quarta-feira, 29 de junho de 2011
O poleiro e o pote
Já um dia se falou aqui desta ave rara, que durante anos perorou no PÚBLICO sobre Educação.
Isto antes de se ter especializado na caça ao homem, como forma de fazer currículo e apresentar serviço. Convencido de que havia de chegar um paraíso, onde corre o leite e o mel.
A terra prometida afinal sempre chegou, mas o leite é que vinha destalhado. E ao ver que o pote não chegava para ele, o melro desconchavou-se.
Mal se conheceu o rol de alguns ministros, já o melro virava o bico ao prego, comentando assim as segundas escolhas do Bom Escuteiro:
- Assunção Cristas e a Agricultura- "Só tenho pena da Agricultura".
- Paulo Macedo e a Saúde- "E causa ainda mais (perplexidade) ver tal pasta entregue a quem, do ramo, só tem no currículo ter sido administrador da Médis. Para a saúde dos portugueses é muito pouco. Para a saúde de alguns, que vivem da doença dos outros, pode ser salutar".
- Nuno Crato e a Educação - "Explico o que posso explicar. Em Abril, Passos Coelho tinha um programa eleitoral para a Educação. Em Maio tornou público outro, que não só nada tinha a ver com o primeiro, como era a sua antítese. Escassos dias volvidos sobre a divulgação do último, Passos Coelho comprometeu-se publicamente a melhorá-lo. Mas faltou à palavra que empenhou, e apresentou-se ao eleitorado com um programa escrito em eduquês corrente, com medidas até 19 anos de prazo, pasme-se, e que, entre outros disparates, consagrava: a recuperação de duas carreiras no seio da classe docente; o enterro definitivo da eleição dos directores; a diminuição dos professores nos conselhos gerais; o aumento da promiscuidade entre a política partidária e a gestão pedagógica do ensino; a protecção da tirania e do caciquismo; a adulteração do sentido mais nobre do estatuto da carreira docente; (...) a recuperação da ideia bolorenta de uma agência externa de avaliação educacional e a subserviência à corporação do ensino privado, por forma que a Constituição proíbe. (...) Nuno Crato pensa que se mede a Educação como se pesam as batatas e que muda o sistema de ensino medindo e examinando. E não mudará. Ou muda ele, ou não muda nada".
O melro contava com o poleiro, para ir na tropa do pote. E não o tendo... deu ao demo o bom escuteiro!
Isto antes de se ter especializado na caça ao homem, como forma de fazer currículo e apresentar serviço. Convencido de que havia de chegar um paraíso, onde corre o leite e o mel.
A terra prometida afinal sempre chegou, mas o leite é que vinha destalhado. E ao ver que o pote não chegava para ele, o melro desconchavou-se.
Mal se conheceu o rol de alguns ministros, já o melro virava o bico ao prego, comentando assim as segundas escolhas do Bom Escuteiro:
- Assunção Cristas e a Agricultura- "Só tenho pena da Agricultura".
- Paulo Macedo e a Saúde- "E causa ainda mais (perplexidade) ver tal pasta entregue a quem, do ramo, só tem no currículo ter sido administrador da Médis. Para a saúde dos portugueses é muito pouco. Para a saúde de alguns, que vivem da doença dos outros, pode ser salutar".
- Nuno Crato e a Educação - "Explico o que posso explicar. Em Abril, Passos Coelho tinha um programa eleitoral para a Educação. Em Maio tornou público outro, que não só nada tinha a ver com o primeiro, como era a sua antítese. Escassos dias volvidos sobre a divulgação do último, Passos Coelho comprometeu-se publicamente a melhorá-lo. Mas faltou à palavra que empenhou, e apresentou-se ao eleitorado com um programa escrito em eduquês corrente, com medidas até 19 anos de prazo, pasme-se, e que, entre outros disparates, consagrava: a recuperação de duas carreiras no seio da classe docente; o enterro definitivo da eleição dos directores; a diminuição dos professores nos conselhos gerais; o aumento da promiscuidade entre a política partidária e a gestão pedagógica do ensino; a protecção da tirania e do caciquismo; a adulteração do sentido mais nobre do estatuto da carreira docente; (...) a recuperação da ideia bolorenta de uma agência externa de avaliação educacional e a subserviência à corporação do ensino privado, por forma que a Constituição proíbe. (...) Nuno Crato pensa que se mede a Educação como se pesam as batatas e que muda o sistema de ensino medindo e examinando. E não mudará. Ou muda ele, ou não muda nada".
O melro contava com o poleiro, para ir na tropa do pote. E não o tendo... deu ao demo o bom escuteiro!
Bons Ares - 9
O Programa Internacional para Avaliação de Estudantes (PISA) relativo a 2009 atribui alguns lugares de destaque a Portugal, no uso das tecnologias de informação.
Sabemos como o assunto é discutível e polémico. Apesar disso...
- 1º lugar quanto à capacidade dos jovens inquiridos criarem uma apresentação multimédia;
- 2º lugar quanto à feitura dum gráfico;
- 7º lugar relativo à percentagem de estudantes que disseram usar computador na escola;
- igualdade prática no acesso à Internet na escola, por parte de alunos de famílias pobres.
Sabemos como o assunto é discutível e polémico. Apesar disso...
- 1º lugar quanto à capacidade dos jovens inquiridos criarem uma apresentação multimédia;
- 2º lugar quanto à feitura dum gráfico;
- 7º lugar relativo à percentagem de estudantes que disseram usar computador na escola;
- igualdade prática no acesso à Internet na escola, por parte de alunos de famílias pobres.
Ainda a Líbia
De África chega lucidez e bom conselho.
Esgotada a balela da protecção do povo líbio, o que é que alimenta o criminoso encarniçamento da Inglaterra, da França e da América na Líbia?
Será isto?!
Ou será aquilo?!
Esgotada a balela da protecção do povo líbio, o que é que alimenta o criminoso encarniçamento da Inglaterra, da França e da América na Líbia?
Será isto?!
Ou será aquilo?!
terça-feira, 28 de junho de 2011
Ir ao pote e comer fiado
"A exoneração dos governadores civis ficará para a história como a primeira medida do governo Passos Coelho. (...) A 'promessa política' foi cumprida em resolução aprovada pelo Conselho de Ministros mas, na Constituição, o cargo de governador civil continua a existir. Só uma revisão constitucional poderá eliminar por completo a existência deste cargo. 'Quando for tempo disso, os dois partidos materializados do acordo (!) de sustentação do governo [PSD e CDS] darão expressão a essa vontade de fazer cessar na Constituição esse cargo', disse o ministro da Administração Interna.
O projecto de revisão constitucional do PSD e do CDS deverá eliminar o cargo mas é necessária uma maioria de dois terços para que uma revisão seja aprovada (...)".
(Do pasquim i)
O projecto de revisão constitucional do PSD e do CDS deverá eliminar o cargo mas é necessária uma maioria de dois terços para que uma revisão seja aprovada (...)".
(Do pasquim i)
O senhor Toyota
Salvador Caetano, que ontem morreu, e Azinhais Nabeiro, dos Cafés Delta, são exemplos de empresários credores de apreço geral.
O primeiro começou a raspar ferrugens, e criou um grupo empresarial que emprega hoje 6.500 trabalhadores em seis países.
O segundo iniciou a vida com cargas de contrabando às costas, e hoje dá de comer a um concelho inteiro.
Nenhum deles foi doutorado em gestões, contra as quais eu nada tenho. Nenhum deles se construiu encostado a poderes, que me fazem torcer o nariz.
Fizeram ambos o que tinham a fazer, como empresários e como cidadãos. Contrariaram o triste fado indígena, o espírito videirinho que a história nos inculcou.
Tenho por ambos grande admiração. Fazem-me lembrar o Ferdinand Porsche, à sua dimensão.
O primeiro começou a raspar ferrugens, e criou um grupo empresarial que emprega hoje 6.500 trabalhadores em seis países.
O segundo iniciou a vida com cargas de contrabando às costas, e hoje dá de comer a um concelho inteiro.
Nenhum deles foi doutorado em gestões, contra as quais eu nada tenho. Nenhum deles se construiu encostado a poderes, que me fazem torcer o nariz.
Fizeram ambos o que tinham a fazer, como empresários e como cidadãos. Contrariaram o triste fado indígena, o espírito videirinho que a história nos inculcou.
Tenho por ambos grande admiração. Fazem-me lembrar o Ferdinand Porsche, à sua dimensão.
segunda-feira, 27 de junho de 2011
E agora, NATO?!
Quem é que vamos nós bombardear, para proteger o povo líbio?
O governo reforçou uma proposta já feita por Khadafi: realizar eleições até final do ano e afastar-se do poder, caso perca.
O Conselho Nacional de Transição, que ninguém sabe quem é, rejeita esta solução para o conflito.
O governo reforçou uma proposta já feita por Khadafi: realizar eleições até final do ano e afastar-se do poder, caso perca.
O Conselho Nacional de Transição, que ninguém sabe quem é, rejeita esta solução para o conflito.
sábado, 25 de junho de 2011
Na praça alta
Voltado para o poente, em Riba-Côa, vislumbro no horizonte o agro onde nasci.
Sinto saudades. Dos verdes da magnólia, das ginjas garrafais, da frescura das águas, dos ninhos de rouxinol nos buxos altos.
Resisto a nostalgias. Pois não é culpa minha que o agro onde nasci fique a ocaso.
Sinto saudades. Dos verdes da magnólia, das ginjas garrafais, da frescura das águas, dos ninhos de rouxinol nos buxos altos.
Resisto a nostalgias. Pois não é culpa minha que o agro onde nasci fique a ocaso.
Porquê?
Sim, porque é que estes cabrões não vão apanhar na bilha?!
Este para a Califórnia, e aquele para a Florida?!
Ao preço que temos que pagar por eles, sempre nos ficavam um pouco mais em conta!
Este para a Califórnia, e aquele para a Florida?!
Ao preço que temos que pagar por eles, sempre nos ficavam um pouco mais em conta!
Ares condicionados
A forneira fez o ninho na caixa do contador da água. Parece imprevidência desleixada, mas a razão foi das chuvas. Duraram até tão tarde que ela não teve outra escolha.
Tem lá dois filhos que trata sem grandes luxos, porque sabe muito bem o mundo em que vive. Não lhes regateia mimos, e eles portam-se na linha.
Quando a mãe anda por perto, ou o pai, não sei ao certo, pôem-se a barafustar, a queixar-se da dieta. Já aprenderam que só mama quem chora. E expõem uns beicitos pintados de branco, abertos num exagero, não vá o cibo cair em saco alheio.
Logo que alguém se aproxima remetem-se ao silêncio, afundam-se no ninho, a casa fica vazia. E fingem-se de mortos sempre que lhes estendo um dedo metediço. Deixaram de existir.
Na hora do calor o mais velho sai do ninho, deixa o cadete respirar mais à vontade. E fica ali à beira, com algum sobressalto. Sabe que a vida não está para grandes ares. Sobretudo se forem condicionados.
Tem lá dois filhos que trata sem grandes luxos, porque sabe muito bem o mundo em que vive. Não lhes regateia mimos, e eles portam-se na linha.
Quando a mãe anda por perto, ou o pai, não sei ao certo, pôem-se a barafustar, a queixar-se da dieta. Já aprenderam que só mama quem chora. E expõem uns beicitos pintados de branco, abertos num exagero, não vá o cibo cair em saco alheio.
Logo que alguém se aproxima remetem-se ao silêncio, afundam-se no ninho, a casa fica vazia. E fingem-se de mortos sempre que lhes estendo um dedo metediço. Deixaram de existir.
Na hora do calor o mais velho sai do ninho, deixa o cadete respirar mais à vontade. E fica ali à beira, com algum sobressalto. Sabe que a vida não está para grandes ares. Sobretudo se forem condicionados.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Agora sim!
De forma que a certa altura chegou o Marco António Costa, vice-presidente da quadrilha, e logo disparou:
- Meu menino, ou tens eleições no país ou no partido, é só escolher!
Foi então que o Passos Coelho, sentindo as barbas a arder nas unhas da baronagem, inventou a mentirola do telefonema do primeiro-ministro, a dar-lhe vaga notícia do PEC4, acertado com a Europa nas costas dos portugueses. O que fora uma conversa a dois, de quatro horas, reduziu-se a um SMS do aldrabão.
No dia seguinte leram as manchetes matutinas e chumbaram o PEC4. A esquerda radical deu um jeitinho, o inimigo estava encurralado.
O governo demitiu-se, os do rating reagiram, o mercado aproveitou. Entregou-se isto ao FMI, e o presidente embuçado marcou as eleições, que a direita ganhou folgadamente com duas jaculatórias: bancarrota e setecentos mil desempregados, que um célebre bandido nos deixou.
Levaram-nos bem levados na patifaria, já costumeira e antiga. Que além de conhecermos mal a história, a nossa memória não é lá grande coisa.
É aqui que estamos agora, à espera dum PEC5 que não tarda. No meio das tormentas da Europa, que agora já entram na narrativa. Porque ninguém está imune à crise, e Portugal não pode falhar. Nem ia falhar agora, com tantos séculos de glórias.
Agora sim, há pernas para andar!
Adenda: De acordo com o cronista, Marco António Costa ufanou-se, em família, de ter provocado as eleições. Como quem apresenta serviço.
Com uma tal lança em África ao serviço da pátria, ganhou a malta do pote, não resta qualquer dúvida. Conforme aconteceu noutros casos já vistos.
Agora que Portugal tenha ganho alguma coisa, ainda está para se ver.
- Meu menino, ou tens eleições no país ou no partido, é só escolher!
Foi então que o Passos Coelho, sentindo as barbas a arder nas unhas da baronagem, inventou a mentirola do telefonema do primeiro-ministro, a dar-lhe vaga notícia do PEC4, acertado com a Europa nas costas dos portugueses. O que fora uma conversa a dois, de quatro horas, reduziu-se a um SMS do aldrabão.
No dia seguinte leram as manchetes matutinas e chumbaram o PEC4. A esquerda radical deu um jeitinho, o inimigo estava encurralado.
O governo demitiu-se, os do rating reagiram, o mercado aproveitou. Entregou-se isto ao FMI, e o presidente embuçado marcou as eleições, que a direita ganhou folgadamente com duas jaculatórias: bancarrota e setecentos mil desempregados, que um célebre bandido nos deixou.
Levaram-nos bem levados na patifaria, já costumeira e antiga. Que além de conhecermos mal a história, a nossa memória não é lá grande coisa.
É aqui que estamos agora, à espera dum PEC5 que não tarda. No meio das tormentas da Europa, que agora já entram na narrativa. Porque ninguém está imune à crise, e Portugal não pode falhar. Nem ia falhar agora, com tantos séculos de glórias.
Agora sim, há pernas para andar!
Adenda: De acordo com o cronista, Marco António Costa ufanou-se, em família, de ter provocado as eleições. Como quem apresenta serviço.
Com uma tal lança em África ao serviço da pátria, ganhou a malta do pote, não resta qualquer dúvida. Conforme aconteceu noutros casos já vistos.
Agora que Portugal tenha ganho alguma coisa, ainda está para se ver.
4 - Ministros há muitos, ó palerma!
Da Cultura e do Trabalho é que não há.
Desapareceram, tás a morder?!
Porque tudo tem que ver com tudo.
Desapareceram, tás a morder?!
Porque tudo tem que ver com tudo.
3 - Ministros há muitos, ó palerma!
Assunção Cristas, militante do CDS e excelente senhora, também nasceu em Luanda em 1974. Parece que foi ontem.
É jurista pela FDL. E é ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
Tanto mar nunca dantes navegado, tanto campo por lavrar, tanta paisagem nas mãos dos patos-bravos, tanta lixeira selvagem...
Agora sim, tás a ver?
É jurista pela FDL. E é ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
Tanto mar nunca dantes navegado, tanto campo por lavrar, tanta paisagem nas mãos dos patos-bravos, tanta lixeira selvagem...
Agora sim, tás a ver?
terça-feira, 21 de junho de 2011
Posse
Cavaco Silva, essa espécie de embuçado, disse há tempos que "há limites para os sacrifícios que podem ser exigidos ao comum dos cidadãos". Foi assim que empossou Passos.
Há quem diga que, de facto, o empoçou. E a nós com ele.
Na dúvida, o melhor é paus por baixo.
[ver entre 26.40/30.50, um demagogo, um conspirador anti-governo, um incendiário, um irresponsável]
Há quem diga que, de facto, o empoçou. E a nós com ele.
Na dúvida, o melhor é paus por baixo.
[ver entre 26.40/30.50, um demagogo, um conspirador anti-governo, um incendiário, um irresponsável]
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Lidoro
Um tal nome é corruptela do vulgo. Do original já não há quem se lembre, tinha ressonâncias clássicas perdidas, engendradas ninguém sabe como na cabeça do pai, a quem chamavam filósofo. Isto quando voltou da grande guerra, de cabeça estonteada pelos gases.
Hoje vive ali, nas Tapadinhas, a meio da encosta, como um anacoreta. Tem uma casita de chão térreo, com uma porta onde entra o sol pelas manhãs. Lá dentro cabe uma vaca, três cabras, e uma dúzia de cães. Na horta há uma presa antiga, de águas vivas, de nascente. Basta-lhe a ele, aos bichos e ao renovo.
Quando calha apanha uma perdiz, um laparoto incauto, se os cachorros ajudarem. Poda as vides da latada, com que faz um vinho improvisado que lhe adoça as invernias. Afora isso deixa o mundo correr.
Teve em tempos uma namorada, e desejos de fazer vida com ela. A irmã é que não deixou, não era mulher para ele. A namorada foi casar a outro lado, a irmã morreu quando lhe chegou o dia. E o Lidoro mudou-se para as Tapadinhas. Nunca mais voltou ao povo, que foi ficando deserto.
Já lhe ofereceram uma casa da Misericórdia, um quarto no lar dos velhos. Mas ele escorraçou o mensageiro. Diz que se fartou daquelas galgas, que não está para as aturar. As galgas são as sibilas, são as línguas das mulheres, quando se juntam na fonte. Nem ele sabe que as galgas já morreram.
(Há mais tarde um Lidoro revisto/actualizado!!!)
Hoje vive ali, nas Tapadinhas, a meio da encosta, como um anacoreta. Tem uma casita de chão térreo, com uma porta onde entra o sol pelas manhãs. Lá dentro cabe uma vaca, três cabras, e uma dúzia de cães. Na horta há uma presa antiga, de águas vivas, de nascente. Basta-lhe a ele, aos bichos e ao renovo.
Quando calha apanha uma perdiz, um laparoto incauto, se os cachorros ajudarem. Poda as vides da latada, com que faz um vinho improvisado que lhe adoça as invernias. Afora isso deixa o mundo correr.
Teve em tempos uma namorada, e desejos de fazer vida com ela. A irmã é que não deixou, não era mulher para ele. A namorada foi casar a outro lado, a irmã morreu quando lhe chegou o dia. E o Lidoro mudou-se para as Tapadinhas. Nunca mais voltou ao povo, que foi ficando deserto.
Já lhe ofereceram uma casa da Misericórdia, um quarto no lar dos velhos. Mas ele escorraçou o mensageiro. Diz que se fartou daquelas galgas, que não está para as aturar. As galgas são as sibilas, são as línguas das mulheres, quando se juntam na fonte. Nem ele sabe que as galgas já morreram.
(Há mais tarde um Lidoro revisto/actualizado!!!)
Nobre
Certas elites indígenas sempre foram assim.
Provocam as eleições para combater o tédio.
Por lhes faltarem ao serão motivos de risada.
Provocam as eleições para combater o tédio.
Por lhes faltarem ao serão motivos de risada.
Bons Ares - 8
"Neste momento, (a empresa) fabrica sapatos para uso diário, para noivas e dançarinas, e para momentos especiais".
"A Alemanha é um bom cliente, e a lista completa-se com a Inglaterra, França, Angola, Holanda, Dinamarca e Espanha. Há um mercado que nos interessa imenso, o do Médio Oriente. Gostaríamos de entrar no Dubai".
"A empresa tem uma colecção própria, produzida pelos 68 trabalhadores".
"A equipa que idealiza o calçado é constituída por uma designer, dois criativos e três modelistas".
"Em 2002 apresentou uma colecção de sapatos para dança".
"Em 2005 começou a fabricar sapatos de noiva, utilizando a técnica de acolchoar o sítio onde o pé repousa (...). Acabou por fabricar os sapatos usados pela mãe e a irmã de Kate Middleton no casamento real britânico".
Agora só falta chegar ao sapato de noiva que garante ao enlace o prazo mínimo de um ano!
"A Alemanha é um bom cliente, e a lista completa-se com a Inglaterra, França, Angola, Holanda, Dinamarca e Espanha. Há um mercado que nos interessa imenso, o do Médio Oriente. Gostaríamos de entrar no Dubai".
"A empresa tem uma colecção própria, produzida pelos 68 trabalhadores".
"A equipa que idealiza o calçado é constituída por uma designer, dois criativos e três modelistas".
"Em 2002 apresentou uma colecção de sapatos para dança".
"Em 2005 começou a fabricar sapatos de noiva, utilizando a técnica de acolchoar o sítio onde o pé repousa (...). Acabou por fabricar os sapatos usados pela mãe e a irmã de Kate Middleton no casamento real britânico".
Agora só falta chegar ao sapato de noiva que garante ao enlace o prazo mínimo de um ano!
2 - Ministros há muitos, ó palerma!
E um tipo que ao deixar o ministério da Defesa leva para casa 60 mil fotocópias, é o quê?!
domingo, 19 de junho de 2011
1 - Ministros há muitos, ó palerma!
- Pai, já sou ministro!
(Dias Loureiro)
Esta era a boa nova dum amigo de Cavaco.
Só não foi dito para que havia de servir.
(Dias Loureiro)
Esta era a boa nova dum amigo de Cavaco.
Só não foi dito para que havia de servir.
Mundanidades e cinzas
1 - Quem se encontrou certa vez com Saramago, depois do Levantado do Chão, ficou rendido ao mestre, e não o pode esquecer nem dispensar.
Um dia ele morreu, e logo sete lhe tomaram o lugar. Hoje esbracejam sete mil milhões neste aflitíssimo planeta.
Deixem Saramago descansar em paz, não façam mau uso dele. Não o transformem em mais um tropeço, que essa é função para eminências medíocres. Leiam-lhe os livros, os que vale a pena ler. Rendem-lhe devida homenagem, eternizam-lhe a memória e aprendem alguma coisa.
Esse é o Saramago verdadeiro. O resto não existe.
2 - Pilar del Rio diz do novel Secretário de Estado da Cultura que "somos amigos há muitos anos, apresentou o Ensaio sobre a Cegueira. (...) Se tivesse muitos meios económicos poderia fazer muitas coisas".
Eis uma grande verdade, tão grande e tão hipotética quanto indiscutível. Legítima e pessoal. E o que é que nos interessam a nós as verdades de Pilar?
3 - Em relação à extinção do Ministério da Cultura, Pilar del Rio classifica a decisão como "um equívoco". Mas quem é que mandou vir um sermão desta senhora?
Um dia ele morreu, e logo sete lhe tomaram o lugar. Hoje esbracejam sete mil milhões neste aflitíssimo planeta.
Deixem Saramago descansar em paz, não façam mau uso dele. Não o transformem em mais um tropeço, que essa é função para eminências medíocres. Leiam-lhe os livros, os que vale a pena ler. Rendem-lhe devida homenagem, eternizam-lhe a memória e aprendem alguma coisa.
Esse é o Saramago verdadeiro. O resto não existe.
2 - Pilar del Rio diz do novel Secretário de Estado da Cultura que "somos amigos há muitos anos, apresentou o Ensaio sobre a Cegueira. (...) Se tivesse muitos meios económicos poderia fazer muitas coisas".
Eis uma grande verdade, tão grande e tão hipotética quanto indiscutível. Legítima e pessoal. E o que é que nos interessam a nós as verdades de Pilar?
3 - Em relação à extinção do Ministério da Cultura, Pilar del Rio classifica a decisão como "um equívoco". Mas quem é que mandou vir um sermão desta senhora?
Almendra-ao-Côa
À sombra desta oliveira já dormiu a sesta um picotador de auroques.
Debaixo dela um dia carpiu Cristo as saudades de Maria de Magdala.
E lá de longe disseram-lhe adeus as caravelas do Vasco da Gama.
Ela ficou, para contar as novidades.
E nos lembrar que este Monte Trigo já foi todo ele uma seara.
[Fotos de AC]
Debaixo dela um dia carpiu Cristo as saudades de Maria de Magdala.
E lá de longe disseram-lhe adeus as caravelas do Vasco da Gama.
Ela ficou, para contar as novidades.
E nos lembrar que este Monte Trigo já foi todo ele uma seara.
[Fotos de AC]
sábado, 18 de junho de 2011
Morder pela calada
"Esta relação que devia ser de confiança e partilha (...) foi fortemente abalada pela concepção estatizante de alguns governos".
"As consequências desses excessos são hoje sobejamente conhecidas".
(Cavaco Silva, no Congresso das Misericórdias em Arganil, sobre prestação de cuidados de saúde pública e privada)
A propósito destas disfunções (entre manter-se calado quando ao seu múnus competiria falar, e tagarela quando o silêncio melhor lhe conviria) aqui se lança mão de um texto de há uns seis meses. Ressalvando imprecisões pontuais, é um bom retrato da figura.
Quem a não conhecer... que a compre!
Os cinco cavacos
Cavaco Silva apresenta hoje a sua recandidatura. Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos, mas todos os cavacos vão dar ao mesmo.
1 - O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro [86/95]. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de desenvolvimento deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo económico que deixou obra, mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos-bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Em qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.
2 - O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas.
A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.
3 - O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a
coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio.
Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.
4 - O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais
para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de
paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar.
O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.
Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber.
Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura, porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.
5 - E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição.
Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos mais baixos
índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com
menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.
*
Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando
chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu, eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo o que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.
Daniel Oliveira
"As consequências desses excessos são hoje sobejamente conhecidas".
(Cavaco Silva, no Congresso das Misericórdias em Arganil, sobre prestação de cuidados de saúde pública e privada)
A propósito destas disfunções (entre manter-se calado quando ao seu múnus competiria falar, e tagarela quando o silêncio melhor lhe conviria) aqui se lança mão de um texto de há uns seis meses. Ressalvando imprecisões pontuais, é um bom retrato da figura.
Quem a não conhecer... que a compre!
Os cinco cavacos
Cavaco Silva apresenta hoje a sua recandidatura. Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos, mas todos os cavacos vão dar ao mesmo.
1 - O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro [86/95]. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de desenvolvimento deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo económico que deixou obra, mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos-bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Em qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.
2 - O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas.
A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.
3 - O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a
coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio.
Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.
4 - O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais
para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de
paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar.
O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.
Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber.
Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura, porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.
5 - E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição.
Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos mais baixos
índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com
menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.
*
Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando
chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu, eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo o que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.
Daniel Oliveira
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Faz-de-conta
Uma das características dos povos que não sabem bem quem são é a tendência para o faz-de-conta. Perante a dificuldade, pior ainda se for uma catástrofe, alçam os pés da realidade e lá vão eles. Tem sido esse, e continua a ser, o caso dos portugueses. Conduzidos há séculos por elites de pura ficção, não há no faz-de-conta quem lhes leve a palma. Exemplos disso não nos faltam na história.
Faz-de-conta que não vivemos um momento de absoluta convulsão planetária. Em que uma clique de lobos financeiros, de corporações todo-poderosas, e de potentados da desinformação, julgam chegado o momento de modelar a seu jeito o destino de milhões de homens e a vida no planeta.
Faz-de-conta que a nossa falência económica, mais do que fruto dos nossos erros, de velhas debilidades e da borrasca que nos caiu em cima, é culpa do mau governo que temos. Se antes não for delito pessoal dum só homem que o chefia.
Faz-de-conta que umas eleições faziam falta, e vêm a propósito, e trazem a solução.
Pois muito bem. Envenenados por uma campanha de ódio focado num só culpado, os portugueses fizeram as eleições. Não pensaram um minuto no tempo que se perdeu, no preço que elas custaram, no faz-de-conta que há nelas. E agora têm um governo novo, uma espécie de brinquedo que é também um faz-de-conta.
É movido a gente jovem, perita na parte vaga, essa gente que os enganos e os maus ventos da história trouxeram de África um dia. Veio na volta das naus. Conhece Portugal à-vol-d'oiseau, e confunde-lhe a alma com a velhice. Criou-se nas miragens dos sertões, onde a vida era ligeira e era edénica, porque uns ilotas a faziam mover. Para essa gente nem uma guerra existia, porque a guerra era um problema português e Portugal estava longe.
E mais longe agora vai ficar. Mas faz-de-conta que não.
Faz-de-conta que não vivemos um momento de absoluta convulsão planetária. Em que uma clique de lobos financeiros, de corporações todo-poderosas, e de potentados da desinformação, julgam chegado o momento de modelar a seu jeito o destino de milhões de homens e a vida no planeta.
Faz-de-conta que a nossa falência económica, mais do que fruto dos nossos erros, de velhas debilidades e da borrasca que nos caiu em cima, é culpa do mau governo que temos. Se antes não for delito pessoal dum só homem que o chefia.
Faz-de-conta que umas eleições faziam falta, e vêm a propósito, e trazem a solução.
Pois muito bem. Envenenados por uma campanha de ódio focado num só culpado, os portugueses fizeram as eleições. Não pensaram um minuto no tempo que se perdeu, no preço que elas custaram, no faz-de-conta que há nelas. E agora têm um governo novo, uma espécie de brinquedo que é também um faz-de-conta.
É movido a gente jovem, perita na parte vaga, essa gente que os enganos e os maus ventos da história trouxeram de África um dia. Veio na volta das naus. Conhece Portugal à-vol-d'oiseau, e confunde-lhe a alma com a velhice. Criou-se nas miragens dos sertões, onde a vida era ligeira e era edénica, porque uns ilotas a faziam mover. Para essa gente nem uma guerra existia, porque a guerra era um problema português e Portugal estava longe.
E mais longe agora vai ficar. Mas faz-de-conta que não.
Ecos da Sonora - XXXVI
(…) Aonde me levam? Pés gelados no chão viscoso. Labareda de archotes. Escuridão e luz. Bailam duendes as sombras pelas paredes. Saudades do conforto da minha casa. Vizinha jovem, corpo afeiçoado. Volúpias. Pecado no pensamento e na polpa dos meus dedos. Mesa farta, escolhida, iguarias… Que gritos, que uivos são aqueles? A casa das torturas. Uma galeria corria por cima. Dali se podia ver sem ser visto. Aí parámos. Meus olhos, meus ouvidos, minha alma para sempre maculados. A fera humana. Único animal que põe a imaginação ao serviço do mal. Invenções diabólicas. No potro, deitado, in eculeum coniectus, tortura antiga, um paciente despojado das roupas. Apenas uma tanga lhe esconde as vergonhas que o são desde que Eva e Adão… Grossas cordas em argola lhe atam os tornozelos, as coxas, pulsos e braços, ligados a tornos que os algozes vão torcendo a mando do inquisidor sentado em seu estrado diante duma mesinha, notário ao lado, protecção do crucifixo.
- Confessa.
- Ui, meu pai!... Nada tenho que confessar.
Aceno aos algozes. Mais um esperto nos torniquetes. Começam a alrgar-se as tábuas do cavalete, a estender-se e, com elas, se vão desconjuntado os ossos daquele corpo, esticando a espinha, deslocando do encaixe dos ombros os braços, da bacia as pernas…
- Ai, ai, ai, eu morro!...
- Confessa.
- Parai. Eu confesso, padre.
- Diz.
- Até agora – arfava esgares – eu acreditava…
- Ah!
- … mas agora sei… vejo… ele não existe…
- Que dizes, desgraçado?
- … Deus não existe… que te não vem fulminar, cão… não vem castigar tanta maldade…
Aceno e mais aceno. O esqueleto desune-se. O paciente desmaia. Um dos algozes escuta-lhe o coração:
- Está morto.
Sangra-me a alma. A meu lado um companheiro desfalece e derrama-se no chão.
Adiante arrastam-nos mais gritos a outra cena. Cravada na abóbada uma roldana de que pende uma corda, de que pende um desgraçado pelas mãos atadas atrás das costas. Vem a corda a um eixo seguro em dois madeiros. A manivela solta o peso humano, o corpo cai de esticão quase até ao solo, ossos partidos, rompidas as carnes, os braços desmembrados… A um canto queimam as solas dos pés com ferro em brasa a outro infeliz, espetam-lhe farpas de pau no sabugo das unhas. Como estátua, sentado imóvel, encostado ao tronco do garrote, aquele parece dormir ou rezar, a cruz entre as mãos pousadas no regaço, há muito a dor extrema lhe calou os gritos…
Desânimo e medo. Eis como me tornei a meu cárcere. (…)
A voz é de Damião de Góis. Uma ficção, claro, de Fernando Campos, A Sala das Perguntas.
Os gestos são dos facínoras de então, encarregados da destruição moral do povo, para salvar as almas simples e assegurar a perpetuação do mando.
Modernamente mudaram as tácticas artilheiras, o objectivo é o mesmo.
E o que sobrou, ao fim de trezentos anos, ainda hoje está à vista.
- Confessa.
- Ui, meu pai!... Nada tenho que confessar.
Aceno aos algozes. Mais um esperto nos torniquetes. Começam a alrgar-se as tábuas do cavalete, a estender-se e, com elas, se vão desconjuntado os ossos daquele corpo, esticando a espinha, deslocando do encaixe dos ombros os braços, da bacia as pernas…
- Ai, ai, ai, eu morro!...
- Confessa.
- Parai. Eu confesso, padre.
- Diz.
- Até agora – arfava esgares – eu acreditava…
- Ah!
- … mas agora sei… vejo… ele não existe…
- Que dizes, desgraçado?
- … Deus não existe… que te não vem fulminar, cão… não vem castigar tanta maldade…
Aceno e mais aceno. O esqueleto desune-se. O paciente desmaia. Um dos algozes escuta-lhe o coração:
- Está morto.
Sangra-me a alma. A meu lado um companheiro desfalece e derrama-se no chão.
Adiante arrastam-nos mais gritos a outra cena. Cravada na abóbada uma roldana de que pende uma corda, de que pende um desgraçado pelas mãos atadas atrás das costas. Vem a corda a um eixo seguro em dois madeiros. A manivela solta o peso humano, o corpo cai de esticão quase até ao solo, ossos partidos, rompidas as carnes, os braços desmembrados… A um canto queimam as solas dos pés com ferro em brasa a outro infeliz, espetam-lhe farpas de pau no sabugo das unhas. Como estátua, sentado imóvel, encostado ao tronco do garrote, aquele parece dormir ou rezar, a cruz entre as mãos pousadas no regaço, há muito a dor extrema lhe calou os gritos…
Desânimo e medo. Eis como me tornei a meu cárcere. (…)
A voz é de Damião de Góis. Uma ficção, claro, de Fernando Campos, A Sala das Perguntas.
Os gestos são dos facínoras de então, encarregados da destruição moral do povo, para salvar as almas simples e assegurar a perpetuação do mando.
Modernamente mudaram as tácticas artilheiras, o objectivo é o mesmo.
E o que sobrou, ao fim de trezentos anos, ainda hoje está à vista.
A mocha e a cornuda
Tudo pronto para as corridas da Boavista. São 5 Km de pista, avenidas cortadas, ruas interditas, vedações metálicas, obras no piso, vidas emparedadas, uma parte da cidade fora de serviço durante um mês ou dois.
Um rebuliço dos antigos, para não falar agora dos rombos no orçamento, que são coisa moderna. A ver mais tarde.
1º popular - Não é só um fim de semana ou dois, são dois meses! 80% de perdas na facturação!
2º popular - Ai, é uma animação, passa gente, passam carros, é lindo de se ver!
3º popular - É um espectáculo, podemos ver os acidentes de perto!
4º popular - É muito lindo! Ainda no ano passado aqui vi um, nesta curva, a fazer uma pirueta. É uma alegria, é uma emoção.
Prego a fundo, escape livre e gás à tábua, é outra loiça! E a mocha dá afinal com a cornuda!
Um rebuliço dos antigos, para não falar agora dos rombos no orçamento, que são coisa moderna. A ver mais tarde.
1º popular - Não é só um fim de semana ou dois, são dois meses! 80% de perdas na facturação!
2º popular - Ai, é uma animação, passa gente, passam carros, é lindo de se ver!
3º popular - É um espectáculo, podemos ver os acidentes de perto!
4º popular - É muito lindo! Ainda no ano passado aqui vi um, nesta curva, a fazer uma pirueta. É uma alegria, é uma emoção.
Prego a fundo, escape livre e gás à tábua, é outra loiça! E a mocha dá afinal com a cornuda!
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Saída
Há dias, na reunião do Ecofin, Teixeira dos Santos despediu-se dos seus congéneres ministros europeus. Saiu de cena.
Aqui lhe fica o agradecimento dum cidadão. Singelo, o meu.
Aqui lhe fica o agradecimento dum cidadão. Singelo, o meu.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Bons Ares - 7
No primeiro trimestre do ano, a venda de telemóveis caiu 8%.
Já não era sem tempo!
Os consumidores estão à espera de ter condições para substituir os telemóveis tradicionais por smart-phones.
Realmente... não se pode ter tudo!
Já não era sem tempo!
Os consumidores estão à espera de ter condições para substituir os telemóveis tradicionais por smart-phones.
Realmente... não se pode ter tudo!
segunda-feira, 13 de junho de 2011
"É dessa fibra que é feito o nosso orgulho"
Quantos mais discursos oiço, do nosso Presidente, mais iluminado me acho. Por ser cada um deles um farol aceso, a rasgar as trevas da nossa madrugada. São eles que me ajudam a entender o passado que tivemos, o presente que aí está, e o destino futuro que se mostra.
Cavaco Silva governou Portugal durante dez anos fundamentais, com duas maiorias absolutas do PSD. Era esse o tempo de começar de novo, de cavalgar a esperança, de enterrar um passado desgraçado e delinear um futuro diferente.
Jorravam todos os dias os fundos da Europa, e Portugal chegou a ser um oásis de gente rica: trocou prazos de reconversão da agricultura por jipes de tracção integral; abençoou o abandono dos campos; abateu os barcos e afogou a pesca, contra viaturas alemãs topo de gama; saldou a pouca indústria, como coisa que se tornara inútil; amamentou interesses e bebedeiras tóxicas, porque o futuro era o betão e o alcatrão.
O espólio de Cavaco da década dourada, e das maiorias do PSD, são esses caboucos duma renovada ruína, e os seis mil milhões dos gangsters do BPN.
Portugal, pelos vistos, está-lhes muito grato. E os discursos actuais do nosso Presidente só mostram que cada um tem aquilo que merece. Pessoal e colectivamente.
Cavaco Silva governou Portugal durante dez anos fundamentais, com duas maiorias absolutas do PSD. Era esse o tempo de começar de novo, de cavalgar a esperança, de enterrar um passado desgraçado e delinear um futuro diferente.
Jorravam todos os dias os fundos da Europa, e Portugal chegou a ser um oásis de gente rica: trocou prazos de reconversão da agricultura por jipes de tracção integral; abençoou o abandono dos campos; abateu os barcos e afogou a pesca, contra viaturas alemãs topo de gama; saldou a pouca indústria, como coisa que se tornara inútil; amamentou interesses e bebedeiras tóxicas, porque o futuro era o betão e o alcatrão.
O espólio de Cavaco da década dourada, e das maiorias do PSD, são esses caboucos duma renovada ruína, e os seis mil milhões dos gangsters do BPN.
Portugal, pelos vistos, está-lhes muito grato. E os discursos actuais do nosso Presidente só mostram que cada um tem aquilo que merece. Pessoal e colectivamente.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
História
Não há por aí cão nem gato, analfabeto ou letrado, que não jure a pés juntos, a propósito ou sem ele, que Sócrates em pessoa levou o país à bancarrota e o entregou nas mãos do FMI. Já está inscrito na história.
E no entanto o governo de Sócrates acertou com a Europa o PEC 4, e apresentou-o na AR a 23 de Março, como forma de evitar o recurso ao FMI.
Sentindo que chegara o seu momento, a direita salivante chumbou o PEC 4. O governo demitiu-se, as agências de rating aceleraram o seu trabalho de demolição, os juros da dívida tomaram o freio nos dentes, a intervenção tornou-se inevitável. E a oposição a que chamam de esquerda, embrulhada na manobra, acabou pendurada na lapela da direita como troféu de caça, como um despojo triste.
Os povos distraídos têm muitas vezes uma história bizarra. Porque uma coisa é a tralha que os escribas de serviço lhes empilham nas estantes. Outra coisa é a realidade. Só por mero acaso coincidem.
E no entanto o governo de Sócrates acertou com a Europa o PEC 4, e apresentou-o na AR a 23 de Março, como forma de evitar o recurso ao FMI.
Sentindo que chegara o seu momento, a direita salivante chumbou o PEC 4. O governo demitiu-se, as agências de rating aceleraram o seu trabalho de demolição, os juros da dívida tomaram o freio nos dentes, a intervenção tornou-se inevitável. E a oposição a que chamam de esquerda, embrulhada na manobra, acabou pendurada na lapela da direita como troféu de caça, como um despojo triste.
Os povos distraídos têm muitas vezes uma história bizarra. Porque uma coisa é a tralha que os escribas de serviço lhes empilham nas estantes. Outra coisa é a realidade. Só por mero acaso coincidem.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Saudades do Porto?
Parece que falta aqui a Casa da Música.
Mas também, sendo nela tão maior a saloiíce do que a dita, pouca falta cá faz.
Mas também, sendo nela tão maior a saloiíce do que a dita, pouca falta cá faz.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Infâmia
Além dos agentes militares que há muito andam no terreno, e dos agentes secretos que já por lá andavam antes da intervenção, a NATO lançou na batalha, para proteger o povo líbio, helicópteros de ataque.
É uma forma de aumentar a eficácia da agressão. E com o pretexto de ataques a instalações militares, vai reduzindo a cacos as estruturas do país.
Os helicópteros não resolverão o problema, que há muito tempo reclama a intervenção terrestre.
Se nós soubéssemos o que é o Conselho Nacional da oposição rebelde, e pensássemos um segundo no que verdadeiramente está em jogo, tínhamos pena da NATO. E vergonha desta Europa.
É uma forma de aumentar a eficácia da agressão. E com o pretexto de ataques a instalações militares, vai reduzindo a cacos as estruturas do país.
Os helicópteros não resolverão o problema, que há muito tempo reclama a intervenção terrestre.
Se nós soubéssemos o que é o Conselho Nacional da oposição rebelde, e pensássemos um segundo no que verdadeiramente está em jogo, tínhamos pena da NATO. E vergonha desta Europa.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Sétima cogitação
Pedro Passos Coelho já começou a ler uns jornais lá de fora. Para saber do que se passa, para lá da marquise de Massamá.
Sexta cogitação
"Regresso por isso com orgulho à honrosa condição de militante de base do PS. Quero dar espaço ao partido para discutir livremente o seu futuro e afirmar uma nova liderança, sem qualquer condicionamento".
(José Sócrates)
Cai o pano, Manuela Ferreira Leite encontra a paz, e as atitudes ficam com quem as tomou.
E o que é que farão agora tantos jornalistas que ficam sem ocupação, tantos opinadores que perderam a narrativa?
Como é que vão convencer o dono de que salivam à voz dele, ao desafio?
(José Sócrates)
Cai o pano, Manuela Ferreira Leite encontra a paz, e as atitudes ficam com quem as tomou.
E o que é que farão agora tantos jornalistas que ficam sem ocupação, tantos opinadores que perderam a narrativa?
Como é que vão convencer o dono de que salivam à voz dele, ao desafio?
Quinta cogitação
Onde fica confirmado que em 23 de Março o PCP e o BE (o elemento trágico e o elemento cómico deste enredo), brindaram à direita o ensejo de obter a maioria e o governo que lhe faziam falta. Para juntar ao presidente que já tinha, e que a ela serviu à maravilha para jogar à vermelhinha.
Tudo isto num contexto em que o FMI vem impôr o que a direita sempre desejou, sem conseguir.
Mesmo com a fava do Fernando Nobre, parece um euromilhões.
À custa do pescoço do cordeiro.
Tudo isto num contexto em que o FMI vem impôr o que a direita sempre desejou, sem conseguir.
Mesmo com a fava do Fernando Nobre, parece um euromilhões.
À custa do pescoço do cordeiro.
Quarta cogitação
5 de Junho, hotel Altis, 22H17:
- "Cá estou disponível para..."
(António José Seguro)
Um pouco mais de azul... e era o ouro!
Era oferecer à direita o próprio PS!
Até a azia de Paulo Portas ficava pa(ss)ificada!
- "Cá estou disponível para..."
(António José Seguro)
Um pouco mais de azul... e era o ouro!
Era oferecer à direita o próprio PS!
Até a azia de Paulo Portas ficava pa(ss)ificada!
Terceira cogitação
Ricardo da Cunha Costa Andrade, comissário de bordo, membro da direcção do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, um entre vários mentores das prometidas greves de verão que custariam 50 milhões e fechavam as portas da TAP, era candidato a deputado na lista do PSD por Lisboa.
O sindicato recebeu um bouquet de rosas vermelhas da Ryan Air, encantada com o favor. E o candidato não chegou a ser eleito.
Mas isso agora interessa muito pouco, ou mesmo nada. Só no BPN, o gang do PSD foi 110 vezes mais produtivo. Mais patrioticamente competitivo, segundo o jargão em uso.
O sindicato recebeu um bouquet de rosas vermelhas da Ryan Air, encantada com o favor. E o candidato não chegou a ser eleito.
Mas isso agora interessa muito pouco, ou mesmo nada. Só no BPN, o gang do PSD foi 110 vezes mais produtivo. Mais patrioticamente competitivo, segundo o jargão em uso.
Segunda cogitação
Os resultados avalizam a agudeza dum ignoto e velho pensador:
"Os ricos têm sempre razão. Quando a não têm, vem a fraqueza dos pobres oferecer-lha".
Mutatis mutandis, claro.
"Os ricos têm sempre razão. Quando a não têm, vem a fraqueza dos pobres oferecer-lha".
Mutatis mutandis, claro.
Primeira cogitação
Na noite do Te Deum eleitoral, a lua cheia que estava prometida lá nasceu. Mas veio em quarto minguante.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Eu voto
Não estou certo de que estas eleições fossem inevitáveis, pelo menos neste momento e nestas circunstâncias. Sei apenas que o velho Portugal as dispensava. E sei por que diversas razões a oposição inteira, e o presidente da República, acabaram por impô-las. Por que razões desvairadas e obscuras.
Mais do que no PS, de que muita vez discordo, eu vou votar em José Sócrates, de quem muito me distancia.
Por um bom par de motivos:
- Na infausta confluência de tantas fraquezas nossas, com o vendaval que a América soltou e devasta o mundo inteiro, nenhum outro governo teria feito melhor, caso tivesse existido.
- Conheço da nossa História o modo como as elites sempre trucidaram os melhores, quando ousaram levantar-se. E José Sócrates, que apenas será sofrível, resistiu à matilha, muito mais do que a matilha imaginava. O ódio de que foi alvo, que eu conhecia dos livros, há-de ter explicação. E esta comunicação ululante, esta imprensa mercenária, a morder num homem só, é coisa que eu nunca vira.
- Na situação desgraçada em que Portugal se encontra, e em que não há folgas na roda do leme, nenhum outro candidato me apresenta um vislumbre de vantagem. O meu voto vai para ele.
Mais do que no PS, de que muita vez discordo, eu vou votar em José Sócrates, de quem muito me distancia.
Por um bom par de motivos:
- Na infausta confluência de tantas fraquezas nossas, com o vendaval que a América soltou e devasta o mundo inteiro, nenhum outro governo teria feito melhor, caso tivesse existido.
- Conheço da nossa História o modo como as elites sempre trucidaram os melhores, quando ousaram levantar-se. E José Sócrates, que apenas será sofrível, resistiu à matilha, muito mais do que a matilha imaginava. O ódio de que foi alvo, que eu conhecia dos livros, há-de ter explicação. E esta comunicação ululante, esta imprensa mercenária, a morder num homem só, é coisa que eu nunca vira.
- Na situação desgraçada em que Portugal se encontra, e em que não há folgas na roda do leme, nenhum outro candidato me apresenta um vislumbre de vantagem. O meu voto vai para ele.
Reflexão - 11
Com tão promissor currículo, se ao final desta labuta, deste fervor exaltado, e de tão evidente canalhice, não houver neste país um jornal de referência, uma publicação hebdomadária, uma rede de televisão, uma qualquer revista cor-de-rosa, ou sequer uma rádio local a contratar-me como opinion-maker, só pode ser por medo do cabrão do Sócrates.
Reflexão - 10
"Sinto-me preparado para dirigir um governo!"
É assim que se exprime o dono do CDS, que também já foi Partido Popular, e se resume a Paulo Portas. O qual se resume a ambição pessoal. Para a qual o bem comum, o sentido patriótico e o de estado, se ficam por um reles manobrismo. Que é o gesto manhoso de quem procura apenas a maneira de extrair vantagens pessoais das catástrofes colectivas.
Mais ou menos decalcado, é o que diz a central de propaganda do cabrão do Sócrates.
É assim que se exprime o dono do CDS, que também já foi Partido Popular, e se resume a Paulo Portas. O qual se resume a ambição pessoal. Para a qual o bem comum, o sentido patriótico e o de estado, se ficam por um reles manobrismo. Que é o gesto manhoso de quem procura apenas a maneira de extrair vantagens pessoais das catástrofes colectivas.
Mais ou menos decalcado, é o que diz a central de propaganda do cabrão do Sócrates.
Reflexão - 9
Há seis meses atrás, os juros dum empréstimo que contraí no banco, com capital cativo, custavam-me 122€.
Veio hoje carta do banco, a informar-me que a partir da próxima prestação vão passar a custar 149€.
Só pode ser mãozinha do cabrão do Sócrates.
Veio hoje carta do banco, a informar-me que a partir da próxima prestação vão passar a custar 149€.
Só pode ser mãozinha do cabrão do Sócrates.
Reflexão - 8
A América ultrapassou o limite legal de endividamento. A solução há-de ser aumentar legalmente os limites, coisa que não perde pela demora.
Entretanto a agência Moody's, uma vestal do templo, sabendo que a divindade usa cuecas já rotas sem remendo possível, ameaça baixar o rating da América.
Mas toda a gente sabe que isso é uma retaliação do cabrão do Sócrates.
Entretanto a agência Moody's, uma vestal do templo, sabendo que a divindade usa cuecas já rotas sem remendo possível, ameaça baixar o rating da América.
Mas toda a gente sabe que isso é uma retaliação do cabrão do Sócrates.
Reflexão - 7
Agora até aparecem uvas sem graínha. Coisas de laboratório, manipulação genética, o diabo a quatro.
Explicações duma razão ingénua. Em rigor são efeitos da austeridade, por causa do cabrão do Sócrates.
Explicações duma razão ingénua. Em rigor são efeitos da austeridade, por causa do cabrão do Sócrates.
Reflexão - 6
Um estudo qualquer sobre Obesidade Infantil, desvenda que "menos de 2% das crianças portuguesas, dos 6 aos 9 anos, bebem água quatro ou mais vezes por semana; já quando se fala de refrigerantes, o número sobe para 76%".
Aqui há conspiração do cabrão do Sócrates, para fazer engordar as estatísticas.
Aqui há conspiração do cabrão do Sócrates, para fazer engordar as estatísticas.
Reflexão - 5
Eduardo Souto Moura ganha o Pritzker de Arquitectura 2011, notícia reconfortante.
Não obstante, e por causa da crise, "a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar", confessou o arquitecto.
Que mais não disse, mas bem podia ter dito: para a arquitectura portuguesa, para os apanhadores de tomate, e para o Manuel Dias Loureiro, que já nos abriu caminhos mar além.
Tudo por causa das vilanias do cabrão do Sócrates, que há-de ir parar à justiça.
Não obstante, e por causa da crise, "a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar", confessou o arquitecto.
Que mais não disse, mas bem podia ter dito: para a arquitectura portuguesa, para os apanhadores de tomate, e para o Manuel Dias Loureiro, que já nos abriu caminhos mar além.
Tudo por causa das vilanias do cabrão do Sócrates, que há-de ir parar à justiça.
Reflexão - 4
A CIA sabe que pode surgir um golpe militar na Grécia, em resultado do garrote da austeridade, da camisa de forças dos mercados, da pressão dos agentes da finança, da crescente dimensão da dívida.
E sobretudo em resultado da invasão dos comissários duma Europa insana, que se propõe tomar nas suas mãos a recolha de impostos, a privatização de portos e caminhos de ferro, a venda das ilhas do mar Egeu, enquanto hesita na medida final de pôr a render a Pitonisa em Delfos, ou meter a Afrodite numa casa de alterne em Roterdão.
Do que a CIA ainda não tem provas, nisto tudo, é das culpas do cabrão do Sócrates. Mas é uma questão de tempo.
E sobretudo em resultado da invasão dos comissários duma Europa insana, que se propõe tomar nas suas mãos a recolha de impostos, a privatização de portos e caminhos de ferro, a venda das ilhas do mar Egeu, enquanto hesita na medida final de pôr a render a Pitonisa em Delfos, ou meter a Afrodite numa casa de alterne em Roterdão.
Do que a CIA ainda não tem provas, nisto tudo, é das culpas do cabrão do Sócrates. Mas é uma questão de tempo.
Reflexão - 3
A TAP perderá 50 milhões e é melhor fechar as portas, face ao plano de greves do pessoal de voo. Mas ao reduzir um elemento à tripulação, ficam em risco a segurança, as massagens cardíacas e a respiração boca a boca.
Não têm conta as malfeitorias do cabrão do Sócrates.
Não têm conta as malfeitorias do cabrão do Sócrates.
Reflexão - 2
Não há comboios suburbanos em Lisboa. Nem no Porto. A situação ficará normalizada lá para o final da manhã.
Lá está o cabrão do Sócrates.
Lá está o cabrão do Sócrates.
Reflexão - 1
Passo os olhos pelo resumo de imprensa: seis notícias sobre violência nos fuzileiros.
Há-de ser culpa do cabrão do Sócrates.
Há-de ser culpa do cabrão do Sócrates.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Refrigério
Estranha forma de alívio, este alargar dos olhos para lá das miseráveis misérias caseiras! E ver que as vilanias que temos a pagamento são mais do que imaginamos.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Missa de Requiem
É o que me faz lembrar a entrevista de Jerónimo de Sousa, ao JN de hoje. Não sei se pelo Partido, não sei se pelo regime que saiu de Abril, não sei se pelo que restava de esperança.
De como Jerónimo de Sousa, entre eufemismos, desaba no pensamento de Vasco Graça Moura, ou de João Pereira Coutinho.
“Muitas vezes acontece as pessoas dizerem: vocês defendem os trabalhadores, os mais pobres. Lutem lá por nós! É uma tristeza tremenda, porque não vemos forma de alterar as coisas, sem que as pessoas lutem pelos seus próprios direitos. Para nós é reconfortante ouvir estas mensagens de confiança, mas o mais importante seria que as pessoas assumissem ser protagonistas da própria vida”.
De como Jerónimo de Sousa, sem eufemismos nenhuns, desaba no pensamento de Manuela Ferreira Leite, de Pedro Passos Coelho e dum tal Relvas:
“- As sondagens não castigam o PS. Que leitura faz dos números?
- Foi criado um ambiente… diria de medo. Um bocado a ideia de que a Direita poderia ser pior. O PSD destapou algumas das suas propostas: a questão dos despedimentos sumários, de que quem tem direito a subsídio de desemprego depois vai ser penalizado na reforma. As propostas de privatização são muito idênticas às do PS (…) o que leva as pessoas a sentirem-se inquietas. Ainda há sectores que consideram que o PS é um mal menor”.
De como Jerónimo de Sousa desaba, com nuances, no cinismo de Paulo Portas:
“- A crise política era inevitável?
- A crise económica e social determinou muito da crise política, mas não era inevitável. O Governo não foi demitido, demitiu-se”.
De como Jerónimo de Sousa, em frente das eleições (e logo estas!) desaba no pensamento messiânico do pastor, e assenta no cepo o pescoço do cordeiro:
“- O Estado Social nunca mais será o mesmo?
- Em capitalismo, os direitos sociais nunca são assumidos perpetuamente; dependem sempre das relações de forças de cada momento. Hoje os trabalhadores estão a perder, mas para quem acredita que o mundo se move, para quem acredita que a evolução da humanidade vai no sentido do progresso, os trabalhadores hão-de recuperar aquilo que agora estão a perder”.
De como Jerónimo de Sousa, entre eufemismos, desaba no pensamento de Vasco Graça Moura, ou de João Pereira Coutinho.
“Muitas vezes acontece as pessoas dizerem: vocês defendem os trabalhadores, os mais pobres. Lutem lá por nós! É uma tristeza tremenda, porque não vemos forma de alterar as coisas, sem que as pessoas lutem pelos seus próprios direitos. Para nós é reconfortante ouvir estas mensagens de confiança, mas o mais importante seria que as pessoas assumissem ser protagonistas da própria vida”.
De como Jerónimo de Sousa, sem eufemismos nenhuns, desaba no pensamento de Manuela Ferreira Leite, de Pedro Passos Coelho e dum tal Relvas:
“- As sondagens não castigam o PS. Que leitura faz dos números?
- Foi criado um ambiente… diria de medo. Um bocado a ideia de que a Direita poderia ser pior. O PSD destapou algumas das suas propostas: a questão dos despedimentos sumários, de que quem tem direito a subsídio de desemprego depois vai ser penalizado na reforma. As propostas de privatização são muito idênticas às do PS (…) o que leva as pessoas a sentirem-se inquietas. Ainda há sectores que consideram que o PS é um mal menor”.
De como Jerónimo de Sousa desaba, com nuances, no cinismo de Paulo Portas:
“- A crise política era inevitável?
- A crise económica e social determinou muito da crise política, mas não era inevitável. O Governo não foi demitido, demitiu-se”.
De como Jerónimo de Sousa, em frente das eleições (e logo estas!) desaba no pensamento messiânico do pastor, e assenta no cepo o pescoço do cordeiro:
“- O Estado Social nunca mais será o mesmo?
- Em capitalismo, os direitos sociais nunca são assumidos perpetuamente; dependem sempre das relações de forças de cada momento. Hoje os trabalhadores estão a perder, mas para quem acredita que o mundo se move, para quem acredita que a evolução da humanidade vai no sentido do progresso, os trabalhadores hão-de recuperar aquilo que agora estão a perder”.
15 minutos
Os homens de carne e osso, que são verticais e dignos de confiança, falam assim.
É mais fácil beber uma cerveja e desandar, que eles são todos iguais, querem é pote.
Ainda assim valerá a pena ouvi-los, nestes tempos de brasa, e de borrasca, e lucidez escassa.
É mais fácil beber uma cerveja e desandar, que eles são todos iguais, querem é pote.
Ainda assim valerá a pena ouvi-los, nestes tempos de brasa, e de borrasca, e lucidez escassa.
Lição prática de intoxicação da opinião pública pela imprensa
Ver aqui.
Ex-ministro de Guterres diz que Sócrates devia ter sido arguido (no caso Freeport).
Eis o que Júlio Castro Caldas sustentou, a propósito das 27 perguntas que os digníssimos magistrados deixaram inscritas no processo, e que não puderam fazer oportunamente a Sócrates por falta de tempo:
"Existiam indícios de suspeição suficientemente fortes que permitiam a inquirição dos governantes com o estatuto de arguidos".
"Em tempo processualmente oportuno, deveriam ter convocado a perguntas todos os cidadãos, fossem eles chefes de governo ou ministros".
"É insuportável o prolongamento no tempo de uma investigação criminal, mantendo um suspeito sem ser constituído arguido".
"Não se mantém um cidadão sob suspeita sem que seja constituído arguido, para que se possa defender".
O que passa, da notícia, para a opinião pública, é que há uma voz, ligada ao PS, ainda a culpabilizar Sócrates no caso Freeport. A mantê-lo sob suspeita.
Quando essa voz não disse nada disso, BEM PELO CONTRÁRIO.
Mas o importante, para esta escumalha moral, não é a verdade nem a justiça.
É APENAS ALIMENTAR O TERRENO MOVEDIÇO DA SUSPEITA SEM FIM. PARA DESTRUIR O OUTRO, COM A NOSSA CUMPLICIDADE.
[Adenda: Detalhes interessantes AQUI]
Ex-ministro de Guterres diz que Sócrates devia ter sido arguido (no caso Freeport).
Eis o que Júlio Castro Caldas sustentou, a propósito das 27 perguntas que os digníssimos magistrados deixaram inscritas no processo, e que não puderam fazer oportunamente a Sócrates por falta de tempo:
"Existiam indícios de suspeição suficientemente fortes que permitiam a inquirição dos governantes com o estatuto de arguidos".
"Em tempo processualmente oportuno, deveriam ter convocado a perguntas todos os cidadãos, fossem eles chefes de governo ou ministros".
"É insuportável o prolongamento no tempo de uma investigação criminal, mantendo um suspeito sem ser constituído arguido".
"Não se mantém um cidadão sob suspeita sem que seja constituído arguido, para que se possa defender".
O que passa, da notícia, para a opinião pública, é que há uma voz, ligada ao PS, ainda a culpabilizar Sócrates no caso Freeport. A mantê-lo sob suspeita.
Quando essa voz não disse nada disso, BEM PELO CONTRÁRIO.
Mas o importante, para esta escumalha moral, não é a verdade nem a justiça.
É APENAS ALIMENTAR O TERRENO MOVEDIÇO DA SUSPEITA SEM FIM. PARA DESTRUIR O OUTRO, COM A NOSSA CUMPLICIDADE.
[Adenda: Detalhes interessantes AQUI]
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