Mais urbano ou mais rural, é muito raro o estanco português em que não esteja estendida no balcão essa pérola da imprensa que é o Correio da Manhã. E eu, que faço questão de andar bem informado, leio-o sempre. Na verdade considero que um tão grande favor dos leitores só pode ser o prémio da sua qualidade como órgão de informação. Diz o mercado que o consumidor premeia aquilo que é melhor, e eu acredito.
Ontem informava a primeira página do CM: motorista (de Sócrates) caçado com malas de dinheiro do seu patrão. Eu não podia resistir à novidade, levado por essa onda de fervor patriótico, que me avassala sempre que vejo a pátria sangrar.
Na página 4, a cimalha era já algo diferente, assegurando que o motorista de Sócrates tinha sido fotografado com malas de dinheiro do seu patrão. E eu, que ia à procura duma jaula onde estaria aprisionado o motorista caçado, lá me resignei. Fui em busca duma imagem, duma fotografia do meliante com as malas na mão. Mas não havia jaula nem imagem. Ainda imaginei que houvesse um texto, a explicar o despautério. Qual quê?!
Concluí que o corpo redatorial do jornalinho, coitado dele, na sua incansável luta pela verdade e pela completa informação dos seus leitores, não teve tempo de esmiuçar melhor as afirmações feitas sobre o motorista caçado, ou sequer fotografado. O justo tempo de fazer as afirmações e fundamentá-las. Não me passa pela cabeça a ideia infame da manipulação, por parte do jornal mais desfolhado pelos leitores como eu. Confesso que senti alguma frustração, mas acabei por compreender. E amanhã voltarei ao CM, onde quer que o encontre à minha disposição.
É que preciso de saber o que decide o super-juiz Carlos Alexandre, em relação ao patrão do motorista que foi caçado com as malas da grana. O Alexandre é, em juiz, o mesmo que, em jornal, é o CM. É o dono disto tudo, no que à justiça respeita. Não há mega-processo em que não mande, ou dele não dependa. Como se os códigos dele tivessem mais capítulos, ou alíneas, ou notas de roda-pé, ou anotações à margem, do que os manuais em uso pelos míseros colegas.
Ainda bem que Portugal tem um juiz Alexandre para tomar as decisões, e um magistrado Teixeira para maestrar as investigações. É que ter só um Correio da Manhã, uma coisa de papel, era capaz de ser pouco eficaz, para acabar com tanta impunidade e fazer disto um país.
[Ironias da História, ou Com a verdade me enganas! - As pegas chamam a isto o Processo Marquês. E ao Marquês fizeram-lhe a mesma coisa, logo que fechou os olhos o rei do terramoto.]