidores de fidelidade cega. Um dia morreu na cama, sossegado, cumprira bem a missão.
Também Pedro de Arbuès, que lhe sucedeu mais tarde, terá servido a Deus exemplarmente. Mas isso não foi bastante para o impedir de morrer em Saragoça, de morte muito matada, com trinta centímetros de lâmina furiosa a sangrar-lhe o baixo-ventre.
O super-juiz Alexandre também é uma criatura de missões. É certamente para melhor as cumprir que busca conselho em Fátima, e alento e inspiração no santo recolhimento de ermidas e de capelas.
Deus, mesmo se bem servido, é insondável, já que reserva a servidores iguais tão díspares destinos, como vimos. No lugar de Alexandre, eu antes queria ver-me rodeado de seguidores cegos. Porque Deus tecerá bem, mas o Diabo também é tecelão.

Agenda

Tão cedo quanto possível, arranjo um bilhete de autocarro e vou a Évora. Ver um homem que lá está encarcerado por uma cobardia antiga, às mãos de pulhas, de cínicos, de canalhas.
Nunca o vi de mais perto que um ecrã. Em contrapartida, de ver pulhas e canalhas estou cansado. E é perigoso andar aí de olhos fechados.

UE

A Europa não é nenhuma união. É antes é um jogo da vermelhinha, sofisticado e perverso, que a ciganada das elites dirigentes exercita, para pôr uma canga aos povos.
Dantes faziam a mesma coisa com a fumarada espessa dos canhões e o acre cheiro da pólvora. Hoje não precisam disso.

Praça de Londres

O café é dos antigos, há muitíssimo tempo que o não via. E ainda sobrevivem nele, no aquário do canto, piriquitos e canários a saltar de ramo em ramo.
Os velhos já não discutem arte nem mundanidades, deambulam apenas num crepúsculo. Falam de capitais angolanos, de golden shares douradas, e do Nabo que se foi embora a tempo.
Passa um retardatário à procura duma bica. Reformado na sua gabardina, passa alto e elegante, ergue o braço a um ignoto führer. E considera que tudo fica dito, pois não diz uma palavra. Pouparam-no à hecatombe de Stalingrado e agora é isto.

Outra loiça

Só um asno ou um canalha recusará ao PCP a honra de ter sido o principal baluarte de resistência ao fascismo do nosso século passado.
Mas este partido de hoje é outra loiça. Dito com todas as letras: é uma traição a um povo em desespero, é uma vergonha sem nome, é uma perniciosa seita de manobristas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Hesitações

Confesso-te que não sei o que deves fazer, Costa!
No teu lugar eu iria, não mandava dizer.
Mas já passaram os tempos prazenteiros de fazermos sobretudo o que nos agradaria. Só temos para fazer o que deve ser feito.
E tenho aqui algumas hesitações. Entre o justo, e o humano, e o político; entre o que é forte e o que resulta fraco; entre o que sonhou corajoso e acordou pusilânime. 
Sei que tudo isso é pouco para vesgastar os canalhas e os cínicos, os pulhas e os tacticistas, que erguem o dedo molhado para ver donde vem a aragem. Mas para além disso não sei, por isso calo-me. Falta-me saber e dimensão.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Isto aqui

Não é uma coisa prazenteira. Mas elidi-la da nossa memória histórica é pior

O Pio

“A Justiça finalmente está a funcionar” – piou o pretendente. Mas ainda “precisamos de uma revolução cultural”.
Cabeças a rolar, queria ele dizer.

Anda aí dito

Mas não é mau lembrá-lo aos esquecidos.

«Foi por estes dias do início de Dezembro, mas no ano de 1776, que apareceu um cartaz na esquina da casa lisboeta do Cardeal da Cunha, arcebispo de Évora, ex-inquisidor-mor, ex-presidente da Real Mesa Censória, e um dos homens que mais cargos e benefícios receberam do governo do Marquês de Pombal. Como descrito numa carta da época que se encontra na Biblioteca Pública de Évora, era isto que se via no cartaz:
«Dois ou trez homens, com tal ou insignia, ou Letra que indicavam serem Alfayates; e perguntava hum delles ao outro, ou aos outros: Que fazem aqui? Respondiam: Estamos para virar huma casaca.»
Era o fim do poder pombalino. Nas ruas sussurrava-se “isto está para acabar”; dentro das casas apostava-se sobre quem seriam os primeiros a abandonar o barco. Neste caso, acertaram. Quando o rei Dom José I morreu, a 24 de fevereiro do ano seguinte, o Cardeal da Cunha foi mesmo o primeiro a receber o Marquês de Pombal no Palácio Real e a anunciar-lhe de maneira seca: “Vossa Senhoria não tem mais nada a fazer neste lugar.”
Pois é, tudo nos parece muito moderno nesta história de cunhas e de virar casacas num cartaz de 1776. Ficou mais moderno ainda quando alguém decidiu chamar à investigação sobre José Sócrates, presumivelmente por causa da proximidade do seu apartamento à rotunda lisboeta, Operação Marquês. É um nome muito mal escolhido — e só não é pior porque talvez só os historiadores dêem por isso. Houve de facto, há 230 anos, um célebre “processo do Marquês”. Aconteceu dois anos depois de Pombal ter perdido o poder na corte e de os seus fiéis inimigos e alguns desleais amigos terem ocupado os cargos correspondentes no Governo da “Viradeira” de Dona Maria I. 
O ex-ministro do Reino foi acusado de corrupção e enriquecimento às custas do tesouro público, sem esquecer todos os seus abusos de poder e repressões ferozes. Entre 1779 e 1781, o velho Marquês (tinha a idade do século, tendo nascido em 1699) veio defender-se vigorosamente numa série de textos que de pouco lhe valeram. Não só as suas antigas vítimas estavam pouco dispostas a ouvi-lo, como a verdade é que ele havia enriquecido no exercício do poder. Os amigos que lhe restavam de pouco lhe podiam valer: estavam dispersos pelo país, num discreto exílio, trocando entre si cartas como a que citei no início deste texto. As acusações foram dadas por provadas e o Marquês de Pombal foi condenado. Mais humilhante ainda, foi depois perdoado pela rainha, em razão da sua velhice e enfermidades. Em 1782, Pombal morreu com o nome manchado e o orgulho ferido. 
Quem for que tenha dado o nome de “Marquês” ao caso de José Sócrates prestou assim um mau serviço ao processo e ao país. Desde logo porque, para o bem e para o mal, Sócrates não é Pombal. E sobretudo porque o processo do Marquês, há 230 anos, foi o epítome do que este não deveria ser: uma amálgama de sentimentos, arrogância de um lado e desejo de vingança do outro, divisão do país em duas metades incomunicáveis que se foram guerreando, sob diversos disfarces, nas gerações seguintes. O país não saiu regenerado, nem melhor. Pombal, nem bem condenado, nem inocentado. Depois dele veio Pina Manique, e depois Napoleão, e a rainha, agora já louca, embarcou para o Brasil dizendo: “Não corram! Vão pensar que estamos a fugir.” E estávamos. Espero que já não seja o caso.»
(Rui Tavares, in PÚBLICO)

domingo, 30 de novembro de 2014

A realidade real

Já foi assim.

Progresso

Muito longe vai o tempo em que o país exportava trolhas e femmes-de-ménage. Era gado de terceiro-mundo. Hoje exporta médicos e enfermeiros aos milhares, de um skill sofisticado e abundante mais-valia. É assim que há progresso e vale a pena.
Generosas, as sociedades europeias acenam-lhes com salários e carreiras. Chamam-lhe um figo, pudera!

Esmola muita

Escassa meia hora de Sócrates ao domingo, num canal generalista, sempre me pareceu demasiada fruta. Mas tudo agora voltou à justíssima medida.
E o mundo ficou melhor. Pois sempre que a esmola é muita, qualquer pobre previdente se torna desconfiado.

sábado, 29 de novembro de 2014

Flanação com pérola

O progresso é de upgrades que vive, dizem. Por isso são de má sina os múltiplos downgrades que estamos a viver.
Noutros tempos, na messe dos almirantes havia no hall de entrada um ecrã com Internet. Hoje o ecrã está cego surdo e mudo.
Quando o recepcionista precisava de saber se ainda tinha para vender uma ementa do dia, usava um telefone para a cozinha. Hoje vai a pé saber as novidades e demora dez minutos.
O serviço em geral era cuidado, os hospedeiros tinham ar cosmopolita. Hoje trazem à lembrança os faxinas de serviço na messe da Bambadinca, quando a havia.
Ali ao lado fica o São João, oiço falar de circo modernista e nada me surpreende. Mas não é muito claro em que se ocupa. Quando me dava ao trabalho de sair de casa à noite, assisti a um espectáculo cenicamente fascinante, do Ricardo Pais. Pelo meio havia uns vagos heterónimos do Pessoa a balbuciar odes. Nunca soube quanto custou ao erário essa beleza.
Da montra da Latina é de fugir. Com ilhotas isoladas, o downgrade da literatura é bastante para assustar. Mas às vezes há milagres, como as pérolas que arredondam na tripalhada das ostras. É esse o caso deste Mário de Carvalho.

Com vénia, ouvido aí numa caixa de comentários

  1. "As cadeias não se fizeram para os ratos e os grandes homens, ou melhor, os Homens invulgares muito acima da vulgaridade e mediocridade reinante são invariavelmente rejeitados por, precisamente, constituírem uma anormalidade ainda desconhecida da normalidade dominante no tempo.
    A grande massa do povo que vive agarrada á superfície dos trabalhos do dia a dia jamais pode perceber, no mesmo tempo, uma figura que fala, pensa e actua de forma diferente, com uma verdade complexa e incomum, com base em valores e éticas ainda não perceptíveis ao comum mortal.
    Não compreende a grande massa do povo e as elites medíocres são broncos que também não estão à altura de compreender, e por tal se sentem ameaçadas nos seus postos de pequenos reis. E, evidentemente, reagem para extirpar do corpo da sociedade os novos valores e visões tomados como uma possível contaminação perigosa.
    Sócrates é um desses tais Homens que vieram ao mundo prematuramente. E, precisamente por isso não te percas ou amofines porque Sócrates sairá sempre vitorioso desta contenda entre o novo e o velho, entre o futuro e o passado.
    Nenhum cavaco, vidal, alexandre ou rosário ficarão vencedores pese embora vençam este round.
    Pela carta enviada há dias e agora com o telefonema para o expresso vê-se, claramente, que Sócrates não teme absolutamente nada do que lhe possa acontecer e sabe, certamente sabe, que a emboscada que lhe montaram não é para jogar a brincar e, inevitavelmente, dado que face à sua própria contestação taco a taco, não terão recuo e tornar-se-á inevitável calá-lo na cadeia.
    A cadeia também se fez, quase sempre, para os Homens Grandes que não são ratos ou ratazanas com figura humana. Estes ficarão eternamente assinalados como ratazanas de sargeta enquanto Sócrates restará, mais tarde ou mais cedo, um Homem Histórico desta actualidade portuguesa.
    Não é preciso chorar Sócrates, nem ele quer nem ele precisa."

Razões e causas. Fora delas, o que há é um golpe de estado

Artigo 202.º
Prisão preventiva

1 – Se considerar inadequadas ou insuficientes, no caso, as medidas referidas nos artigos anteriores, o juiz pode impor ao arguido a prisão preventiva quando:
a) Houver fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena de prisão de máximo superior a 5 anos;
b) Houver fortes indícios de prática de crime doloso que corresponda a criminalidade violenta;
c) Houver fortes indícios de prática de crime doloso de terrorismo ou que corresponda a criminalidade altamente organizada punível com pena de prisão de máximo superior a 3 anos;
d) Houver fortes indícios de prática de crime doloso de ofensa à integridade física qualificada, furto qualificado, dano qualificado, burla informática e nas comunicações, receptação, falsificação ou contrafacção de documento, atentado à segurança de transporte rodoviário, puníveis com pena de prisão de máximo superior a 3 anos;
e) Houver fortes indícios da prática de crime doloso de detenção de arma proibida, detenção de armas e outros dispositivos, produtos ou substâncias em locais proibidos ou crime cometido com arma, nos termos do regime jurídico das armas e suas munições, puníveis com pena de prisão de máximo superior a 3 anos;

(Código de Processo Penal)

Para que conste e se saiba o que não é sabido

Artigo 194.º
Audição do arguido e despacho de aplicação

(…)
6 – A fundamentação do despacho que aplicar qualquer medida de coacção ou de garantia patrimonial, à excepção do termo de identidade e residência, contém, sob pena de nulidade:
a) A descrição dos factos concretamente imputados ao arguido, incluindo, sempre que forem conhecidas, as circunstâncias de tempo, lugar e modo;
b) A enunciação dos elementos do processo que indiciam os factos imputados, sempre que a sua comunicação não puser gravemente em causa a investigação, impossibilitar a descoberta da verdade ou criar perigo para a vida, a integridade física ou psíquica ou a liberdade dos participantes processuais ou das vítimas do crime;
c) A qualificação jurídica dos factos imputados;
d) A referência aos factos concretos que preenchem os pressupostos de aplicação da medida, incluindo os previstos nos artigos 193.º e 204.º
7 – Sem prejuízo do disposto na alínea b) do número anterior, não podem ser considerados para fundamentar a aplicação ao arguido de medida de coacção ou de garantia patrimonial, à excepção do termo de identidade e residência, quaisquer factos ou elementos do processo que lhe não tenham sido comunicados durante a audição a que se refere o n.º 3.
8 – Sem prejuízo do disposto na alínea b) do n.º 6, o arguido e o seu defensor podem consultar os elementos do processo determinantes da aplicação da medida de coação ou de garantia patrimonial, à exceção do termo de identidade e residência,durante o interrogatório judicial e no prazo previsto para a interposição de recurso.
9 – O despacho referido no n.º 1, com a advertência das consequências do incumprimento das obrigações impostas, é notificado ao arguido.
10 – No caso de prisão preventiva, o despacho é comunicado de imediato ao defensor e, sempre que o arguido o pretenda, a parente ou a pessoa da sua confiança.

(Código de Processo Penal)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O Avante! expressa o pensamento do comité central do PCP

Em questões de seriedade, honorabilidade e compostura, é isto.

Legado

Tudo por junto, um império de quinhentos anos deixou a Portugal quatro coisas: uma boa, uma má, uma péssima e uma neutra.
A primeira foi a última epopeia digna desse nome, que o génio europeu engendrou.
A segunda é este governo de sipaios escapados dum sertão, que em nossa perdição se conjuraram.
A terceira é o Presidente da República que temos, desgraçadamente eleito duas vezes pela necedade indígena. Se mais mundo houvera, lá chegara. E quem não vir a pertinência da coisa, é porque anda muito distraído.
A quarta é a vastidão da lusofonia, que muitos lunaticamente elegem como nova fronteira. A vastidão da língua portuguesa só existe por via do Brasil, esse mesmo que a vai abastardando perante a nossa vergonha e impotência e vitupério.
Tudo o resto são mitos persistentes e vazios.

O Tratado Orçamental

É isto. E sobretudo aquilo!

Sete crimes sem surpresas

O CM sabe mais sobre o processo do que o preso e o seu advogado.

Uma ponta do véu

É esta.

"Jornalismo de punheta"

O destes Catarinos onanistas doentes.

Areal funesto

Sem armaduras nem ferros, o que a pátria tem hoje pela frente é um Alcácer novo. Os traidores são os netos dos antigos, os mercenários são igualmente muitos, e os peões erguem as mãos no mesmo desespero, num areal semelhante.
O desenlace é incerto. Mas desta vez está nas mãos do povo, sem que ele dê mostras claras de o saber.

O cante é património?

Felizmente é! A quem vai mal é aos Ceifeiros de Cuba, que arriscam ser trocados por uns patacos, por estes canalhas, imolados à dívida sinistra!

A carta

Que o preso nº 44 fez sair da pildra, em Évora, através dum telefone. E uma leitura disto.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

"Infâmia"

E "bandalheira". E o seu exacto contráriono CM

Negócios marados

De futricas peralvilhos e aldrabões.

Foda-se que já é descaramento!

"Coloca-se ao país uma pergunta simples mas cheia de conteúdo: Portugal está ou não a ser melhor governado hoje do que estava pelos anteriores governos socialistas?", perguntou Montenegro. Que somou um passo em frente, ainda mais clarificador da estratégia do PSD:  "Este Governo, esta maioria, este primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e a sua equipa estão ou não a tratar com mais competência, com mais rigor, do interesse das pessoas e do futuro de Portugal, do que fizeram os governos do PS, do anterior primeiro-ministro e das suas equipas?".http://expresso.sapo.pt/psd-atacar-socrates-sem-o-nomear=f899809

Ele há males que vêm por bem, ou a parábola das pragas


Introduzido na aquacultura espanhola, o lagostim-vermelho da Louisiana depressa se tornou uma praga em toda a Península Ibérica, com fortes prejuízos nos campos de arroz. Já para as cegonhas foi um maná bíblico, uma vez que existem hoje em Portugal mais 4 mil ninhos do que em 2004. "Durante parte do séc. XX, a população de cegonhas brancas diminuiu de modo preocupante, sem se saber porquê. Em 1984 foram contados 1533 ninhos, quando em finais de 1950 eram 3490. (...) Dantes a maior parte dos casais migrava no Outono rumo a África, em busca de alimento. (...) E o que fez a cegonha desistir de migrar foi a existência cada vez maior de alimento disponível, sobretudo no Inverno. (...) Em 1995 foram contadas 1187 cegonhas brancas a passar o Outono em Portugal. Em 2008 eram já dez mil." Ora o lagostim-vermelho desempenha nisso um papel fundamental.
O caso da cegonha negra é algo diferente. "Muito bela também, é no entanto mais temerosa. Não acompanha os tractores enquanto lavram. Não faz ninho nas torres das igrejas nem se aproxima tanto das pessoas."
Quanto mais se baixam as calças, mais as bragas íntimas se vêem! Este princípio geral não o descobriu ainda a cegonha negra, a timorata. Um dia destes vai ter que o aprender.
[Citações de A. Caldeira, no jornalinho de S. Pedro do Rio Seco]

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O número 44, em Évora

Convém abrir com algo que está na história, e na memória de quem a tiver: o magistrado Rosário Teixeira é o mesmo que há uns anos foi à Assembleia da República, com a televisão atrás, para deter Paulo Pedroso no processo Casa Pia. E os investigadores da PJ são os mesmos que apresentavam, para escolha, fotografias de pedófilos possiveis aos putos casapianos. Condenado em praça pública, embora ilibado na justiça, o mísero Pedroso do PS nunca mais saiu do fosso. E outros houve, que saíram chamuscados.
A procuradora Marques Vidal, o magistrado Teixeira e o super-juiz Alexandre imputam a Sócrates os crimes de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais. Não é nada que não possa ser feito, baste-nos olhar em volta. E fortes suspeitas terão, se não certezas, já que lhe fixaram a tabela máxima do indiciado, que é a prisão preventiva. Alegam para o despautério o perigo de fuga, o perigo de perturbação do inquérito, e o perigo de alteração da ordem pública.
Pela parte que a mim me diz respeito, enquanto cidadão desta pátria tristonha, vão os senhores magistrados, todos juntos, chamar estúpido ao caralho! Eu sei bem que Sócrates é diferente, e é do PS. Mas isso toda a gente o sabe, há muito tempo. E ajuda a compreender.

Lá está!

Confundir a trampa com a ervilha-de-cheiro, para nos fazer a cabeça, foi sempre a arma preferida pelos trafulhas. E a verdade é que funciona muitas vezes!

Para o bem e para o mal, faz hoje 39 anos

« (...) Havia tropas amigas na rua, nos últimos dias era duma evidência transparente que ficaria sem cabeça quem a expusesse, e por isso Gaspar não compreende, sabe só que as tropas nunca se movimentam sem ordens, não sabe ainda que nunca saberá donde tais ordens vieram. Mas vai, porque já não pode recuar. Vai para uma base militar onde encontra confinada num salão toda a oficialidade, pastoreada pela tropa alevantada enquanto joga às damas, enquanto dá umas tacadas no bilhar, enquanto a meia voz comenta o insólito, quem sabe se inesperado, súbito lance. 
Gaspar ensaia uma explicação do que está a acontecer, tenta mostrar os limites da sublevação, procura legitimar-lhe os objectivos. Ainda não sabe que a razão não desempenha aqui qualquer papel, outros são os motivos que levam os homens a ver, não o que está, mas o que querem ver, numa revolução. E ele próprio é quem vê, pela primeira vez, o ódio nos olhos dos camaradas de ontem, o ódio nos olhos dos companheiros de África de ontem, que lhe chamam traidor e não entendem, alguns cospem-lhe aos pés e não entendem que se possa desejar outra coisa, que se pretenda substituir a definitiva rigidez de cadáver dos códigos deontológicos pelo calor suado e desprezível do povo, não entendem que se possa trocar esta vazia, mas certa, segurança, pela duvidosa aventura de indefinidas utopias, por sonhos incertos de transformar o mundo, assim é a tropa, a fingir-nos a vida para nos interditar o ofício de a criarmos, e eles sem entenderem que chegou o momento do resgate, e que não o aproveitar será deixar toda a história a meio. (...)».
[As Aves Levantam Contra o Vento, Quasi Edições, Famalicão, 2007]

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Foram anos de luta pelo bem, mas enjaulámos a besta!

Mais urbano ou mais rural, é muito raro o estanco português em que não esteja estendida no balcão essa pérola da imprensa que é o Correio da Manhã. E eu, que faço questão de andar bem informado, leio-o sempre. Na verdade considero que um tão grande favor dos leitores só pode ser o prémio da sua qualidade como órgão de informação. Diz o mercado que o consumidor premeia aquilo que é melhor, e eu acredito.
Ontem informava a primeira página do CM: motorista (de Sócrates) caçado com malas de dinheiro do seu patrão. Eu não podia resistir à novidade, levado por essa onda de fervor patriótico, que me avassala sempre que vejo a pátria sangrar.
Na página 4, a cimalha era já algo diferente, assegurando que o motorista de Sócrates tinha sido fotografado com malas de dinheiro do seu patrão. E eu, que ia à procura duma jaula onde estaria aprisionado o motorista caçado, lá me resignei. Fui em busca duma imagem, duma fotografia do meliante com as malas na mão. Mas não havia jaula nem imagem. Ainda imaginei que houvesse um texto, a explicar o despautério. Qual quê?!  
Concluí que o corpo redatorial do jornalinho, coitado dele, na sua incansável luta pela verdade e pela completa informação dos seus leitores, não teve tempo de esmiuçar melhor as afirmações feitas sobre o motorista caçado, ou sequer fotografado. O justo tempo de fazer as afirmações e fundamentá-las. Não me passa pela cabeça a ideia infame da manipulação, por parte do jornal mais desfolhado pelos leitores como eu. Confesso que senti alguma frustração, mas acabei por compreender. E amanhã voltarei ao CM, onde quer que o encontre à minha disposição.
É que preciso de saber o que decide o super-juiz Carlos Alexandre, em relação ao patrão do motorista que foi caçado com as malas da grana. O Alexandre é, em juiz, o mesmo que, em jornal, é o CM. É o dono disto tudo, no que à justiça respeita. Não há mega-processo em que não mande, ou dele não dependa. Como se os códigos dele tivessem mais capítulos, ou alíneas, ou notas de roda-pé, ou anotações à margem, do que os manuais em uso pelos míseros colegas.
Ainda bem que Portugal tem um juiz Alexandre para tomar as decisões, e um magistrado Teixeira para maestrar as investigações. É que ter só um Correio da Manhã, uma coisa de papel, era capaz de ser pouco eficaz, para acabar com tanta impunidade e fazer disto um país.

[Ironias da História, ou Com a verdade me enganas! - As pegas chamam a isto o Processo Marquês. E ao Marquês fizeram-lhe a mesma coisa, logo que fechou os olhos o rei do terramoto.]

Onde é que se encontra agora o Palácio de Inverno?!

Jerónimo de Sousa repisa aqui uma tecla conhecida, embora nunca expressa: prefere um governo da direita decadente a um governo do Costa e do mísero PS.
E critica aquelas gentes da esquerda, empenhadas em "juntar as águas para que o afluente vá ter ao PS". Para isso não contem com ele, porque ele é patriótico e de esquerda.
O que Jerónimo não explica é a bengala trôpega do PEV de que se serve há séculos, para ir à urna do voto com o mal-me-quer duma coligação, a CDU.
Segundo a teoria de Jerónimo, o PS é igual ao PPD, se não for muito pior. E vem de há cem anos atrás, da desgraçada República de Weimar, na Alemanha. Foi nessa altura que o Stalin pôs na boca de Thälmann, dirigente dos comunistas alemães, esta ignomínia que ainda hoje dura: "Que venha Hitler! Nós seguiremos Hitler!". E ele veio, claro, conforme veio o Relvas, e o Passos, e o Portas, e a troika, e a oligarquia toda. E o Jerónimo ganhou 5% nas eleições seguintes.
Jerónimo podia ao menos dizer-nos onde é que fica hoje o Palácio de Inverno. Para nos servir de alguma utilidade, e ajudar-nos a pôr a coisa em pratos limpos.

Ora toma lá

Um rasto de dignidade. E outro de legalidade.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

«Tenho um percurso político que não é dos melhores, mas também não é dos piores, mas a verdade é que estou num dos momentos mais altos do meu percurso político.»

O resto vem aqui, e ali, e acolá.

A demissão

Por singelas razões de sanidade mental, há muito que fechei a porta ao exterior. À informação, à imprensa, à internet. Montei uma tenda no terraço, reconciliei-me com as megeras das gaivotas e ganhei algum sossego.
Porém um dia destes cedi à cafeína. Logo me constou na rua que um ministro, de entre os pares, pedira a demissão. Ora, a mim, a pátria em lágrimas e o Passos em haraquíri, sem aquela trabalheira jihadista de lhe cortar o pescoço, sempre me comoveram altamente. Aquilo era o bom da festa, não o perdia por nada. E foi por essa razão que decidi activar o sistema de escutas que ali anda, e que em tempos mandei vir da América. Por então eu tinha crenças na utilidade das tecnologias modernas, coisa que depois me passou. Mas o gadget é infalível e escapa-lhe muito pouco.
A primeira intersecção veio de perto. Era uma vizinha ao telefone, a ladrar contra as misérias da cunhada, que é uma cabra. Depois passaram conhecidos do Salgado, mais que muitos, e ouvi mesmo inconfidências que não ouso aqui trair, dentro do júri dum prémio literário. Por vezes o discurso empastelava, e fazia-me lembrar os hackers sabotadores de que a loira se queixava. Mais que razão tinha, a pobre! Mas ainda ouvi o Crato, a desvendar a um guru o seu ardiloso plano de passar o Ministério à clandestinidade, para conseguir levar a exame os professores contratados. Ao sábado e à sorrelfa, longe do horário das greves. E assim ficar com o Nogueira taco a taco, pois também ele desapareceu do mapa e se clandestinizou, logo que levou à certa os professores, contra a ministra sinistra de há uns anos.
Foi no meio de tanta algaravia que ouvi falar alemão. Era o Passos que falava com a Merckel, a queixar-se do poltrão desse ministro que tinha claudicado. E ele não descortinava onde encontrar substituto.
Ora Frau Merckel, a mim, conhece-me de jingeira. Fomos vizinhos há 40 anos, na terra dela, em Berlim, onde me levaram os ventos duma história generosa. Subíamos para o eléctrico ainda de madrugada, ali num logradouro, cada um à sua vida. Mas éramos jovens e sonhávamos a cores, apesar do cinzentismo do clima. E a silhueta da Merckel, nessa altura, não era nada daquilo em que depois se tornou. De maneira que aos domingos praticávamos nudismo numa praia fluvial. E certa noite fomos à Ópera Cómica, ver La fille mal-gardéeHonni soit, era assim a tradução em língua compreensível do bailado anunciado no cartaz: Die schlecht behütete Tochter.
Para voltar à fria vaca, oiço a Merckel dar ao Passos o remédio do ministro tão poltrão: era eu a boa chave da questão! 
A minha alma ficou parva, resisti a custo ao pânico. Faltava-me agora o Passos a tocar-me à campainha para fazer de mim ministro! Bloqueei o ferrolho, pus uns tampões nos ouvidos, cheguei a meter um cartucho na câmara. Mas lá resisti ao frenesi.
Hoje parece que já posso desarmar. Ouvi na escuta que apanharam numa rusga uma megengra qualquer e puseram-na a cantar. Ela escolheu o mal menor e acabou a mandar no ministério. 
Oxalá que amaine esta invernia, já que posso enfim voltar à rua!

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sócrates

16 de Novembro.

O terno feminino

Nessa altura eu era jovem, era ele um ganapito. E a perfídia maternal, a mais impune, a mais acarinhada, e a mais venal das possíveis, elidiu-nos aos dois trinta e cinco anos de vida e de convívio.
Finalmente ele chegou, uma doçura com cabelos brancos. É que a história será lenta, como um camelo em frente do deserto. Mas nunca deixa facturas por entregar.

Avivar a memória

«Em 1953, há 60 anos - apenas uma geração - a Alemanha de Konrad Adenauer entrou em default, falência, ficou kaputt, ou seja, ficou sem dinheiro para fazer mover a actividade económica do país. Tal qual como a Grécia actualmente. A Alemanha negociou 16 mil milhões de marcos em dívidas de 1920 que ... entraram em incumprimento na década de 30 após o colapso da bolsa em Wall Street. O dinheiro tinha-lhe sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido. Outros 16 mil milhões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no pós-guerra, no âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA), de 1953. O total a pagar foi reduzido 50%, para cerca de 15 mil milhões de marcos, por um período de 30 anos, o que não teve quase impacto na crescente economia alemã. 
O resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia, a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a Itália, o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a Suécia, a Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA e a Jugoslávia.  As dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial. Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de empréstimos gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas. Durante 20 anos, como recorda esse acordo, Berlim não honrou qualquer pagamento da dívida (!). 
Por incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido invadida e brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar no esforço internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em que se encontrava. Ora os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162 mil milhões de euros sem juros. Após a guerra, a Alemanha ficou de compensar a Grécia por perdas de navios bombardeados ou capturados, durante o período de neutralidade, pelos danos causados à economia grega, e pagar compensações às vítimas do exército alemão de ocupação. As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38960 executadas, 12 mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em campos de concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além disso, as hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor incalculável. 
Qual foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas financeiros da Grécia? Segundo esta, a Grécia devia considerar vender terras, edifícios históricos e objectos de arte para reduzir a sua dívida. Além de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector público e congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas, defenderam dois destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank Schaeffler, do partido da chanceler Merkel. Os dois responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas no Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota. "Os que estão insolventes devem vender o que possuem para pagar aos seus credores", disseram ao jornal "Bild". Depois disso, surgiu no seio do executivo a ideia peregrina de pôr um comissário europeu a fiscalizar permanentemente as contas gregas em Atenas. 
O historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics, recordou recentemente à "Spiegel" que a Alemanha foi o pior país devedor do século XX. O economista destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a dívida grega de hoje parecer insignificante. "No século xx, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há memória", afirmou. "Foi apenas graças aos Estados Unidos, que injectaram quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o estatuto de locomotiva da Europa. Esse facto, lamentavelmente, parece esquecido", sublinha Ritsch. 
O historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a segunda de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas. A Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a outros países. Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a contabilidade das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte o que a Grécia deve actualmente. A ingratidão dos países, tal como a das pessoas, é acompanhada quase sempre pela falta de memória.»

domingo, 16 de novembro de 2014

Gold

« (...) Um país que vende autorizações de residência não em função do talento dos requerentes, do seu mérito, ou do papel que possam representar na cultura, na economia ou na sociedade, mas que os acolhe apenas em função da sua conta bancária, torna-se numa tenda de feira. Que tanto pode vender vistos, como empresas estratégicas, como favores. 
O facto de a prática ser comum a vários países aflitos, ou o reconhecimento de que vender vistos a milionários é como vender anéis para salvar os dedos, não deve esconder a questão essencial: um Estado decente de um país decente não devia vender cidadania. Deve oferecê-la a quem a merece.»
(Manuel Carvalho, in PÚBLICO)

Futricas outra vez!

«O governo prepara-se para aprovar o novo EMFAR *** nos próximos dias, sem ouvir os principais interessados, precisamente os seus destinatários, e sem ter integrado as Associações Profissionais de Militares nos Grupos de Trabalho como a Lei Orgânica nº 3/2001 estabeleceComo vem sendo habitual, o Governo vai mascarar esse seu procedimento com uma “comunicação” apressada do que fez às APM (que pretenderá fazer passar por audição, a fim de contornar a Constituição e a Lei, aspectos em que se vem revelando exímio), depois de tudo estar decidido.
No final do processo, depois de impor as suas condições, o Governo afirmará que o documento mereceu a concordância dos Chefes Militares, como, também, tem sido habitual.
O EMFAR traz GRAVÍSSIMAS alterações que vão ainda piorar, MUITÍSSIMO, as legítimas expectativas e, com isso, a vida dos Militares, especialmente os do Activo, bem como a das suas Famílias (assim indicam os "rumores" que nos têm chegado (...)»

*** Estatuto dos Militares das Forças Armadas

Troco

Em entrevista à Visão, disse o SG do PCP que a substituição da liderança no PS, pelo Costa, não foi mais que "um processo de mudança de caras". Assim mesmo e só!
Ora isto (em linguagem despida dos véus de uma certa urbanidade e da dita boa educação), é o mesmo que mandar à bardamerda 200 mil cidadãos eleitores da área do PS, envolvidos no assunto.
Pela parte que me toca, e é alguma, deixo aqui, a Jerónimo, o troco. Exactamente na mesma moeda, a igual câmbio. Vá bardamerda mais os seus palpites!

Visto de longe

Parece um texto chato. Mas é leitura útil.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Com a verdade me enganas!

[Martin Luther King, líder dos direitos cívicos na América, assassinado a tiro em 1968]
Foram sempre assim. Estes acabam sempre por tirar a máscara, quando isso já não servir a ninguém.

Futricas aos comandos. Ainda por cima cretinos chapados.

"A Força Aérea pediu ao ministro da Defesa que aprove a "convocação de militares na reserva de disponibilidade", com vista a ultrapassar a situação crítica que a falta de militares bombeiros está a ter na execução e segurança da atividade aérea. Num memorando enviado a José Pedro Aguiar-Branco, o general José Araújo Pinheiro, Chefe do Estado-Maior da Força (CEMFA), deixa claro que a situação "está a pôr seriamente em causa a capacidade da Força Aérea para garantir a prestação de assistência e socorro nas suas unidades."
Se o ministro da Defesa aprovar a convocação dos militares bombeiros na reserva, os interessados terão de se oferecer para prestarem serviço durante quatro meses, prorrogáveis até um ano. Ainda segundo o CEMFA, de um efetivo total de 115 militares bombeiros, a partir desde mês "o efetivo real passará a ser de 64 militares."
[António Sérgio Azenha, CM de 2014NOV14]