“Os Maias” de Eça de Queirós
para quem não gosta de ler ou não tem tempo.
Era uma vez um gajo chamado Carlos, que vivia numa casa tão grande que levava p’raí umas vinte páginas a dizer como é que era. Quem gosta de imobiliário, tem aqui um petisco, porque aquilo tem assoalhadas grandes e boas e, pronto, mas p’ra mim não serve, que eu imóveis só com a fotografia, que às vezes um gajo é artista a escrever e depois uma pessoa vai a ver a casa e não tem nada a ver com o que imaginou.
Portanto, o gajo chama-se Carlos e o pai matou-se quando ele era pequeno, porque a mulher fugiu com um italiano e levou a filha que eles também tinham e… e ele matou-se, não faz sentido, porque o que não falta p’raí são gajas. Ora o puto fica com o avô e tal, vai crescendo e torna-se um gajo fino, bem vestido e que vai a boas festas.
Às tantas vê uma gaja e pensa: “Ui, que gaja tão boa!” e p’raí na página 400 começam a ir para a cama os dois e andam aí umas boas 200 páginas, pim, pim, troca e vira e agora nesta casa e agora naquela e pumba e… só que às tantas vem um gajo e diz: “-Eh pá, olha que a moça é tua irmã!” e o Carlos fica “eh pá, isso não pode ser, que nojo!” de maneiras que dá-lhe só mais duas ou três trolitadas e vai dar uma volta ao mundo, para espairecer, e acaba tudo em bem porque, ao menos, não tiveram filhos. Porque se tivessem eram, de certeza, meio tantans, babavam-se, como o meu primo Zé Luís, que os pais também eram parentes.
ENSINAMENTOS DA OBRA
1 – Tu nunca sabes o que é que os teus pais andaram a fazer, porque eles, em princípio, nasceram primeiro do que tu, de maneiras que, quando conheces uma gaja o melhor é dizer: “Oh menina, o seu passaporte se faz favor, nunca fiando, que eu gosto de fazer tudo certinho!”
2 – Outra coisa que o Eça de Queirós ensina é que às vezes mais vale um gajo ser cão, porque eu tive um cão, que era o Patusco e o gajo não respeitava nada, nem ninguém, era irmãs, era a mãe, era tudo a eito e não era nada com ele.
Ricardo Araújo Pereira»
sábado, 31 de outubro de 2015
Diz a Maria Lopes no PÚBLICO
«Jerónimo de Sousa insiste em não se comprometer nas matérias que PCP e PS têm estado a discutir e prefere encaminhar o assunto para a importância da “palavra” de um comunista em detrimento de um acordo no papel. Mas uma coisa é certa: o seu partido não se desviará do que prometeu, não aceitará respeitar o Tratado Orçamental, não aprovará cortes em salários nem se obrigará a respeitar os 3% do limite do défice.
“Quero dizer, com todo o peso da palavra, que aquilo que estamos a fazer é procurar convergências e aproximações em coisas muito concretas: devolução de salários, reformas e pensões, melhor acesso à saúde, educação e apoios sociais” (...)».
Será, de facto, aquilo que ela conta?! HHHUUUMMM!!! É que a brincar aos cobóis não haverá salvamento, nem para Jerónimo nem para nós! E tu também tás a ouvir, ó pimpãozito Assis?!
“Quero dizer, com todo o peso da palavra, que aquilo que estamos a fazer é procurar convergências e aproximações em coisas muito concretas: devolução de salários, reformas e pensões, melhor acesso à saúde, educação e apoios sociais” (...)».
Será, de facto, aquilo que ela conta?! HHHUUUMMM!!! É que a brincar aos cobóis não haverá salvamento, nem para Jerónimo nem para nós! E tu também tás a ouvir, ó pimpãozito Assis?!
Do Sul
As romãzitas da vizinha encostam-se à vedação, entre a ramagem. Por aqui são muito raras, que é fria a terra..
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Arre, que é teimoso!
Oiço ali o venerando a ameaçar a pátria com estabilidades. Como um asno que não toma lições, que os asnos todos zurram sempre à mesma voz.
Já o triste Passos insiste no faz-de-conta. E eu não me sei decidir pelo pior.
Já o triste Passos insiste no faz-de-conta. E eu não me sei decidir pelo pior.
Autópsia
«(...) Segundo os preceitos de uma moral antiga e dos códigos não escritos daquilo a que os franceses chamam bienséance, esta “figura” teria de expiar em silêncio a sua “culpa”, que não é nenhuma culpa trágica, mas é inibitória porque entra no território da vergonha, como acontece a quem fica nu numa praça pública.
Mas a salvação que dantes se obtinha pela retirada obtém-se agora pela exposição mediática. A mediocracia e o clero que a governa têm um poder amnésico e de branqueamento. Miguel Relvas pode ter passado de fugida pela universidade, mas, como muitos dos seus pares, aprendeu por observação directa que o mundo separado e organizado através dos media, a que Guy Debord chamou “espectáculo”, funciona de acordo com esta regra: “O que aparece é bom, o que é bom aparece”.
Ele sabe que para reconquistar a bondade, para obter a reparação com toda a leveza, só precisa de aparecer ostensivamente. A exposição transforma-se num valor e garante a recuperação de uma imagem para além do bem e do mal. Se, porém, oferecermos alguma resistência a este processo que consiste em manipular a percepção colectiva e apoderar-se da memória, até a fotografia do autor do artigo passa a ser vista a uma outra luz: o que vemos nela, obstinadamente, é uma figura que ostenta um sorriso onde se mistura o cinismo com a inconsciência de um cartoon, como se uma personagem de Robert Walser se viesse cruzar com um boneco saído dos estúdios Disney. (...)»
[António Guerreiro, in Ipsilon]
Mas a salvação que dantes se obtinha pela retirada obtém-se agora pela exposição mediática. A mediocracia e o clero que a governa têm um poder amnésico e de branqueamento. Miguel Relvas pode ter passado de fugida pela universidade, mas, como muitos dos seus pares, aprendeu por observação directa que o mundo separado e organizado através dos media, a que Guy Debord chamou “espectáculo”, funciona de acordo com esta regra: “O que aparece é bom, o que é bom aparece”.
Ele sabe que para reconquistar a bondade, para obter a reparação com toda a leveza, só precisa de aparecer ostensivamente. A exposição transforma-se num valor e garante a recuperação de uma imagem para além do bem e do mal. Se, porém, oferecermos alguma resistência a este processo que consiste em manipular a percepção colectiva e apoderar-se da memória, até a fotografia do autor do artigo passa a ser vista a uma outra luz: o que vemos nela, obstinadamente, é uma figura que ostenta um sorriso onde se mistura o cinismo com a inconsciência de um cartoon, como se uma personagem de Robert Walser se viesse cruzar com um boneco saído dos estúdios Disney. (...)»
[António Guerreiro, in Ipsilon]
Rituais e tradições
Nenhum camponês que se preze faltará ao mercado semanal. Nele faz os seus negócios, cultiva as relações, ou exibe a rivais a catadura.
O mundo está a mudar, e é discutível, porque a vida não dispensa rituais e tradições.
A arte e o amor são bom exemplo.
O mundo está a mudar, e é discutível, porque a vida não dispensa rituais e tradições.
A arte e o amor são bom exemplo.
Porra!
Ó Jerónimo, faz um favor à pátria e a ti próprio: limpa as teias de aranha, varre a testada, e não dês vozes aos gaiteiros dos vizinhos! Que não passam duns bastardos filhos da puta!
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Ai se o fuck-Bush tinha sabido disto!
Lá tinha ido proteger os seus rebeldes, e destruir também a Saudi-Arábia com a bandeira dos direitos humanos!
Actualiza-te, menino, se te agrada e tiveres tempo!
Neste caso, não precisas de usar filtro! Só cuidados de leitura!
Contratempos dum governo XX
- E o que é que há-de fazer o dono da carreta funerária, quando o defunto é o próprio?
- É ligar à concorrência, pois que mais?!
- É ligar à concorrência, pois que mais?!
Para mais tarde recordar
"A marina do Lugar de Baixo, na Madeira, custou perto de cem milhões de euros, e só esteve operacional durante um mês."
É um facto há muito sabido, que o PÚBLICO de hoje relembra. Aos distraídos, a algum magistrado ocioso, e aos polícias de giro.
É um facto há muito sabido, que o PÚBLICO de hoje relembra. Aos distraídos, a algum magistrado ocioso, e aos polícias de giro.
Faunos 2
Organizam-se batidas pelos montes, para abater o Bicho-mau. E os reverendos reuniram em Viseu, a comando do bispo, para analisar e exorcisar o monstro.
Quando regressou a casa, padre Dâmaso, o mais dogmático, ortodoxo e empedernido do conclave, encontrou uma carta da irmã com quem vivia, a pedir mil perdões por ter partido, para seguir "o homem que Deus trouxe ao meu caminho". Mas por fim lá veio uma vizinha, a mãe da jovem Silvana, a oferecer-lhe os seus préstimos.
"Entardecia. Silvana saiu e entrou com o cantarinho cheio, direita, esgalgada, donairosa, argumento supremo das bondades do Criador. Veio-lhe um desejo insuperável de tornar a ver diante de si, bem de frente, os olhos grandes e joviais, que deixavam descortinar, como vidraças, o fundo calmo, limpo de terrores e metafísicas, duma alma singela e amorosa, e chamou:
- Dás-me água, Silvana?
Acercou-se a mocinha e, submissa como as escravas de Abraão, dobrando o cântaro no próprio ombro, à maneira bíblica das aldeias, lhe matou a sede..."
Discurso narrativo luxuoso para limitado assunto; vastíssima riqueza lexical, com modos e expressões populares de carácter local e regional da Lapa (feliz de mim, que os bebi da minha avó, ao contrário dos leitores comuns!); uso e abuso de vastas descrições que desequilibram a narrativa sem ganhos de maior, fatigam o leitor e chegam a exasperá-lo. Um fruto secundário na obra de Aquilino, que ainda se lê com proveito e algum regalo.
Quando regressou a casa, padre Dâmaso, o mais dogmático, ortodoxo e empedernido do conclave, encontrou uma carta da irmã com quem vivia, a pedir mil perdões por ter partido, para seguir "o homem que Deus trouxe ao meu caminho". Mas por fim lá veio uma vizinha, a mãe da jovem Silvana, a oferecer-lhe os seus préstimos.
"Entardecia. Silvana saiu e entrou com o cantarinho cheio, direita, esgalgada, donairosa, argumento supremo das bondades do Criador. Veio-lhe um desejo insuperável de tornar a ver diante de si, bem de frente, os olhos grandes e joviais, que deixavam descortinar, como vidraças, o fundo calmo, limpo de terrores e metafísicas, duma alma singela e amorosa, e chamou:
- Dás-me água, Silvana?
Acercou-se a mocinha e, submissa como as escravas de Abraão, dobrando o cântaro no próprio ombro, à maneira bíblica das aldeias, lhe matou a sede..."
Discurso narrativo luxuoso para limitado assunto; vastíssima riqueza lexical, com modos e expressões populares de carácter local e regional da Lapa (feliz de mim, que os bebi da minha avó, ao contrário dos leitores comuns!); uso e abuso de vastas descrições que desequilibram a narrativa sem ganhos de maior, fatigam o leitor e chegam a exasperá-lo. Um fruto secundário na obra de Aquilino, que ainda se lê com proveito e algum regalo.
O evangelho de Rangel, o bruxelense
Consta que alguém entrevistou Rangel em Bruxelas. E à exótica pergunta do entrevistador, respondeu ele que o Nazareno se teria abstido, caso fosse eleitor passivo em Portugal.
Este mundo é uma caixinha de surpresas, donde elas menos se esperam! Mas apócrifa é a cabeça do Rangel, onde Cristo se confunde com Pilatos.
Este mundo é uma caixinha de surpresas, donde elas menos se esperam! Mas apócrifa é a cabeça do Rangel, onde Cristo se confunde com Pilatos.
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Apelo-cidadão!
Ao comité central do PCP e adjacências, a propósito desta iniciativa no parlamento europeu.
Aquilo que Portugal espera de vós na esquina em que se encontra, não é que renunciem às vossas crenças e convicções mais profundas; por maior que seja o ranço que as degrada, e os agravos que provoca às papilas da pátria.
Do que este país precisa (e agradece), é que guardem no sovaco as bandeiras do costume. Luzidias e vistosas serão elas, a fraldejar no ar. Mas não servem de nada aos portugueses, neste impasse.
Aquilo que Portugal espera de vós na esquina em que se encontra, não é que renunciem às vossas crenças e convicções mais profundas; por maior que seja o ranço que as degrada, e os agravos que provoca às papilas da pátria.
Do que este país precisa (e agradece), é que guardem no sovaco as bandeiras do costume. Luzidias e vistosas serão elas, a fraldejar no ar. Mas não servem de nada aos portugueses, neste impasse.
Faunos 1
O que mal começa não tem final feliz, diz um princípio já velho. Não foi assim neste caso.
A coisa começou numa palestra que um encartado fez sobre Aquilino Ribeiro, centrada no romancinho Andam Faunos pelos Bosques, que eu nunca tinha lido.
Ficaram-me no fim perplexidades várias, que o mestre lá ensaiou passar a ferro. Com sucesso reduzido, porque nisto é como em tudo. Adiante!
Lá fui ler o romancinho e tudo se resolveu. Pois lá dentro tudo é muito transparente, incluindo as pechas de que sofre. Seja-me aqui tolerada a ousadia de pensar que mesmo das mãos dum mestre das artes literárias não caem apenas diamantes lapidados.
É uma sátira impiedosa, perpetrada por um jacobino reles, sem sombra de compaixão pela ronha lúbrica que dormitava emboscada debaixo das sotainas. E pela ironia subtil que reserva às filhas de Eva, em cujo seio faz ninho a perversidade a sério, mal nelas começam a despontar as cores da Natureza. No final, o que sai do romancinho é um hino à Vida, como era de esperar do Aquilino.
Alastra pelas aldeias da serra do Leomil uma praga demoníaca, e não há donzela púbere que escape ao castigo insaciável. Aqui é obra do Bicho-mau, além é dum demónio chifrudo, é dum sátiro peludo, dum fauno, dum silvano, chega a ser do Anticristo, e até dum anjo Inefável, que tinha vindo a regenerar o mundo. De concreto, de concreto, o leitor apenas assiste a um quadro, que este escriba não resiste a reproduzir.
(Padre Teodoro) saltou duas paredes, rastejou pelo mato, furou , até que atingiu o giestal, em cuja orla se deteve, o coração aos pulos, a boca seca como tábua. À borda da ribeira, lá andava, lá andava Leopoldina, descalça, saiote alteado para a cinta, envolta na miríade azul das flores do linho, branca e vaporosa como Nossa Senhora nos céus ideais dum Murillo! (...)
E na febre sensual, quase dolorosa, que o empolgou, seus olhos foram possuindo a perna nua que retoiçava no linho, roliça sem demais, nem vermelha, nem pálida, antes mármore rosado; palpando, depois, a cinta, mais mexida que ciranda, e os quadris que desciam do tronco em requebro de onda de alto mar. Foram desvendando o peito em que moravam duas pombas brancas, mais tímidas que as pombas dos pombais; gozando o rebite do nariz, tão estranhamente formoso, que a graça de Deus e a malícia do demónio se teriam associado para o fazer. Espojaram-se ainda, oh! espojaram-se, na cabeleira farta, luxuriosa de todos os rescendores que exala a terra: (...) Por muito, muito tempo, os olhos dele deliraram com o espectáculo delicioso e, decerto, Leopoldina, nervosa já e sem sossego, lhes teria sentido ora a carícia leve, ora a ferroada. (...)
Leopoldina ia e vinha à direita e à esquerda,cortando, atalhando, guiando a água, amiga indócil e teimosa; à medida, porém, que o tempo ia voando, mais e mais os seus olhos doudejavam e percorriam, inquietos, os visos dos outeiros. (...) Preso a ela por atenção quase reflexa, chegou o momento em que, ao arregaçar a saia, ela lhe mostrasse a perna nua até à virilha. E, subitânea, irrefragável, apoderou-se dele a tentação. Pegando duma pedra, a coberto das giestas, atirou-a. Perdeu-se aquela, perdeu-se segunda, mas Leopoldina bem sentiu bater a terceira. E, voltando-se na sua direcção, toda farfalhuda e aprumada, lhe deu senha de inteligência. (...) Mais lépida que a carricinha, correu a moça ao giestal. Lá ia o sol para trás dos montes, quem o via ir? Arrulhavam as rolas, qual arrulhar!
- Agora quer saber? - murmurou ela de olhos baixos, com um toque de mão concertando a saia. - Sempre é certo o que lhe disse...
- O quê?! Grávida?
- Em que trabalhos o meti! (...)
( Amanhã há mais!)
A coisa começou numa palestra que um encartado fez sobre Aquilino Ribeiro, centrada no romancinho Andam Faunos pelos Bosques, que eu nunca tinha lido.
Ficaram-me no fim perplexidades várias, que o mestre lá ensaiou passar a ferro. Com sucesso reduzido, porque nisto é como em tudo. Adiante!
Lá fui ler o romancinho e tudo se resolveu. Pois lá dentro tudo é muito transparente, incluindo as pechas de que sofre. Seja-me aqui tolerada a ousadia de pensar que mesmo das mãos dum mestre das artes literárias não caem apenas diamantes lapidados.
É uma sátira impiedosa, perpetrada por um jacobino reles, sem sombra de compaixão pela ronha lúbrica que dormitava emboscada debaixo das sotainas. E pela ironia subtil que reserva às filhas de Eva, em cujo seio faz ninho a perversidade a sério, mal nelas começam a despontar as cores da Natureza. No final, o que sai do romancinho é um hino à Vida, como era de esperar do Aquilino.
Alastra pelas aldeias da serra do Leomil uma praga demoníaca, e não há donzela púbere que escape ao castigo insaciável. Aqui é obra do Bicho-mau, além é dum demónio chifrudo, é dum sátiro peludo, dum fauno, dum silvano, chega a ser do Anticristo, e até dum anjo Inefável, que tinha vindo a regenerar o mundo. De concreto, de concreto, o leitor apenas assiste a um quadro, que este escriba não resiste a reproduzir.
(Padre Teodoro) saltou duas paredes, rastejou pelo mato, furou , até que atingiu o giestal, em cuja orla se deteve, o coração aos pulos, a boca seca como tábua. À borda da ribeira, lá andava, lá andava Leopoldina, descalça, saiote alteado para a cinta, envolta na miríade azul das flores do linho, branca e vaporosa como Nossa Senhora nos céus ideais dum Murillo! (...)
E na febre sensual, quase dolorosa, que o empolgou, seus olhos foram possuindo a perna nua que retoiçava no linho, roliça sem demais, nem vermelha, nem pálida, antes mármore rosado; palpando, depois, a cinta, mais mexida que ciranda, e os quadris que desciam do tronco em requebro de onda de alto mar. Foram desvendando o peito em que moravam duas pombas brancas, mais tímidas que as pombas dos pombais; gozando o rebite do nariz, tão estranhamente formoso, que a graça de Deus e a malícia do demónio se teriam associado para o fazer. Espojaram-se ainda, oh! espojaram-se, na cabeleira farta, luxuriosa de todos os rescendores que exala a terra: (...) Por muito, muito tempo, os olhos dele deliraram com o espectáculo delicioso e, decerto, Leopoldina, nervosa já e sem sossego, lhes teria sentido ora a carícia leve, ora a ferroada. (...)
Leopoldina ia e vinha à direita e à esquerda,cortando, atalhando, guiando a água, amiga indócil e teimosa; à medida, porém, que o tempo ia voando, mais e mais os seus olhos doudejavam e percorriam, inquietos, os visos dos outeiros. (...) Preso a ela por atenção quase reflexa, chegou o momento em que, ao arregaçar a saia, ela lhe mostrasse a perna nua até à virilha. E, subitânea, irrefragável, apoderou-se dele a tentação. Pegando duma pedra, a coberto das giestas, atirou-a. Perdeu-se aquela, perdeu-se segunda, mas Leopoldina bem sentiu bater a terceira. E, voltando-se na sua direcção, toda farfalhuda e aprumada, lhe deu senha de inteligência. (...) Mais lépida que a carricinha, correu a moça ao giestal. Lá ia o sol para trás dos montes, quem o via ir? Arrulhavam as rolas, qual arrulhar!
- Agora quer saber? - murmurou ela de olhos baixos, com um toque de mão concertando a saia. - Sempre é certo o que lhe disse...
- O quê?! Grávida?
- Em que trabalhos o meti! (...)
( Amanhã há mais!)
O "nado-morto"
O pai do nado-morto é o venerando Cavaco, que vai acabar a engolir o próprio vómito. O nado-morto é o governo do triste Passos, que há-de comer-lhe a placenta, como a cadela Ugolina. E dão corpo ao nado-morto uma dúzia de medíocres que já traz no ADN, e mais uns tantos medíocres que lhe chegam de reforço. A autópsia do nado-morto vem descrita aqui, ao pormenor. Para nós vai sobrar a conta do enterro, se o não deixarmos aos cães, a cheirar mal.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
A mielas
Despede-me o Porto na forma do costume, debaixo dum dilúvio. Mas o dia correu bem, salvo que não estavam à espera na livraria os últimos versos do Pires Cabral, conforme combinado. Dizem que já esgotou a edição da Cotovia, e eu folgo em lugar de lamentar. Pior que tudo era encontrar a edição inteira aqui, e o mundo todo a dormir!
Ressoa a invernia pelas placas sujas dos telhados do galpão de embarque. E os viajantes, que parecem sempre os mesmos encostados às paredes, ruminam solidões e fúrias silenciosas com o atraso dos paquidermes. Lá vem o meu, dez minutos atrasado. A noite já se instalou e lá dentro procuro o meu lugar, mas não há luzes no tecto. Eu grito lá do fundo - Falta luz, mestre! E nada, o paquiderme começa a mover-se. - Ó mestre , falta luz! Lá puxo dos peitorais e triplico - Ó mestre, falta a luz, porra! a acentuar a métrica.
A luz veio, o que não há é números na coxia e acabo a sentar-me no banco derradeiro. Quem me dera num Mali qualquer, a ouvir a Kora dum Toumani.
O paquiderme vai ocupado a mielas, mais tarde acabará por encher, na maior parte com jovens estudantes que imagino dum qualquer politécnico manhoso, ainda amodorrados na ressaca das praxes dos caloiros, se não são caloiros eles todos. Alguns passeiam por écrãs enormes, onde trazem açaimado o mundo inteiro debaixo dos polegares. Nenhum deles solta um gesto, ninguém parece presente, vou rodeado de zombies que talvez tenham hormonas, sobre as quais tenho mais dúvidas que certezas. Vou rodeado de zombies, com hormonas ou sem elas. E fecho os olhos e parto para o Mali, ao menos lá o deserto é total e verdadeiro. Furando a noite, vai caindo a chuva.
Ressoa a invernia pelas placas sujas dos telhados do galpão de embarque. E os viajantes, que parecem sempre os mesmos encostados às paredes, ruminam solidões e fúrias silenciosas com o atraso dos paquidermes. Lá vem o meu, dez minutos atrasado. A noite já se instalou e lá dentro procuro o meu lugar, mas não há luzes no tecto. Eu grito lá do fundo - Falta luz, mestre! E nada, o paquiderme começa a mover-se. - Ó mestre , falta luz! Lá puxo dos peitorais e triplico - Ó mestre, falta a luz, porra! a acentuar a métrica.
A luz veio, o que não há é números na coxia e acabo a sentar-me no banco derradeiro. Quem me dera num Mali qualquer, a ouvir a Kora dum Toumani.
O paquiderme vai ocupado a mielas, mais tarde acabará por encher, na maior parte com jovens estudantes que imagino dum qualquer politécnico manhoso, ainda amodorrados na ressaca das praxes dos caloiros, se não são caloiros eles todos. Alguns passeiam por écrãs enormes, onde trazem açaimado o mundo inteiro debaixo dos polegares. Nenhum deles solta um gesto, ninguém parece presente, vou rodeado de zombies que talvez tenham hormonas, sobre as quais tenho mais dúvidas que certezas. Vou rodeado de zombies, com hormonas ou sem elas. E fecho os olhos e parto para o Mali, ao menos lá o deserto é total e verdadeiro. Furando a noite, vai caindo a chuva.
Horas felizes, às vezes dez segundos!
No campanário bateram as seis, que ouvi ali no alpendre. Por uns segundos abriu no céu de nuvens a clareira. Tão límpida que logo nela uma Vénus altiva resplandiu. E desta vez trouxe à ilharga um Vulcano inesperado, com ar de quem largou a forja e veio à rua. Enquanto arrefece lá dentro aquele escudo que ao guerreiro ainda falta para entrar finalmente na batalha. Breve uma nuvem rolou e ambos desapareceram.
Um escudo de Aquiles, a nós é que ele fazia imenso jeito!
Um escudo de Aquiles, a nós é que ele fazia imenso jeito!
Ó filho!
Nem precisas de gostar! Aliás se te lembrasses do Miguel de Vasconcelos, e mormente dos fossos de lobo dum sítio em Aljubarrota onde lambeste o pó há muitos anos, estavas mas é caladinho!
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Razão?!
Há qualquer coisa de mágico na Natureza, a que a Razão me não concede acesso e eu só sinto.
Passei um dia longuíssimo e agreste, esforçado e penoso. Cheguei finalmente a casa e vi-a. Fui ao alpendre, ouvi a chuva a cantar no algeroz e abandonei os olhos à semi-obscuridade da paisagem nocturna, banhada por uma estranha luminosidade cuja origem não detecto em céu fechado.
E logo um bálsamo indizível me inundou, inteiro.
Passei um dia longuíssimo e agreste, esforçado e penoso. Cheguei finalmente a casa e vi-a. Fui ao alpendre, ouvi a chuva a cantar no algeroz e abandonei os olhos à semi-obscuridade da paisagem nocturna, banhada por uma estranha luminosidade cuja origem não detecto em céu fechado.
E logo um bálsamo indizível me inundou, inteiro.
domingo, 25 de outubro de 2015
Cinco estrelas
Além de saber pensar, esta senhora escreve muito bem. O que já vai sendo rara coisa.
E alguma prolixidade, que é sempre um vago senão, é sobejamente compensada por uma ironia subtil, que é tão salvífica quanto irrecusável. A não perder!
E alguma prolixidade, que é sempre um vago senão, é sobejamente compensada por uma ironia subtil, que é tão salvífica quanto irrecusável. A não perder!
Trovadoresca
A cachopa lá ia passeio fora, dentro da saia, com o vento a fraldejar nela. Até que o vento lhe soergueu uma aba, e andou lá dentro nas suas tropelias.
Logo me fez lembrar a carricita, que é uma pequena ave com seu rabo, como as outras. E o rabo dela anda sempre levantado, é bem bonito.
A carricita lá pôs o vento na rua e foi à vida dela. E aqui para nós vos confesso, que eu só fiquei para poder contar a história.
Logo me fez lembrar a carricita, que é uma pequena ave com seu rabo, como as outras. E o rabo dela anda sempre levantado, é bem bonito.
A carricita lá pôs o vento na rua e foi à vida dela. E aqui para nós vos confesso, que eu só fiquei para poder contar a história.
Socratistas
Há quem proteste, há mesmo quem se amofine, por ser o Ladrar à Lua um lugar de socratistas. Uns pensam mesmo que isso é entorse ou mazela.
Nenhuma delas acerta. E a mim compete-me apenas aclarar duas questões. A primeira é que eu considero Sócrates, na esteira do Marquês de Pombal, o melhor primeiro-ministro que Portugal conheceu nos seus anos democráticos. Isto é uma visão da história, não é propriamente um parti-pris!
E a segunda é que, para mim, Sócrates é um perseguido que presumo inocente, até que um dia uma sentença dum tribunal transitada em julgado me afirme que ele é culpado. E então ele será, também para mim, um perseguido culpado.
Ora isto é ter princípios e algum respeito pela lei, não é uma panca mundana. E é tudo!
Nenhuma delas acerta. E a mim compete-me apenas aclarar duas questões. A primeira é que eu considero Sócrates, na esteira do Marquês de Pombal, o melhor primeiro-ministro que Portugal conheceu nos seus anos democráticos. Isto é uma visão da história, não é propriamente um parti-pris!
E a segunda é que, para mim, Sócrates é um perseguido que presumo inocente, até que um dia uma sentença dum tribunal transitada em julgado me afirme que ele é culpado. E então ele será, também para mim, um perseguido culpado.
Ora isto é ter princípios e algum respeito pela lei, não é uma panca mundana. E é tudo!
sábado, 24 de outubro de 2015
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Ironia?!
Pior do que tão estranha "classificação" do 25 de Abril, seria só este governo tê-la feito por ironia.
Justa medida
Que farei eu dos privilégios que tenho?! Reparto-os. Pois tu só receberás na justa medida em que te deres.
Ainda te lembras
Como é que foi aquela história do cabrão do Sócrates a escutar o filho da puta de Belém em 2009?! Foi assim!
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
A propósito do discurso de hoje da cavalgadura-mor da República
Percebes agora, ou começas a perceber, porque é que foi importante, há um ano e tal atrás, acorrer às urnas do PS mesmo enquanto simpatizante, correr com o colaboracionista do Seguro, e eleger o Costa como SG do PS por esmagadora maioria, para ver agora a direita em pânico, e os idiotas inúteis do comité central do PCP e do professor Louçã, os tais que de braço dado escorraçaram o Sócrates em 2011, andarem todos em volta do Costa a alisarem-lhe o tapete?! O mesmo Cavaco acabará a engolir o próprio vómito. Mas isto é passo a passo que lá vai!
Finança
Como já era sabido, e agora, quantificado, se reafirma e lembra, a finança é a causa primeira. Ela está no fundo, no âmago, e na origem da nossa crise geral.
"Pedro e António"
Numa exposição brilhante, que só ganharia em clareza se fosse um pouco mais concisa.
Esta lucidez
Vem daqui.
«(...) Olhando em volta é impossível contradizer o poeta.
Desconhecendo a necessidade de regras, e ignorante de que a estética existe, nas últimas décadas o populus deitou-se a escrever, ciente de que os balbucios do ego são uma expressão de arte. Que dos espasmos da bebedeira, da anorexia, do incesto, da neurose, do amor aos cães, da cirurgia plástica, das sardinhas de escabeche - de tudo, afinal - mesmo os simples de espírito podem tirar um livro ou uma obra de arte. E os editores editam, os museus compram, o povo admira e regozija-se consigo próprio.
Proust e Joyce, tendo aberto com o seu génio, e a "corrente de consciência", um inesperado caminho aos sem-talento, são dos grandes da literatura, mas podem também contar-se entre os seus verdadeiros "malfeitores." Freud faz-lhes companhia, e Marx, que ajudou a criar as ilusões que sabemos, completa o quarteto. (...)»
Proust e Joyce, tendo aberto com o seu génio, e a "corrente de consciência", um inesperado caminho aos sem-talento, são dos grandes da literatura, mas podem também contar-se entre os seus verdadeiros "malfeitores." Freud faz-lhes companhia, e Marx, que ajudou a criar as ilusões que sabemos, completa o quarteto. (...)»
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Vivó luxo!
Portugal foi aos mercados e financiou-se a juros negativos. Quer-se dizer que os mercados se desunham por comprar a nossa dívida.
É uma excelente notícia por três motivos: o primeiro é que temos finalmente uma economia a andar, com cinco séculos de atraso; o segundo é que deixámos de passar fome, só para encher a barriga duns pançudos; e o terceiro é que acabaram as dúvidas de que os milagres existem.
É uma excelente notícia por três motivos: o primeiro é que temos finalmente uma economia a andar, com cinco séculos de atraso; o segundo é que deixámos de passar fome, só para encher a barriga duns pançudos; e o terceiro é que acabaram as dúvidas de que os milagres existem.
terça-feira, 20 de outubro de 2015
O que se estima
Um país, qualquer povo, que se submete durante dez anos ao ónus de ter como Supremo Magistrado da Nação uma criatura do calibre de Cavaco Silva, por força irá pagar por isso um preço alto. Nenhum deus pode isentá-lo disso. E os portugueses estão a pagá-lo com sangue.
Está em cena o último crime contra a Pátria, a última traição aos portugueses, que este venerando podia cometer. Podia ter marcado as eleições de 4 de Outubro para um mês antes. Ou dois. Ou três. Ou até quatro. Não o fez, por razões estritamente pessoais, ideológicas, partidárias. A perturbação, o frenesi, o dano, e a vesânia que daí resultam estão à vista.
Que bem depressa a terra lhe seja leve, é o que se estima!
Está em cena o último crime contra a Pátria, a última traição aos portugueses, que este venerando podia cometer. Podia ter marcado as eleições de 4 de Outubro para um mês antes. Ou dois. Ou três. Ou até quatro. Não o fez, por razões estritamente pessoais, ideológicas, partidárias. A perturbação, o frenesi, o dano, e a vesânia que daí resultam estão à vista.
Que bem depressa a terra lhe seja leve, é o que se estima!
Chama
Uns no escuro matutino outros mais tarde, passam vultos no caminho. Vão apanhar as castanhas, que é o mês delas. E são a única coisa que da terra ainda lhes traz algum dinheiro. Hão-de vir uns camiões que as levarão ao Brasil, à Itália, a essa Europa.
Os mais vultos são viúvas, mais tenazes. Eles são raros, já trôpegos e hesitantes, agarrados a um pauzito. E quando há chuva cobrem capas de acaso, de plástico, ou velhas véstias a proteger do pior.
Pelos finais da manhã voltam a casa, de saquito às costas, a cesta e o martelo pendurados no braço.
Eu olho-os e emociono-me, chego a ter inveja deles, da sua tenacidade. E entendo muito melhor porque foi impossível aos nazis exterminar judeus e povos. Porque ninguém corta as raízes dos homens, desde que Prometeu traiu os deuses e lhes entregou a chama.
Os mais vultos são viúvas, mais tenazes. Eles são raros, já trôpegos e hesitantes, agarrados a um pauzito. E quando há chuva cobrem capas de acaso, de plástico, ou velhas véstias a proteger do pior.
Pelos finais da manhã voltam a casa, de saquito às costas, a cesta e o martelo pendurados no braço.
Eu olho-os e emociono-me, chego a ter inveja deles, da sua tenacidade. E entendo muito melhor porque foi impossível aos nazis exterminar judeus e povos. Porque ninguém corta as raízes dos homens, desde que Prometeu traiu os deuses e lhes entregou a chama.
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Ao Porto
Logo que me acho a salvo do galpão do desembarque, almoço na messe que chamo dos almirantes, e já teve a sua dignidade.E logo choco na rua com celtas louros, com translúcidos semblantes, com exóticos falares, que esportularam vinte euros para aterrar nas Pedras Rubras.
Têm eles muita sorte, com esta manhã soalheira que o burgo traz, pendurada na lapela! Tivessem chegado ontem e viam como elas mordem!
Lá espero dez minutos por uma bica que não vem, sentado numa esplanada. Mas perdi a paciência e vou-me embora.
Têm eles muita sorte, com esta manhã soalheira que o burgo traz, pendurada na lapela! Tivessem chegado ontem e viam como elas mordem!
Lá espero dez minutos por uma bica que não vem, sentado numa esplanada. Mas perdi a paciência e vou-me embora.
Opiniões há muitas!
E tantos são os leitores, para nosso bem.
Este aqui deu três estrelas, pela "discreta ironia nos interstícios da prosa". Aquele subiu para quatro, pela "qualidade" da escrita. Ali ofereceram cinco. Porque entre o mais, um linguista é de enorme utilidade.
No forte dos teixos
- Sabes o que têm Évora e York em comum?
- Não. Uma universidade?
- Também. Mas mais importante.
- Assim de repente... Também só fazes perguntas difíceis. É serem cidades bonitas?
- Sim, mas outra coisa.
- ...
- Está visto, tem que ir uma ajudinha. O nome.
- O nome?
- O nome.
- Agora estás a gozar.
- Pode parecer. Mas as duas, York e Évora, têm o mesmo nome.Bom, melhor, tiveram.
- E qual? Pode saber-se?
- Eboracum. Porque tinham uma fortaleza.
- Ah!
- E havia por lá, nas duas, uma data de teixos.
- Teixos?
- Um tipo de árvores. Coníferas, nunca ouviste falar? Têm frutos em forma de cone. Como o pinheiro. É também uma conífera.
- Pró que te dá! Bom, e então?
- E então, os celtas, porque foram eles, chamaram eboracum a essa fortificação que ficava ao pé dos teixos.
- E isso foi em Évora?
- Exacto.
- E em York?
- Nem mais.
- Mas então?
- Então, eboracum deu York, e noutro sítio formou-se Évora. As leis da derivação não são universais.
- Eu fico banzado.
- Não fiques. Daqui a dias conto outra.
Este aqui deu três estrelas, pela "discreta ironia nos interstícios da prosa". Aquele subiu para quatro, pela "qualidade" da escrita. Ali ofereceram cinco. Porque entre o mais, um linguista é de enorme utilidade.
No forte dos teixos
- Sabes o que têm Évora e York em comum?
- Não. Uma universidade?
- Também. Mas mais importante.
- Assim de repente... Também só fazes perguntas difíceis. É serem cidades bonitas?
- Sim, mas outra coisa.
- ...
- Está visto, tem que ir uma ajudinha. O nome.
- O nome?
- O nome.
- Agora estás a gozar.
- Pode parecer. Mas as duas, York e Évora, têm o mesmo nome.Bom, melhor, tiveram.
- E qual? Pode saber-se?
- Eboracum. Porque tinham uma fortaleza.
- Ah!
- E havia por lá, nas duas, uma data de teixos.
- Teixos?
- Um tipo de árvores. Coníferas, nunca ouviste falar? Têm frutos em forma de cone. Como o pinheiro. É também uma conífera.
- Pró que te dá! Bom, e então?
- E então, os celtas, porque foram eles, chamaram eboracum a essa fortificação que ficava ao pé dos teixos.
- E isso foi em Évora?
- Exacto.
- E em York?
- Nem mais.
- Mas então?
- Então, eboracum deu York, e noutro sítio formou-se Évora. As leis da derivação não são universais.
- Eu fico banzado.
- Não fiques. Daqui a dias conto outra.
domingo, 18 de outubro de 2015
Aprender
Eram corvos novatos, os coitados. Eram cinco, da última geração, a esbracejar no motim da aragem da manhã que ramalhava as copas. Mais que voejar, erravam, nos braços da turbulência. E lá foram, tresmalhados e confusos, a aprender a viver.
Fazem-me lembrar alguém.
Fazem-me lembrar alguém.
Caderno de encargos
O »Ladrar à Lua« é um lugar de verrina, ali ao sol do Largo. De algum saber específico, e do prazer estético possível. É janela sempre aberta, onde os passantes espreitam. Sem pegadas ecológicas não autorizadas.
Ladra nele um Velho do Restelo na versão original. Antes de as elites de farsantes o crismarem de cobarde e timorato.
Ladra nele um Velho do Restelo na versão original. Antes de as elites de farsantes o crismarem de cobarde e timorato.
sábado, 17 de outubro de 2015
Sempre
O peso dos tomates de quem os tem (elas ou eles) acaba, sempre, a impor-se, sobre o visco da escumalha pantanosa que cerca, sempre, a vida.
É uma questão de tempo e sofrimento: o dela e o nosso. Já é assim desde que o mundo é mundo.
É uma questão de tempo e sofrimento: o dela e o nosso. Já é assim desde que o mundo é mundo.
Tal como um camponês 'desmancha' o porco.
Aqui António Guerreiro desmancha o prof. Marcelo.
«Uma palavra mágica fixa o centro para onde é atraído todo o discurso com que Marcelo Rebelo de Sousa se apresentou como candidato à presidência da República. Essa palavra é “vocação”. “Professor na universidade”, disse ele no início, “foi e é a vocação da minha vida”; candidatar-se a Presidente, disse ele no fim, é responder a uma “chamada” e prestar contas a uma instância soberana que decide sobre a “dívida moral” e sobre o momento em que esta deve ser paga.
“É tempo de pagar esta dívida moral”, afirmou o candidato em terras de Celorico de Basto, onde as dívidas e a moral soam muito mais alto do que na capital do vício. E onde se pode reactivar um encantamento que anula esta lei da sociedade moderna: quanto mais a política está em baixo, mais a moral fica por cima. A “vocação” do professor e a “chamada” a que respondeu porque estava em situação de escuta significam a mesma coisa: trata-se de uma escolha electiva e espiritual que, na sua versão laica, remete para uma doutrina da predestinação e, na versão religiosa, diz-se que é por vontade de Deus.
Muitos são os políticos de profissão sem vocação, mas raríssimos são os políticos como este: dotado de um pneuma profético, ele transfigura o seu métier em vocação interior. E, coisa ainda mais rara, traz a essas qualidades mágicas a consistência da autoridade professoral. Lendo os artigos embevecidos que o seu discurso vocacional – de resposta a uma “chamada” – suscitou (até em sítios onde se cultiva a sobriedade), percebemos que essa magia consiste num je ne sais quoi, num dom para exercer uma forma de dominação por meio daquilo a que se chama carisma. Marcelo Rebelo de Sousa não é apenas um caso especial de vocação; é também um fenómeno carismático. (...)
Ciente dos seus dons naturais e confirmando o carácter genuíno e verdadeiro da sua vocação, disse ele no início do seu discurso que tinha “sido tocado” e tocara “a vida de milhares de alunos e de alunas”. Tocar e ser tocado significa despertar a parte irracional das afecções humanas. É o lado mágico do carisma. (...)
O que importa perceber é como o carisma é produzido, e para isso é preciso olhar para os que acreditam nele, já que ele só existe na medida em que é exposto e olhado como tal. Neste caso, esse olhar do crente, submetido ao domínio carismático, foi um espectáculo televisivo dominical, celebrado como oração vespertina. Os jornalistas que o recebiam e faziam de interlocutores exibiam sempre um ar extasiado e devoto perante as palavras e a voz do “professor”. Todos cumpriram a mesma missão: sublinhar, perante os espectadores, a relação carismática.
Quem experimentou durante tanto tempo esta magia da dominação sente-se agora “chamado”. Quem o chama?»
[in PÚBLICO, Ípsílon)
«Uma palavra mágica fixa o centro para onde é atraído todo o discurso com que Marcelo Rebelo de Sousa se apresentou como candidato à presidência da República. Essa palavra é “vocação”. “Professor na universidade”, disse ele no início, “foi e é a vocação da minha vida”; candidatar-se a Presidente, disse ele no fim, é responder a uma “chamada” e prestar contas a uma instância soberana que decide sobre a “dívida moral” e sobre o momento em que esta deve ser paga.
“É tempo de pagar esta dívida moral”, afirmou o candidato em terras de Celorico de Basto, onde as dívidas e a moral soam muito mais alto do que na capital do vício. E onde se pode reactivar um encantamento que anula esta lei da sociedade moderna: quanto mais a política está em baixo, mais a moral fica por cima. A “vocação” do professor e a “chamada” a que respondeu porque estava em situação de escuta significam a mesma coisa: trata-se de uma escolha electiva e espiritual que, na sua versão laica, remete para uma doutrina da predestinação e, na versão religiosa, diz-se que é por vontade de Deus.
Muitos são os políticos de profissão sem vocação, mas raríssimos são os políticos como este: dotado de um pneuma profético, ele transfigura o seu métier em vocação interior. E, coisa ainda mais rara, traz a essas qualidades mágicas a consistência da autoridade professoral. Lendo os artigos embevecidos que o seu discurso vocacional – de resposta a uma “chamada” – suscitou (até em sítios onde se cultiva a sobriedade), percebemos que essa magia consiste num je ne sais quoi, num dom para exercer uma forma de dominação por meio daquilo a que se chama carisma. Marcelo Rebelo de Sousa não é apenas um caso especial de vocação; é também um fenómeno carismático. (...)
Ciente dos seus dons naturais e confirmando o carácter genuíno e verdadeiro da sua vocação, disse ele no início do seu discurso que tinha “sido tocado” e tocara “a vida de milhares de alunos e de alunas”. Tocar e ser tocado significa despertar a parte irracional das afecções humanas. É o lado mágico do carisma. (...)
O que importa perceber é como o carisma é produzido, e para isso é preciso olhar para os que acreditam nele, já que ele só existe na medida em que é exposto e olhado como tal. Neste caso, esse olhar do crente, submetido ao domínio carismático, foi um espectáculo televisivo dominical, celebrado como oração vespertina. Os jornalistas que o recebiam e faziam de interlocutores exibiam sempre um ar extasiado e devoto perante as palavras e a voz do “professor”. Todos cumpriram a mesma missão: sublinhar, perante os espectadores, a relação carismática.
Quem experimentou durante tanto tempo esta magia da dominação sente-se agora “chamado”. Quem o chama?»
[in PÚBLICO, Ípsílon)
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Lobo e cordeiro
(À atenção, sempre possível, do comité central!)
A consigna, a alegação, a boca (para não dizer o mantra, o dogma ou a cassete) de que "o PS é igual ao PSD, se não for ainda pior!" tem sido uma verdade constante, ou recorrente, na verborreia e na prática política. É isto uma verdade que agora deixou de ser, ou nunca o foi?!
Em qualquer caso, enquanto falsa consigna, tem ludibriado o povo. E isso, que o pratiquem oligarcas e fascistas não me surpreende nada. Está-lhes na massa do sangue, trazem vestida a pele própria do lobo. Mas muito pior do que isso, mais fraudulento, é ludibriar o povo com capotes de cordeiro.
A consigna, a alegação, a boca (para não dizer o mantra, o dogma ou a cassete) de que "o PS é igual ao PSD, se não for ainda pior!" tem sido uma verdade constante, ou recorrente, na verborreia e na prática política. É isto uma verdade que agora deixou de ser, ou nunca o foi?!
Em qualquer caso, enquanto falsa consigna, tem ludibriado o povo. E isso, que o pratiquem oligarcas e fascistas não me surpreende nada. Está-lhes na massa do sangue, trazem vestida a pele própria do lobo. Mas muito pior do que isso, mais fraudulento, é ludibriar o povo com capotes de cordeiro.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Tudo sic
«(...) Ou seja, os pafiosos apostam tudo num arrastado processo de apodrecimento que conduza inevitavelmente a eleições antecipadas, que como é sabido só podem acontecer após a eleição de novo presidente da República. O guião é este: o boliquento encarrega o aldrabão de Massamá, chefe da quadrilha do pote, de formar governo, o governo vai ao Parlamento apenas para levar porrada da maioria dos eleitos, não consegue sequer aprovar o Orçamento, começa a choramingar que ganhou as eleições e não o deixam governar, os pafiosos merdiáticos avençados colaboram prestimosamente na difusão e consolidação da ideia de que os esquerdelhos eleitos não deixam o governo ainda mais eleito (porque “ganhou”) governar e que isso empurra de novo o país para a beira do abismo e por aí fora.
É claro que “ganhou” porra nenhuma, já que os 38% que enganou significam uma claríssima derrota face aos 62% que não os querem lá, mas enfim, é para nos fazer engolir aldrabices que eles há muito apostaram no domínio de tudo quanto é merdia falada, visualizada e escrita, sem descurar os comentadores encartados, constituídos em coutada de exclusiva propriedade da quadrilha do pote, que guincham afinadamente a mesma mensagem.
Cereja em cima do bolo, o clima assim gerado contribuirá decisivamente para a suprema vergonha que será acabarmos com o Cata-Vento Rebelo de Sousa, Chevalier de la Vichyssoise e pai de todos os aldrabilhas, levado ao colo a substituir o boliquento ao lado dos pastéis de Belém. Mais uma maravilhosa sinergia para nos inseminar o coirão!
Entraríamos assim num período de indefinição e instabilidade que, com a prestimosa e activíssima colaboração de Santo Ambrosinho dos Santíssimos Mercados e Nossa Senhora dos Imaculados Ratings, em encantadoras “malabarices” com taxas de juro e afins, degradaria (esperam eles e tudo farão para isso) todos os índices de confiança nas finanças e na economia, assustando as pessoas ao ponto de as levar de novo a entregar-lhes o pote em eleições antecipadas, que dramatizariam até ao paroxismo com o know-how aprendido nas últimas. Sem esquecer o afinamento e refinamento de métodos e canais de comunicação merdiáticos e sinergias com o sistema de justiça que vêm apurando há muitos anos.
Tentar empurrar de novo o país para a beira do abismo, apenas para poderem continuar grudados ao vasilhame e não perderem mordomias e sinecuras, não está nada mal, não senhor, para estes autoproclamados campeões do patriotismo. (...)»
Assis
O rapaz é um pensador e tem opiniões próprias. Dir-se-á com algum júbilo que Assis já é homenzinho. E considera em sua consonância, o que não acontece a muita gente. E só virá a candidatar-se à direcção do PS numa circunstância excepcional.
No momento que os portugueses vivem, o que ele acha é que anda errada a estratégia da direcção do Costa. Em lugar de querer abrir caminhos de alternativa estável a um governo que tenazmente vem destruindo o país há quatro anos, o PS deveria concentrar-se na função de oposição, que lhe competirá.
Quer dizer, Assis não é, e muito dificilmente pretenderá ser, o líder do PS. Mas acha que o líder Costa não deve seguir a sua própria estratégia, antes a do pensador Assis, por ser a que está correcta. Enquanto o governo prosseguirá tranquilo as suas radicais práticas de destruição.
Alterando a cor de alguma gravata, e um visual um pouco mais compostinho, foi isto, nem mais nem menos, o que andou a fazer durante três anos o carreirista, o inútil, o nocivo e cúmplice António José Seguro, que o PS em boa hora substituiu por Costa, com esmagadora maioria. Enquanto o Relvas, e o Passos, e o Portas e todos os quejandos usavam a troika como pretexto, como programa e como patrão.
Ó Assis, aposto que tu apoias a candidatura do pastelinho de nata da Maria de Belém. Aposto que apreciarias o regresso do jeitosinho do Seguro. Aposto que vais levar na tromba com o professor curandeiro à primeira volta. Porque és um pensador com opiniões agudíssimas e próprias.
E fazes tu muito bem. Mas porque não hás-de fazer ainda um pouco melhor, decidindo-te por uma vez a ir à bardamerda por indecente e má figura?!
No momento que os portugueses vivem, o que ele acha é que anda errada a estratégia da direcção do Costa. Em lugar de querer abrir caminhos de alternativa estável a um governo que tenazmente vem destruindo o país há quatro anos, o PS deveria concentrar-se na função de oposição, que lhe competirá.
Quer dizer, Assis não é, e muito dificilmente pretenderá ser, o líder do PS. Mas acha que o líder Costa não deve seguir a sua própria estratégia, antes a do pensador Assis, por ser a que está correcta. Enquanto o governo prosseguirá tranquilo as suas radicais práticas de destruição.
Alterando a cor de alguma gravata, e um visual um pouco mais compostinho, foi isto, nem mais nem menos, o que andou a fazer durante três anos o carreirista, o inútil, o nocivo e cúmplice António José Seguro, que o PS em boa hora substituiu por Costa, com esmagadora maioria. Enquanto o Relvas, e o Passos, e o Portas e todos os quejandos usavam a troika como pretexto, como programa e como patrão.
Ó Assis, aposto que tu apoias a candidatura do pastelinho de nata da Maria de Belém. Aposto que apreciarias o regresso do jeitosinho do Seguro. Aposto que vais levar na tromba com o professor curandeiro à primeira volta. Porque és um pensador com opiniões agudíssimas e próprias.
E fazes tu muito bem. Mas porque não hás-de fazer ainda um pouco melhor, decidindo-te por uma vez a ir à bardamerda por indecente e má figura?!
Via Láctea
Ainda há pouco a vi, desenrolada ali no céu, de Sul a Norte. E sem Hubble nenhum. Já tinha saudades dela!
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Correio azul
Paulatina e cegamente, a América imperial lança gasolina ao fogo, e prossegue no incendiar do mundo. Os valetes vendidos da Europa tomam parte, no regaço maternal da Nato.
A factura, a nós, vai-nos chegando. Sempre em correio azul.
A factura, a nós, vai-nos chegando. Sempre em correio azul.
E levanta-se o padeiro às 4 da manhã, para cozer o pão que estas alimárias comem todos os dias!
Esta aqui, simples exemplo, é assim que nos lê a história:
- O 25 de Abril não foi mais, na nossa vida, do que uma violentação geral dos portugueses, praticada por uns estranhos agentes que chegaram de longe, e "pareciam muitos, viu-se que não eram";
- A «dinamização cultural», no tempo do PREC, foi um tenebroso processo falhado, "na tentativa de usurpação do voto livre" aos portugueses;
- O PREC não foi um doloroso, e complexo, e contraditório, e inevitável processo, na ascensão dos portugueses à dignidade humana e cívica. Foi outra coisa que ele sabe explicar bem;
- 40 anos depois, voltámos agora a um novo PREC, pela mão do agente Costa, o qual " confina o PS a um organismo de tipo soviético, qual Estaline que quer guerra".
E estas alimárias escrevem em jornais, e esvaziam-nos o cérebro, e trocam-nos as voltas, como se faz aos touros nas arenas. Não lhes bastou à ignorância, à decadência cívica e ao ódio, abocanhar o Sócrates. Querem mais. Eu, por mim, respiro fundo e vou ouvir o Bach, que me há-de resgatar do mau encontro.
- O 25 de Abril não foi mais, na nossa vida, do que uma violentação geral dos portugueses, praticada por uns estranhos agentes que chegaram de longe, e "pareciam muitos, viu-se que não eram";
- A «dinamização cultural», no tempo do PREC, foi um tenebroso processo falhado, "na tentativa de usurpação do voto livre" aos portugueses;
- O PREC não foi um doloroso, e complexo, e contraditório, e inevitável processo, na ascensão dos portugueses à dignidade humana e cívica. Foi outra coisa que ele sabe explicar bem;
- 40 anos depois, voltámos agora a um novo PREC, pela mão do agente Costa, o qual " confina o PS a um organismo de tipo soviético, qual Estaline que quer guerra".
E estas alimárias escrevem em jornais, e esvaziam-nos o cérebro, e trocam-nos as voltas, como se faz aos touros nas arenas. Não lhes bastou à ignorância, à decadência cívica e ao ódio, abocanhar o Sócrates. Querem mais. Eu, por mim, respiro fundo e vou ouvir o Bach, que me há-de resgatar do mau encontro.
De camarote
Supina bênção dum deus um tanto pródigo, é um privilégio dos olhos assistir de camarote ao espectáculo duma aurora como a hoje.
No céu do palco é Vénus a prima donna. Mas logo que o Sol desponta, além na cumeada, já Vénus se recolheu.
No céu do palco é Vénus a prima donna. Mas logo que o Sol desponta, além na cumeada, já Vénus se recolheu.
Cócegas
A longilínea ave risca o céu numa missão de treino. É frequente por aqui, mas vem cordata. Poupa-nos às vergastadas da barreira do som, limitando-se a umas cócegas nos tímpanos.
terça-feira, 13 de outubro de 2015
A lo peor!
Esta avestruz já garantiu a eleição do professor curandeiro à primeira volta. Para o bem do nosso país, claro!
Estranha forma esta de trazer Portugal no coração e tratá-lo com doçuras! Ainda por cima, e alegadamente, dentro do PS! E a agravar tudo, em resultado duma decisão «profundamente amadurecida».
Deus nos pertuja! - diz o meu vizinho.
Estranha forma esta de trazer Portugal no coração e tratá-lo com doçuras! Ainda por cima, e alegadamente, dentro do PS! E a agravar tudo, em resultado duma decisão «profundamente amadurecida».
Deus nos pertuja! - diz o meu vizinho.
Os teus olhos, Catarina!
Até tu ficaste surpreendida com o teu sucesso eleitoral! Mas o ar geral destes tempos, e a nossa circunstância histórica particular, ajudam a explicá-lo.
O que é incompreensível, por tanto ser contrário às evidências da física (e até da metafísica), é andarem aí uns maduros a fingir de apavorados, e a confundir-te com o Adamastor, quando tu te pões a dar à língua.
Olha, diz-lhes que está murcho o que eles querem!
O que é incompreensível, por tanto ser contrário às evidências da física (e até da metafísica), é andarem aí uns maduros a fingir de apavorados, e a confundir-te com o Adamastor, quando tu te pões a dar à língua.
Olha, diz-lhes que está murcho o que eles querem!
Ó pobre Passos!
Ó meu mestre em aldrabices! A «facilitar» assim, não tarda nada e desvendas as cuecas. Embora não escondam grande coisa, não é?!
Armagedão
Depois que as andorinhas partiram, ficou ali o ninho devoluto. E ultimamente tenho reparado que a portinhola de entrada se alargou.
Um dia destes capturei no alpendre uma vespa velutina, que já na noite anterior ouvira por ali a turbinar. Até me fez lembrar a cavalaria aerotransportada do Texas, que andou por lá a espadanar em Da Nang!
Vem-me a ideia que esta velutina, parasita e assassina, pode bem ter andado a cogitar instalar-se no ninho. E chegou a alargar o hall de entrada.
Era o bom e o bonito, voltarem qualquer dia as andorinhas e encontrarem a casa saqueada! Um Armagedão aqui no alpendre, a acrescentar a outro que anda por aí! Entre assassinos que paralisam pelo terror, e uns soldados da primavera a sério!
Um dia destes capturei no alpendre uma vespa velutina, que já na noite anterior ouvira por ali a turbinar. Até me fez lembrar a cavalaria aerotransportada do Texas, que andou por lá a espadanar em Da Nang!
Vem-me a ideia que esta velutina, parasita e assassina, pode bem ter andado a cogitar instalar-se no ninho. E chegou a alargar o hall de entrada.
Era o bom e o bonito, voltarem qualquer dia as andorinhas e encontrarem a casa saqueada! Um Armagedão aqui no alpendre, a acrescentar a outro que anda por aí! Entre assassinos que paralisam pelo terror, e uns soldados da primavera a sério!
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Olha aqui!
Exclui este risquito na lente, que vê um "Tsipras convertido à direita";
Exclui a visão apressada desta verdade, que ainda demorará loonngo teeempo a chegar "os novos caminhos da esquerda - entendida como a ideia de movimento e mudança - só podem ser os caminhos da Transição e da Esperança.";
E haverás de concordar que a leitura deste texto junta proveito e prazer.
Exclui a visão apressada desta verdade, que ainda demorará loonngo teeempo a chegar "os novos caminhos da esquerda - entendida como a ideia de movimento e mudança - só podem ser os caminhos da Transição e da Esperança.";
E haverás de concordar que a leitura deste texto junta proveito e prazer.
Madrugada confusa
Chuva brava. Intenso nevoeiro. Dois relâmpagos faíscam no escuro. Explodem mas já se calam. O disjuntor não saltou.
No lusco-fusco do alpendre vagueia uma vespa velutina, ou asiática, ou assassina. Solitária, marra em vão contra as paredes brancas, aponta ao tecto e regressa. O zumbido tem dez vezes mais decibéis que os do costume em insecto. E tenho a sorte de a atingir à vassourada. Ela esperneia no frasquito, etiqueto-a para levar à engenheira. É a primeira que vejo, que observo ali na minha mão. Pergunto à wikipédia, ela confirma.
- Não me atrevo a sair, fico jogando! - isto dizia o outro há muitos anos. Eu calo o Bach, adio a caminhada. Esgoto o louro chá, fecho o ecrã e já voltei para a cama. Leio umas páginas do Aquilino, uns maduros procuram o bicho-mau na serrania. E eu vou dormir a horita que me falta.
Acção!!!
No lusco-fusco do alpendre vagueia uma vespa velutina, ou asiática, ou assassina. Solitária, marra em vão contra as paredes brancas, aponta ao tecto e regressa. O zumbido tem dez vezes mais decibéis que os do costume em insecto. E tenho a sorte de a atingir à vassourada. Ela esperneia no frasquito, etiqueto-a para levar à engenheira. É a primeira que vejo, que observo ali na minha mão. Pergunto à wikipédia, ela confirma.
- Não me atrevo a sair, fico jogando! - isto dizia o outro há muitos anos. Eu calo o Bach, adio a caminhada. Esgoto o louro chá, fecho o ecrã e já voltei para a cama. Leio umas páginas do Aquilino, uns maduros procuram o bicho-mau na serrania. E eu vou dormir a horita que me falta.
Acção!!!
O estranhíssimo caso dum comboio que ganhou lugar na história por péssimos motivos, e uma mui supina qualidade
A tabela do Intercidades, desde a Guarda até Lisboa, são quatro horas e tal.
Nos primeiros 50 quilómetros de percurso, já tinha desperdiçado uma dúzia de minutos. E chegou a Sta. Apolónia com hora e meia de atraso.
É um desgraçado desempenho, a par duma suprema qualidade: não há melhor para ir buscar a morte!
Nos primeiros 50 quilómetros de percurso, já tinha desperdiçado uma dúzia de minutos. E chegou a Sta. Apolónia com hora e meia de atraso.
É um desgraçado desempenho, a par duma suprema qualidade: não há melhor para ir buscar a morte!
domingo, 11 de outubro de 2015
Ó Costa!
Tens em mãos o décimo terceiro trabalho de Hércules.
E só tens duas hipóteses, não mais: ou o imitas na envergadura... ou entregas o ouro a bandidos variados.
E só tens duas hipóteses, não mais: ou o imitas na envergadura... ou entregas o ouro a bandidos variados.
Eis aqui como se pode ver um problema (extremamente sério!) com o olho do cu e manter um ar sisudo!
Fui militante comunista e vivi durante 14 anos na URSS. Por isso sei que, não fosse o 25 de Novembro de 1975, e muitos dos que defendem a aliança com o PCP estariam a picar pedra numa região remota.
Só a ideia de que é possível ver a extrema-esquerda no governo do meu país, deixa-me envergonhado e indignado. Como será possível o Partido Socialista, que se diz europeísta, que não põe em causa a presença de Portugal na União Europeia, no Euro e na NATO, faça uma coligação com partidos que defendem exactamente o contrário?
Um dos meus amigos socialistas que defende essa aliança escreveu no Facebook: “Aquilo que aqui quero deixar agora, como testemunho pessoal fundado na minha própria experiência de trabalho em comum, é que os comunistas com quem trabalhei e o PCP com quem estive coligado, enquanto socialista militante e dirigente do PS, são portugueses honrados, trabalhadores empenhados e dedicados, que respeitam a palavra dada e honram os compromissos que assumem. Não são, na minha modesta opinião fundada também na observação e vivência pessoal, hoje, nem serão no futuro, nenhuma ameaça ao nosso sistema democrático e às suas regras. Mais, são, também o tenho sublinhado muitas vezes, um dos mais importantes garantes de respeito pela preservação da ordem publica, mesmo no decurso dos mais acirrados protestos politicos ou sindicais”.
Este meu amigo parece ter-se esquecido da história e dos clássicos do marxismo-leninismo- estalinismo, que continuam a ser o catecismo da extrema-esquerda em Portugal. Já não se lembra das tácticas previstas nos manuais comunistas de que, para tomar o poder, faz-se até alianças com o diabo. Talvez não tenha lido a entrevista que a deputada da CDU Rita Rato, formada em Relações Internacionais na Universidade Nova, deu ao Correio da Manhã, onde afirma não saber o que é o “goulag” (rede de campos de “reeducação” soviéticos).
Como é do domínio público, fui militante comunista e tive a oportunidade de viver durante 14 anos numa sociedade por eles edificada na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Partido Comunista Português, ao que eu saiba, nunca se demarcou dos hediondos crimes cometidos por Lenine e Estaline, continua a ver nestes dois carrascos “timoneiros do povo”, sempre foi fiel e servo do Partido Comunista da União Soviética até ao fim deste. E, para os que já se esqueceram, não fosse o 25 de Novembro de 1975 e a pressão exercida pelos dirigentes soviéticos sobre Álvaro Cunhal, e muitos dos socialistas que defendem hoje a aliança com os comunistas estariam pendurados em postes de iluminação ou a picar pedra algures nalguma pedreira numa região remota.
O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda estão contra a integração de Portugal na União Europeia, contra o Euro, contra a NATO. E o que nos propõem como alternativa: atirarmo-nos todos ao mar ou aderir à União Económica Eurasiática e ao Tratado da Organização de Segurança Colectiva?
É verdade que a União Europeia está longe da perfeição e mergulhada numa profunda crise, que os portugueses, incluindo eu, foram e continuam a ser massacrados por medidas económicas honorosas, viram o seu nível de vida descer bruscamente, mas é necessário procurar novas alternativas e não propôr a repetição de ideias utópicas. Os comunistas-bolcheviques russos prometeram, em 1917, paz, pão e terra, mas o povo recebeu uma guerra civil que ceifou milhões de vidas, fomes que mataram mais uns milhões e os camponeses ficaram sem a terra que tinham, tendo muito deles ganho apenas um quinhão nalgum cemitério ou nas imensidões da Sibéria.
Se querem fazer novas experiências sociais, não as façam em pessoas, façam-nas em cobaias, se o PAN autorizar.
Lanço aqui um apelo aos amigos socialistas para que olhem para o Norte da Europa e vejam que há países que encontraram a prosperidade fora do comunismo. Para isso, não é preciso repetir utopias, mas fazer de Portugal um país menos corrupto, onde a justiça funcione, onde todos paguem impostos, onde os mais desprotegidos não sejam esquecidos.
Por favor, não me obriguem a participar duas vezes no mesmo filme, pois este segundo não será ficção como o “Good bye Lenine”.
Por favor, não me obriguem a participar duas vezes no mesmo filme, pois este segundo não será ficção como o “Good bye Lenine”.
(José Milhazes)
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Se não fosse o traço trágico...
Era o gozo mais-que-perfeito, isto de ver os galifões do PEC IV todos a lamber o pó do chão à volta do desgraçado do PS. Com o lombo coberto de mataduras, da carga dum PEC IV vezes sete, que lhes desabou em cima. E depois de transformarem em ruínas, todos juntos, a dignidade da pátria.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Práticas de tiro tenso
Folheei na livraria este Fernando Venâncio e logo o trouxe para casa. É linguista. Tem ficções publicadas que sem prejuízo se lêem. E colectâneas de crítica, que deixou grande vazio. Na cultura do mercado deixou de haver leitores, deixou de haver literatura, passou a haver consumidores de pepinos. E os críticos da arte literária tornaram-se supérfluos. Sobraram os publicistas e algum sobrevivente.
FV é um purista das palavras, como poucos, das malas-artes da literatura. E cultiva aqui a quintessência delas, que é a breve, a curta, e a micro-narrativa. Ou peripécia. Ou verrina. Um texto que por vezes não vai além duma frase, numa concisão que não restringe a largueza. Coexistem nelas crítico e cultor.
Práticas de tiro tenso com as palavras, guardem-nos os deuses dos empilhadores delas!
Por um triz
Vieram uns anjos e pousaram-no sentadinho no passeio.
Sem rede
O trapezista ainda perguntou:
- Achas mesmo? Sem rede?
O amigo malabarista, às voltas com o telemóvel:
- Pois é, sem rede.
Foi impossível chamar o pronto-socorro.
Tipo assim
Sou um viciado em linguagem da plebe. Da plebe culta, esclareço já, aquela com que mais me roço. Assim tipo... Não, eu não estava a anunciar nada. "Assim tipo" é já linguagem da plebe cultivada.
Eu explico. É assim. Um gajo senta-se incógnito, à escuta, junto a uma mesa, num...
Desculpe! Escrevi "É assim"? Juro, isto nunca me tinha acontecido. Supostamente, sou vítima de... Como? Eu escrevi também "Supostamente"?
Bom, senhores. Tchauzinho. Esqueçam.
O baú
Deu-lhe muito trabalho. Mas ao fim de cinco semanas tinha metido tout Leiria no computador.Descarnara-lhes as histórias uma a uma e apertara-as em fórmulas algébricas que até faziam dores à vista. Mas detectava-se já um princípio de movimento.
Passou uma noite ajustando os algoritmos, e quando a cabeça lhe tombava saiu a primeira frase. Num vago português, sugeria universos paralelos. Inabitáveis todos.
Decidiu então educar o programa. Não tinha Mário Henrique querido educar o Mundo? Naquele quarto sem luz do dia, pôs nisso mais uma semana, se é que o tempo lá fora contava. As latas de refrigerante rolavam pelo chão, as pizas começaram a escassear.
Estava ele caído de borco, no melhor dum sono, pôs-se a impressora a ronronar. Estremunhado, ergueu a fronte e olhou. Linhas, e mais linhas, e mais linhas. E parou. Retomou a marcha, encheu-se mais uma página. E prosseguiu. Sempre. Até o papel faltar.
Ele ia percorrendo, febril, as folhas. Em todas se narravam coisas com cabeça e pés, aí perpassando, ventura das venturas, um sopro de desvario. Estava inventada a máquina dos contos. E ele poderia, finalmente, trocar o carro, aumentar até a casa. A guerra das editoras não demoraria a estalar.
Era geral convicção ter ele andado remexendo o baú do Mestre.
Pecado capital
Ninguém sabe. Ninguém o saberá nunca. O pecado capital de Costa, se algum houve, foi ter deixado Sócrates entregue à sua sorte. Agrilhoado ao pelourinho público, mesmo na boca dos cães. Como se fosse um leproso.
Ninguém sabe. Ninguém o saberá. Mas a mim apetece-me pensar esta coisa edificante: os portugueses, ao Costa, não lhe perdoaram a traição, a cobardia, a pusilanimidade. Apetece-me pensá-lo mas não é verdade. Tudo quanto os portugueses não castigam é a canalhice, a esperteza saloia, os jogos da vermelhinha. Mas imolam homens rectos desde há séculos.
Ninguém sabe. Ninguém o saberá. Mas a mim apetece-me pensar esta coisa edificante: os portugueses, ao Costa, não lhe perdoaram a traição, a cobardia, a pusilanimidade. Apetece-me pensá-lo mas não é verdade. Tudo quanto os portugueses não castigam é a canalhice, a esperteza saloia, os jogos da vermelhinha. Mas imolam homens rectos desde há séculos.
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
Perversidades
Somando brancos e nulos aos votos dos ausentes da urna das eleições, conclui-se que em cada cem eleitores quarenta e seis deles não quiseram escolher. E o quadro que resultou é uma charada de equívocos, de perplexidades, de contradições e de ambiguidades.
Cada efeito tem as suas causas. E uma delas será sofrerem os portugueses da síndrome de Estocolmo. O que os transforma em doentes, se antes não forem vítimas do medo. Que se aliam aos algozes, na tentativa de salvar a pele.
Já o requinte da perversidade é o efeito que retiram delas os bonzos da Europa. A democracia nem sempre traz estabilidade. Mas as políticas de razia da austeridade são as do mesmo sucesso, quando a sua aplicação é a adequada.
E assim matam dois coelhos com uma só cajadada. Atiram outra pazada de cal à dignidade dos gregos, e justificam a falhada troika, que andava a precisar de salvação. E no fim abrem todos a champanha!
Cada efeito tem as suas causas. E uma delas será sofrerem os portugueses da síndrome de Estocolmo. O que os transforma em doentes, se antes não forem vítimas do medo. Que se aliam aos algozes, na tentativa de salvar a pele.
Já o requinte da perversidade é o efeito que retiram delas os bonzos da Europa. A democracia nem sempre traz estabilidade. Mas as políticas de razia da austeridade são as do mesmo sucesso, quando a sua aplicação é a adequada.
E assim matam dois coelhos com uma só cajadada. Atiram outra pazada de cal à dignidade dos gregos, e justificam a falhada troika, que andava a precisar de salvação. E no fim abrem todos a champanha!
Como não gostarei dela?!
Gosto muito da pastora, e não é por bucolismos de compêndio. Antes pela compostura no manejo do rebanho.
Quando Agosto traz visitas, não se põe a atravessar a aldeia, para os pastos do outro lado. O rebanho desconhece urbanidades, e deixa as ruas pouco transitáveis. Mas agora, que as castanhas já tapetam os caminhos, nunca visita os prados da encosta e deixa de ir aos andames da serra. É que as ovelhas pelam-se por elas e não respeitam limites.
Há nisto tudo muita sabedoria, e por isso a pastora assim me agrada. Como não gostarei dela, se mesmo ovelhas a seguem?!
Quando Agosto traz visitas, não se põe a atravessar a aldeia, para os pastos do outro lado. O rebanho desconhece urbanidades, e deixa as ruas pouco transitáveis. Mas agora, que as castanhas já tapetam os caminhos, nunca visita os prados da encosta e deixa de ir aos andames da serra. É que as ovelhas pelam-se por elas e não respeitam limites.
Há nisto tudo muita sabedoria, e por isso a pastora assim me agrada. Como não gostarei dela, se mesmo ovelhas a seguem?!
terça-feira, 6 de outubro de 2015
Estrela d'Alva
Numa clareira do céu que vai escampando, Vénus esplêndida brilha, a do peito generoso. A estrela da manhã, a estrela d'alva, que é estrela do pastor e à tarde é Vésper, a estrela da tarde, vela pela madrugada.
Anacronismo inquisitorial
O Inquiridor Teixeira, magistrado do MP e primeiro ficcionista do guião contra Sócrates, tem manobrado da forma conhecida a condução do processo, com gritantes violações das leis que regem um estado de direito. A começar na prisão preventiva do suspeito para o investigar, em lugar de investigar o suspeito para o acusar, e prender se for o caso; a prosseguir numa sistemática e selectiva violação do segredo de justiça, para obter na praça pública a condenação selvagem do suspeito, o que está perfeitamente conseguido; a manter o suspeito na cadeia, sem acusação, impedindo-lhe a defesa; o ficcionista, que já ninguém decente leva a sério, acaba por ver um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, sobre um recurso da defesa de Sócrates, arrasar completamente a actuação e os métodos e as agressões à lei do Inquiridor Teixeira, com o beneplácito do super-juiz Alex. Um tal acórdão impõe o fim do segredo interno de justiça, segundo o qual ao suspeito deve ser imediatamente aberto o acesso aos dados da acusação, o que já devia ter acontecido desde Abril passado. Depois de ter agitado, em manobra dilatória, um suposto pedido de aclaração que não chegou a apresentar, o magistrado Teixeira acaba de requerer, no último momento do seu prazo, a nulidade do acórdão da Relação. Para continuar a impedir o acesso do suspeito aos dados da (eventual) acusação, e poder-se defender.
Muitas são as coisas que este manto de canalhice pretende esconder. Mas uma delas resulta cada vez vez mais transparente: O Inquiridor Teixeira assume a verdadeira face do Inquisidor que é. Durante trezentos anos, os suspeitos da sinistra Inquisição também eram encarcerados por ficções, e destruídos lentamente em masmorras infectas, e não podiam saber de que eram acusados, e não podiam conhecer quem os denunciava, e não podiam constituir advogado que os defendesse, e eram destruídos pelo potro e a polé, até que confessassem um crime que nunca cometeram, e era a prova da culpa, que os condenava inapelavelmente. Sempre em nome da Justiça e da Misericórdia.
O Inquiridor Teixeira é um anacronismo inquisitorial que envergonha a Justiça, e envergonharia Portugal como estado de direito democrático, se Portugal ainda o fosse.
Portugal já o não é. E o Inquisidor Teixeira talvez um dia tenha alguém que o livre de vir a partir os dentes de vampiro.
Muitas são as coisas que este manto de canalhice pretende esconder. Mas uma delas resulta cada vez vez mais transparente: O Inquiridor Teixeira assume a verdadeira face do Inquisidor que é. Durante trezentos anos, os suspeitos da sinistra Inquisição também eram encarcerados por ficções, e destruídos lentamente em masmorras infectas, e não podiam saber de que eram acusados, e não podiam conhecer quem os denunciava, e não podiam constituir advogado que os defendesse, e eram destruídos pelo potro e a polé, até que confessassem um crime que nunca cometeram, e era a prova da culpa, que os condenava inapelavelmente. Sempre em nome da Justiça e da Misericórdia.
O Inquiridor Teixeira é um anacronismo inquisitorial que envergonha a Justiça, e envergonharia Portugal como estado de direito democrático, se Portugal ainda o fosse.
Portugal já o não é. E o Inquisidor Teixeira talvez um dia tenha alguém que o livre de vir a partir os dentes de vampiro.
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
Ontem
Passou agora ali a Gioconda, que desertou do Louvre e trouxe as ancas. E logo à minha janela um Velho da Horta se pôs de mirante.
Lapa
Aqui na Lapa dá-me o sol na eira e a chuva no nabal, que já mostra as orelhitas.
De que me queixarei, senão de mim?!
De que me queixarei, senão de mim?!
Caos novo
Despaisado, impaciente, procuro algures as primeiras projecções. Mas é cedo, por causa dos Açores. Num café a televisão dá bola. A um golo do Porto, explode.
E ela lá vai, sozinha, rua fora. Leva um saquito na mão e uma sombrinha fechada. De vez em quando estaca, gesticula, levanta os braços ao céu. Alega não sei o quê sobre segurança social. E logo - este país não interessa a ninguém! nem ao menino jesus! eu por mim vou emigrar! mas ai, quando eu vier... O resto já não chegou e ela lá foi, sempre a gesticular.
Ao lado aparece um templo duma congregação. À esquerda do guarda-vento é a entrada das irmãs, a dos irmãos é a da mão direita. O interior é uma amplíssima nave, muito branca, com lustres que explodem luz. À direita só há homens, à esquerda apenas mulheres, de véus brancos a cobrir-lhes os cabelos. À frente o aparato musical: o violino, as flautas, um clarinete e vários saxofones. As mulheres cantam em coro e o som, amplificado, esmaga os tímpanos. O pastor dá um capítulo nos livrinhos da palavra.
As primeiras projecções chegaram finalmente. Depois vieram segundas, e as seguintes. E amanhã vou eu pedir a sombrinha à mulher do saquito, e vou, passeio fora, a esbracejar. Pois se Deus escreve direito em linhas tortas, também se vê o exacto contrário. E vai chegar aí um caos novo, a somar ao caos velho!
E ela lá vai, sozinha, rua fora. Leva um saquito na mão e uma sombrinha fechada. De vez em quando estaca, gesticula, levanta os braços ao céu. Alega não sei o quê sobre segurança social. E logo - este país não interessa a ninguém! nem ao menino jesus! eu por mim vou emigrar! mas ai, quando eu vier... O resto já não chegou e ela lá foi, sempre a gesticular.
Ao lado aparece um templo duma congregação. À esquerda do guarda-vento é a entrada das irmãs, a dos irmãos é a da mão direita. O interior é uma amplíssima nave, muito branca, com lustres que explodem luz. À direita só há homens, à esquerda apenas mulheres, de véus brancos a cobrir-lhes os cabelos. À frente o aparato musical: o violino, as flautas, um clarinete e vários saxofones. As mulheres cantam em coro e o som, amplificado, esmaga os tímpanos. O pastor dá um capítulo nos livrinhos da palavra.
As primeiras projecções chegaram finalmente. Depois vieram segundas, e as seguintes. E amanhã vou eu pedir a sombrinha à mulher do saquito, e vou, passeio fora, a esbracejar. Pois se Deus escreve direito em linhas tortas, também se vê o exacto contrário. E vai chegar aí um caos novo, a somar ao caos velho!
domingo, 4 de outubro de 2015
Urna de voto
Fazer o melhor possível aquilo que deve ser feito (mais do que aquilo que apetece fazer) é a única moral possível, a única ética, a única cidadania, a única obrigação, o único destino, a única oração, o único catecismo, o único mandamento, a única função, o único sentido transcendental da existência, a única lealdade à razão e à inteligência, a única coisa que nos distingue dum orangotango, e a única forma de escapar à loucura do mundo em que vivemos e em que havemos de morrer.
sábado, 3 de outubro de 2015
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Dogmas de alcorão
Aqui se pensou e disse, em 2011, quando o PEC IV foi chumbado no Parlamento: estão achadas as duas alegações que servirão de ração durante muito tempo a um bando de traidores revanchistas, a salivar pelo pote do poder!
Omitindo a gravíssima crise financeira global, que veio da América e está aí para durar, vociferavam tais alegações que o governo do PS conduzira o país à bancarrota, e que o Sócrates mandara entrar a troika em Portugal.
Eram duas inverdades absolutas e ainda hoje o são. Porém, o tacticismo sectário do comité central (que teve ganhos eleitorais imediatos!) e a irresponsabilidade do Louçã ("recusar o PEC IV é já começar a sair da crise"!) transformaram duas inverdades em dogmas de alcorão, que até o jovenzito (In)Seguro, à frente do PS, acatou com fervor ao longo de três anos.
De tal modo elas enraizaram que ainda hoje aí vicejam. E este bando de vampiros da Pátria vai encerrar a campanha a repeti-las.
Omitindo a gravíssima crise financeira global, que veio da América e está aí para durar, vociferavam tais alegações que o governo do PS conduzira o país à bancarrota, e que o Sócrates mandara entrar a troika em Portugal.
Eram duas inverdades absolutas e ainda hoje o são. Porém, o tacticismo sectário do comité central (que teve ganhos eleitorais imediatos!) e a irresponsabilidade do Louçã ("recusar o PEC IV é já começar a sair da crise"!) transformaram duas inverdades em dogmas de alcorão, que até o jovenzito (In)Seguro, à frente do PS, acatou com fervor ao longo de três anos.
De tal modo elas enraizaram que ainda hoje aí vicejam. E este bando de vampiros da Pátria vai encerrar a campanha a repeti-las.
Vai por mim, ó Passos!
Vejo que já chegaste à fase dos amuletos. Olha, aproveita o dia de reflexão e vai a pé a Fátima. Eu fui lá antes de ir para a Guiné, fiz de joelhos a grande via sacra e deixei lá uma promessa.
Por acaso fodi-me, mas isso agora não interessa nada!
Por acaso fodi-me, mas isso agora não interessa nada!
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
O Galamba fala assim
- «(…) É preciso não esquecer que, nos últimos 4 anos, não ocorreram investimentos como o da refinaria de Sines, o da nova fábrica da Portucel em Setúbal, o da Embraer em Évora ou o do Alqueva. Se as exportações de hoje são, sobretudo, fruto de investimentos passados, o facto de estarmos com volumes de investimento semelhantes aos que existiam em meados dos anos 80 é, sem sombra de dúvida, motivo para alarme. Quando Paulo Portas diz que a abertura de uma loja (repito: de uma loja) do IKEA no Algarve é um dos investimentos mais importantes dos últimos 4 anos, devemos ficar preocupados. É bom que haja esse investimento, como é evidente, mas é preocupante que seja um dos mais importantes da legislatura. E é revelador que seja uma loja, não uma fábrica – essa foi construída na anterior legislatura. (…)» ALI
Quadrada, rigorosamente!
Cavaco já sabe "muito bem" o que fará, mas recusa revelar "um centímetro" que seja.
Nós também há muito que não temos qualquer sombra de dúvida: o Cavaco é uma besta que envergonha; rigorosamente quadrada!
Nós também há muito que não temos qualquer sombra de dúvida: o Cavaco é uma besta que envergonha; rigorosamente quadrada!
Excertos de excerto de ode
(...)
Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de infinito. (...)
Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por saber que nunca os realizaremos... (...)
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos Humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados. (...)
Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé antepé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.
Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranquilamente como um gesto materno afagando,
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,
A lua começa a ser real.
[POESIAS de Álvaro de Campos, Ed. Ática, Lx 1964]
Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de infinito. (...)
Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por saber que nunca os realizaremos... (...)
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos Humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados. (...)
Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé antepé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.
Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranquilamente como um gesto materno afagando,
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,
A lua começa a ser real.
[POESIAS de Álvaro de Campos, Ed. Ática, Lx 1964]
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