quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
A história duma ideia perigosa 7
(Cont.)
«O dinheiro que o BCE deu aos bancos foi utilizado para comprar alguma dívida governamental de curto prazo (para baixar um pouco os juros das nossas obrigações) mas a maioria ficou no BCE como seguro de catástrofe, em vez de circular na economia real e ajudar-nos a voltar ao trabalho. Afinal estamos no meio duma recessão que está a ser dinamizada por políticas de austeridade. Quem é que havia de contrair empréstimos e investir no meio daquela confusão? Toda a economia está em recessão, as pessoas estão a reembolsar as dívidas e ninguém está a pedir dinheiro emprestado. Isso faz com que os preços caiam, provocando cada vez maiores imparidades nos bancos e tornando a economia cada vez mais esclerótica.
Não há literalmente nada que possamos fazer. Precisamos de manter os bancos solventes ou desmoronam-se, e são tão grandes e estão tão interligados que, mesmo que fosse apenas um a ir-se abaixo, isso podia fazer explodir todo o sistema. Por mais horrível que seja a austeridade, não é nada comparada com um colapso geral do sistema financeiro.
Portanto, não podemos inflacionar e transferir o custo para os aforradores, não podemos desvalorizar e transferir o custo para os estrangeiros, e não podemos incumprir sem nos matarmos, pelo que precisamos de desinflacionar, durante o tempo que for necessário para que os balanços desses bancos ganhem qualquer forma sustentável.
É por isso que não podemos deixar ninguém sair do euro. Se os gregos, por exemplo, saíssem do euro, talvez fôssemos capazes de aguentar. Mas não se pode vender a Itália. É muito. O risco de contágio destruiria os bancos de toda a gente. Portanto a única ferramenta política que temos para estabilizar o sistema é toda a gente deflacionar em relação à Alemanha, que é uma coisa realmente difícil de fazer mesmo nos melhores tempos. É horrível mas é isso. O vosso desemprego salvará os bancos, e de caminho salvará os fundos soberanos que não conseguem salvar por si os bancos, e assim salvar o euro. Nós, as classes políticas da Europa, gostaríamos de lhes agradecer o vosso sacrifício.
Isto é um discurso que você nunca ouvirá. Mas é a verdadeira razão pela qual todos precisamos de ser austeros. Quando o sistema bancário se torna demasiado grande para resgatar, o negócio de risco moral que iniciou tudo torna-se "risco imoral sistémico" - uma trama de extorsão com a ajuda e encorajamento dos próprios políticos eleitos para servir os nossos interesses. Quando esse negócio se faz num conjunto de instituições que é incapaz de resolver a crise que enfrenta, o resultado é a austeridade permanente.»
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out. 2013]
[É esta a grande armadilha em que todos nos encontramos! Não todos, claro, só a maioria esmagadora!!!]
«O dinheiro que o BCE deu aos bancos foi utilizado para comprar alguma dívida governamental de curto prazo (para baixar um pouco os juros das nossas obrigações) mas a maioria ficou no BCE como seguro de catástrofe, em vez de circular na economia real e ajudar-nos a voltar ao trabalho. Afinal estamos no meio duma recessão que está a ser dinamizada por políticas de austeridade. Quem é que havia de contrair empréstimos e investir no meio daquela confusão? Toda a economia está em recessão, as pessoas estão a reembolsar as dívidas e ninguém está a pedir dinheiro emprestado. Isso faz com que os preços caiam, provocando cada vez maiores imparidades nos bancos e tornando a economia cada vez mais esclerótica.
Não há literalmente nada que possamos fazer. Precisamos de manter os bancos solventes ou desmoronam-se, e são tão grandes e estão tão interligados que, mesmo que fosse apenas um a ir-se abaixo, isso podia fazer explodir todo o sistema. Por mais horrível que seja a austeridade, não é nada comparada com um colapso geral do sistema financeiro.
Portanto, não podemos inflacionar e transferir o custo para os aforradores, não podemos desvalorizar e transferir o custo para os estrangeiros, e não podemos incumprir sem nos matarmos, pelo que precisamos de desinflacionar, durante o tempo que for necessário para que os balanços desses bancos ganhem qualquer forma sustentável.
É por isso que não podemos deixar ninguém sair do euro. Se os gregos, por exemplo, saíssem do euro, talvez fôssemos capazes de aguentar. Mas não se pode vender a Itália. É muito. O risco de contágio destruiria os bancos de toda a gente. Portanto a única ferramenta política que temos para estabilizar o sistema é toda a gente deflacionar em relação à Alemanha, que é uma coisa realmente difícil de fazer mesmo nos melhores tempos. É horrível mas é isso. O vosso desemprego salvará os bancos, e de caminho salvará os fundos soberanos que não conseguem salvar por si os bancos, e assim salvar o euro. Nós, as classes políticas da Europa, gostaríamos de lhes agradecer o vosso sacrifício.
Isto é um discurso que você nunca ouvirá. Mas é a verdadeira razão pela qual todos precisamos de ser austeros. Quando o sistema bancário se torna demasiado grande para resgatar, o negócio de risco moral que iniciou tudo torna-se "risco imoral sistémico" - uma trama de extorsão com a ajuda e encorajamento dos próprios políticos eleitos para servir os nossos interesses. Quando esse negócio se faz num conjunto de instituições que é incapaz de resolver a crise que enfrenta, o resultado é a austeridade permanente.»
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out. 2013]
[É esta a grande armadilha em que todos nos encontramos! Não todos, claro, só a maioria esmagadora!!!]
A história duma ideia perigosa 6
(...)
«Então porque é que os governos europeus fazem o grande "engodo e desvio", e depois culpam os fundos [dívidas] soberanos de tudo, por terem gasto demais? Basicamente é porque numa democracia dificilmente se pode ser honesto acerca do que se está a fazer, e esperar sobreviver. Imagine-se um político europeu importante a tentar explicar por que razão um quarto da Espanha precisa de estar desempregado, e por que razão toda a periferia europeia precisa de estar em permanente recessão, para salvar uma moeda que só existe há uma década. Como soaria isso? Suspeito que seria mais ou menos assim:
Concidadãos! Temos andado a dizer-lhes nos últimos quatro anos que a razão pela qual estão sem trabalho, e a próxima década será miserável, é que os Estados gastaram demais. Portanto agora precisamos todos de ser austeros e de voltar a algo chamado "finanças públicas sustentáveis". É porém tempo de dizer a verdade. A explosão da dívida soberana é um sintoma, e não uma causa, da crise em que nos encontramos hoje.
O que realmente aconteceu foi que os maiores bancos dos principais países da Europa compraram muita dívida soberana aos seus vizinhos da periferia, os PIIGS. Isso inundou os PIIGS com dinheiro barato para comprar produtos básicos do país, donde os actuais desequilíbrios das contas da zona euro, e a consequente perda de competitividade dessas economias periféricas. (...)
Isso estava tudo a correr bem até os mercados entrarem em pânico com a Grécia e perceberem, através das nossas respostas de "empurrar com a barriga", que as instituições designadas para gerir a UE não conseguiam lidar com nada disto. (...)
O problema é que tínhamos abdicado das nossas impressoras e de taxas de câmbio independentes - os nossos amortecedores económicos - para adoptar o euro. (...)
Enquanto a Fed e o Banco de Inglaterra podem aceitar os activos que desejarem em troca das quantias em dinheiro que quiserem distribuir, o BCE está constitucional e intelectualmente limitado no que pode aceitar. (...) É mesmo bom a combater a inflação, mas quando há uma crise da banca é praticamente inútil. Tem adquirido novos poderes a pouco e pouco, ao longo da crise, para nos ajudar a sobreviver, mas a sua capacidade continua a ser muito limitada.
Agora junte-se a isso o facto de o sistema bancário europeu como um todo ter três vezes o tamanho do sistema bancário norte-americano e estar aproximadamente duas vezes mais alavancado do que ele; aceite-se que o BCE está cheio de activos de baixa qualidade que não pode eliminar das contas, e vê-se que temos um problema.(...) A resposta curta é que não conseguimos corrigir o problema. A única coisa que conseguimos é "empurrar com a barriga", o que se concretizará numa década perdida de crescimento e de emprego.
Estão a ver, os bancos que resgatámos em 2008 obrigaram-nos a assumir todo um carregamento de nova dívida soberana, para pagar os prejuízos deles e assegurar a sua solvência. Mas os bancos nunca recuperaram realmente, e em 2010 e 2011 começaram a ficar sem dinheiro. Portanto, o BCE teve de agir contra os seus instintos e inundar os bancos com mil milhões de euros de dinheiro muito barato, as Operações de Refinanciamento a Longo Prazo, quando os bancos europeus já não eram capazes de obter dinheiro emprestado nos EUA.»
(Continua)
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out. 2013]
«Então porque é que os governos europeus fazem o grande "engodo e desvio", e depois culpam os fundos [dívidas] soberanos de tudo, por terem gasto demais? Basicamente é porque numa democracia dificilmente se pode ser honesto acerca do que se está a fazer, e esperar sobreviver. Imagine-se um político europeu importante a tentar explicar por que razão um quarto da Espanha precisa de estar desempregado, e por que razão toda a periferia europeia precisa de estar em permanente recessão, para salvar uma moeda que só existe há uma década. Como soaria isso? Suspeito que seria mais ou menos assim:
Concidadãos! Temos andado a dizer-lhes nos últimos quatro anos que a razão pela qual estão sem trabalho, e a próxima década será miserável, é que os Estados gastaram demais. Portanto agora precisamos todos de ser austeros e de voltar a algo chamado "finanças públicas sustentáveis". É porém tempo de dizer a verdade. A explosão da dívida soberana é um sintoma, e não uma causa, da crise em que nos encontramos hoje.
O que realmente aconteceu foi que os maiores bancos dos principais países da Europa compraram muita dívida soberana aos seus vizinhos da periferia, os PIIGS. Isso inundou os PIIGS com dinheiro barato para comprar produtos básicos do país, donde os actuais desequilíbrios das contas da zona euro, e a consequente perda de competitividade dessas economias periféricas. (...)
Isso estava tudo a correr bem até os mercados entrarem em pânico com a Grécia e perceberem, através das nossas respostas de "empurrar com a barriga", que as instituições designadas para gerir a UE não conseguiam lidar com nada disto. (...)
O problema é que tínhamos abdicado das nossas impressoras e de taxas de câmbio independentes - os nossos amortecedores económicos - para adoptar o euro. (...)
Enquanto a Fed e o Banco de Inglaterra podem aceitar os activos que desejarem em troca das quantias em dinheiro que quiserem distribuir, o BCE está constitucional e intelectualmente limitado no que pode aceitar. (...) É mesmo bom a combater a inflação, mas quando há uma crise da banca é praticamente inútil. Tem adquirido novos poderes a pouco e pouco, ao longo da crise, para nos ajudar a sobreviver, mas a sua capacidade continua a ser muito limitada.
Agora junte-se a isso o facto de o sistema bancário europeu como um todo ter três vezes o tamanho do sistema bancário norte-americano e estar aproximadamente duas vezes mais alavancado do que ele; aceite-se que o BCE está cheio de activos de baixa qualidade que não pode eliminar das contas, e vê-se que temos um problema.(...) A resposta curta é que não conseguimos corrigir o problema. A única coisa que conseguimos é "empurrar com a barriga", o que se concretizará numa década perdida de crescimento e de emprego.
Estão a ver, os bancos que resgatámos em 2008 obrigaram-nos a assumir todo um carregamento de nova dívida soberana, para pagar os prejuízos deles e assegurar a sua solvência. Mas os bancos nunca recuperaram realmente, e em 2010 e 2011 começaram a ficar sem dinheiro. Portanto, o BCE teve de agir contra os seus instintos e inundar os bancos com mil milhões de euros de dinheiro muito barato, as Operações de Refinanciamento a Longo Prazo, quando os bancos europeus já não eram capazes de obter dinheiro emprestado nos EUA.»
(Continua)
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out. 2013]
Outro filho da puta
Ali.http://www.tvi24.iol.pt/videos/video/14072557/1
[«Todos os direitos das pessoas podem ser referendados». Mas que gente é esta?!]
[«Todos os direitos das pessoas podem ser referendados». Mas que gente é esta?!]
O último maçaricão-esquimó 8
(Cont.)
Alguns dias mais tarde, a reserva perdera toda a excitação.
O maçaricão-esquimó elevou-se no ar e voou um par de horas na direcção do Sul.
Quando sentiu fome poisou num terreno pantanoso, onde um rio desaguava num
grande lago. Vindas da tundra a caminho do Sul, chegavam em bando, como todos
os verões, as narcejas velhas e novas e os pequenos maçaricos-das-rochas.
Pilritos de longas pernas passavam sobre a margem do lago, em oscilantes
formações em V. Ele parou de comer e soltou um grito excitado. Este modo de
voar, estas formações, só podiam ser de maçaricões. Passavam em formação
cerrada e moviam-se tão exactamente como se todos eles formassem um corpo, como
se um único centro nervoso controlasse todo o bando. Mantinham as asas curvadas
para baixo e desciam para o solo em voo planado. O maçaricão-esquimó correu ao
seu encontro. Mas, depois de algumas passadas, parou de repente e continuou a
comer, indiferente. Os outros eram maçaricões-norte-americanos, e ele
reconheceu-os pelos bicos mais curtos e pelas barrigas cor de cabedal.
Não
sabia que os recém-chegados, muito parecidos com ele, voavam mais lentamente, e
que, por isso mesmo, não eram companheiros de viagem adequados. Também
desconhecia que as narcejas jovens só um pouco mais tarde adquiriam força
suficiente para a longa viagem, e eram deixadas para trás pelos pais. No
entanto elas seguiam-nos instintivamente ao longo da perigosa rota de doze mil
quilómetros, que iam fazer pela primeira vez. Os modelos de comportamento,
fixados através dos genes de numerosas gerações, apenas diziam ao maçaricão o
que ele tinha que fazer, sem lhe esclarecer os motivos. O seu comportamento não
era definido por decisões racionais, mas por reacções aos estímulos do
ambiente. De bom grado se teria juntado a um bando migratório. Mas os
maçaricões-norte-americanos não provocavam nenhuma reacção no seu cérebro, e
por isso continuou a procurar alimento, quase sem olhar para eles. Quando
levantaram voo mal deu por isso. A terra estava cheia de ruídos de asas em
movimento, e o maçaricão ficou de novo só.
Durante
a tarde, o pântano ficou salpicado de narcejas que interromperam o voo e
esgaravatavam o lodo em busca de alimento. A maior parte mantinha-se agrupada
por espécies. E, com a chegada do crepúsculo, os bandos abalaram, um após
outro. Só o maçaricão ficou. Os outros comunicavam por pequenos trinados,
organizando as suas formações na escuridão que se instalava. Por uns momentos rondavam
a mil metros por cima da tundra, até que rompiam para Sul. As narcejas viajam
sempre de noite. Digerem rapidamente, consomem muita energia, e durante o dia
têm que procurar alimento. Durante as migrações, o seu alto consumo de energia
só pode ser satisfeito através da exacta regulação do tempo de voo. Ele tem de
terminar logo que amanhece, mal as aves podem começar a alimentar-se.
Lá no
alto, por cima de si, o maçaricão ouvia as fracas vozes ciciadas das aves que
se dirigiam do Árctico para outras paragens mais quentes. Nas margens dos
charcos começavam a formar-se cristais de gelo. O instinto do maçaricão-esquimó
proibia-o de voar sozinho. Porém, quando lançou à noite fria um chamamento
estridente, ninguém respondeu. E era tempo de partir.
Elevou-se
na aragem, procurou encontrar o ângulo mais favorável, com o bordo de ataque
das asas levantado e o bordo de fuga descaído, até sentir finalmente a corrente
ascendente. Na família das galinholas, o maçaricão dispunha das asas mais
adaptadas a um voo fácil e rápido; eram longas, estreitas, e graciosamente
terminadas em ponta. Mesmo quando ficava parado, de asas abertas, no vento
suave da noite, era transportado pela aragem como se não tivesse peso.
Lançava-se agilmente para o ar com o impulso das pernas, dava duas batidas de
asa para obter estabilidade de voo, e elevava-se quase sem esforço. Durante
mais de um minuto subiu na vertical, até que a tundra desapareceu lá em baixo,
no cinzento do crepúsculo. Depois manteve a altitude. A velocidade aumentou, e
ele voava com batidas mais leves e mais lentas. O ar sibilava à sua volta e
comprimia-lhe as penas contra o corpo. A viagem tinha começado. Mesmo o seu
cérebro primitivo e simples sentia vagamente que o caminho indefinido,
estendido diante de si por dois subcontinentes, era um corredor da morte. Nele
não havia misericórdia, apenas ameaças de tempestades, de inimigos, da própria
morte. No entanto, antes de a tundra inóspita mergulhar na névoa do horizonte,
o maçaricão pressentiu levemente que o impulso nupcial havia de chamá-lo no
próximo ano. Na Primavera voltaria a esperar pela sua fêmea, quando os musgos e
os líquenes do Árctico ficassem verdes outra vez.
O CORREDOR
DA MORTE
...
Apontamentos de Lucien McShaw Turner, até agora não publicados, sobre as aves
da baía de Ungava... Não vi nenhum maçaricão-esquimó, até à manhã do dia 4 de
Setembro de 1884, quando regressávamos da foz do rio Koksoak. Um bando enorme,
de várias centenas de exemplares, voava em direcção ao Sul...
(Cont.)
A história duma ideia perigosa 5
(...)
«Quando os investidores começaram a preocupar-se com os fundos soberanos europeus, as agências de notação de crédito começaram a baixar a nota desses fundos soberanos e as suas obrigações passaram de AAA para BBB, e pior ainda. (...)
Os bancos com activos saudáveis talvez fossem capazes de aguentar essa súbita perda de financiamento, mas além das hipotecas dos Estados Unidos que estavam a congelar as suas contas, os bancos europeus estacam cheios de outros activos periféricos em rápida desvalorização. As exposições eram mais uma vez espantosas. No princípio de 2010, os bancos da zona euro tinham uma exposição colectiva à Espanha de 727 mil milhões de dólares, de 402 mil milhões à Irlanda, e de 206 mil milhões à Grécia. A exposição dos bancos franceses e alemães aos PIIGS foi estimada em 2010 em mil biliões de dólares. Só os bancos franceses tinham cerca de 493 biliões de dólares de exposição aos PIIGS, que era o equivalente a 20% do PIB francês. A Standard & Poor's calculou que as exposições francesas ascendessem, no total, a 30% do PIB.
Mais uma vez a grande maioria dessas exposições eram do setor privado - empréstimos imobiliários em Espanha e similares. A componente soberana desses números era relativamente pequena. (...) O que aconteceu nos EUA em 2008, com uma "crise de liquidez" generalizada, acelerou na Europa em 2010 e 2011. (...) Outro continente, outra crise da banca, e no entanto só ouvíamos falar de fundos soberanos libertinos que gastavam demais - porquê? (...)
A resposta curta é que, com os bancos da Europa alavancados para além de tudo o que os bancos dos EUA alguma vez tinham conseguido (...), mais uma vez os problemas dos bancos tornam-se problemas dos Estados. Mas ao contrário dos EUA (e do Reino Unido), os Estados em questão nem sequer conseguem começar a resolver esses problemas, uma vez que desistiram das suas impressoras, ao mesmo tempo que deixaram os seus bancos tornar-se demasiado grandes para resgatar. (...)
Se os Estados não conseguirem sair dos problemas através da inflação (não há impressora) nem desvalorizar para fazer a mesma coisa (não há moeda soberana), só podem incumprir (o que fará estoirar o sistema bancário, pelo que não é uma opção); isso deixa apenas a deflação interna, através dos preços e salários - austeridade. Esta é a verdadeira razão pela qual todos temos que ser austeros. Mais uma vez, trata-se de salvar os bancos».
[Austeridade, Mark Blith, Ed. Quetzal, Out.2013]
«Quando os investidores começaram a preocupar-se com os fundos soberanos europeus, as agências de notação de crédito começaram a baixar a nota desses fundos soberanos e as suas obrigações passaram de AAA para BBB, e pior ainda. (...)
Os bancos com activos saudáveis talvez fossem capazes de aguentar essa súbita perda de financiamento, mas além das hipotecas dos Estados Unidos que estavam a congelar as suas contas, os bancos europeus estacam cheios de outros activos periféricos em rápida desvalorização. As exposições eram mais uma vez espantosas. No princípio de 2010, os bancos da zona euro tinham uma exposição colectiva à Espanha de 727 mil milhões de dólares, de 402 mil milhões à Irlanda, e de 206 mil milhões à Grécia. A exposição dos bancos franceses e alemães aos PIIGS foi estimada em 2010 em mil biliões de dólares. Só os bancos franceses tinham cerca de 493 biliões de dólares de exposição aos PIIGS, que era o equivalente a 20% do PIB francês. A Standard & Poor's calculou que as exposições francesas ascendessem, no total, a 30% do PIB.
Mais uma vez a grande maioria dessas exposições eram do setor privado - empréstimos imobiliários em Espanha e similares. A componente soberana desses números era relativamente pequena. (...) O que aconteceu nos EUA em 2008, com uma "crise de liquidez" generalizada, acelerou na Europa em 2010 e 2011. (...) Outro continente, outra crise da banca, e no entanto só ouvíamos falar de fundos soberanos libertinos que gastavam demais - porquê? (...)
A resposta curta é que, com os bancos da Europa alavancados para além de tudo o que os bancos dos EUA alguma vez tinham conseguido (...), mais uma vez os problemas dos bancos tornam-se problemas dos Estados. Mas ao contrário dos EUA (e do Reino Unido), os Estados em questão nem sequer conseguem começar a resolver esses problemas, uma vez que desistiram das suas impressoras, ao mesmo tempo que deixaram os seus bancos tornar-se demasiado grandes para resgatar. (...)
Se os Estados não conseguirem sair dos problemas através da inflação (não há impressora) nem desvalorizar para fazer a mesma coisa (não há moeda soberana), só podem incumprir (o que fará estoirar o sistema bancário, pelo que não é uma opção); isso deixa apenas a deflação interna, através dos preços e salários - austeridade. Esta é a verdadeira razão pela qual todos temos que ser austeros. Mais uma vez, trata-se de salvar os bancos».
[Austeridade, Mark Blith, Ed. Quetzal, Out.2013]
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Eles analisam o Cavaco
E talvez não se justifique ouvir tudo.
Mas os minutos 6:40, 22:50, 23:30 e 40:30 são indispensáveis. É como limpar o rabinho a meninos.
Mas os minutos 6:40, 22:50, 23:30 e 40:30 são indispensáveis. É como limpar o rabinho a meninos.
O último maçaricão-esquimó 7
(Cont.)
O ponto alto do ciclo de actividade das glândulas acabava
de ser ultrapassado. A produção de hormonas era cada vez menor, e com ela
desaparecia lentamente o impulso de acasalamento e a agressividade. Em seu
lugar veio uma outra necessidade. Dantes era a defesa da reserva o primeiro
mandamento, mesmo mais importante do que a busca de alimento. Agora começava a
sentir as primeiras manifestações de impulso para o movimento que não se calava.
Nenhuma fêmea viera, e a reserva perdera significado.
De vez
em quando observava a tarambola-dourada, mas ela não se ia embora. Acabou por
deixar de se preocupar com ela e esqueceu-a. Durante um dia deambulou por ali.
Às vezes dava-se conta dos intrusos que lhe penetravam na reserva, mas logo os
esquecia. No dia seguinte outras narcejas chegaram à reserva. Chegavam e
partiam, e o maçaricão não lhes ligava qualquer importância. Uma vez voou mesmo
um bom bocado pelo rio abaixo, e ficou longe durante um par de horas. Foi a
primeira vez que deixou a reserva, desde a sua chegada, há dois meses atrás.
À sua
volta as narcejas novas cresciam rapidamente. Os pais abandonavam-nas e elas
tinham que fazer pela vida. Era uma separação brusca e total. Pais e filhos
formavam, cada um, o seu bando migratório.
Chegou o
fim de Julho. O pântano fervilhava de insectos e crustáceos, que eram o
alimento das narcejas. Havia agora alimento em demasia, e faltavam ainda alguns
meses para ao inverno. Mas o Árctico já tinha cumprido o seu papel. E o Sul
chamava insistentemente, semanas a fio, antes que os bandos de facto se
pusessem a caminho. O maçaricão, que durante todo o Verão lutara furiosamente
por ficar sozinho, ansiava agora por companhia. Isso nada tinha que ver com o
pensamento ou com a inteligência. Ele reagia simplesmente ao primitivo modelo
de comportamento da espécie, às alterações do ciclo fisiológico. Os dias eram
cada vez mais curtos, o sol cada vez mais fraco, e com isso reduzia-se também a
actividade da hipófise. As hormonas da hipófise estimulavam as gónadas a
derramar hormonas sexuais na corrente sanguínea. E agora, ao reduzir-se a
produção de hormonas sexuais, desaparecia o agressivo impulso de acasalamento,
substituído pelo instinto migratório. Era apenas um processo fisiológico. O
maçaricão não tinha consciência de que o Inverno ia chegar ao Árctico, e de que
morreria à fome quem se alimentava de insectos e ali permanecesse. Ele conhecia
apenas a irresistível força que agora o obrigava a migrar.
Porém,
algures no seu cérebro rudimentar, esboçava-se um processo de pensamento
elementar. Por que razão estava sempre sozinho? Onde paravam as fêmeas que o
seu instinto lhe prometia em cada primavera, quando o fogo nupcial ardia em
todas as suas células? Nesta altura, as outras aves juntavam-se em bandos
migratórios. Mas por que motivo não havia, entre as miríades de narcejas e
outras espécies de maçaricos, nenhuma outra com a penugem castanha clara, que
ele prontamente reconheceria como irmã de casta?
(Cont.)
A história duma ideia perigosa 4
(...)
«Na Europa [na Primavera de 2010] o BCE causticava a Grécia como sendo o futuro de todos os Estados europeus, a menos que os orçamentos fossem cortados. O momento da austeridade ao sol tinha chegado por obséquio dos gregos. A ofensiva contra o keynesianismo a nível global ficou ligada à descoberta da crise da dívida grega, e amplificada através da ameaça de contágio, para estabelecer a austeridade orçamental como nova política du jour. Mas ao fazê-lo confundiu-se causa e correlação muito deliberadamente, em grande escala.
O resultado de todo este rebatismo oportunista foi a maior operação de "engodo e desvio" da história moderna. O que eram essencialmente problemas de dívida do setor privado foi rebatizado como "a Dívida" gerada por despesa pública "descontrolada". Todavia, de todos os PIIGS, apenas a Grécia foi, em algum sentido significativo, libertina. [E para comprar os aviões franceses e os submarinos alemães, por causa da situação de fricção com a Turquia à volta de Chipre]. A Itália pode ter sido relaxada, mas ninguém se importava que tivesse o maior mercado obrigacionista do mundo até 2010, quando o contágio e a demografia fizeram os detentores de dívida italiana parar para pensar.
Portugal talvez tenha gasto uma quantia bastante grande a modernizar as suas infraestruturas. Na Irlanda e na Espanha foram crises essenciais do imobiliário e da banca do setor privado, governadas por Estados orçamentalmente mais prudentes do que a Alemanha, onde os riscos foram socializados enquanto os lucros foram privatizados. Em todos os casos, as fraquezas do setor privado acabaram por criar responsabilidades do setor público, que os europeus têm agora de pagar com programas de austeridade que pioram a situação mais do que a melhoram. A crise orçamental de todos esses países foi a consequência da crise financeira que lá deu à costa, e não a sua causa. (...)
Para compreender realmente a razão pela qual a Europa tem vindo a retalhar-se até à insolvência, precisamos de incorporar estes fatores ideológicos e políticos muito reais num relato do modo como o euro, enquanto divisa, permitiu o desenvolvimento dum sistema de bancos que é demasiado grande para falir. Se os EUA tinham bancos que eram demasiado grandes para falir, a Europa tem um sistema de bancos que é colectivamente demasiado grande para falir ou resgatar. Isto é, não há fundo soberano que possa cobrir os riscos gerados pelos seus próprios bancos, porque são demasiado grandes, e o fundo soberano não tem impressora [de euros]. Neste mundo pode não haver resgate suficientemente grande para salvar o sistema, se ele começar a falhar. Consequentemente, não se pode permitir que o sistema falhe, que é a verdadeira razão pela qual temos todos que ser austeros. (...) Mais uma vez precisamos de salvar os bancos deles mesmos.
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out.2013]
«Na Europa [na Primavera de 2010] o BCE causticava a Grécia como sendo o futuro de todos os Estados europeus, a menos que os orçamentos fossem cortados. O momento da austeridade ao sol tinha chegado por obséquio dos gregos. A ofensiva contra o keynesianismo a nível global ficou ligada à descoberta da crise da dívida grega, e amplificada através da ameaça de contágio, para estabelecer a austeridade orçamental como nova política du jour. Mas ao fazê-lo confundiu-se causa e correlação muito deliberadamente, em grande escala.
O resultado de todo este rebatismo oportunista foi a maior operação de "engodo e desvio" da história moderna. O que eram essencialmente problemas de dívida do setor privado foi rebatizado como "a Dívida" gerada por despesa pública "descontrolada". Todavia, de todos os PIIGS, apenas a Grécia foi, em algum sentido significativo, libertina. [E para comprar os aviões franceses e os submarinos alemães, por causa da situação de fricção com a Turquia à volta de Chipre]. A Itália pode ter sido relaxada, mas ninguém se importava que tivesse o maior mercado obrigacionista do mundo até 2010, quando o contágio e a demografia fizeram os detentores de dívida italiana parar para pensar.
Portugal talvez tenha gasto uma quantia bastante grande a modernizar as suas infraestruturas. Na Irlanda e na Espanha foram crises essenciais do imobiliário e da banca do setor privado, governadas por Estados orçamentalmente mais prudentes do que a Alemanha, onde os riscos foram socializados enquanto os lucros foram privatizados. Em todos os casos, as fraquezas do setor privado acabaram por criar responsabilidades do setor público, que os europeus têm agora de pagar com programas de austeridade que pioram a situação mais do que a melhoram. A crise orçamental de todos esses países foi a consequência da crise financeira que lá deu à costa, e não a sua causa. (...)
Para compreender realmente a razão pela qual a Europa tem vindo a retalhar-se até à insolvência, precisamos de incorporar estes fatores ideológicos e políticos muito reais num relato do modo como o euro, enquanto divisa, permitiu o desenvolvimento dum sistema de bancos que é demasiado grande para falir. Se os EUA tinham bancos que eram demasiado grandes para falir, a Europa tem um sistema de bancos que é colectivamente demasiado grande para falir ou resgatar. Isto é, não há fundo soberano que possa cobrir os riscos gerados pelos seus próprios bancos, porque são demasiado grandes, e o fundo soberano não tem impressora [de euros]. Neste mundo pode não haver resgate suficientemente grande para salvar o sistema, se ele começar a falhar. Consequentemente, não se pode permitir que o sistema falhe, que é a verdadeira razão pela qual temos todos que ser austeros. (...) Mais uma vez precisamos de salvar os bancos deles mesmos.
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out.2013]
A história duma ideia perigosa 3
(...)
«O sistema bancário dos EUA, origem da crise bancária global, foi considerado pelo governo americano demasiado grande para falir, e por isso não se permitiu que falisse quando começou com problemas em 2007/2008. O preço de não permitir que falisse foi transformar a reserva federal num "banco tóxico" (a abarrotar de activos tóxicos que foram trocados por dinheiro para manter os empréstimos) (...). O que é menos sabido é que a parte 2 desta crise é simplesmente outra variante desta história, actualmente a passar-se na Europa.
Os Gregos bem podem ter mentido acerca das suas dívidas e dos seus défices, como se alega, mas os Gregos são a exceção e não a regra. O que realmente aconteceu na Europa foi que, na década da introdução do euro, bancos gigantescos de países nucleares da Europa compraram grandes quantidades de dívida soberana periférica, e alavancaram-se muito mais do que os seus primos norte-americanos. Estarem alavancados, em alguns casos 40 para 1 ou mais, significa que uma viragem de poucos pontos percentuais contra os seus activos pode deixá-los insolventes. Como consequência, em vez de serem demasiado grandes para falir, os bancos europeus, quando se somam as suas responsabilidades, são "demasiado grandes para (qualquer governo) resgatar". (...)
Os Estados Unidos podem imprimir notas para sair do problema porque têm as suas próprias impressoras e o dólar é o activo global de reserva. A França não pode fazê-lo, uma vez que o Estado francês já não comanda a sua impressora, e portanto não pode resgatar directamente os seus bancos. Nem a Espanha, nem mais ninguém. Como resultado, os juros das obrigações do governo francês estão a subir, não por a França não poder pagar o seu Estado-Providência, mas porque o seu sistema bancário constitui, para o Estado, uma responsabilidade demasiado grande para resgatar.
Todavia, se um desses bancos gigantescos falisse mesmo, teria de ser resgatado pelo seu Estado. Se esse Estado tiver um nível de dívida em relação ao PIB de 40%, o resgate é possível. Se já tiver uma dívida perto dos 90%, é quase impossível o Estado assumir na sua conta essa responsabilidade, sem que disparem os juros das suas obrigações. É por isso que toda a Europa precisa de ser austera, porque as contas de cada Estado nacional têm de agir como amortecedor de todo o sistema. Tendo já resgatado os bancos, temos que nos assegurar que há espaço nas contas públicas para os receber. É por isso que temos austeridade. Continua a ter tudo a ver com os bancos.(...)
Esta é, primeiro, uma crise bancária e, em segundo lugar, uma crise da dívida soberana. De que existe uma crise nos mercados da dívida soberana, especialmente na Europa, não há dúvida. Mas isso é um efeito e não uma causa. Não houve nenhuma orgia de despesa governamental para nos levar aí. Nunca houve um risco geral de que todo o mundo se tornasse uma Grécia.» (...)
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out.2013]
«O sistema bancário dos EUA, origem da crise bancária global, foi considerado pelo governo americano demasiado grande para falir, e por isso não se permitiu que falisse quando começou com problemas em 2007/2008. O preço de não permitir que falisse foi transformar a reserva federal num "banco tóxico" (a abarrotar de activos tóxicos que foram trocados por dinheiro para manter os empréstimos) (...). O que é menos sabido é que a parte 2 desta crise é simplesmente outra variante desta história, actualmente a passar-se na Europa.
Os Gregos bem podem ter mentido acerca das suas dívidas e dos seus défices, como se alega, mas os Gregos são a exceção e não a regra. O que realmente aconteceu na Europa foi que, na década da introdução do euro, bancos gigantescos de países nucleares da Europa compraram grandes quantidades de dívida soberana periférica, e alavancaram-se muito mais do que os seus primos norte-americanos. Estarem alavancados, em alguns casos 40 para 1 ou mais, significa que uma viragem de poucos pontos percentuais contra os seus activos pode deixá-los insolventes. Como consequência, em vez de serem demasiado grandes para falir, os bancos europeus, quando se somam as suas responsabilidades, são "demasiado grandes para (qualquer governo) resgatar". (...)
Os Estados Unidos podem imprimir notas para sair do problema porque têm as suas próprias impressoras e o dólar é o activo global de reserva. A França não pode fazê-lo, uma vez que o Estado francês já não comanda a sua impressora, e portanto não pode resgatar directamente os seus bancos. Nem a Espanha, nem mais ninguém. Como resultado, os juros das obrigações do governo francês estão a subir, não por a França não poder pagar o seu Estado-Providência, mas porque o seu sistema bancário constitui, para o Estado, uma responsabilidade demasiado grande para resgatar.
Todavia, se um desses bancos gigantescos falisse mesmo, teria de ser resgatado pelo seu Estado. Se esse Estado tiver um nível de dívida em relação ao PIB de 40%, o resgate é possível. Se já tiver uma dívida perto dos 90%, é quase impossível o Estado assumir na sua conta essa responsabilidade, sem que disparem os juros das suas obrigações. É por isso que toda a Europa precisa de ser austera, porque as contas de cada Estado nacional têm de agir como amortecedor de todo o sistema. Tendo já resgatado os bancos, temos que nos assegurar que há espaço nas contas públicas para os receber. É por isso que temos austeridade. Continua a ter tudo a ver com os bancos.(...)
Esta é, primeiro, uma crise bancária e, em segundo lugar, uma crise da dívida soberana. De que existe uma crise nos mercados da dívida soberana, especialmente na Europa, não há dúvida. Mas isso é um efeito e não uma causa. Não houve nenhuma orgia de despesa governamental para nos levar aí. Nunca houve um risco geral de que todo o mundo se tornasse uma Grécia.» (...)
[Austeridade, Mark Blyth, Ed. Quetzal, Out.2013]
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
A história duma ideia perigosa 2
(...)
« Pressupunha-se também que as políticas de austeridade dessem estabilidade aos países da zona euro, e não que os minassem. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (os PIIGS da Europa) lançaram duros pacotes de austeridade desde que a crise financeira os atingiu, em 2008. A dívida excessiva do setor público da Grécia, o setor privado superalavancado da Espanha, a falta de liquidez de Portugal e da Itália, e os bancos insolventes da Irlanda acabaram por ser resgatados pelos concernentes Estados, abrindo buracos nas respectivas dívidas e nos respectivos défices. (...)
Portanto os PIIGS cortaram nos seus orçamentos e, enquanto as suas economias se contraíam, a dívida aumentava em vez de diminuir e, sem que isso surpreenda, os juros que tinham de pagar dispararam. A dívida líquida portuguesa em relação ao PIB aumentou de 62% em 2006 para 108% em 2012, enquanto os juros das obrigações a dez anos de Portugal passaram de 4,5% em Maio de 2009, para 14,7% em Janeiro de 2012.
O quociente da dívida da Irlanda em relação ao PIB, que era de 24,8% em 2007, subiu para 106,4% em 2012, enquanto os juros das suas obrigações a dez anos passaram de 4% em 2007 para um máximo de 14% em 2011.
Exemplo supremo da crise da zona euro e da política de austeridade, a Grécia viu a sua dívida em relação ao PIB aumentar de 106% em 2007, para 170% em 2012, apesar das sucessivas rondas de cortes de austeridade, e de os credores terem assumido a perda de 75% dos seus créditos em 2011. As obrigações da Grécia a dez anos pagam actualmente 13%, depois de terem atingido um máximo de 18,5% em Novembro de 2012.
Claramente a austeridade não está a funcionar, se "funcionar" significa reduzir a dívida e promover o crescimento. (...)
[Austeridade, Mark Blyth, Ed.Quetzal, Out. 2013]
« Pressupunha-se também que as políticas de austeridade dessem estabilidade aos países da zona euro, e não que os minassem. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (os PIIGS da Europa) lançaram duros pacotes de austeridade desde que a crise financeira os atingiu, em 2008. A dívida excessiva do setor público da Grécia, o setor privado superalavancado da Espanha, a falta de liquidez de Portugal e da Itália, e os bancos insolventes da Irlanda acabaram por ser resgatados pelos concernentes Estados, abrindo buracos nas respectivas dívidas e nos respectivos défices. (...)
Portanto os PIIGS cortaram nos seus orçamentos e, enquanto as suas economias se contraíam, a dívida aumentava em vez de diminuir e, sem que isso surpreenda, os juros que tinham de pagar dispararam. A dívida líquida portuguesa em relação ao PIB aumentou de 62% em 2006 para 108% em 2012, enquanto os juros das obrigações a dez anos de Portugal passaram de 4,5% em Maio de 2009, para 14,7% em Janeiro de 2012.
O quociente da dívida da Irlanda em relação ao PIB, que era de 24,8% em 2007, subiu para 106,4% em 2012, enquanto os juros das suas obrigações a dez anos passaram de 4% em 2007 para um máximo de 14% em 2011.
Exemplo supremo da crise da zona euro e da política de austeridade, a Grécia viu a sua dívida em relação ao PIB aumentar de 106% em 2007, para 170% em 2012, apesar das sucessivas rondas de cortes de austeridade, e de os credores terem assumido a perda de 75% dos seus créditos em 2011. As obrigações da Grécia a dez anos pagam actualmente 13%, depois de terem atingido um máximo de 18,5% em Novembro de 2012.
Claramente a austeridade não está a funcionar, se "funcionar" significa reduzir a dívida e promover o crescimento. (...)
[Austeridade, Mark Blyth, Ed.Quetzal, Out. 2013]
A história duma ideia perigosa 1
«Transformámos a política da dívida numa moralidade que desviou a culpa dos bancos para o Estado. A austeridade é a penitência - a dor virtuosa após a festa imoral - mas não vai ser uma dieta de dor que todos partilharemos. Poucos de nós são convidados para a festa, mas pedem-nos a todos que paguemos a conta.»
"Para o economista e professor Mark Blyth, a viragem global para as políticas de austeridade é uma ideia muito perigosa.
Em primeiro lugar, não funciona. (...)
Em segundo lugar, pedir aos inocentes (os cidadãos, os contribuintes) que paguem pelos erros dos culpados (os Estados, os grandes bancos) é sempre má política.
Em terceiro lugar, a receita de austeridade apenas enriquece os ricos, não traz prosperidade para todos, contraria o princípio da igualdade de oportunidades e só leva à pobreza e à desigualdade social."
[Austeridade, Ed. Quetzal, Out.2013]
"Para o economista e professor Mark Blyth, a viragem global para as políticas de austeridade é uma ideia muito perigosa.
Em primeiro lugar, não funciona. (...)
Em segundo lugar, pedir aos inocentes (os cidadãos, os contribuintes) que paguem pelos erros dos culpados (os Estados, os grandes bancos) é sempre má política.
Em terceiro lugar, a receita de austeridade apenas enriquece os ricos, não traz prosperidade para todos, contraria o princípio da igualdade de oportunidades e só leva à pobreza e à desigualdade social."
[Austeridade, Ed. Quetzal, Out.2013]
domingo, 26 de janeiro de 2014
Ó Portugal!
Se pensaste que um povo pode dar-se ao luxo de passar 40 anos a votar acefalamente num partido como o PPD, porque um bispo recomenda e dois padres mandaram;
Se pensaste que este país pode dispôr um dia dum Sócrates a governar, e depois deixá-lo queimar em lume brando durante meia dúzia de anos, numa campanha negra das elites oligárquicas como há muito se não via;
Se pensaste que te leva a algum lugar um comité central que se rege por dogmas de palha com cem anos, expulsando os seus melhores; que desde então ainda hoje sustenta que o PS é igual ao PPD, se não for bem pior; que oferece o braço e leva ao altar da governação a pior escória de traidores e de trafulhas de que o país tem memória; e se não dás conta de que toda essa vergonha não tem outro objectivo que não seja usar-te como carne para o canhão do quanto pior melhor, e garantir desse modo um nicho de 12% no mercado eleitoral da democracia burguesa e das subvenções estatais aos partidos;
Se também pensas que é viver acima das nossas possibilidades salvaguardar os avanços do país nos últimos anos, em campos como a educação pública, a ciência, a investigação, as infra-estruturas, a saúde colectiva, as tecnologias, a segurança social que tem poupado aos mais frágeis serem abandonados à beira da picada;
Se acreditaste no fraseado malabarista dos especialistas, dos agitadores da opinião, dos escribas avençados que têm sido muitos, e da imprensa domesticada ao serviço do dono;
Se acreditaste que a enorme crise economico-financeira que assola o mundo desde 2007 não existiu, nem saiu das mãos da cleptocracia bancária criminosa, antes era uma invenção do cabrão do Sócrates, já então, e ainda hoje, um aldrabão vigarista e impenitente;
Se aceitaste que, em proveito próprio e para nossa desgraça, a escória aparelhista elegesse, dentro do PS, o espantalho do Seguro, cujas qualidades e futuro de líder da oposição estão à vista;
Se acreditas que é verdade, que este governo domesticou finalmente os dragões da troika e dos mercados, e a hidra da dívida e do défice, e os juros dos agiotas, tudo a golpes de credibilidade e justa governação;
Se acreditas que o ajustamento vai terminar, que a troika será corrida a pontapé, e que o milagre do crescimento e do trabalho está de volta, ali à próxima curva;
Se assim é, ó velho Portugal, é que já não tens consciência nem lembranças do que foi o crime das elites, e a tua agonia nos tempos de Alcácer Quibir. Mas espera pela pancada, que vais voltar a tê-las!
Se pensaste que este país pode dispôr um dia dum Sócrates a governar, e depois deixá-lo queimar em lume brando durante meia dúzia de anos, numa campanha negra das elites oligárquicas como há muito se não via;
Se pensaste que te leva a algum lugar um comité central que se rege por dogmas de palha com cem anos, expulsando os seus melhores; que desde então ainda hoje sustenta que o PS é igual ao PPD, se não for bem pior; que oferece o braço e leva ao altar da governação a pior escória de traidores e de trafulhas de que o país tem memória; e se não dás conta de que toda essa vergonha não tem outro objectivo que não seja usar-te como carne para o canhão do quanto pior melhor, e garantir desse modo um nicho de 12% no mercado eleitoral da democracia burguesa e das subvenções estatais aos partidos;
Se também pensas que é viver acima das nossas possibilidades salvaguardar os avanços do país nos últimos anos, em campos como a educação pública, a ciência, a investigação, as infra-estruturas, a saúde colectiva, as tecnologias, a segurança social que tem poupado aos mais frágeis serem abandonados à beira da picada;
Se acreditaste no fraseado malabarista dos especialistas, dos agitadores da opinião, dos escribas avençados que têm sido muitos, e da imprensa domesticada ao serviço do dono;
Se acreditaste que a enorme crise economico-financeira que assola o mundo desde 2007 não existiu, nem saiu das mãos da cleptocracia bancária criminosa, antes era uma invenção do cabrão do Sócrates, já então, e ainda hoje, um aldrabão vigarista e impenitente;
Se aceitaste que, em proveito próprio e para nossa desgraça, a escória aparelhista elegesse, dentro do PS, o espantalho do Seguro, cujas qualidades e futuro de líder da oposição estão à vista;
Se acreditas que é verdade, que este governo domesticou finalmente os dragões da troika e dos mercados, e a hidra da dívida e do défice, e os juros dos agiotas, tudo a golpes de credibilidade e justa governação;
Se acreditas que o ajustamento vai terminar, que a troika será corrida a pontapé, e que o milagre do crescimento e do trabalho está de volta, ali à próxima curva;
Se assim é, ó velho Portugal, é que já não tens consciência nem lembranças do que foi o crime das elites, e a tua agonia nos tempos de Alcácer Quibir. Mas espera pela pancada, que vais voltar a tê-las!
Um doce!
Jean-Philippe Rameau apresentou esta peça em França por volta de 1700. Um doce ao leitor felizardo que encontrar nela ecos irónicos da Lenda Negra, que muito manchou nesse tempo a imagem ibérica (particularmente a espanhola) por essa Europa fora. Muito mais com razão do que sem ela!
sábado, 25 de janeiro de 2014
Primavera indecisa (rev.)
Tenho à espera a Feira
Cabisbaixa atrás dum microfone, a Feira do O’Neill, a feira de nós todos, que
um cego encomendou à biblioteca sonora. Mas encontro no jardim de São Lázaro a
Primavera a hesitar.
As camélias já andam
pelo chão e a Primavera a hesitar, incham os botões dos rododendros e a
Primavera a hesitar, os rebentos das tílias a explodir e a Primavera a hesitar,
os velhos da sueca, são quinhentos, a improvisar a banca e a Primavera a
hesitar, e a mimosa das coxas tentadoras a faltar-me no passeio, o riso
quotidiano, bons-dias mimosinha, e os dentitos de marfim, o drapejar da
pestana, o peito da mimosa a faltar-me nos olhos, as formas arredondadas a
morder-me no ventre e os pombos num badanal, a mulher desdentada a pedir-me um
cigarro, a levar dois para a amiga encostada na esquina, a solicitar-me o favor
dum lume, a mesura brejeira a agradecer-me, a aventurar se gosto de ir ao
quarto e eu a dizer-lhe que não, um trunfo a cair na mesa a esquartejar a
manilha e os pombos amotinados, e a mimosa que lá vem dobrando a esquina num
riso de Gioconda a tentar-me de longe, os pés que já não comando na direcção
dela, um instinto a farejá-la, a correr-lhe a garupa, o flanco acolchoado, o
lago misterioso, quanto vale o teu riso mimosinha, a Primavera ainda a hesitar
e eu a deslizar-lhe a nota na palma acetinada, um roçagar de leve, uma aflição
de seda…
E vou-me então à Feira
Cabisbaixa, à Feira do O’Neill, à feira de nós todos, que um cego precisa dela,
e a Primavera enfim se decidiu.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
O elefante branco
Os cavalinhos do Côa, que não sabiam nadar numa barragem frustrada, não passaram dum equívoco de aventureiros cheios de intenções piedosas. E a construção do museu no alto duma colina juntou o erro ao equívoco.
Agora a Fundação Côa-Parque está com a corda na garganta, e os quarenta funcionários andam a arder com os salários.
De que está à espera esta gente para lançar mão desse cabrão do Sócrates, que é o culpado disso tudo?!
Agora a Fundação Côa-Parque está com a corda na garganta, e os quarenta funcionários andam a arder com os salários.
De que está à espera esta gente para lançar mão desse cabrão do Sócrates, que é o culpado disso tudo?!
Literatura e neurónios
Já o intuía, pelo trabalho que faço na Sonora. Mas não pensava que fosse tão biológico.
O último maçaricão-esquimó 6
(Cont.)
Várias crias aveludadas corriam pela reserva do maçaricão, atrás da mãe que trazia comida. Este lançou um grito de aviso na sua direcção e investiu contra elas. As crias gritaram pela mãe, e isso teve sobre ela mais efeito do que o medo de uma ave estranha e muito maior. A fêmea não fugiu. Ficou parada e abriu as asas protectoras sobre as minúsculas bolas de penas que piavam, agachadas no tapete de musgo. O maçaricão levantou voo sem se dirigir a elas, e não voltou a atacá-las. Planou trinta metros até um monte de rochas onde poisou, observou como ela alimentava os filhos e esqueceu-os.
2
Os dias
quentes e as noites frescas passaram com a rapidez do vento, os montes de neve
desapareceram das depressões escuras do terreno, e as tonalidades cinzentas da
paisagem da tundra transformaram-se num flamejante tapete de flores amarelas e
rosadas. Mas a fêmea do maçaricão não chegou. As narcejas juntaram-se às
centenas, lutaram por uma reserva, acasalaram, fizeram ninhos. Prepararam-se
para dar início a um novo ciclo de vida, objectivo pelo qual tinham voado dez
ou doze mil quilómetros. O maçaricão lutou como um louco contra as tarambolas,
contra qualquer maçarico-das-rochas que atravessasse a fronteira da sua reserva,
até esta ficar salpicada das penas castanhas dos intrusos, que demasiado tarde fugiram
aos seus ataques. As hormonas do acasalamento, segregadas pelas glândulas,
acumulavam-se nele como uma carga explosiva.
Investiu
contra cada narceja que ousasse chegar-se a ele. Porém, o seu modelo instintivo
de comportamento não lhe permitiu ser hostil com as escrevedeiras, os
tentilhões e os lagópodes-brancos, que também povoavam a tundra. Estes não eram
biologicamente seus parentes próximos, nem lhe disputavam o alimento de que
necessitava para as crias, logo que a fêmea chegasse. Uma fêmea de galo branco
fizera o ninho a menos de cinco metros do lugar onde haveria de ficar o seu.
Mas o maçaricão mal dera por isso, e após alguns dias já tinha esquecido que ele
estava ali.
As
noites foram-se tornando maiores e mais escuras. As flores minúsculas e claras
da tundra deram lugar a sementes emplumadas, que pareciam tramas de seda. Muito
perto, um par excitado de tarambolas-douradas começou a gritar. A penugem negra
do papo e da barriga brilhava intensamente aos raios do sol matinal que
apareceu ao longe, no horizonte. Então elas começaram a voar em círculos,
rapidamente. O maçaricão sabia que as crias já tinham saído da casca. Tinham
acabado de deixar o ninho, bem desenvolvidas desde o início, como todas as
narcejas. E agora corriam ali à volta, antes de secarem completamente as cascas
de ovo que as tinham protegido. O Verão polar ia chegando ao fim.
Várias crias aveludadas corriam pela reserva do maçaricão, atrás da mãe que trazia comida. Este lançou um grito de aviso na sua direcção e investiu contra elas. As crias gritaram pela mãe, e isso teve sobre ela mais efeito do que o medo de uma ave estranha e muito maior. A fêmea não fugiu. Ficou parada e abriu as asas protectoras sobre as minúsculas bolas de penas que piavam, agachadas no tapete de musgo. O maçaricão levantou voo sem se dirigir a elas, e não voltou a atacá-las. Planou trinta metros até um monte de rochas onde poisou, observou como ela alimentava os filhos e esqueceu-os.
(Cont.)
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Panteão
Abril faz quarenta anos e ainda dura. E apesar da indiferença duns cínicos inúteis, e do ódio inconfessado doutros tantos fascistóides, quando deixar de durar deixa saudades.
Representar no Panteão a geração de Abril, que resgatou Portugal da ignomínia, é um dever do país para consigo próprio. E por motivos vários é Salgueiro Maia a figura adequada.
Mais que ninguém, expôs-se sem reserva no momento decisivo.
Não obteve, nem pediu, nem aceitou rigorosamente nada em troca. Remeteu-se ao silêncio, e acabou mesmo a ser desconsiderado por uma certa hierarquia.
Entre as várias figuras militares que em Abril deixaram marcas, ele é, de longe, a mais consensual. Estamos à espera de quê, ó Jorge Sampaio?!
Representar no Panteão a geração de Abril, que resgatou Portugal da ignomínia, é um dever do país para consigo próprio. E por motivos vários é Salgueiro Maia a figura adequada.
Mais que ninguém, expôs-se sem reserva no momento decisivo.
Não obteve, nem pediu, nem aceitou rigorosamente nada em troca. Remeteu-se ao silêncio, e acabou mesmo a ser desconsiderado por uma certa hierarquia.
Entre as várias figuras militares que em Abril deixaram marcas, ele é, de longe, a mais consensual. Estamos à espera de quê, ó Jorge Sampaio?!
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Milagres dum país de maravilhas
1 - Um madeirense arrojado de 18 meses de idade saiu à tarde de casa e foi à vida. Três dias e três noites gemeu a comunidade, a polícia investigou e temeu-se o pior. Afinal o galifão estava ali perto, à beira duma levada. Piqueniques ao relento, e mais no pino do inverno, são com ele!
2 - Meia dúzia de estudantes da Lusófona vão ao Meco ver o mar. Vem a onda, leva-os todos, mas devolve um para contar. Logo aquele que padece duma amnésia selectiva!
3 - O Costa do BPN, e o Loureiro, e a corja inteira, foram-se ao pipo e sangraram-no. Lá lhes pareceu que era chegado o tempo. Sangraram o mosto, sangraram o país, sangraram-nos a todos. E não é que era mesmo a hora certa?!
2 - Meia dúzia de estudantes da Lusófona vão ao Meco ver o mar. Vem a onda, leva-os todos, mas devolve um para contar. Logo aquele que padece duma amnésia selectiva!
3 - O Costa do BPN, e o Loureiro, e a corja inteira, foram-se ao pipo e sangraram-no. Lá lhes pareceu que era chegado o tempo. Sangraram o mosto, sangraram o país, sangraram-nos a todos. E não é que era mesmo a hora certa?!
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
domingo, 19 de janeiro de 2014
O último maçaricão-esquimó 5
(Cont.)
Duas espécies de maçaricões nidificam na tundra árctica:
o esquimó e o norte-americano, que é mais abundante e um pouco maior. Na
extensa família das narcejas, dos maçaricos-das-rochas e das tarambolas, são
eles que têm as pernas e os bicos mais compridos. E, tratando-se embora de duas
espécies diferentes, dificilmente se distinguem pelo aspecto exterior.
O dia
árctico era longo. E, apesar da aragem fresca a correr sobre a tundra, a
atmosfera mantinha-se quente e húmida. O maçaricão esgaravatou o solo pantanoso
em busca de alimento e regressou à guarda da reserva, observando atentamente o
horizonte plano. Pouco antes do meio-dia surgiu ao longe, do norte, um
búteo-calçado. Descreveu alguns círculos sobre o rio e atacou um pequeno roedor
descuidado que se aventurou no musgo. Aos poucos, o grande caçador aproximou-se
da reserva, e o maçaricão observou-o, temeroso. Finalmente o búteo atravessou a
fronteira. Embora não marcada no solo, ela estava perfeitamente definida no
cérebro do maçaricão. E logo este levantou voo e iniciou uma veloz perseguição.
As suas asas batiam fortemente. E quando ficou perto do intruso, cujo corpo era
dez vezes mais pesado, saiu-lhe da garganta um grito de aviso agudo e
estridente. Durante alguns segundos o búteo não deu qualquer atenção às ameaças.
Depois rodou para Norte e partiu sem luta. Teria podido matar o maçarico com um
simples golpe de garras. Mas só matava quando precisava de alimento, e
voluntariamente deixou o campo livre a uma ave que o fogo do acasalamento tornara
tão insensata.
O sol
pôs-se entretanto, mas a vista não se desvaneceu. E, como um véu, a noite
árctica desceu pela primeira vez sobre o maçaricão. Em breve a tundra arrefeceu
e parou de repente o vento que uivara todo o dia. Seguiu-se uma penumbra, que
não era propriamente escuridão.
Por um
impulso instintivo que ele não entendia, o maçaricão sentiu-se atraído para o
monte seco de rochas, na base do qual se achava o espesso tapete de musgo que
havia de abrigar o ninho. Este era o seu quinto verão e ele nunca tivera um
ninho, nem uma vez sequer avistara uma fêmea da sua espécie. Só vagamente se
lembrava do ninho e da mãe, no seu tempo de infância. Mas sabia, sem o ter
aprendido, como se corteja uma fêmea e como se faz um ninho, como se isso
viesse duma vida anteriormente vivida. Agora dormia, apoiado numa só perna e
com o bico escondido nas penas do dorso. Dormia ao lado das rochas. Em breve o
ninho estaria ali, era o que o instinto lhe dizia. Amanhã ou depois a fêmea
havia de chegar, pois o curto ciclo da vida no Árctico não permitia demoras.
O CORREDOR DA MORTE
SESSÕES FILOSÓFICAS
DA REAL SOCIEDADE
DE LONDRES
nas
quais se referem as actuais acções, estudos e obras de
investigadores,
em muitas e importantes partes do mundo.
Vol.
LXII do ano de 1772.
ARTIGO
XXIX
Relato
sobre aves, comunicado a partir da baía do Hudson. Contém observações sobre a
sua história natural, assim como descrições latinas de algumas das espécies
mais invulgares. Do sr. Reinhold Forster, membro da Real Sociedade.
Antes
da construção da manufactura da baía do Hudson, foi oferecida à Real Sociedade
uma grande colecção de invulgares quadrúpedes, aves, peixes, etc, incluindo um
catálogo dos seus nomes, locais de permanência, hábitos e modos de vida. Isto
através do sr. Graham, que pertence à colónia de Seven River. Os gerentes da
companhia da baía do Hudson forneceram as indicações mais corteses, por forma a
que estas notícias pudessem ser completadas de tempos a tempos.
(Uma
vez que todas as aves descritas pelo sr. Forster têm entrada, sob idêntica
designação, nos livros de ornitologia do sr. Latham, não se torna necessário
fornecer aqui as descrições latinas).
1.
Falco columbarius. Esmerilhão-comum. Ave de arribação.
2.
...
3.
...
18.
Espécie nova. Scolopax borealis. Maçaricão-esquimó. Esta espécie de maçarico é
até hoje desconhecida dos ornitólogos, e é mencionada pela primeira vez na
Faunula Americae Septentrionalis, ou no catálogo da fauna norte-americana. Os
indígenas chamam-no “wee-kee-me-nase-su”. Procura alimento nos pântanos,
comendo vermes, larvas, minhocas, etc. Passa por Fort Albany em Abril ou no princípio
de Maio. Nidifica no Norte, regressa em Agosto, e migra para o Sul, em bandos
gigantescos, nos finais de Setembro.
Não percebo porque é que estes marginais
Não calam duma vez o cabrão do Sócrates na televisão. É que ele fode-os com todas as letras.
Ele sabem-no e sentem-no. Apesar da estúpida jornalista das pintinhas.
Ele sabem-no e sentem-no. Apesar da estúpida jornalista das pintinhas.
Mercados e as linguagens deles
[rapinado a JJRoseira]
O velho dicionário definia Spinter, eris, como "bracelete que as mulheres traziam no alto do braço esquerdo". Mas não era bem só isso.Uma Spintria era a moeda (ou ficha?!) utilizada aí pelo séc.I a.C. nos prostíbulos de Roma, como forma de pagamento.
Sendo escravas grande parte das prostitutas, de estranhas e variadas linguagens, entende-se facilmente a vantagem destas fichas.
As caras definiam os serviços prestados e as coroas os preços respectivos.Hoje em dia há cada vez mais agentes a alimentar o prostíbulo dos mercados, mas a spintria perdeu a pertinência. O inglês virou linguagem universal e é mais discreto. E nele entendem-se bem a mais bizarra procura e uma oferta redundante. No prostíbulo de Kusadasi, hoje na Turquia, os cidadãos podiam alegar uma ida à biblioteca, do outro lado da rua. Um oportuno túnel salvava reputações e evitava quezílias domésticas. A escuridão homofóbica era já caso arrumado, e havia fichas para gays. Voltou uns tempos mais tarde, pela mão duns fariseus de sotaina.
O último maçaricão-esquimó 4
(Cont.)
O maçaricão voou em círculos cada vez mais altos, e o seu
canto nupcial tornou-se mais repetitivo e urgente. Subitamente parou, e o seu canto
transformou-se num grito febril. Lá longe, a montante do rio, mancha castanha
no céu acinzentado, voava uma outra ave em direcção ao Norte, e o maçaricão
reconheceu-a como membro da espécie. Esperou, pairando sobre a reserva, em
círculos cada vez mais apertados, e a ave aproximou-se. A fêmea vinha aí. Os
três verões que o macho passara sozinho, esperando em vão, eram uma lembrança
vaga e desagradável. Mas agora ela desaparecera do seu cérebro, tão
poderosamente determinado por reacções instintivas que apenas restava um
pequeno espaço para a memória e a reflexão. O instinto dominava-o completamente,
ao elevar-se na espiral do voo nupcial, não já com as batidas de asa habituais
mas esvoaçando como uma borboleta. Chegado ao ponto mais alto deixou-se cair de
novo, silvou de encontro ao solo, recuperou baixo sobre a tundra e voltou a subir.
A outra
ave escutou-lhe o grito selvagem, mudou de direcção, veio velozmente ao seu
encontro. Obedecendo instintivamente às leis da reserva, que todas as aves
conhecem, a fêmea poisou numa rocha musgosa, situada um bom pedaço fora da
reserva do macho. Excitado, ele ardia em paixão. Numa sequência rápida efectuou
ainda várias danças, subiu no ar ruidosamente até desaparecer da vista, desceu
de novo em picada violenta, e de cada vez quase roçava o solo. Durante alguns
minutos a fêmea alisou as penas, indiferente, sem dar atenção a tais
demonstrações amorosas. Depois correu e voou sobre o terreno, alternando batidas
de asa com passadas febris. Entrou na reserva e agachou-se, submissa, ao chegar
perto do macho. Este soltou um assobio estridente e subiu na vertical para um
último voo, pairou lá no alto sobre ela, deixou-se cair como um meteoro e
poisou a cerca de dois metros de distância. Ficou parado por um momento, eriçou
as penas, esticou o pescoço e caminhou para ela. Porém, a cerca de um metro, estacou
subitamente. Emudeceram os sons meigos de ternura que até ali lhe saíam da
garganta, e em seu lugar ecoou uma rápida sequência de gritos de advertência. O
comportamento humilde e submisso da fêmea também se modificou. De súbito pôs-se
de pé e afastou-se. O macho já não a cortejava, baixou a cabeça como um galo de
combate e investiu contra ela. A fêmea desviou-se e atirou-se para o ar. Ele
seguiu-a, aos gritos, ameaçando-a com o bico repetidas vezes.
O
impulso nupcial do maçaricão-esquimó transformou-se de repente em fúria
agressiva. A fêmea era uma intrusa, em vez de uma companheira. De perto, ele
reconheceu-lhe a penugem mais escura e a postura diferente. Embora algo
semelhante, era um maçaricão da espécie norte-americana. Ele sabia, por
reacções instintivas, criadas pela natureza para evitar acasalamentos estéreis
entre espécies diversas, que não se tratava da fêmea que aguardava. Afugentou-a
durante um quilómetro, com uma fúria tão apaixonada como o seu amor alguns
segundos antes. Depois voltou à reserva e continuou à espera. A sua fêmea
chegaria em breve.
(Cont.)
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
O último maçaricão-esquimó 3
(Cont.)
Nas zonas baixas havia ainda acumulações de neve, mas o sol brilhava quente e o Árctico palpitava já de vida. Havia alimento abundante, e o maçaricão comeu mais de uma hora sem interrupção, até o papo lhe ficar grotescamente inchado, na raiz do pescoço. Depois caiu em sonolência. Firmado sobre uma perna, manteve o pescoço virado para trás e o bico enterrado nas penas do dorso. Era mais descanso do que sono. Os ouvidos e o único olho descoberto permaneciam incansavelmente atentos às raposas e às corujas polares, que se aproximavam como fantasmas. No seu corpo, os processos metabólicos desenvolviam-se rapidamente, e meia hora de descanso equilibrou a perda de energia do voo de dez horas. O maçaricão estava completamente restabelecido.
Nas zonas baixas havia ainda acumulações de neve, mas o sol brilhava quente e o Árctico palpitava já de vida. Havia alimento abundante, e o maçaricão comeu mais de uma hora sem interrupção, até o papo lhe ficar grotescamente inchado, na raiz do pescoço. Depois caiu em sonolência. Firmado sobre uma perna, manteve o pescoço virado para trás e o bico enterrado nas penas do dorso. Era mais descanso do que sono. Os ouvidos e o único olho descoberto permaneciam incansavelmente atentos às raposas e às corujas polares, que se aproximavam como fantasmas. No seu corpo, os processos metabólicos desenvolviam-se rapidamente, e meia hora de descanso equilibrou a perda de energia do voo de dez horas. O maçaricão estava completamente restabelecido.
O verão
polar era curto, e havia muito que fazer quando a fêmea chegasse. O maçaricão
voou até uma elevação rochosa que se erguia a cerca de um metro do solo. Poisou
e olhou à sua volta. Voara catorze mil quilómetros para atingir esta terra
inóspita, escalvada e agreste. Uma região pelada, vazia. Bétulas e salgueiros,
curvos e deformados, tinham resistido às tempestades e ao frio do longo Inverno.
Durante decénios apenas lesmas rastejaram sobre eles, e não tinham crescido
mais que quarenta ou cinquenta centímetros. A fronteira onde a floresta
subpolar de pinheiros se tornava mais escassa, e onde começava a tundra
norte-americana, encontrava-se oitocentos quilómetros mais a Sul.
Em geral
a terra era plana e húmida, tão salpicada de charcos pantanosos que agora, na
primavera, metade ficava debaixo de água. Os pequenos montes de cascalho e os
afloramentos rochosos que represavam os charcos e os impediam de transbordar,
formando um imenso mar pouco profundo, estavam agora revestidos de espessos
tapetes de musgos e líquenes, que reverdeciam muito rapidamente. Alguns
centímetros mais fundo encontrava-se o gelo eterno, duro como a blindagem dum
navio de guerra, as fundações geladas da terra.
O maçaricão levantou voo, elevou-se
lentamente e circulou em volta dos dois acres de terreno, com uma grande mancha
de água e musgo, que demarcara como reserva. Por vezes, enquanto planava
lentamente de asas abertas, fazia ressoar o seu canto nupcial, um gorjeio baixo
e prolongado. Mas não havia no seu trinado qualquer jovialidade. Era antes um
grito de guerra, um aviso a todos os que pudessem ouvi-lo: a reserva tinha um
dono, a arder no fogo do acasalamento. Nada o atemorizava, e defendia a reserva
para a sua fêmea que havia de chegar.
Conhecia
cada rocha, cada banco de cascalho, cada charco, cada arbusto, embora em tal
aspereza e solidão não houvesse nada de notável que pudesse servir de
demarcação. A fronteira norte e oeste era formada pela curva do rio que avistara
lá de cima, e os outros limites não eram muito acentuados. Espalhados pelo
chão, apenas uns blocos de granito com reflexos de pirite e mica, um par de galhos
de bétula e amieiro e algumas manchas de água castanha. Mas o maçaricão sabia
exactamente onde terminava a reserva. No meio havia um montão de rochas, tão seco
que, em dez mil anos, desde que os glaciares haviam recuado, nem musgos nem líquenes
tinham podido fixar-se nele. Porém, logo abaixo, onde se juntavam as águas
escorrentes, o tapete era espesso e exuberante. E era aí, numa almofada de
musgo, que a fêmea escolheria um lugar e escavaria um ninho achatado, em forma
de prato. Cercá-lo-ia de folhas e ervas frescas, e nele havia de pôr os quatro
ovos cor de azeitona.
(Cont.)
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Vale de Cambra?!
Era uma câmara do PPD. Agora é do CDS. O presidente pediu, não obstante, uma auditoria às contas. É que andam a voar cinco milhões duma PPP, e a contabilidade da autarquia está em roda livre. A Judiciária já se fez anunciar.
- Ou lançamos aqui mão desse cabrão do Sócrates, ou temos o caldo entornado!
Isto é uma confidência entre o cafre do Coelho e o vice-primeiro Portas. Que o povo de Vale de Cambra ainda hesita, em qual deles vai votar nas próximas eleições.
- Ou lançamos aqui mão desse cabrão do Sócrates, ou temos o caldo entornado!
Isto é uma confidência entre o cafre do Coelho e o vice-primeiro Portas. Que o povo de Vale de Cambra ainda hesita, em qual deles vai votar nas próximas eleições.
Ó Crato!
Tira-te dos teus magnos cuidados e vai ali a Aveiro, vai ali ao Marco de Canaveses, vai onde quiseres ver ó vivo o que a merda do teu governo anda a fazer à escola pública!
Isto para não ficares surpreendido, se um dia destes acordares pendurado num candeeiro, com a pastita dos cheques-ensino na mão.
Isto para não ficares surpreendido, se um dia destes acordares pendurado num candeeiro, com a pastita dos cheques-ensino na mão.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
A raiz maior desta tragédia
Entre a Grécia, e Chipre, a Irlanda, a Espanha, a Itália e tutti quanti, destaca-se o Portugal do Gaspar, do Passos, do Cavaco, do Portas, da miss Swaps... Um povo abandonado aos bichos, num país governado por traidores.
Alto e pára o baile!
Um dos habituais papagaios de serviço acaba de referir na televisão que a PPP do Siresp (Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança em Portugal) foi contratada pelo governo de Sócrates. Mais do que uma semi-verdade, esta afirmação é uma inverdade, é desinformação falaciosa. Conta com a falta de memória geral, e com a bovinidade particular, para atingir objectivos que estão à vista: mais uma do cabrão do Sócrates!
O que se passou foi isto: Daniel Sanches, ministro do governo de Santana Lopes e homem de mão do Dias Loureiro, assinou com Bagão Félix (min. das Finanças) o contrato do Siresp com a SLN, três dias depois das eleições de 2005, em que o Sócrates foi eleito.
O novo governo anulou um tal contrato, que era uma refinada e caríssima vigarice, bem ao jeito do Loureiro.
Retirados que foram alguns parâmetros (redução da rede e da eficácia) o contrato foi por fim adjudicado à mesma SLN, pelo ministro António Costa, por preço algo inferior. Porquê esta decisão, sabê-lo-á o ministro.
O que se passou foi isto: Daniel Sanches, ministro do governo de Santana Lopes e homem de mão do Dias Loureiro, assinou com Bagão Félix (min. das Finanças) o contrato do Siresp com a SLN, três dias depois das eleições de 2005, em que o Sócrates foi eleito.
O novo governo anulou um tal contrato, que era uma refinada e caríssima vigarice, bem ao jeito do Loureiro.
Retirados que foram alguns parâmetros (redução da rede e da eficácia) o contrato foi por fim adjudicado à mesma SLN, pelo ministro António Costa, por preço algo inferior. Porquê esta decisão, sabê-lo-á o ministro.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Jota Centrista
Os infantes da JC baixam as fraldas em público e mostram ao que vêm: a pôr a história a andar um século para trás.
Exactamente aquilo a que andaram os pais deles, e os avós, e os bisavós e quejandos, desde há séculos. Porque ao povo, burro e grosso, a 4ª classe é demais.
Façam favor de ir libertar o caralho!
Exactamente aquilo a que andaram os pais deles, e os avós, e os bisavós e quejandos, desde há séculos. Porque ao povo, burro e grosso, a 4ª classe é demais.
Façam favor de ir libertar o caralho!
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Nome: Ana Miguel Marques Neves dos Santos
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.069,33 €
Nome: João Miguel Saraiva Annes
Idade:28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.183,63 €
Nome: Filipe Fernandes
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.633,82 €
Nome: Carlos Correia de Oliveira Vaz de Almeida
Idade: 26 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.069,33 €
Nome: Bruno Miguel Ribeiro Escada
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.854 €
Nome: Filipe Gil França Abreu
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.854 €
Nome: Nelson Rodrigo Rocha Gomes
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: Jorge Afonso Moutinho Garcez Nogueira
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: André Manuel Santos Rodrigues Barbosa
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.364,50 €
Nome: Diogo Rolo Mendonça Noivo
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: Ademar Vala Marques
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: Tatiana Filipa Abreu Lopes Canas da Silva Canas
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: Rita Ferreira Roquete Teles Branco Chaves
Idade: 27 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: André Tiago Pardal da Silva
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: Cláudia de Moura Alves Saavedra Pinto
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: Tiago Lebres Moutinho
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: João Miguel Cristóvão Baptista
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: Tiago José de Oliveira Bolhão Páscoa
Idade: 27 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: André Filipe Abreu Regateiro
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: Ana da Conceição Gracias Duarte
Idade: 25 anos (deve ser mesmo boa)
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: David Emanuel de Carvalho Figueiredo Martins
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: João Miguel Folgado Verol Marques
Idade: 24 anos (deve ser mesmo bom)
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Nome: Joana Maria Enes da Silva Malheiro Novo
Idade: 25 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: Antero Silva
Idade: 27 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Nome: Tiago de Melo Sousa Martins Cartaxo
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 3.069,33 €
Nome: Tiago Menezes Moutinho Macieirinha
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,37 €
Nome: Ana Isabel Barreira de Figueiredo
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.198,80 €
Nome: Ricardo Morgado
Idade: 24 anos (deve ser mesmo bom)
Vencimento Mensal Bruto: 4.505,46 €
Nome: Filipa Martins
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 2.950,00 €