sexta-feira, 24 de abril de 2020

25 de Abril

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SEMPRE!!!

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Tempos idos

Alguns dormitam, maçados, nos beliches, ele viaja a noite inteira a pé. Entre o bar e o corredor, entre uma nova cerveja e os considerandos do salário que recebe. Quase setecentos contos, mesmo quando não embarca. Como agora, que vem a casa ver a mulher. Mas isso vai acontecer só amanhã, lá pelo meio-dia, em chegando à Pampilhosa, depois de atravessar a infindável noite basca, a leonesa, a castelhana, num Sud-Expresso lôbrego. 
Alfredo tem trinta anos e deixou a escola antes do tempo, em Mira. Foi trabalhar com o pai, no tempo em que havia quarenta companhas só nas artes da xávega. A princípio puxavam a rede à unha, com juntas de bois que enterravam os cascos no areal macio. Hoje não chegam à dúzia. O peixe foi-se embora, será culpa das chuponas espanholas. E ficou tão barato na lota quanto é caro nas bancas do mercado, não se compreende Portugal. Paga-se o gazol do barco e o resto mal dá para viver. De forma que o pessoal começou a emigrar e ele foi parar a Quipert, ao pé de Nantes. Foi há dois meses, mais um cunhado, é esta a primeira vez que vem a casa. Em Quipert saem para o mar à quinzena e Alfredo é o cozinheiro. O dono do barco é tão velho que já não navega, toda a companha de sete é contratada. Mas o peixe vai à lota ao mesmo preço para todos e toda a gente ganha. Só não se entende o que se passa em Portugal. 
Alfredo vem excitado com os considerandos do salário que recebe. Jantou no vagão-restaurante, bebeu uma garrafa de bom vinho, no fim pediu um conhaque e pagou quarenta euros mas valeu a pena. Depois foi aturando a noite a poder de cervejas, e é por isso que já lhe arrasta a voz, e tem este bafo choco e amargoso, e repisa outra vez os considerandos do salário que recebe. Quando chega a Vilar Formoso desce ao cais durante meia hora, o tempo de mudar a máquina ao comboio. Bebe outra cerveja na cantina, com uns camaradas negros que exercitam um hip-hop lusófono, e também chegam da Europa. 
Lá pelo meio-dia, toldado como vai, Alfredo levará tempo a encontrar-se com a mulher. E logo que o conseguir, vão ser horas de apanhar outra vez o comboio para voltar a Quipert, ao pé de Nantes. Onde agora é cozinheiro, sempre que sai ao mar, a pensar nos considerandos do salário que recebe.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Primaveras

A segunda-feira da Pascoela era (se o não for ainda) o dia da Senhora da Saúde, numa aldeia vizinha. Velhos e novos lá iam campos fora, ladeando searas, fazer a romaria. 
Em chegando entravam na capela a cumprimentar a santa, a assistir à missa e ao sermão. E a qualidade do pregador media-se pelo fungar das devotas, que lacrimejavam. 
No fim acomodavam-se por ali, estendiam nas fragas os farnéis donde quem-quer se servia, e já ao lado um taberneiro oferecia dois pipos em cima duma burra. Era uma alegria.
A meio da tarde havia que regressar, tomando o mesmo caminho. E ao fim do dia havia bailarico ao som da concertina do mestre Batuta, que ia mimando os esgares do solfejo.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Rifões

Abril frio e molhado / Enche o celeiro e farta o gado.
E torna o confinamento muitíssimo mais pesado!