quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ainda a Líbia

As guerras da NATO na Líbia são uma telenovela mal contada desde o início. Desde que uns pistoleiros franceses, ingleses e americanos decidiram avançar, a mando da ONU, para proteger o povo líbio.
Hoje Portugal juntou-se a outros treze estados da União, no reconhecimento do Conselho Nacional de Transição rebelde.
Bem gostava eu de saber o que é que move esta canalha. Porém ainda é cedo.

Adenda: A propósito doutra história mal contada.
O governo norueguês declarou que em breve retirará os seus aviões que participam na campanha líbia.
E mais disse que está pronto a reconhecer um Estado Palestino.
Há quem diga que estas ousadias ajudam a explicar o inexplicável, os atentados do terror em Oslo. E hão-de ajudar-nos a identificar os seus reais autores, que não vêm nos livros nem na imprensa.

terça-feira, 26 de julho de 2011

As obesidades deles

Estes cabrões falam em emagrecer o Estado. E depois vão por trás e empanzinam-se.
Ou empanturram-se.

Frustrações

Uma por certo levarei para a cova, não ter criado unhas para um instrumento musical. Sacro ou profano! De cordas ou de sopro, de teclas ou de fole, ou do caraças!
Mas uma vez que a vida é o que é, e pouco mais, fiquemo-nos pelas vistas.

[Achado aqui]

No melhor pano cai a nódoa

E se assim é, o que fará no pior!
Assunção Esteves, eleita Presidente da Assembleia da República, passou por ser uma escolha de mestre do novo primeiro-ministro, chamuscado pela triste e já esquecida telenovela do Nobre da AMI. Chegou a constar ser ela a única figura competente nas múltiplas estruturas do poder saído das eleições.
Tenho as minhas sérias dúvidas de que esteja a barcaça em boas mãos. Pois se a competência é isto, e a este sacrista competem tais sinecuras, que vamos nós fazer dos outros todos? Não chega o andar nobre do Palácio de S. Bento para os albergar a todos.

Despacho n.º 1/XII Relativo à atribuição ao ex-Presidente da Assembleia da República Mota Amaral de um gabinete próprio, com a afetação de uma secretária e de um motorista do quadro de pessoal da Assembleia da República.

Ao abrigo do disposto no artigo 13.º da Lei de Organização e Funcionamento dos Serviços da Assembleia da República (LOFAR), publicada em anexo à Lei n.º 28/2003, de 30 de Julho, e do n.º 8, alínea a), do artigo 1.º da Resolução da Assembleia da República n.º 57/2004, de 6 de Agosto, alterada pela Resolução da Assembleia da República n.º 12/2007, de 20 de Março, determino o seguinte:
a) Atribuir ao Sr. Deputado João Bosco Mota Amaral, que foi Presidente da Assembleia da República na IX Legislatura, gabinete próprio no andar nobre do Palácio de São Bento;
b) Afectar a tal gabinete as salas n.º 5001, para o ex-Presidente da Assembleia da República, e n.º 5003, para a sua secretária;
c) Destacar para o desempenho desta função a funcionária do quadro da Assembleia da República, com a categoria de assessora parlamentar, Dra. Anabela Fernandes Simão;
d) Atribuir a viatura BMW, modelo 320, com a matrícula 86-GU-77, para uso pessoal do ex-Presidente da Assembleia da República;
e) Encarregar da mesma viatura o funcionário do quadro de pessoal da Assembleia da República, com a qualificação de motorista, Sr. João Jorge Lopes Gueidão;
Palácio de São Bento, 21 de Junho de 2011
A Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção Esteves.

domingo, 24 de julho de 2011

Um mesito de governo

Já o outro advertia, há muitos anos: Antes quero asno que me leve, do que cavalo que me derrube!
É um pensamento salutar. Porém, quando a besta é o montador, mais que a montada, de pouco vale andar a gastar latim.
Há um mesito mudou-se de governo. Perderam-se cinco meses de tempo útil, e ganharam-se inúteis sobressaltos.
Cavaco diz agora, com a nova governação, o que negava ontem, com a antiga. As agências de notação, que eram gurus de respeito, são agora os maus da fita. Ontem havia limites para os sacrifícios, com o governo velho. Agora todos são poucos, com justificação ou sem ela, para salvar a pobre pátria do mal que vem lá de fora.
O governo jurou verdades e transparências, e muita credibilidade, para ganhar a confiança dos mercados. Mas os agiotas não foram na conversa, e a balbúrdia apenas aumentou, com tantos amadores de serviço. E a crise que era obra dum único mentiroso, agora já é um grave problema internacional.
O PS está a entrar numa longa era glaciar.
O BE implodiu, sem salvação que se veja.
Para o PCP tudo continua igual, como era há um século atrás: o maior inimigo do povo trabalhador são os partidos socialistas.
O resto é a síndrome do rebanho: a ausência de memória, a falta de sentido crítico, o maria-vai-com-as-outras, a ingenuidade que a ignorância engendra.
Os farsantes da direita têm o vento a favor, e mais ainda a conjuntura. E tempo mais que bastante, finalmente, para reduzir a pó o pouco que de Abril nasceu.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A verdade e a transparência!

- desvio colossal... (12/7)
- buraco colossal... (13/7)
- esforço colossal... (21/7)

Assim mesmo, de degrau em degrau.
Não bastando meterem-lhes na mão o queijo mais a faca, puseram-lhes à frente o pote inteiro da marmelada.
Agora aturem-nos!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Deus lhes perdoe, que é santo, e talvez possa!

A peça mais densa do espólio político, que o PSD nos legou nos últimos 30 anos, é o mito de Sá Carneiro. Não há demagogo, nem oportunista, nem videirinho, que lhe não gaste o nome a atiçar-nos a cabeça.
E no entanto, à imagem do antigo, o novo D. Sebastião não ficou na história pelo pouco que fez. Antes pelo muito que havia de fazer, se não tivesse morrido tão precocemente. E há sempre alguém a embarcar na balela.
Hoje em dia já há quem compare o pobre Passos Coelho à raposa velha do Porto. Basta ver o seu patriotismo, o seu inconformismo, e a sua vontade de produzir reformas.
À boa e velha maneira, e à falta de melhor, endoidam-nos com mitos. Pode ser que alguém embarque na balela.

domingo, 17 de julho de 2011

Ecos da Sonora - XL

"(...) Anos de gastos excessivos durante o reinado de D. João deixaram o Rio na bancarrota. A saída de capitais que acompanhou a família real no regresso a Lisboa provocou uma crise no território, e o novo regente, D. Pedro, começou a cortar nas extravagâncias do pai. A corte possuía mais de mil cavalos quando D. João partiu para a Europa. Tirando 156, todos foram vendidos. O pequeno exército de funcionários das cavalariças reais foi despedido e substituído por trabalho escravo.
Outros exageros acabaram. O mundo da música sacra e da ópera que D. João tinha construído durante a sua estadia foi desmantelado, a começar pelos salários exorbitantes dos castrati italianos. Neukomm seguiu-os de volta para a Europa, deixando atrás de si um coro reduzido e mal pago, dirigido por José Maurício e Marcos Portugal.
O golpe de misericórdia viria mais tarde, em Março de 1824, quando o teatro real foi destruído por um incêndio. O jardim botânico também passou por tempos difíceis. (...)
A 4 de Março de 1826, quatro meses depois da assinatura da perda do Brasil, D. João deixou a sua residência secundária, o convento da Bemposta no centro de Lisboa, para um passeio de carruagem. Ia ver uma procissão, mas parou no caminho para comer o seu prato favorito - galinha frita em manteiga, uma fatia de queijo e algumas laranjas. Quatro horas mais tarde vomitou aquilo que seria a sua última refeição completa. No regresso ao convento teve convulsões e desmaiou. (...) Perguntaram a D. Carlota se queria ver o marido, mas ela desculpou-se, dizendo que o seu estado de saúde não lhe permitia deslocar-se, embora estivesse apenas a poucos quilómetros, em Queluz. No fim de semana o rei morreu. (...)
D. Carlota não teve muito tempo para gozar o êxito do seu filho favorito. Morreu sozinha no leito em Queluz, dois dias antes de D. Miguel tomar o trono. (...)
O seu legado, uma família e um país em guerra, manter-se-ia vivo e teria um final apropriado: em 1831, D. Pedro regressou a Portugal para comandar os liberais na luta contra os absolutistas miguelistas.
O conflito durou anos, e Portugal foi uma vez mais despedaçado. A vitória final de D. Pedro só acalmou temporariamente o país que, ao longo de décadas, ainda sentiu os efeitos de treze anos de abandono. (...)

sábado, 16 de julho de 2011

6 - Ministros há muitos, ó palerma!

Paulo Macedo, o novo ministro da Saúde, (que foi executivo bancário, cobrador de impostos, administrador da Médis e gestor de seguros de saúde), tem primado por um silêncio de ouro. A ver por que ponta há-de pegar no bicho.
Se és dos que pensam que um homem com este currículo vai tratar da tua saúde, espera-lhe pela pancada!

"(...) a actual crise usada como pretexto para introduzir no sistema mudanças há muito desejadas, algumas já parcialmente concretizadas (parcerias público-privadas...) por elites económicas que vêem na Saúde, sector com clientes inesgotáveis e particularmente fragilizados, um negócio muito lucrativo e quase sem risco. Essas elites apenas precisam de um Estado facilitador (...)".

Pudera!

"Os homens de negócios consideram de forma categórica que é preciso cumpri-lo (o plano de austeridade) em toda a sua extensão. Pedro Ferraz da Costa, que dirige um think tank patronal, afirma que nenhum partido português teria proposto, ao longo dos últimos 30 anos, um programa de reformas tão radical. Acrescenta que Portugal não deve perder uma tal ocasião".

Ecos da Sonora - XXXIX

(...) Havia algo de profundamente disfuncional na família real portuguesa que a sua longa estadia no Brasil só veio acentuar. À medida que os anos passavam, as roturas familiares ganharam novas dimensões, os Braganças tornaram-se cada vez mais brasileiros (...).
Para as crianças da família real, a vida no Rio de Janeiro seria apenas uma continuação da conturbada educação iniciada nos tempos mais críticos da corte de Lisboa. A loucura da avó, (nenhum dos netos se recordaria dela lúcida) a separação precoce dos pais, e a divisão do lar real entre Queluz e Mafra tinham já desestabilizado a família. (...)
A educação dos infantes foi negligenciada no Brasil. As filhas mais novas eram praticamente analfabetas e, depois de anos de instrução, Miguel ainda tinha problemas com a ortografia do seu próprio nome. Pedro também escrevia mal, com erros frequentes de gramática e de ortografia. (...) Muito mais tarde tentaria emendar a lamentável educação que tivera, ordenando que os filhos seguissem um programa de educação severo, num esforço para assegurar que "o meu irmão Miguel e eu sejamos os últimos ignorantes da família Bragança". (...)
Havia algo de desenfreado, quase descontrolado, na infância e adolescência de D. Pedro no Rio de Janeiro, que deixaria uma forte marca na sua personalidade. (...) Embora destinado a governar, gostava mais de se misturar com a plebe do que com a nobreza, e enquanto jovem fazia digressões pelas tabernas do Rio, disfarçado com uma grande capa e o chapéu de abas largas dum cocheiro paulista. (...)
Sexualmente era tão descarado e estouvado quanto fora nas brincadeiras da infância. Corria a cidade em busca de mulheres, mandando parar liteiras na rua, e fazendo propostas a todas as passageiras bem parecidas que encontrava. (...) Tinha queda para estrangeiras - "italianas, francesas, hispano-americanas, algo diferente todas as semanas", de acordo com um contemporâneo (...).
O irmão mais novo, D. Miguel, também andava à solta no Rio de Janeiro. Só era coarctado pelos seus intermitentes problemas de saúde, que seriam graves. Considerado por muita gente filho bastardo, era o favorito de D. Carlota (...). Cresceria no mesmo ambiente anárquico que o irmão, mas veio a revelar uma personalidade mais sinistra. Tornou-se um toureiro fanático e caçava veados. Os vendedores ambulantes fugiam para se abrigarem, quando D. Miguel ainda adolescente conduzia uma carruagem de seis cavalos a galope, pelo centro da cidade, atirando tudo pelos ares à sua passagem. (...)
O próprio D. João não se livrou de escândalos, na sua passage pelo Rio de Janeiro. Circulavam boatos, oriundos do palácio, acerca da sua excessiva afeição pelo camareiro (...). D. João outorgara a este mesmo servidor o título de Visconde de Vila Nova da Rainha, uma honra inédita para um criado real. Os rumores - que iam ao ponto de acusar o príncipe de práticas homossexuais - são escabrosos, embora possam ter origem em invejas da corte. (...)

Ecos da Sonora - XXXVIII

(...)
Os que estavam prestes a ser abandonados ao invasor francês olhavam, incrédulos, à medida que as dimensões da deserção se tornavam evidentes. Era uma operação em grande escala. O tesouro real e uma enorme quantidade de diamantes do Brasil tiveram prioridade. Caixas sem conta de documentos estatais, contendo registos com muitos séculos eram carregados nos porões dos navios. (...) A bilbioteca pessoal de António Araújo, uma impressionante colecção acumulada durante as suas vigens diplomáticas, foi também içada para bordo, enquanto que os sessenta mil volumes da Biblioteca Real da Ajuda se mantinham encaixotados nas docas. Parafernália religiosa, relíquias de família e mobílias provenientes de Mafra acompanharam a caravana. (...) A chuva persistente dificultava a operação, o cais estava saturado e os coches tinham dificuldade em abrir caminho na lama. (...)
Com as notícias de que as forças francesas estavam apenas a dois dias de distância, os últimos vestígios de ordem e organização evaporaram-se do porto de Lisboa. (...)
Atrás de si, o esquadrão real deixava um cenário desolador: bagagens, papéis ensopados em água e caixotes abandonados espalhavam-se pelo cais; (...) entre os detritos jaziam artigos inestimáveis do património da coroa, deixados para trás na pressa de partir. Coches luxuosos, muitos ainda cheios de valores retirados dos palácios, estavam parados nas docas vazias; catorze carradas de prata das igrejas foram abandonadas aos franceses e os sessenta mil volumes da biblioteca real da Ajuda espalhavam-se na lama. Algures, no meio dos caixotes de livros largados ao acaso no cais, encontravam-se edições quinhentistas raríssimas da Bíblia, mapas em pergaminho datados da "Era das Descobertas" (...).
(...) Podemos nunca vir a saber ao certo quantas pessoas conseguiram embarcar na frota, mas parece que cerca de dez mil saíram de Portugal para o Brasil - um número impressionante se tivermos em conta que a população de Lisboa naquela época não ultrapassava as 200 mil almas. (...)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Poeira para os olhos

Durante seis anos, os juízes portugueses do sindicalista Martins, e os magistrados do sindicalista Palma, não pouparam nos esforços. Entrincheirados na fortaleza da corporação, não olharam a meios para responder aos ensaios do governo, por muito tíbios que fossem, que pudessem pôr em causa os seus privilégios feudais.
As escutas à margem da lei, as reiteradas violações do segredo de justiça, as fugas cirúrgicas de informação para a imprensa, tudo valeu para conspirar contra o governo e emporcalhar a figura do primeiro-ministro.
Agora que mil jogadas surtiram efeito; agora que o governo finalmente caiu e as eleições se fizeram, com seis meses de paralisia e prejuízo; agora que o poder está na mão de governantes credíveis e escutados lá fora, que viajam em low cost por serem tão patriotas; foi agora que chegou a febre da cidadania ao torvo olimpo das togas.
Agora até há juízes jubilados que se dispõem, pro bono, a elaborar pareceres, auditorias e consultadorias, para poupar as contas do país ao regabofe dos escritórios de advogados.
“Os magistrados deviam era estar nos tribunais”! “Devem estar a morrer de tédio, sem saber o que fazer com reformas principescas”!
Isto é o que desabafa o bastonário Marinho Pinto, com razão ou sem ela. Enquanto o Portugal sonâmbulo, aquietado, cai outra vez nas mãos da canalha enfarpelada.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Caravelas

Metade de Portugal vive preso por arames. Ao resto vai caindo a caliça das fachadas. Enquanto ganham ferrugem, ancoradas ao cais, as caravelas da carreira da Índia nova.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Optimus? Alive?

Houve um tempo, muito antigo, em que tudo estava bem. As temporadas do circo e do pão eram coincidentes.
Um dia o pão deu em faltar. E foi o fim das temporadas do circo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A alavanca e o ponto de apoio

Passado este tempo todo, esta matilha de aventureiros ainda não sabe quantos pontos da TSU vai retirar à Segurança Social, para alavancar o crescimento com a desvalorização fiscal.
Com tantos pontos de apoio, que são todos, por que esperam estes aprendizes de feiticeiro para mudarem o mundo?!

Guerras sujas

Só se podem entender as faenas do rating vendo nelas o que são: escaramuças duma guerra que toda a gente conhece, mas que ninguém declarou. Como acontece sempre às guerras sujas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Bedum de séculos

- As agências de rating, meros mastins da cleptocracia necrófaga da América, reduzem a lixo a dívida portuguesa e consideram default o novo empréstimo à Grécia.
- O subsídio de Natal vai à viola.
- A TSU será reduzida em cerca de 10% sem contrapartida conhecida, pondo em causa a Segurança Social em benefício do grande patronato.
- As golden shares vão à vida, na PT, na Galp, na EDP. Quem é que se lembra ainda da OPA do Belmiro à PT?
- É uma espécie de soma e segue.

Ao fim de 15 dias deste governo novo, o da mudança, alguns paspalhos começam a imaginar o Sócrates como um fantasma, que também andou aí a poisar nas copas das azinheiras. Mas não foi exactamente assim.
O Sócrates existiu realmente, e era uma besta, que se fartou de meter o pé na argola.
Era uma besta, mas não cometeu actos de pura traição.
Era uma besta, não vamos discutir.
Porém muito menor do que as variegadas bestas que se encarniçaram em destruí-lo.
E menos besta ainda do que os paspalhos que correram com ele, ou para isso contribuíram, assim trocando a fraca capa por um capelo esburacado.
A cheirar a bedum já rançoso de séculos, e a cuecas mal lavadas.

domingo, 3 de julho de 2011

Ecos da Sonora - XXXVII

LIBERDADE, Victor Cunha Rêgo, Ed. O Independente, Lisboa 2004

Jornal Estado de S. Paulo, 30 Abril 1961

Paris, Abril - A queda de Salazar, esse homem que já não consegue perceber o mundo em que vive, já não oferece problema. Pode ser uma questão de dias, uma questão de meses, mas todos sabem que se dará antes do fim do verão.
Não nos parece também oferecer dúvidas quanto ao tipo de governo que o vai seguir: um governo de transição estruturado nas forças que têm apoiado Salazar durante os últimos trinta e quatro anos, e integrada também pelos elementos não-salazaristas que vêm compondo aquilo a que se pode chamar Oposição Clássica.
Sobre isso não parece restarem dúvidas. O que angustia actualmente os portugueses não é saber como Salazar vai cair, nem quem o vai substituir. O que cada português pergunta a si próprio nestes momentos é o que vai ser do país depois destes primeiros lances de cúpula. O mundo sabe que o arranhão prestes a produzir-se no corpo salazarista tem de infectar, e é sobre essa infecção que se especula. (...)
Salazar está por dias ou escassos meses; em Espanha fala-se abertamente na "sucessão" de Franco para o próximo mês de Setembro. (...)
(Victor Cunha Rêgo)

"A adesão a uma greve no jornal em que trabalhava, em 1957, levou-o a Paris e a seguir para o Brasil (...). Em 1964, com o golpe militar no Brasil, exilou-se na Argélia. Morou na Jugoslávia - onde viveu por dois anos e teve ocasião de conhecer de perto o socialismo "alternativo" de Tito - e também na Itália, antes de retornar ao Brasil, em 1968 (...). No início de 1974 desembarcou em Lisboa".

"Ao acordar na manhã de 25 de Abril de 1974, Victor Cunha Rêgo abriu as cortinas do hotel onde estava hospedado e achou estranho que navios da esquadra portuguesa estivessem ao largo. Acabava de voltar dum exílio que durara 18 anos, a maior parte desse tempo no Brasil. Ligou a rádio do quarto, as estações tocavam música militar. Mas foi quando chamou o camareiro, para saber o que se passava, e este apareceu sem gravata, que se deu conta de que algo da maior importância estava a acontecer em Portugal".

"Nas duas décadas que se seguiram à Revolução, Portugal mudou muito e Cunha Rêgo também. O socialista que desembarcou do Brasil tornou-se social-democrata e depois conservador (...) e até católico nos últimos anos de vida".

[Tudo isto vem a propósito da inutilidade enfatuada de certos intelectuais amargurados.]

Quaresma

Quando Amarante, num domingo de Julho, faz lembrar quarta-feira de cinzas, o mais certo é Portugal estar na quaresma.

sábado, 2 de julho de 2011

A ministra da enxada

Se ainda não entendeste por que razões Portugal é o que é, há muitas gerações, e parece condenado a sê-lo até à consumação dos séculos, faz um esforço!
Vai ler esta entrevista! Está lá o verdadeiro espírito destas elites indígenas. Todo inteiro, embora concentrado.

- O que é que a recomenda para ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território?
- Não sei, terá de perguntar a quem me convidou.
- Mas percebe alguma coisa destas áreas?
- Não percebo nada destas áreas, em profundidade. (...)
- E não se sente desconfortável por ir tutelar duas áreas que dizia que deviam estar em ministérios separados?
- Não. Eu sou muito pragmática. A pasta é esta, o desafio foi este, só tinha de pensar se tinha condições para o aceitar. Como toda a gente sabe, não percebo da matéria. (...) Se alguém que tem experiência política confia em mim para me fazer este convite - que é articulado entre o líder do CDS e o primeiro-ministro - tenho o dever de fazer o melhor que sei. Um ministro não tem de saber a fundo sobre a área. (...)

Veredicto

O Secretário de Estado da Cultura foi alvo duma penhora do fisco, coisa que se não inveja nem estranha.
Esclarecendo que o caso está em disputa, diz ele que aceitará o veredicto. Muito pacatamente. Outra coisa não era de esperar, mas fica em falta aqui uma diligência.
Veredictos destes competem aos tribunais administrativos e fiscais. São eles que dirimem os conflitos, em que o cidadão comum satisfaz primeiro os ditames do fisco, e só depois poderá reclamar. A menos que haja no caso tramitações privadas.
Cá em casa há uma coisa dessas. O processo entrou no tribunal em 2003, levou seis anos até ficar concluso, e já passou mais dois numa gaveta, a aguardar um veredicto. Com sorte, o meu neto vai recebê-lo em herança.
E o caso só não foi mais rocambolesco, por ter eu ao tempo explicado à ministra, que receberia a tiro os agentes da fiscalidade, se as coisas não tomassem um mínimo de trambelhos.
A senhora ministra mandou analisar. E não podendo considerar-me inimputável, alguma razão eu teria. Recomendou à máquina um pouco de contenção.
O governo do senhor Secretário de Estado tem muito que fazer, assim o queira. É que ainda há quem tenha fé na redenção.