sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Malapata histórica
Dentro de 40 anos andaremos ainda a babar lamúrias, por não termos um comboio decente que nos ligue à Europa. E substitua o Sud-Expresso, lôbrego e centenário, que já não existe há muito.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Para ilustração duns tristes que merecem dó
E que em tempos ajudaram a chumbar o PEC IV de Sócrates. Não vão eles morrer de estupidez, sem entenderem porquê.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Um pirómano inútil e ridículo
No tempo em que Portugal teve um governo, eleito, patriota e responsável, Mário Nogueira dirigia os professores, a quem a avaliação não agradava. Eram os tempos da ministra sinistra, do Mariano Gago da Ciência, da Belém Roseira da Saúde, do tipo dos corninhos na Economia, do Vieira da Silva, do Sócrates enfim.
O Nogueira, sempre a mando do comité central, arregimentou então os professores avenida abaixo. Garantiu-lhes a terra prometida e eles acreditaram. E foi assim que retirou a Sócrates a maioria absoluta em 2009, antes de acompanhar ao altar o Passos mais o Relvas em 2011.
Os professores são hoje um rebanho tresmalhado, que ele entregou ao açougue do Crato. O destino da Ciência é o mesmo do peixe seco, que se come no inverno quando a horta não dá couves. A escola pública troca-se por um cheque-ensino. Os projectos construídos vão à vida, porque são delírios megalómanos que é saudável descartar. E para rejeitar o orçamento do Passos, o melhor que o Nogueira descobriu foi fazer dos papéis dele uma fogueira. A iletrada cegueira geral há-de fazer o resto.
O Nogueira, sempre a mando do comité central, arregimentou então os professores avenida abaixo. Garantiu-lhes a terra prometida e eles acreditaram. E foi assim que retirou a Sócrates a maioria absoluta em 2009, antes de acompanhar ao altar o Passos mais o Relvas em 2011.
Os professores são hoje um rebanho tresmalhado, que ele entregou ao açougue do Crato. O destino da Ciência é o mesmo do peixe seco, que se come no inverno quando a horta não dá couves. A escola pública troca-se por um cheque-ensino. Os projectos construídos vão à vida, porque são delírios megalómanos que é saudável descartar. E para rejeitar o orçamento do Passos, o melhor que o Nogueira descobriu foi fazer dos papéis dele uma fogueira. A iletrada cegueira geral há-de fazer o resto.
Comidos por parvos
Ecos da Sonora - LIX
A Bruxa do Monte Córdova - Camilo Castelo Branco
Hoje em dia, em que a tarefa magna do leitor consiste em orientar-se numa floresta de estéticas caóticas, faz pouco sentido ler Camilo. Quando muito, faz algum o gesto de quem visita anualmente o orago, no cimo do outeiro, numa tarde soalheira. Sobretudo em se tratando duma obra menor, das muitas que serviram ao autor para cumprir o honesto castigo de pagar o seu jantar com o suor do rosto.
Sobra, porém, qualquer ganho, se um utente pediu a gravação. À uma por ser gratificante fazer-se cada dia o que deve ser feito. E às duas por ser útil mergulhar na longínqua vida do baixo século dezanove, e naquela sociedade ultramontana: nos morgadios que imolavam ao deus do património gerações de filhos segundos, condenados ao convento e à frustração das vidas; nos ódios que tomaram rédea solta naquela esquina da história, entre passado e futuro, entre o direito e o privilégio, entre as novas ideias liberais e o conúbio de mútua conveniência entre o altar e o trono absoluto; na degradação moral e ética da vida nos conventos, que eram há muito tempo sucursais do inferno; e nos muitos batalhões sagrados miguelistas, que usavam na mira a cruz de Cristo mas disparavam zagalotes de mosquete.
No fim consola retemperar o fôlego, e mergulhar no sol que bafeja a cidade. Onde antigas disputas estão por deslindar, mudando uns pormenores.
Hoje em dia, em que a tarefa magna do leitor consiste em orientar-se numa floresta de estéticas caóticas, faz pouco sentido ler Camilo. Quando muito, faz algum o gesto de quem visita anualmente o orago, no cimo do outeiro, numa tarde soalheira. Sobretudo em se tratando duma obra menor, das muitas que serviram ao autor para cumprir o honesto castigo de pagar o seu jantar com o suor do rosto.
Sobra, porém, qualquer ganho, se um utente pediu a gravação. À uma por ser gratificante fazer-se cada dia o que deve ser feito. E às duas por ser útil mergulhar na longínqua vida do baixo século dezanove, e naquela sociedade ultramontana: nos morgadios que imolavam ao deus do património gerações de filhos segundos, condenados ao convento e à frustração das vidas; nos ódios que tomaram rédea solta naquela esquina da história, entre passado e futuro, entre o direito e o privilégio, entre as novas ideias liberais e o conúbio de mútua conveniência entre o altar e o trono absoluto; na degradação moral e ética da vida nos conventos, que eram há muito tempo sucursais do inferno; e nos muitos batalhões sagrados miguelistas, que usavam na mira a cruz de Cristo mas disparavam zagalotes de mosquete.
No fim consola retemperar o fôlego, e mergulhar no sol que bafeja a cidade. Onde antigas disputas estão por deslindar, mudando uns pormenores.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
domingo, 24 de novembro de 2013
Donde o desespero
Da canalhice e de mais uma traição das nossas elites oligárquicas parasitas; do manobrismo impenitente das nossas seitas de aventureiros inúteis; dos seculares equívocos e enganos da nossa ingenuidade iletrada; é deste cerco sem saída aparente que resulta o desespero que anda à solta.
O homem de que Portugal precisa existe, com os limites que tem. É o José Sócrates do PS, que Portugal deitou fora, o que não surgiu na história pela primeira vez.
Este governo de traidores decadentes e este presidente incapaz e cúmplice merecem o nosso asco e o banco dos réus (passe o eufemismo).
O Euro é uma armadilha pérfida, numa Europa tomada de cegueira e cupidez suicida. Portugal deve abandoná-lo.
Antes o inferno com ranger de dentes, alguma dignidade e a esperança possível, do que esta geena inútil, de condenados sem remissão.
O homem de que Portugal precisa existe, com os limites que tem. É o José Sócrates do PS, que Portugal deitou fora, o que não surgiu na história pela primeira vez.
Este governo de traidores decadentes e este presidente incapaz e cúmplice merecem o nosso asco e o banco dos réus (passe o eufemismo).
O Euro é uma armadilha pérfida, numa Europa tomada de cegueira e cupidez suicida. Portugal deve abandoná-lo.
Antes o inferno com ranger de dentes, alguma dignidade e a esperança possível, do que esta geena inútil, de condenados sem remissão.
sábado, 23 de novembro de 2013
Diz-se, sem haver razões para duvidar
Que é assim o pôr-do-sol em Marte. É mesmo este nosso, o pobre, tristonho e mesquinho como ele anda! [rapinado a JJRoseira]
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
J.F.Kennedy assassinado "por um bibliotecário". Em Dallas, em 1963.
[1964 - Ácido numa piscina de negros]
[Apartheid americano]
[1960 - Luther King arranca do jardim um presente incendiado pelo Ku-Klux-Klan]
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Cronistas 6
«Veneza mobilizava secretamente o novo sultão do Egipto para a luta contra os portugueses, que estrangulavam a rota de Alexandria. Em 1505 chegou a Lisboa, vindo de Roma onde se avistara com o papa, frei Mauro, monge de Santa Catarina do Monte Sinai. Se o rei D. Manuel não desistisse, o sultão do Egipto ocuparia os Lugares Santos e proibiria as peregrinações e o culto cristão.
Em resposta ao apelo de frei Mauro, D. Manuel enviou embaixadores a Henrique VII de Inglaterra e a França, Flandres e Roma. Propunha-lhes uma nova Cruzada com destino a Alexandria, e daí para a Terra Santa. Pelo seu lado, os reis indianos e os mercadores mouros instavam o sultão do Egipto: levante uma armada no Suez. Juntos, expulsaremos os portugueses da Índia.
Quando frei Mauro chegou a Lisboa, já sétima esquadra, a de Francisco de Almeida, partira com 22 velas e 1500 homens de armas, "gente limpa", em que entravam muitos fidalgos e 400 moradores, registados nos livros do rei. D. Manuel delegava os seus poderes em Francisco de Almeida, que na Índia assumiria o título de vice-rei. O pessoal dirigente e militar ficava sujeito a três anos de serviço pago. Levavam madeira lavrada e acertada para na Índia montar duas galés e um bergantim. E ferro, breu, pregos, alcatrão, linho, lonas, panos de Vila do Conde, âncoras, fateixas, remos, armas e muita artilharia e munições. Em cada nau havia botica bem provida, barbeiro sangrador, mestre para curar e dois capelães para confessar.
(...) Embarcaram carpinteiros, calafates, ferreiros, cordoeiros e degredados que viam perdoada parte substancial dos degredos. Os cronistas esqueceram-se dos escravos.»
(Gaspar Correia, Lendas da Índia)
Na Esfera do Mundo, Vol.IV, António Borges Coelho
[Eis os interesses duma falsa elite aventureira que pintaram de epopeia, o serviço do Vaticano, os destroços dum cruzadismo medieval, e a cobiça da pimenta que há-de levar à ruína, com proveito de ingleses e holandeses.
Ao longe pairam as sombras funestas de Alcácer-Quibir, que um rei menor, fanatizado e débil irá desencadear. Não fora ele como foi, doutro modo qualquer haveria de ser. Inapelavelmente.
As elites passaram a Castela, foram comer à mão de Filipe II. E o povo de Portugal foi mais uma vez crucificado, num exercício que ainda hoje se repete. Pois quem não aprende com os erros do passado, passa a vida inteira a repeti-los.]
Em resposta ao apelo de frei Mauro, D. Manuel enviou embaixadores a Henrique VII de Inglaterra e a França, Flandres e Roma. Propunha-lhes uma nova Cruzada com destino a Alexandria, e daí para a Terra Santa. Pelo seu lado, os reis indianos e os mercadores mouros instavam o sultão do Egipto: levante uma armada no Suez. Juntos, expulsaremos os portugueses da Índia.
Quando frei Mauro chegou a Lisboa, já sétima esquadra, a de Francisco de Almeida, partira com 22 velas e 1500 homens de armas, "gente limpa", em que entravam muitos fidalgos e 400 moradores, registados nos livros do rei. D. Manuel delegava os seus poderes em Francisco de Almeida, que na Índia assumiria o título de vice-rei. O pessoal dirigente e militar ficava sujeito a três anos de serviço pago. Levavam madeira lavrada e acertada para na Índia montar duas galés e um bergantim. E ferro, breu, pregos, alcatrão, linho, lonas, panos de Vila do Conde, âncoras, fateixas, remos, armas e muita artilharia e munições. Em cada nau havia botica bem provida, barbeiro sangrador, mestre para curar e dois capelães para confessar.
(...) Embarcaram carpinteiros, calafates, ferreiros, cordoeiros e degredados que viam perdoada parte substancial dos degredos. Os cronistas esqueceram-se dos escravos.»
(Gaspar Correia, Lendas da Índia)
Na Esfera do Mundo, Vol.IV, António Borges Coelho
[Eis os interesses duma falsa elite aventureira que pintaram de epopeia, o serviço do Vaticano, os destroços dum cruzadismo medieval, e a cobiça da pimenta que há-de levar à ruína, com proveito de ingleses e holandeses.
Ao longe pairam as sombras funestas de Alcácer-Quibir, que um rei menor, fanatizado e débil irá desencadear. Não fora ele como foi, doutro modo qualquer haveria de ser. Inapelavelmente.
As elites passaram a Castela, foram comer à mão de Filipe II. E o povo de Portugal foi mais uma vez crucificado, num exercício que ainda hoje se repete. Pois quem não aprende com os erros do passado, passa a vida inteira a repeti-los.]
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
As PPP's da miséria, e o grande cabrão do Sócrates que é o culpado disto tudo
Nestas troikas há sempre um presidente, que é quem manda e governa o município. Este tem mandado desde há muitos anos, desde há tantos que já nem pensa neles. Pôs um açaime ao voto popular e simplesmente fez o que lhe deu na gana.
Um Centro de Interpretação da Cultura Judaica faz muita falta à vila e à cultura dela, e às revoadas de turistas judeus que hão-de chegar aí à procura das raízes, à procura dos processos dos marranos que a Santa Inquisição fez arder no Rossio, à procura dos produtos Kosher ali da Beira Baixa. Vai ser um corrupio, o futuro do turismo passa por aí.
O Museu da Cidade faz-nos aqui muita falta. Ainda não sabemos bem o que meter lá dentro, mas isso agora não interessa nada. E uma vez que já lá vai quase um milhão no negócio das ruínas do Paço Ducal... sempre é melhor levar a coisa avante.
Outra coisa que faz falta ao progresso da vila é um Museu do Tempo. Trouxemos aí uns visionários bandarristas luso-brasileiros do Tribunal Europeu do Ambiente, a palestrar sobre a Arte e a Ciência, e um comendador que não sabe o que há-de fazer a uns quatrocentos relógios que lá tem. Um tal museu é que vem a calhar.
Faz-nos falta a Central de Camionagem, que todas as terras têm. De pouco nos servirá, mas tudo é negócio e obra.
Requalificar este Largo das Portas e o Campo da Feira é grande necessidade, uma vez que já são ambos muito velhos. E um Centro Cultural em Vila Franca há-de trazer mais-valias, mesmo que só venha a abrir as portas nas provas do vinho novo.
Tais são as atribulações dum presidente da câmara atento ao futuro e ao bem dos seus munícipes. Donde virá o dinheiro é que ainda não sabemos, mas viremos a saber em lá chegando.
O atelier dum arquitecto renomado já desenhou os projectos, é ele a segunda perna desta troika. Trata-se do senhor Gonçalo Byrne, e aqui o nome é meio caminho andado. Alguém há-de pagar os honorários.
Quem faz as obras é um empreiteiro, a perna que aqui faltava para manter em pé esta tripeça. E como não há dinheiro, ele mesmo se encarrega dessa questão maior. Umas PPP's resolvem o assunto. Os banqueiros vão lá fora, trazem dinheiro barato, para isso é que eles existem.
[Entre tantas PPP's, só sobreviveram três. A dívida que deixaram é de 8,5 milhões, a ladrar por 25 anos. E os encargos anuais contraídos sobem a 800 mil. Se num improvável dia deixarem de ser pagos, o empreiteiro é o dono do Rossio da Feira de São Bartolomeu. Mas onde é que está o problema?! Não é verdade que foi o cabrão do Sócrates que nos levou à miséria?!]
Um Centro de Interpretação da Cultura Judaica faz muita falta à vila e à cultura dela, e às revoadas de turistas judeus que hão-de chegar aí à procura das raízes, à procura dos processos dos marranos que a Santa Inquisição fez arder no Rossio, à procura dos produtos Kosher ali da Beira Baixa. Vai ser um corrupio, o futuro do turismo passa por aí.
O Museu da Cidade faz-nos aqui muita falta. Ainda não sabemos bem o que meter lá dentro, mas isso agora não interessa nada. E uma vez que já lá vai quase um milhão no negócio das ruínas do Paço Ducal... sempre é melhor levar a coisa avante.
Outra coisa que faz falta ao progresso da vila é um Museu do Tempo. Trouxemos aí uns visionários bandarristas luso-brasileiros do Tribunal Europeu do Ambiente, a palestrar sobre a Arte e a Ciência, e um comendador que não sabe o que há-de fazer a uns quatrocentos relógios que lá tem. Um tal museu é que vem a calhar.
Faz-nos falta a Central de Camionagem, que todas as terras têm. De pouco nos servirá, mas tudo é negócio e obra.
Requalificar este Largo das Portas e o Campo da Feira é grande necessidade, uma vez que já são ambos muito velhos. E um Centro Cultural em Vila Franca há-de trazer mais-valias, mesmo que só venha a abrir as portas nas provas do vinho novo.
Tais são as atribulações dum presidente da câmara atento ao futuro e ao bem dos seus munícipes. Donde virá o dinheiro é que ainda não sabemos, mas viremos a saber em lá chegando.
O atelier dum arquitecto renomado já desenhou os projectos, é ele a segunda perna desta troika. Trata-se do senhor Gonçalo Byrne, e aqui o nome é meio caminho andado. Alguém há-de pagar os honorários.
Quem faz as obras é um empreiteiro, a perna que aqui faltava para manter em pé esta tripeça. E como não há dinheiro, ele mesmo se encarrega dessa questão maior. Umas PPP's resolvem o assunto. Os banqueiros vão lá fora, trazem dinheiro barato, para isso é que eles existem.
[Entre tantas PPP's, só sobreviveram três. A dívida que deixaram é de 8,5 milhões, a ladrar por 25 anos. E os encargos anuais contraídos sobem a 800 mil. Se num improvável dia deixarem de ser pagos, o empreiteiro é o dono do Rossio da Feira de São Bartolomeu. Mas onde é que está o problema?! Não é verdade que foi o cabrão do Sócrates que nos levou à miséria?!]
terça-feira, 19 de novembro de 2013
A "igreja dos pobres", pobres deles!
«(...) Ninguém julgue que Francisco é um clérigo ingénuo (...) Francisco é o Papa necessário a esta fase em que a Europa, secularizada, começa a olhar para a Igreja católica perante a ameaça do proselitismo islâmico e que precisa de cuidar da América do Sul onde a implantação é grande e a concorrência evangélica agressiva.(...)»
[rapinado aqui]
[rapinado aqui]
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
"Os nossos credores"
É assim, nesta toada íntima, que estes degenerados filhos da puta referem os agiotas que nos vão esmifrando até ao osso.
Cornucópia
Dizem que nascer é benesse dos deuses, para além de ser, dos homens, necessidade
urgente. E assim será. Mas a bênção verdadeira consiste em sair infante no seio
dum casalinho português. É uma cornucópia de bem-aventuranças.
A primeira decisão que os papás tomam, mal o infante se instala nas suas
vidas, é deixarem de ser mulher e homem. Abdicam da condição, no bom propósito
de se tornarem papás a tempo inteiro.
Há um tempo em que o infante se limita a deglutir, a dormir e a defecar. E
os dois papás, enquanto espiam ansiosos o gráfico dos pesos e das medidas,
vivem o seu período de maior exaltação.
Depois o infante começa a gatinhar, começa a gaguejar, ensaia os primeiros
gestos de representação. É então que os dois papás, mais a família inteira, e
também os amigos que vieram, lhe oferecem o papel de prima-donna e
lhe cedem o palco inteiro. Organizam no salão a roda em volta dele, e cada um a
seu modo o estimula. A mamã pede-lhe um gesto, a tia dá-lhe uma deixa, a avó
bate-lhe palminhas à precocidade. E o infante faz o pino, puxa a orelha do
gato, deita a linguita de fora, cospe na mão da madrinha. A distância entre o
infante e um macaquito de circo reduz-se perigosamente. Mas ganha imenso a
alegria do salão e a felicidade colectiva.
O infante já descobriu que está no centro dum mundo onde nada mais existe
que o seu egoísmo cruel. E estabelece metodicamente a sua ditadura, em que vai
introduzindo invencíveis tácticas de guerrilha. Não tem horas de dormir ou de
comer, nem de chegar ou partir, nem de falar ou de ouvir.
O casalinho há muito que anda esfalfado, que não dorme, que não vive. Evita
lugares públicos onde se peça alguma compostura, e há muito tempo que trabalha
a meio gás. Mas assume esse calvário em função dum projecto de futuro.
Tendo assim sido menino, o infante fez-se entretanto criança, antes de se
tornar adolescente. Na escola descobriu o smartphone,
conheceu o mp3, ouviu falar duma nova play-station. E só há boa
cara para os papás se eles aceitarem o negócio. Caso contrário não abre a porta
do quarto. Depois a cena repete-se por aquela marca de roupa, por um acessório
gótico, por um camuflado da guerra do Afeganistão.
Até que chega o dia de ir à discoteca. E os papás, que já não têm vida
própria, que têm que trabalhar, que deixaram de ter intimidade, que há muito se
não entendem, que padecem de impotência irreversível, pagam a um segurança
profissional que a venha buscar a casa e a devolva às quatro da manhã.
Os papás já não são uma família. Agora só há mamã, porque o papá foi-se
embora. E um dia o adolescente, desinteressado da escola, vai à sua viagem de
finalistas, porque no último período fez um esforço final que afinal não
resultou.
A mãe está decidida a arranjar o segundo trabalho, porque um só não chega
para as encomendas. Além dum carro para poder ir às aulas, há que pagar as
propinas na privada, onde o infante se há-de licenciar um dia em Relações
Internacionais.
sábado, 16 de novembro de 2013
Era assim
[menina vietnamita, que tirou as roupas a arder, regadas com napalm - rapinado a JJRoseira]
Isto muito antes de os marines serem reciclados de Pai Natal e receberem o encargo de levar a liberdade e a democracia aos bárbaros da Líbia, do Iraque, do Afeganistão, da Síria...
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Partilha de despojos entre marginais mercenários da contra-informação
« (...)
- O que aconteceu quando o PSD ganhou as legislativas?
- (...) Como os blogueres tinham sido muito importantes para a chegada ao poder, chamaram alguns para o governo e suas imediações. Foi um erro.
- Nomes?
- Álvaro Santos Pereira, do Desmitos, foi para ministro da Economia; Carlos Sá Carneiro entrou para adjunto do primeiro-ministro; Pedro Correia foi para o gabinete do Relvas; Luís Naves também, mais tarde; João Villalobos para a Secretaria de Estado da Cultura; Carlos Abreu Amorim para deputado e vice-presidente do grupo parlamentar; António Figueira, do Cinco Dias e de esquerda, foi trabalhar com o Relvas; Francisco Almeida Leite para o Instituto Camões; Vasco Campilho foi para algo ligado aos Negócios Estrangeiros; José Aguiar para o ICEP; Pedro Froufe para a comissão de extinção das freguesias; o CDS também recrutou no 31 da Armada. Houve outros. Só em ministros, secretários de Estado e assessores foi uma razia em blogues como o Albergue Espanhol, o 31 da Armada, Delito de Opinião, O Insurgente, o Blasfémias, etc. Apenas o Aventar ficou imune. (...)»
[Entrevista a Fernando Moreira de Sá, Visão Nº 1080, pág. 50]
NOTA: Pela parte que me atinge neste lamaçal de infâmia, não posso calar a gratidão ao comité central, que se misturou a isto.
- O que aconteceu quando o PSD ganhou as legislativas?
- (...) Como os blogueres tinham sido muito importantes para a chegada ao poder, chamaram alguns para o governo e suas imediações. Foi um erro.
- Nomes?
- Álvaro Santos Pereira, do Desmitos, foi para ministro da Economia; Carlos Sá Carneiro entrou para adjunto do primeiro-ministro; Pedro Correia foi para o gabinete do Relvas; Luís Naves também, mais tarde; João Villalobos para a Secretaria de Estado da Cultura; Carlos Abreu Amorim para deputado e vice-presidente do grupo parlamentar; António Figueira, do Cinco Dias e de esquerda, foi trabalhar com o Relvas; Francisco Almeida Leite para o Instituto Camões; Vasco Campilho foi para algo ligado aos Negócios Estrangeiros; José Aguiar para o ICEP; Pedro Froufe para a comissão de extinção das freguesias; o CDS também recrutou no 31 da Armada. Houve outros. Só em ministros, secretários de Estado e assessores foi uma razia em blogues como o Albergue Espanhol, o 31 da Armada, Delito de Opinião, O Insurgente, o Blasfémias, etc. Apenas o Aventar ficou imune. (...)»
[Entrevista a Fernando Moreira de Sá, Visão Nº 1080, pág. 50]
NOTA: Pela parte que me atinge neste lamaçal de infâmia, não posso calar a gratidão ao comité central, que se misturou a isto.
Deserto
Sem surpresa de maior, Américo Rodrigues foi demitido da direcção do TMG pelo novo presidente da Câmara da Guarda.
Alguns reparos seriam naturais. Mas a atmosfera de deserto que já era no distrito um fenómeno relativo, passa agora a clima absoluto.
Alguns reparos seriam naturais. Mas a atmosfera de deserto que já era no distrito um fenómeno relativo, passa agora a clima absoluto.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Sobre os meios usados por estes canalhas para correrem com o governo de Sócrates e se apoderarem do poder
Está tudo em três páginas que um garganta funda forneceu à Visão Nº 1080 (48,49 e 50).
O essencial vem resumido aqui. http://corporacoes.blogspot.pt/2013/11/central-de-contra-informacao-vida-e.html
E ali bem explicadinho.
O essencial vem resumido aqui. http://corporacoes.blogspot.pt/2013/11/central-de-contra-informacao-vida-e.html
E ali bem explicadinho.
União de forças
«Tenha a forma de movimento, frente, coligação ou qualquer outra coisa, o novo sujeito político deve juntar quem, à esquerda, esteja interessado em unir forças. Pode e deve abranger partidos políticos já existentes, partidos políticos que entretanto se possam formar e muitos dos que não militam em qualquer partido. Mas, acima de tudo, a refundação de um espaço político à esquerda do PS tem de transportar consigo um potencial de esperança que, sozinhos, os atuais atores políticos são incapazes de oferecer aos portugueses. E isso depende dos seus protagonistas e da sua credibilidade e do realismo e coragem das suas propostas. Tem de corresponder a uma frente democrática que defenda um novo papel para Portugal na Europa. Um patriotismo que, não desistindo dos combates europeus, ponha a democracia e o Estado Social como as primeiras de todas as suas prioridades. E que esteja, na defesa da soberania democrática e dos direitos sociais, disposta a negociar com todos os que defendam um programa urgência nacional que se apresente com firmeza em alternativa ao programa de subdesenvolvimento proposto pela troika. É isto, ou a preparação para a deprimente tragédia francesa.»
Prémio APE da Crónica
A edição da obra de J. Rentes de Carvalho pela Quetzal é um elementar exercício de justiça e rectidão, que resgata a conhecida mesquinhez indígena. Durante 50 anos, o Rentes cumpriu o calvário de todos os nossos estrangeirados, produzindo lá fora a cultura e o espírito que serviu a outros, e que os asnos nacionais tomaram por dispensável.
Mazagran, conjunto de crónicas publicadas na Holanda e editadas em 2012, venceu há dias o Grande Prémio de Crónica da APE. E eu, que me rendo à excelência de Ernestina, de Com os Holandeses, e de A Flor e a Foice que ainda não viu a luz do dia, já estou tranquilo na bicha. Porque intuo que a crónica é o campo em que Rentes de Carvalho melhor brilha.
Cronistas 5
«(...) Ao outro dia, 17 de Dezembro de 1500, os navios portugueses tomaram de assalto as dez naus mouras, fundeadas no porto. Roubaram-lhes as especiarias, a fazenda e três elefantes que salgaram para comer. Ataram os pés e as mãos dos cativos e chegaram fogo às naus. Arderam à vista da cidade, assombrada pelas chamas e pelos gritos dos que morriam queimados. As naus portuguesas navegaram então para Cochim, cidade inimiga de Calecut. (...)
Calecut assumiu então a liderança contra o estabelecimento da nova rota. Impulsionavam-na os mercadores muçulmanos e os reis indianos do Malabar. Contavam também com o apoio do rei de Cambaia, o auxílio naval e militar do sultão do Egipto e a participação discreta de Veneza.
Anualmente as naus que chegavam de Lisboa descarregavam a artilharia sobre Calecut e roubavam e incendiavam os navios fundeados no seu porto. Na quarta viagem, a segunda de Vasco da Gama, a doutrina era a de impor pela força das armas o senhorio da navegação e do comércio e fechar o Mar Vermelho. Jogava-se na divisão das pequenas cidades-estado. (...)
No golfão da África para a Índia encontraram a nau Meri. Transportava 300 mouros de Meca, com as mulheres e os filhos. Roubaram a nau e tiraram os meninos, tornados mais tarde frades jerónimos em Nossa Senhora de Belém. Amarraram os tripulantes e os passageiros debaixo da coberta e deitaram fogo. Os presos soltaram-se. Com a água que entrava pelos buracos abertos pelos pelouros apagaram as chamas. As naus do Gama voltaram e atiraram tições a arder. Quando veio a noite, metade da nau ardia, a outra metade afundava-se com o resto da carga humana.
Ao entrar no porto de Calecut, Vasco da Gama capturou 50 pescadores. (...) Ao meio dia, ao sinal da sua bombarda, as naus aproximaram-se de terra com os 50 pescadores enforcados nos mastros. Omito o resto. (...)»
[António Borges Coelho, História de Portugal, Vol.IV, Na Esfera do Mundo]
Calecut assumiu então a liderança contra o estabelecimento da nova rota. Impulsionavam-na os mercadores muçulmanos e os reis indianos do Malabar. Contavam também com o apoio do rei de Cambaia, o auxílio naval e militar do sultão do Egipto e a participação discreta de Veneza.
Anualmente as naus que chegavam de Lisboa descarregavam a artilharia sobre Calecut e roubavam e incendiavam os navios fundeados no seu porto. Na quarta viagem, a segunda de Vasco da Gama, a doutrina era a de impor pela força das armas o senhorio da navegação e do comércio e fechar o Mar Vermelho. Jogava-se na divisão das pequenas cidades-estado. (...)
No golfão da África para a Índia encontraram a nau Meri. Transportava 300 mouros de Meca, com as mulheres e os filhos. Roubaram a nau e tiraram os meninos, tornados mais tarde frades jerónimos em Nossa Senhora de Belém. Amarraram os tripulantes e os passageiros debaixo da coberta e deitaram fogo. Os presos soltaram-se. Com a água que entrava pelos buracos abertos pelos pelouros apagaram as chamas. As naus do Gama voltaram e atiraram tições a arder. Quando veio a noite, metade da nau ardia, a outra metade afundava-se com o resto da carga humana.
Ao entrar no porto de Calecut, Vasco da Gama capturou 50 pescadores. (...) Ao meio dia, ao sinal da sua bombarda, as naus aproximaram-se de terra com os 50 pescadores enforcados nos mastros. Omito o resto. (...)»
[António Borges Coelho, História de Portugal, Vol.IV, Na Esfera do Mundo]
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Quando «a direita e a esquerda» protestavam
A geração (?) estava «à rasca», por causa da insegurança e da precariedade, e por causa do governo do cabrão do Sócrates. Por isso marchavam todos alegremente, ao compasso dos deolindos e dos falâncios.
Agora a geração está fodida e nem pia.
Agora a geração está fodida e nem pia.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
domingo, 10 de novembro de 2013
sábado, 9 de novembro de 2013
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Cronistas 4
«A notícia da derrota chegou em menos de 20 horas a Ceuta; a Lisboa, só a 10 ou 11 de Agosto [1578]. Os governadores esconderam a nova. A 13 enviaram o provincial da Companhia de Jesus a Alcobaça, a chamar o cardeal D. Henrique. As ruas encheram-se de uma multidão alucinada. No dia 24 entrou a barra a armada que fora para Arzila e Larache. Dizia-se que D. Sebastião vinha disfarçado por vergonha. Durante todo o dia, em 24 e 25, tocaram os sinos. (...)
O resgate dos milhares de cativos sangrou o país. O cardeal mandou juntar num cofre, administrado por oficiais da coroa, as jóias, as peças de ouro, de prata, as pedras preciosas. Na primeira leva, as roupas atingiram 300 mil cruzados, as jóias e preciosidades 800 mil. Venderam-nas em Ceuta a mouros e a judeus. Mais tarde seguiu para Ceuta novo galeão com 20 mil cruzados em dinheiro, 17 mil em fazendas da Índia e novas jóias e preciosidades de particulares.
Duzentos e dezasseis fidalgos regressaram do cativeiro, mas em 1596 ainda havia prisioneiros em Marraquexe, Alcácer Quibir e Tetuão. Um cativo cristão custava uns cem cruzados, e aquele sobre quem recaía a suspeita de ser fidalgo não custava menos de dois mil. Muitos foram vendidos em Argel como escravos.
A 20 de Setembro celebrou-se na igreja dos Jerónimos o saimento pela morte de D. Sebastião. Falou o padre jesuíta Luís Alvares: "Quem vos matou, meu formoso? Matou-vos o bispo, matou-vos o clérigo, matou-vos o frade, matou-vos o grande, matou-vos o pequeno, matou-vos o privado, matou-vos o baixo, matou-vos o povo, matei-vos eu, matámo-lo todos quantos somos, pois entre nós não houve um tanoeiro que lhe tivesse mão pela rédea, como se já fez a outro rei deste reino."» *
* Queiroz Velloso, O Reinado do Cardeal D. Henrique, pp.12
O resgate dos milhares de cativos sangrou o país. O cardeal mandou juntar num cofre, administrado por oficiais da coroa, as jóias, as peças de ouro, de prata, as pedras preciosas. Na primeira leva, as roupas atingiram 300 mil cruzados, as jóias e preciosidades 800 mil. Venderam-nas em Ceuta a mouros e a judeus. Mais tarde seguiu para Ceuta novo galeão com 20 mil cruzados em dinheiro, 17 mil em fazendas da Índia e novas jóias e preciosidades de particulares.
Duzentos e dezasseis fidalgos regressaram do cativeiro, mas em 1596 ainda havia prisioneiros em Marraquexe, Alcácer Quibir e Tetuão. Um cativo cristão custava uns cem cruzados, e aquele sobre quem recaía a suspeita de ser fidalgo não custava menos de dois mil. Muitos foram vendidos em Argel como escravos.
A 20 de Setembro celebrou-se na igreja dos Jerónimos o saimento pela morte de D. Sebastião. Falou o padre jesuíta Luís Alvares: "Quem vos matou, meu formoso? Matou-vos o bispo, matou-vos o clérigo, matou-vos o frade, matou-vos o grande, matou-vos o pequeno, matou-vos o privado, matou-vos o baixo, matou-vos o povo, matei-vos eu, matámo-lo todos quantos somos, pois entre nós não houve um tanoeiro que lhe tivesse mão pela rédea, como se já fez a outro rei deste reino."» *
* Queiroz Velloso, O Reinado do Cardeal D. Henrique, pp.12
Ainda está por medir
... se vier um dia a ser medida, a dimensão da traição que uma pseudo-elite infligiu a Portugal em Março de 2011, acolitada por aventureiros.
A destruição da escola pública é o mais obsceno e selvático campo de batalha.
Mas não é o único.
A destruição da escola pública é o mais obsceno e selvático campo de batalha.
Mas não é o único.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
A caixa mágica
Estava ali na sala, em cima duma cómoda. Abria-se-lhe a tampa e logo aparecia um cão pintado. Parecia amarrado à frente dum funil, à espera de ordens do dono.
Um brasileiro que regressou à terra trouxera no porão a caixa mágica. E um dia, já cansado das modinhas dela, acabou por vendê-la.
Havia ocasiões, às tardes de domingo, em que os adultos ensaiavam um pé de dança. O pai ditava o compasso. Dava umas voltas numa manivela, enroscava a agulhinha de metal numa cabeça redonda, escolhia um disco preto e encaixava-o num prato que se punha a girar. E logo a caixinha mágica se desfazia em música.
O pai anunciava uma valsa, alguém lhe pedia um tango, às tantas lia no disco e falava duma java, uma habanera. Mas eu não distinguia uma coisa da outra, nem dava importância a isso. O que eu queria era saber onde as vozes se escondiam, lá por dentro da caixinha. Devia ser um homem bem pequeno, com uma boca muito aberta, um que aparecia a gritar em altas vozes, umas modas que ninguém apreciava. Tanto assim que não davam para dançar.
Só muitos anos depois é que vim a conhecê-lo. Era o Caruso, e também andara por Manaus, onde os donos da borracha construíram um teatro na floresta. Só para que ele, à vontade, abrisse a boca.
Um brasileiro que regressou à terra trouxera no porão a caixa mágica. E um dia, já cansado das modinhas dela, acabou por vendê-la.
Havia ocasiões, às tardes de domingo, em que os adultos ensaiavam um pé de dança. O pai ditava o compasso. Dava umas voltas numa manivela, enroscava a agulhinha de metal numa cabeça redonda, escolhia um disco preto e encaixava-o num prato que se punha a girar. E logo a caixinha mágica se desfazia em música.
O pai anunciava uma valsa, alguém lhe pedia um tango, às tantas lia no disco e falava duma java, uma habanera. Mas eu não distinguia uma coisa da outra, nem dava importância a isso. O que eu queria era saber onde as vozes se escondiam, lá por dentro da caixinha. Devia ser um homem bem pequeno, com uma boca muito aberta, um que aparecia a gritar em altas vozes, umas modas que ninguém apreciava. Tanto assim que não davam para dançar.
Só muitos anos depois é que vim a conhecê-lo. Era o Caruso, e também andara por Manaus, onde os donos da borracha construíram um teatro na floresta. Só para que ele, à vontade, abrisse a boca.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Cronistas 3
«(...) O cardeal D. Henrique morreu na noite de 31 de Janeiro de 1580. Tinha 68 anos. (...)
Filipe II tinha a certeza de que lhe não iam entregar o reino e começou a reunir soldados exercitados na guerra da Flandres. Mandou distribuir cartazes e promessas pelos grandes do reino. (...) Filipe escreveu aos procuradores reunidos em Cortes [Santarém]. Entregassem-lhe o reino em paz, senão tê-los-ia por rebeldes e como tal os castigaria. Escreveu também a D. António [prior do Crato, neto de D. Manuel, filho natural do infante D. Luís].
O prior do Crato só queria ser Defensor, mas o povo escolheu Rei. E nessa tarde a Câmara aclamou-o por toda a vila [Santarém] com muitas festas. (...)
Em Lisboa entrava gente a dar obediência a D. António e os populares organizavam a defesa. Os mais dos fidalgos estavam do lado de Castela, outros neutrais.Uns iam para o rei de Castela e deixavam cá o filho ou o pai com D. António. (...)
O duque de Alba vinha por terra com 40 mil homens de pé e de cavalo, e por mar o marquês de Santa Cruz avançava para Setúbal com 200 velas e navios de alto bordo. (...)
Nesse dia [3 de Agosto de 1580] o duque de Alba tomou a torre de Cascais e mandou enforcar no cadafalso o capitão D. Diogo de Meneses. Sintra entregou-se. Estavm lá os fidalgos com as mulheres. A 12 de Agosto entregou-se a fortaleza de São Julião da Barra. A 13, a armada castelhana veio ancorar entre a torre de Belém e a de Cascais. A armada portuguesa, composta por muitos e bons galeões, recuou. "Andava tudo vendido". D. António tirou os capitães. (...)
No dia 20 alguns turcos das galés castelhanas desertaram para D. António. Também se passaram alguns soldados italianos mas para o trair. Só o povo miúdo sustentava a lealdade e a defesa.
A 23 de Agosto entregaram-se a Torre de Belém e a Torre Velha. A 24 entrou toda a armada castelhana, de Belém para dentro, e fundeou na enseada para lá de Santo Amaro.
Nessa noite D. António lançou rebate mas ninguém acudiu. À meia noite desse dia os castelhanos avançaram em curva para a ponte de Alcântara. De manhã carregaram por todos os lados e puseram em fuga o exército de D. António. Muitos soldados morreram em combate e muitos mais quando encontraram as portas da cidade fechadas. (...)
A Câmara mandou levantar a bandeira branca e manteve as portas fechadas. (...) O duque de Alba e os capitães portugueses e castelhanos entraram com grande triunfo na cidade. Subiram ao convento de Nossa Senhora da Graça e revistaram-no: - Onde está esse judeu? (...)
No domingo, 28, entrou a armada da Índia e a do Brasil, de São Tomé e de Cabo Verde, que andavam a pairar à espera do resultado. "Assim terminou esta triste tragicomédia." *
* Pero Roiz Soares viveu todos estes acontecimentos. A sua narrativa é favorável a D. António, mas não o poupa. E o seu relato não contradiz a substância da investigação de Queiroz Velloso, assente em muita documentação do Arquivo de Simancas.
Filipe II tinha a certeza de que lhe não iam entregar o reino e começou a reunir soldados exercitados na guerra da Flandres. Mandou distribuir cartazes e promessas pelos grandes do reino. (...) Filipe escreveu aos procuradores reunidos em Cortes [Santarém]. Entregassem-lhe o reino em paz, senão tê-los-ia por rebeldes e como tal os castigaria. Escreveu também a D. António [prior do Crato, neto de D. Manuel, filho natural do infante D. Luís].
O prior do Crato só queria ser Defensor, mas o povo escolheu Rei. E nessa tarde a Câmara aclamou-o por toda a vila [Santarém] com muitas festas. (...)
Em Lisboa entrava gente a dar obediência a D. António e os populares organizavam a defesa. Os mais dos fidalgos estavam do lado de Castela, outros neutrais.Uns iam para o rei de Castela e deixavam cá o filho ou o pai com D. António. (...)
O duque de Alba vinha por terra com 40 mil homens de pé e de cavalo, e por mar o marquês de Santa Cruz avançava para Setúbal com 200 velas e navios de alto bordo. (...)
Nesse dia [3 de Agosto de 1580] o duque de Alba tomou a torre de Cascais e mandou enforcar no cadafalso o capitão D. Diogo de Meneses. Sintra entregou-se. Estavm lá os fidalgos com as mulheres. A 12 de Agosto entregou-se a fortaleza de São Julião da Barra. A 13, a armada castelhana veio ancorar entre a torre de Belém e a de Cascais. A armada portuguesa, composta por muitos e bons galeões, recuou. "Andava tudo vendido". D. António tirou os capitães. (...)
No dia 20 alguns turcos das galés castelhanas desertaram para D. António. Também se passaram alguns soldados italianos mas para o trair. Só o povo miúdo sustentava a lealdade e a defesa.
A 23 de Agosto entregaram-se a Torre de Belém e a Torre Velha. A 24 entrou toda a armada castelhana, de Belém para dentro, e fundeou na enseada para lá de Santo Amaro.
Nessa noite D. António lançou rebate mas ninguém acudiu. À meia noite desse dia os castelhanos avançaram em curva para a ponte de Alcântara. De manhã carregaram por todos os lados e puseram em fuga o exército de D. António. Muitos soldados morreram em combate e muitos mais quando encontraram as portas da cidade fechadas. (...)
A Câmara mandou levantar a bandeira branca e manteve as portas fechadas. (...) O duque de Alba e os capitães portugueses e castelhanos entraram com grande triunfo na cidade. Subiram ao convento de Nossa Senhora da Graça e revistaram-no: - Onde está esse judeu? (...)
No domingo, 28, entrou a armada da Índia e a do Brasil, de São Tomé e de Cabo Verde, que andavam a pairar à espera do resultado. "Assim terminou esta triste tragicomédia." *
* Pero Roiz Soares viveu todos estes acontecimentos. A sua narrativa é favorável a D. António, mas não o poupa. E o seu relato não contradiz a substância da investigação de Queiroz Velloso, assente em muita documentação do Arquivo de Simancas.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Cronistas 2
Nesta sua História de Portugal (Vol.IV), António Borges Coelho pouco ou nada elabora. Não pinta quadros nem emoldura discursos sobre o passado. Quer isto dizer que não floreteia nem confunde, com a verborreia académica. Limita-se a seguir o rasto dos cronistas e dos seus informadores, e a deixá-los falar. O resto agora é connosco, e já cá fazia falta.
«Regressado de Guadalupe [encontro com Filipe II], D. Sebastião levantou todo o dinheiro que pôde e mobilizou o país para a expedição militar. O plano tornado público consistia em tomar Larache e ajudar o Xarife Mulei Ahmede a reconquistar o (seu) reino.
O monarca lançou o imposto de um por cento sobre os bens de raiz. Com autorização do papa, pôde levantar, das terças das igrejas, 150 mil cruzados. Retirou dinheiro do cofre dos órfãos, e venderam-se padrões de juro. Na venda de prata da Casa da Moeda juntou 130 mil cruzados. Estabeleceu o monopólio do sal. Pediu dinheiro às cidades e aos mercadores de grosso trato. Contraiu um empréstimo de centenas de milhares de cruzados, subscrito por Conrad Rott, de Augsburgo, a oito por cento. Consignados ao empréstimo, ficavam, durante três anos, 92 mil quintais de pimenta. Dos cristãos-novos, obteve 250 mil cruzados, mediante a promessa, ratificada por um breve do papa Gregório XIII, de que, durante dez anos, a Inquisição não tomaria as suas fazendas. Em resposta a esta última iniciativa, o cardeal D. Henrique demitiu-se de inquisidor-geral.
Quatro coronéis correram o país a recrutar soldados. Multiplicaram-se os roubos e as ignomínias sobre os lavradores casados. Traziam-nos como carneirada por não terem com que se resgatar. Largavam os que davam 10, 5, 4, 3 cruzados. Por fim bastavam 2 cruzados, até 6 tostões para os deixarem escapar. (...)
Mais de quatrocentos fidalgos, armados à sua custa, ostentavam grande luxo. Muitos venderam herdades, casas, quintãs, outros empenharam comendas e morgados e vendiam o ouro. Fixaram em seis o número de criados que os grandes fidalgos podiam levar, nove para o duque de Bragança. Havia quem levasse cinquenta com libré da sua casa. Quem visse as invenções das vestes, as pinturas nas armas, nos elmos e os retratos nos escudos, devia cuidar que o rei ia a bodas, ou a festas, e não para a batalha.
A 14 de Junho, depois da missa celebrada na sé, realizou-se a bênção da bandeira. O alferes-mor trouxe-a até aos paços. Na passagem da Ribeira, as mulheres deram uma salva: Vitória! Vitória! Vitória!*
A 25 de Junho saíram a barra 940 velas de toda a sorte, uns 20 mil homens de peleja e 3 mil cavalos. D. Sebastião levava a espada e o escudo de D. Afonso Henriques. Cristóvão de Távora comandava os dois mil Aventureiros [terço de fidalgos pobres]. Fundearam em Lagos a 26, em Cádiz a 28.Correram-se os touros. Vieram damas de Sevilha e da Andaluzia. Sebastião, embuçado, assistiu duma janela. Largaram de Cádiz na manhã de 7 de Julho.
O embaixador João da Silva escrevia ao rei Filipe: é lastimável "ver ir el-rei sem homem que entenda o que vamos a fazer, e assim parece o ganhar impossível e o perder certo".»**
*Pero Roiz Soares, pp. 95
**Queiroz Veloso, pp.304
Cronistas 1
«A militarização da sociedade e o triunfo da Contra-Reforma [séc. XVI/XVII] permitiram que os teólogos, os doutores e os fidalgos se manifestassem na direcção da política, da cultura, da economia e da ideologia. Afundaram as contas, travaram a actividade dos mercadores profissionais, em boa parte cristãos-novos.
O tribunal do Santo Ofício e os teólogos conservadores das Ordens Religiosas bloquearam a criatividade do pensamento, a crítica e as práticas que se desviassem dos dogmas tridentinos. Sufocaram no berço a rotura epistemológica que internamente se operava, e se desenvolveria na Europa.»
António Borges Coelho
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Leitura
Seis por cento dos portugueses lêem, é a Europa que o diz. Menos do que isto, só Chipre.
Parecerá pouco. Mas menos é, se descontarmos a areia com que nos toldam os olhos.
Quem festejava era eu, se não tivesse vergonha e pertencesse às elites.
Parecerá pouco. Mas menos é, se descontarmos a areia com que nos toldam os olhos.
Quem festejava era eu, se não tivesse vergonha e pertencesse às elites.
domingo, 3 de novembro de 2013
Da página dos tops da revista LER
Ainda esta pérola:
«(...) Acreditar, Rezar, Amar é com Maria Helena, uma das novas entradas do mês. A outra é José Sócrates, que nos tortura, desculpem, que nos fala de tortura em A Confiança do Mundo.(...)»
Deste modo se confirma que, na nossa terra, basta dar um pontapé numa pedra para sair de lá um cretino. Melhor dizendo, um filho da puta armado em pimpão. Mesmo na página dos tops da revista LER.
«(...) Acreditar, Rezar, Amar é com Maria Helena, uma das novas entradas do mês. A outra é José Sócrates, que nos tortura, desculpem, que nos fala de tortura em A Confiança do Mundo.(...)»
Deste modo se confirma que, na nossa terra, basta dar um pontapé numa pedra para sair de lá um cretino. Melhor dizendo, um filho da puta armado em pimpão. Mesmo na página dos tops da revista LER.
À desgarrada!
Lê-se na Rev. LER 129:
"Estou apaixonado por este livro. E se é verdade que os livros são gente vou exigir que a lei, já que se podem casar pessoas do mesmo sexo, permita que se possam casar pessoas com livros independentemente de os livros terem sexo." (Valter Hugo Mãe)
"Ler um romance meu é como estar a ver uma grande produção de Hollywood." (José Rodrigues dos Santos)
[Estes dois castiços povoam, entre outros, a página dos tops de vendas.]
"Estou apaixonado por este livro. E se é verdade que os livros são gente vou exigir que a lei, já que se podem casar pessoas do mesmo sexo, permita que se possam casar pessoas com livros independentemente de os livros terem sexo." (Valter Hugo Mãe)
"Ler um romance meu é como estar a ver uma grande produção de Hollywood." (José Rodrigues dos Santos)
[Estes dois castiços povoam, entre outros, a página dos tops de vendas.]
sábado, 2 de novembro de 2013
Ó Álvaro, então isto diz-se?!
"Álvaro Santos Pereira, sobejamente criticado dentro e fora de portas pela sua falta de jeito e de meios para recuperar a economia, veio ontem dizer uma verdade inconveniente: a austeridade cega pode levar ao regresso das ditaduras à Europa. “Se não tivermos uma solução europeia, arriscamo-nos a ter novamente ditaduras na Europa”."
E rediz-se?!
E rediz-se?!
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
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