quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Da capo
Viradeira
O facto é que depressa
nos cansámos. De fazer andar as fábricas de panos, de plantar vinhas novas, de
aprender alguma coisa nas escolas, de blasfemar contra a fatalidade. E de ver
espirrar o sangue azul dos Távoras, que nos enterneceu o manso coração. De modo
que, morto el-rei, voltámos aos marialvas, às procissões, à fadistagem e aos
pátios das cantigas.
Ele havia umas
estradas, no reino, por fazer. E logo se mandou que uns alvenéis lavrassem,
numa serra, uns marcos monumentais, para assinalar cada légua aos viandantes.
Dispunha cada marco dum relógio de sol. Porém algumas léguas terminavam à
sombra, como é frequente acontecer. E, ou bem que se ofendia o rigor das
medições, ou se esbanjavam as custas dos relógios.
Não chegou o desempate
a ir a cortes, nem se lhe alcançou resolução. E as estradas lá ficaram por
fazer.
Veio-me à lembrança um
tal aperto a propósito duma linha de comboio, que também andou aí nas mãos da
viradeira.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Reflexão
Nos dias que passam, o que se trava no palco das nossas vidas é uma grande guerra dos poderosos contra os povos. E aqui entre nós, dumas elites falsas e traiçoeiras, servidas por lacaios sem pudor, e por netos de negreiros revanchistas.
Entre vários fugazes foguetórios, o partido que privatizou o povo cristalizou. Encapsulou num bolha sectária, meteu na gaveta a velha dialéctica. Tornou-se inútil, para não dizer nocivo. E assim a guerra ficou na nossa mão.
Eu voto ALI.
Entre vários fugazes foguetórios, o partido que privatizou o povo cristalizou. Encapsulou num bolha sectária, meteu na gaveta a velha dialéctica. Tornou-se inútil, para não dizer nocivo. E assim a guerra ficou na nossa mão.
Eu voto ALI.
domingo, 27 de setembro de 2015
Tão e agora, ó Tacheira, um tribunal plenário?! Juiz já temos, caraças!!!
COMUNICADO
«A defesa do Sr. Eng. José Sócrates recebeu hoje a surpreendente resposta do Sr. Procurador Dr. Rosário Teixeira ao requerimento que ontem lhe dirigimos: o Senhor Procurador decidiu recusar-nos o acesso imediato aos autos, tal como resulta evidente do Acórdão da Relação de Lisboa que declarou cessado o segredo de justiça interno desde 15 de Abril.Desta forma, o Sr. Procurador recusa-se a cumprir aquela decisão invocando a susceptibilidade de ser pedida a sua aclaração.
Trata-se de um expediente dilatório totalmente infundado e ilegal, que confirma a pertinente referência feita no Acórdão a propósito da possibilidade de defesa do arguido: “que não seja vítima dos truques e de uma estratégia do investigador.”
O Sr. Procurador não se preocupa, sequer, em esclarecer qual a dúvida que tem ou qual a aclaração que pretende. E esquece que a lei apenas permite a aclaração que “não importe modificação essencial” do decidido.
O decidido é absolutamente claro: declara “o fim do segredo de justiça interno desde a data de 15 de Abril de 2015”. Que parte desta frase é que o Sr. Dr. Rosário Teixeira não entendeu e o que mais poderá ser aclarado?
De resto, independentemente da eventual questão formal do trânsito em julgado, não há dúvidas que se trata de uma decisão que é efectiva desde anteontem, que não pode deixar de ser imediatamente acatada.
Mas voltemos ao essencial:
O Acórdão afirma que a defesa foi desde 15 de Abril ilegalmente privada do exercício dos seus direitos mais fundamentais; e este Sr. Procurador, que foi o primeiro responsável por tal violação dos direitos e garantias de defesa mais elementares de qualquer arguido em processo penal, em lugar de assumir, como seria decente, corrigir o erro, persiste em mantê-lo.
Terá resposta adequada, que a defesa do Estado de Direito e da Lei impõem a qualquer advogado. Chega de abuso, chega de prepotência: “Ser o dono do inquérito não significa que se pode tudo, mesmo fazendo coisas sem qualquer fundamentação legal. O nosso processo penal tem que ser democrático não só nos seus princípios, por isso é que se trata de um processo de direito constitucional aplicado, mas sobretudo no exercício constante da sua prática, da sua legis artis”.
Lisboa, 26 de Setembro de 2015
- Os advogados
Da capo
O
triunfo dos porcos
Muito antes de ser o que é
hoje e daquilo que já foi, Wall Street era em tempos um local onde os agricultores ergueram um muro à
entrada de Manhattan, para evitar que os porcos invadissem as quintas e
destruíssem culturas.
A medida submeteu os
porcos fossadores, e os campos ficaram em sossego. Mas depois vieram os porcos
da finança e reocuparam posições. Deitaram abaixo o muro, puseram o nome à rua,
e instalaram-se nas quintas e nas nossas vidas.
Só erguendo barricadas novas
lhes escaparemos.
Dormitório
Discreto, branco, miscigenado, o bairro desce a encosta. Intui-se na distância um ar de mar. E às nove da manhã o sol vai alto mas o café está fechado.
Levando o nome à letra, o bairro dorme.
Levando o nome à letra, o bairro dorme.
sábado, 26 de setembro de 2015
Lapa
Regresso à minha Lapa cansado e em grande paz interior, depois de horas e horas de viagem num comboio mandrião. A lua cheia está aí.
Mas dentro de trinta anos andaremos nós ainda a chorar baba e ranho, a lamentar a falta dum comboio que nos leve além-fronteiras, diferente do que trouxe Jacinto a Tormes há um século e meio. Mísera sorte, estranha condição!
Mas dentro de trinta anos andaremos nós ainda a chorar baba e ranho, a lamentar a falta dum comboio que nos leve além-fronteiras, diferente do que trouxe Jacinto a Tormes há um século e meio. Mísera sorte, estranha condição!
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Da capo (metáfora oportuna)
Primavera indecisa
Tenho à espera a Feira
Cabisbaixa atrás dum microfone, a Feira do O’Neill, a feira de nós todos, que
um cego encomendou à biblioteca sonora. Mas encontro no jardim de São Lázaro a
Primavera a hesitar.
As camélias já andam pelo
chão e a Primavera a hesitar, incham os botões dos rododendros e a Primavera a
hesitar, os rebentos das tílias a explodir e a Primavera a hesitar, os velhos
da sueca, são quinhentos, a improvisar a banca e a Primavera a hesitar, e a
mimosa das coxas tentadoras a faltar-me no passeio, o riso quotidiano,
bons-dias mimosinha, e os dentitos de marfim, o drapejar da pestana, o peito da
mimosa a faltar-me nos olhos, as formas arredondadas a morder-me no ventre e os
pombos num badanal, a mulher desdentada a pedir-me um cigarro, a levar dois
para a amiga encostada na esquina, a solicitar-me o favor dum lume, a mesura
brejeira a agradecer-me, a aventurar se gosto de ir ao quarto e eu a dizer-lhe
que não, um trunfo a cair na mesa a esquartejar a manilha e os pombos
amotinados, e a mimosa que lá vem dobrando a esquina num riso de Gioconda a
tentar-me de longe, os pés que já não comando na direcção dela, um instinto a
farejá-la, a correr-lhe a garupa, o flanco acolchoado, o lago misterioso,
quanto vale o teu riso mimosinha, a Primavera ainda a hesitar e eu a
deslizar-lhe a nota na palma acetinada, um roçagar de leve, uma aflição de
seda…
E vou-me então à Feira
Cabisbaixa, à Feira do O’Neill, à feira de nós todos, que um cego precisa dela,
e a Primavera enfim se decidiu.
Nem pouco mais ou menos!
O Tsipras é um gajo com eles no sítio. E também entre nós já houve exemplos desses, o Sócrates é só o último.
Os portugueses é que não são nada os gregos.
Os portugueses é que não são nada os gregos.
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Tão e agora, a chapelada, como é?!
Que em Portugal manda um bando de videirinhos, iletrados e incompetentes, já era um doloroso dado adquirido.
Que há por aí um regabofe de milhares, pendurados nas tetas do pote, em gabinetes governamentais, em ministérios, em instituições, disfarçados em várias categorias, já toda a gente o sabia.
Que o voto de emigrantes por correspondência era uma máquina oleada com meios públicos ao serviço de interesses partidários, só é desconhecido por quem anda a dormir.
Mas, porém, isto é que ninguém iria imaginar!
Que há por aí um regabofe de milhares, pendurados nas tetas do pote, em gabinetes governamentais, em ministérios, em instituições, disfarçados em várias categorias, já toda a gente o sabia.
Que o voto de emigrantes por correspondência era uma máquina oleada com meios públicos ao serviço de interesses partidários, só é desconhecido por quem anda a dormir.
Mas, porém, isto é que ninguém iria imaginar!
Pobres das flores
XXXIII
Pobres das flores nos canteiros dos jardins regulares.
Parecem ter medo da polícia...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
E têm o mesmo sorriso antigo
Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem
Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
Para ver se elas falavam...
[POEMAS de Alberto Caeiro, ed. Ática, Lx 1979]
Pobres das flores nos canteiros dos jardins regulares.
Parecem ter medo da polícia...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
E têm o mesmo sorriso antigo
Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem
Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
Para ver se elas falavam...
[POEMAS de Alberto Caeiro, ed. Ática, Lx 1979]
Raiz
"Essa tal de sociedade é uma coisa que não há; o que existe são os indivíduos."
Não são estas as palavras da Thatcher dama de ferro. Mas a ideia, essa, sim. Está na raiz desta insânia, é o alcorão destes canalhas e é fatal.
Não são estas as palavras da Thatcher dama de ferro. Mas a ideia, essa, sim. Está na raiz desta insânia, é o alcorão destes canalhas e é fatal.
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Outros fizessem o mesmo!
Na guerra que está em curso, Tsipras e os gregos rangeram os dentes e devolveram o míssil da canalhice às elites arrogantes que mandam na Europa.
Agora têm elas que encontrar uma arma nova, nesta guerra da voz dos povos e da dignidade dos homens, contra a sobranceria dos poderosos.
Outros fizessem o mesmo!
Agora têm elas que encontrar uma arma nova, nesta guerra da voz dos povos e da dignidade dos homens, contra a sobranceria dos poderosos.
Outros fizessem o mesmo!
Borda d'Água
Semear o nabal, que há-de vir a servir para a compostagem; recolher as nozes e apanhar as castanhas.
Depois é assistir ao motim das folhas mortas, é quedar-se a ruminar afectos, enquanto a geada assenta; é garimpar ideias e palavras, perdidas na toada das águas na cascata; é espreitar impassível o teatro do mundo.
Até que o Sol decida regressar.
Depois é assistir ao motim das folhas mortas, é quedar-se a ruminar afectos, enquanto a geada assenta; é garimpar ideias e palavras, perdidas na toada das águas na cascata; é espreitar impassível o teatro do mundo.
Até que o Sol decida regressar.
domingo, 20 de setembro de 2015
Alfredo
Alguns dormitam, maçados,
nos beliches, ele viaja a noite inteira a pé. Entre o bar e o corredor, entre
uma nova cerveja e os considerandos do salário que recebe. Quase setecentos
contos, mesmo quando não embarca. Como agora, que vem a casa ver a mulher. Mas
isso vai acontecer só amanhã, lá pelo meio-dia, em chegando à Pampilhosa,
depois de atravessar a infindável noite basca, leonesa, castelhana, num
Sud-Expresso lôbrego.
Alfredo tem trinta anos e
deixou a escola antes do tempo, em Mira. Foi trabalhar com o pai, no tempo em
que havia quarenta companhas só nas artes da xávega. A princípio puxavam a rede
à unha, com juntas de bois que enterravam os cascos no areal macio. Hoje não
chegam à dúzia. O peixe foi-se embora, será culpa das chuponas espanholas. E ficou tão barato na lota quanto é caro nas
bancas do mercado, não se compreende Portugal. Paga-se o gazol do barco e o resto mal dá para viver. De forma que o pessoal
começou a emigrar e ele foi parar a Quipert, ao pé de Nantes. Foi há dois
meses, mais um cunhado, é esta a primeira vez que vem a casa.
Em Quipert saem para o mar à
quinzena e Alfredo é o cozinheiro. O dono do barco é tão velho que já não
navega, toda a companha de sete é contratada. Mas o peixe vai à lota ao mesmo
preço para todos e toda a gente ganha. Só não se entende o que se passa em
Portugal.
Alfredo vem excitado com os
considerandos do salário que recebe. Jantou no vagão-restaurante, bebeu uma
garrafa de bom vinho, no fim pediu um conhaque e pagou quarenta euros mas valeu
a pena. Depois foi aturando a noite a poder de cervejas, e é por isso que já
lhe arrasta a voz, e tem este bafo choco e amargoso, e repisa outra vez os
considerandos do salário que recebe. Quando chega a Vilar Formoso desce ao cais
durante meia hora, o tempo de mudar a máquina ao comboio. Bebe outra cerveja na
cantina, com uns camaradas negros que exercitam um hip-hop lusófono, e também chegam da Europa.
Lá pelo meio-dia, toldado como vai, Alfredo levará tempo a encontrar-se com a mulher. E logo que o conseguir, vão ser horas de apanhar outra vez o comboio para voltar a Quipert, ao pé de Nantes. Onde agora é cozinheiro, sempre que sai ao mar, a pensar nos considerandos do salário que recebe.
Lá pelo meio-dia, toldado como vai, Alfredo levará tempo a encontrar-se com a mulher. E logo que o conseguir, vão ser horas de apanhar outra vez o comboio para voltar a Quipert, ao pé de Nantes. Onde agora é cozinheiro, sempre que sai ao mar, a pensar nos considerandos do salário que recebe.
sábado, 19 de setembro de 2015
"O poeta é um fingidor"
«Olá guardador de rebanhos
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»
«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»
«Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e saudades
E de coisas que nunca foram.»
«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»
[POEMAS, Alberto Caeiro, ed. Ática, Lx 1979]
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»
«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»
«Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e saudades
E de coisas que nunca foram.»
«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»
[POEMAS, Alberto Caeiro, ed. Ática, Lx 1979]
Cotovias
Pelo céu alto as cotovias cantam, inebriadas de sol e de azul. Nem recordam a tempestade de ontem, nem se interrogam sobre o amanhã.
Não olhes tu a sondagens e a duvidosos futuros! Imita as cotovias e segue a Natureza!
Não olhes tu a sondagens e a duvidosos futuros! Imita as cotovias e segue a Natureza!
Rating e propaganda
É conhecido o papel que tiveram as agências de rating há uns anos, ao serviço dos chacais da finança.
Em 2012 Passos Coelho acusou a Standard&Poors de "fazer política". E em 2014 deixou mesmo de pagar o serviço de avaliação da dívida. Mas a agência continuou a produzi-lo, sem deixar de fazer a mesma política.
É assim que agora, com uma dívida acrescida e um défice em grande risco, num quadro de incerteza sobre os resultados eleitorais, e sem qualquer garantia de continuidade das políticas em uso, a S&P sobe o rating da República.
A questão fica em saber quem é que esta gajada pretende enganar?!
Em 2012 Passos Coelho acusou a Standard&Poors de "fazer política". E em 2014 deixou mesmo de pagar o serviço de avaliação da dívida. Mas a agência continuou a produzi-lo, sem deixar de fazer a mesma política.
É assim que agora, com uma dívida acrescida e um défice em grande risco, num quadro de incerteza sobre os resultados eleitorais, e sem qualquer garantia de continuidade das políticas em uso, a S&P sobe o rating da República.
A questão fica em saber quem é que esta gajada pretende enganar?!
"Sociedade do trabalho"
« (...) O decréscimo da quantidade de trabalho necessário para produzir o mesmo número de mercadorias (materiais e imateriais) que dantes exigiam contingentes enormes de trabalhadores é uma realidade amplamente estudada, que levou alguns sociólogos a falar, desde os anos 80 do século passado, no fim da sociedade do trabalho. (...)
Dos mini-jobs, na Alemanha, aos estágios remunerados, em Portugal, o objectivo é quase o
mesmo: apresentar estatísticas que indiquem uma percentagem tolerável de desempregados, para as necessidades e os ideais de uma sociedade de trabalho.
Entretanto, a realidade vai-se alterando e quem esteja atento já percebeu que a divisão dualista que coloca de um lado os empregados (idealmente estáveis e a tempo inteiro, ainda depositários dos valores tradicionais da industrialização) e do outro os desempregados começa a mostrar-se inadequada. Os chamados “indiferentes ao trabalho” e as actividades de auto-produção constituem uma massa em crescimento que fica tendencialmente fora do radar das estatísticas. A descida do valor do trabalho (pelo menos, em Portugal, nos últimos anos) é hoje de tal ordem que já há muita gente que não se deixa convencer por um princípio que se foi impondo progressivamente como mandamento de uma nova condição servil e que diz o seguinte: “Pouco importa o montante do salário desde que tenha emprego”.
O resultado da rebelião, como sabemos, é um fortíssimo aumento da emigração qualificada. É verdade que a salários baixos corresponde um fraco poder de compra, e isso é um problema para a racionalidade capitalista. Mas esta é plena da argúcias: o consumo e a produção acabaram por ser assegurados não pela remuneração do trabalho, mas por factores exteriores ao circuito económico clássico.»
[António Guerreiro, in Ipsilon]
Dos mini-jobs, na Alemanha, aos estágios remunerados, em Portugal, o objectivo é quase o
mesmo: apresentar estatísticas que indiquem uma percentagem tolerável de desempregados, para as necessidades e os ideais de uma sociedade de trabalho.
Entretanto, a realidade vai-se alterando e quem esteja atento já percebeu que a divisão dualista que coloca de um lado os empregados (idealmente estáveis e a tempo inteiro, ainda depositários dos valores tradicionais da industrialização) e do outro os desempregados começa a mostrar-se inadequada. Os chamados “indiferentes ao trabalho” e as actividades de auto-produção constituem uma massa em crescimento que fica tendencialmente fora do radar das estatísticas. A descida do valor do trabalho (pelo menos, em Portugal, nos últimos anos) é hoje de tal ordem que já há muita gente que não se deixa convencer por um princípio que se foi impondo progressivamente como mandamento de uma nova condição servil e que diz o seguinte: “Pouco importa o montante do salário desde que tenha emprego”.
O resultado da rebelião, como sabemos, é um fortíssimo aumento da emigração qualificada. É verdade que a salários baixos corresponde um fraco poder de compra, e isso é um problema para a racionalidade capitalista. Mas esta é plena da argúcias: o consumo e a produção acabaram por ser assegurados não pela remuneração do trabalho, mas por factores exteriores ao circuito económico clássico.»
[António Guerreiro, in Ipsilon]
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Ilha grega
Sou ilha grega no meio dum mar.
Passaram sóis por mim, e tempestades, e náufragos. E heróis que vinham da guerra, e deuses que já morreram.
Há quem me queira comprar e eu não me vendo.
Passaram sóis por mim, e tempestades, e náufragos. E heróis que vinham da guerra, e deuses que já morreram.
Há quem me queira comprar e eu não me vendo.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Comentário
Lido AQUI.
«Podemos estar a ser enganados pelas sondagens, mas se não estamos, e o empate técnico se desenha no horizonte, então Costa perdeu não só o debate mas também as eleições. E se perder é porque o país está preparado para mais quatro anos de Pedro e Paulo. Muito mais baixo não se pode descer e se o povo aguentou até agora, estoicamente, penso que aguentará quanto vier. Os que não aguentaram já cá não estão. Emigraram. Ficaram os conformados com a situação. As sondagens podem, mesmo, estar próximas dos resultados finais. Quando o PS de Seguro e Costa decidiu negar o seu passado, aceitando, implicitamente, a narrativa mentirosa da direita, começou a traçar o seu próprio destino. Recusar o melhor legado que alguma vez o PS deixou ao país, nomeadamente no combate à pobreza e às desigualdades; na aposta na inovação, formação e investigação científica; na excelência da escola pública e na sustentação da segurança social; na aposta nas energias renováveis ; na luta patriótica contra tudo e contra todos para evitar a intervenção da troika -e já o tinha conseguido em Bruxelas; recusar este legado, dizia eu, foi dar todos os trunfos à direita mentirosa e fascista e fazer saltar de contentamento Catarina e Jerónimo. A prisão de Sócrates foi o golpe certeiro em António Costa e ele parece que ainda não percebeu isso. Se percebeu, então pensou, e muito mal, que, fazendo-se de esquecido em relação à história recente do PS, a coligação não o colaria aos governos de Sócrates. Mas a coligação tem mostrado que a Operação Marquês foi muito bem planeada para este acto eleitoral e Passos fez questão de trazer “Sócrates-Preso- E-Condenado” 12 vezes para o debate nas TVs, perante a maior audiência de sempre (também este inesperado formato tri-televisivo foi planeado?). Se estou certa, agora é tardíssimo para uma reacção. Podem acusar-me, comentadores da Aspirina B, ser demasiado adepta das teorias da conspiração. Pois acusem, mas eu não esqueço as farsas da Intentona de Belém, Freeport e Face Oculta. Não é por acaso que Vara foi envolvido na Operação Marquês e os seus promotores nem se deram ao cuidado de disfarçar, tão seguros estavam que Costa não ia reagir. Eles sabiam que, ao prender Sócrates, amarravam ao tronco o novo Secretário Geral do PS. Foi “limpinho, limpinho”. Fim de regime à vista. Quem sabe não virá depois a clarificação e, com ela, uma geração de gente corajosa! Meio milhão de emigrantes em 4 anos mostram bem até que ponto a desilusão é grande. “Virão um dia, ricos ou não”?»
«Podemos estar a ser enganados pelas sondagens, mas se não estamos, e o empate técnico se desenha no horizonte, então Costa perdeu não só o debate mas também as eleições. E se perder é porque o país está preparado para mais quatro anos de Pedro e Paulo. Muito mais baixo não se pode descer e se o povo aguentou até agora, estoicamente, penso que aguentará quanto vier. Os que não aguentaram já cá não estão. Emigraram. Ficaram os conformados com a situação. As sondagens podem, mesmo, estar próximas dos resultados finais. Quando o PS de Seguro e Costa decidiu negar o seu passado, aceitando, implicitamente, a narrativa mentirosa da direita, começou a traçar o seu próprio destino. Recusar o melhor legado que alguma vez o PS deixou ao país, nomeadamente no combate à pobreza e às desigualdades; na aposta na inovação, formação e investigação científica; na excelência da escola pública e na sustentação da segurança social; na aposta nas energias renováveis ; na luta patriótica contra tudo e contra todos para evitar a intervenção da troika -e já o tinha conseguido em Bruxelas; recusar este legado, dizia eu, foi dar todos os trunfos à direita mentirosa e fascista e fazer saltar de contentamento Catarina e Jerónimo. A prisão de Sócrates foi o golpe certeiro em António Costa e ele parece que ainda não percebeu isso. Se percebeu, então pensou, e muito mal, que, fazendo-se de esquecido em relação à história recente do PS, a coligação não o colaria aos governos de Sócrates. Mas a coligação tem mostrado que a Operação Marquês foi muito bem planeada para este acto eleitoral e Passos fez questão de trazer “Sócrates-Preso- E-Condenado” 12 vezes para o debate nas TVs, perante a maior audiência de sempre (também este inesperado formato tri-televisivo foi planeado?). Se estou certa, agora é tardíssimo para uma reacção. Podem acusar-me, comentadores da Aspirina B, ser demasiado adepta das teorias da conspiração. Pois acusem, mas eu não esqueço as farsas da Intentona de Belém, Freeport e Face Oculta. Não é por acaso que Vara foi envolvido na Operação Marquês e os seus promotores nem se deram ao cuidado de disfarçar, tão seguros estavam que Costa não ia reagir. Eles sabiam que, ao prender Sócrates, amarravam ao tronco o novo Secretário Geral do PS. Foi “limpinho, limpinho”. Fim de regime à vista. Quem sabe não virá depois a clarificação e, com ela, uma geração de gente corajosa! Meio milhão de emigrantes em 4 anos mostram bem até que ponto a desilusão é grande. “Virão um dia, ricos ou não”?»
Tão cedo passa
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
[ODES, Ricardo Reis, ed. Ática, Lx 1981.]
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
[ODES, Ricardo Reis, ed. Ática, Lx 1981.]
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
Há muitos anos
Nenhum país resiste, sem danos irreparáveis, ao governo de quatro anos dum bando de videirinhos, ignorantes, revanchistas, aldrabões e cobardes, como o de Passos e Portas.
Já se disse aqui mil vezes, e uma última se diz, à atenção dos distraídos: há muitos anos é o PPD actor primeiro no palco da tragédia nacional, que não ocupa sozinho. Nunca foi tão transparente como é hoje.
Já se disse aqui mil vezes, e uma última se diz, à atenção dos distraídos: há muitos anos é o PPD actor primeiro no palco da tragédia nacional, que não ocupa sozinho. Nunca foi tão transparente como é hoje.
Com quem te foste meter!
Truculento, inconformado, poeta, alistou-se na Marinha. Um dia desertou.
Foi desterrado para Goa, a do Padroado do Oriente.
terça-feira, 15 de setembro de 2015
Migrações
As causas, as consequências, e as múltiplas questões que entram no jogo. Vistas doutra forma.
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Produtividade
Gingante alla John Waine, de fósforo espetado nas beiçolas, o cowboy de quatro anos entra em casa e
sai de Colt nas unhas.
Vai direito ao Lucky Luke, que tem seis, e desmantela-lhe os cornos com um
balázio.
É um episódio da guerra pelas liberdades
sagradas, pelo peso cultural das tradições, pela defesa pessoal dum território,
pelas ganhuças do lóbi dos armamentos.
Não falta por aí quem bem se esforce a copiar
tais modelos. Mas duvido que alguém possa competir com a espantosa produtividade
da sociedade da América.
Dívida soberana
Nunca nos tínhamos visto. E ela albergou-me durante longo tempo, regressado dum exílio político conturbado. Era uma prática solidária dela, repetida. A mim salvou-me dum naufrágio mais que certo.
Aos poucos a vida reconstruiu-se. Abriu rumos renovados que era urgente percorrer. Mas havia ali uma dívida impossível de pagar. E eu, desmunido devedor, pretendi restruturá-la, conforme agora se diz. Mantendo inteiro o campo dos afectos.
Ela assumiu o papel do mau credor. Fez-me saber que se eu não fosse dela não era de mais ninguém.
O que depois sobreveio foi menos edificante. E só restaram no balanço activos tóxicos.
Aos poucos a vida reconstruiu-se. Abriu rumos renovados que era urgente percorrer. Mas havia ali uma dívida impossível de pagar. E eu, desmunido devedor, pretendi restruturá-la, conforme agora se diz. Mantendo inteiro o campo dos afectos.
Ela assumiu o papel do mau credor. Fez-me saber que se eu não fosse dela não era de mais ninguém.
O que depois sobreveio foi menos edificante. E só restaram no balanço activos tóxicos.
Saudoso já
Saudoso já deste Verão que vejo,
Lágrimas para as flores dele emprego
Na lembrança invertida
De quando hei-de perdê-las.
Transpostos os portais irreparáveis
De cada ano, me antecipo a sombra
Em que hei-de errar, sem flores,
No abismo rumoroso.
E colho a rosa porque a sorte manda.
Marcenda, guardo-a; murche-se comigo
Antes que com a curva
Diurna da ampla terra.
[ODES, Ricardo Reis, Ed. Ática, Lx 1981]
Lágrimas para as flores dele emprego
Na lembrança invertida
De quando hei-de perdê-las.
Transpostos os portais irreparáveis
De cada ano, me antecipo a sombra
Em que hei-de errar, sem flores,
No abismo rumoroso.
E colho a rosa porque a sorte manda.
Marcenda, guardo-a; murche-se comigo
Antes que com a curva
Diurna da ampla terra.
[ODES, Ricardo Reis, Ed. Ática, Lx 1981]
domingo, 13 de setembro de 2015
Tempos
O andor tem vinte metros de altura, pesa oito toneladas. E só braços possantes o conseguem mover. Oitenta pares deles. Pois desabou uma peça da armação. Morreu um homem de 50 anos e outros ficaram feridos, pobres deles.
Que andam aí os tempos do Anticristo já nós tínhamos notado!
Que andam aí os tempos do Anticristo já nós tínhamos notado!
Ressaca
Este pensador-cronista só se distingue de outros mixordeiros que aí andam, porque o seu caso particular é de ressaca. Escreve sobre o país, opina sobre a história dele, mas não distingue nela os séculos. Amalgama e ensaca o 16, e o 17, e o 18. detém-se no 19, alonga-se no 20, especula sobre o 21, e só pára no dia 4 de Outubro que aí vem. Os servicinhos que ele presta a quem lhes paga são iguais. Puta que os pariu!
«Na ponta da Europa, isolado pela ameaça da Espanha, Portugal tomou sempre como exemplo os países do Norte e foi nesses países que procurou o que devia ser. A política portuguesa copiou a política francesa, o pensamento copiou o pensamento francês e, em grosso, a literatura francesa.
O que nós, no fundo, queríamos ser era um modelo do que se chamava um país próspero e ordeiro, como Paris nos dizia que fôssemos. Havia, no entanto, uma pequena dificuldade: não tínhamos dinheiro, excepto o que até ao fim do século XIX nos vinha do Brasil, o que pedíamos emprestado à banca internacional e as remessas da emigração. Quando a Ditadura caiu, o cidadão comum não
pensava em África (e muito menos no Império), pensava nos salários da Alemanha, no Estado social da Suécia, na suavidade fiscal do Luxemburgo e no parlamentarismo da última república que De Gaulle higienicamente eliminara.
Os fundos de Bruxelas atenuaram durante 30 anos de alguma tranquilidade e progresso a insatisfação indígena, enquanto pelo meio o “cavaquismo” na sua língua-de-trapos proclamava falsamente que Portugal “estava na moda” ou no “pelotão da frente”. Mas, retórica à parte, o país não crescia e continuava longe da modernidade, da riqueza e da independência mítica com que os portugueses
sonhavam desde o princípio de Novecentos. À superfície, a imitação do modelo europeu ia enganando os mais crédulos, mas não enganava quem não ignorava a verdadeira situação do país. O castelo de cartas da nossa tão gabada democracia não aguentaria o menor solavanco.
E o solavanco veio em 2008-2010, mostrando a miserável realidade das coisas, como já mostrara em 1807, com a invasão francesa e o fim do monopólio comercial com o Brasil; e em 1890-93, com o ultimato dos credores. Os portugueses foram outra vez separados das suas fantasias. Só que uma parte deles não desistiu de uma ilusão de séculos e continuou a imaginar que o desastre era a obra de forças maléficas, que a salvífica intervenção do povo iria liquidar. Sem um tostão e com muita propaganda, andam ainda por aí e gozam de uma certa respeitabilidade. Mas nunca mudarão nada, como não
mudaram os liberais, nem os republicanos, nem a extrema-esquerda em 1975. O Portugal mágico de felicidade e de justiça só vive no fanatismo deles. Ganhem ou não ganhem em 4 de Outubro, o destino deles (como o nosso) não será agradável.»
[VPV, PÚBLICO]
«Na ponta da Europa, isolado pela ameaça da Espanha, Portugal tomou sempre como exemplo os países do Norte e foi nesses países que procurou o que devia ser. A política portuguesa copiou a política francesa, o pensamento copiou o pensamento francês e, em grosso, a literatura francesa.
O que nós, no fundo, queríamos ser era um modelo do que se chamava um país próspero e ordeiro, como Paris nos dizia que fôssemos. Havia, no entanto, uma pequena dificuldade: não tínhamos dinheiro, excepto o que até ao fim do século XIX nos vinha do Brasil, o que pedíamos emprestado à banca internacional e as remessas da emigração. Quando a Ditadura caiu, o cidadão comum não
pensava em África (e muito menos no Império), pensava nos salários da Alemanha, no Estado social da Suécia, na suavidade fiscal do Luxemburgo e no parlamentarismo da última república que De Gaulle higienicamente eliminara.
Os fundos de Bruxelas atenuaram durante 30 anos de alguma tranquilidade e progresso a insatisfação indígena, enquanto pelo meio o “cavaquismo” na sua língua-de-trapos proclamava falsamente que Portugal “estava na moda” ou no “pelotão da frente”. Mas, retórica à parte, o país não crescia e continuava longe da modernidade, da riqueza e da independência mítica com que os portugueses
sonhavam desde o princípio de Novecentos. À superfície, a imitação do modelo europeu ia enganando os mais crédulos, mas não enganava quem não ignorava a verdadeira situação do país. O castelo de cartas da nossa tão gabada democracia não aguentaria o menor solavanco.
E o solavanco veio em 2008-2010, mostrando a miserável realidade das coisas, como já mostrara em 1807, com a invasão francesa e o fim do monopólio comercial com o Brasil; e em 1890-93, com o ultimato dos credores. Os portugueses foram outra vez separados das suas fantasias. Só que uma parte deles não desistiu de uma ilusão de séculos e continuou a imaginar que o desastre era a obra de forças maléficas, que a salvífica intervenção do povo iria liquidar. Sem um tostão e com muita propaganda, andam ainda por aí e gozam de uma certa respeitabilidade. Mas nunca mudarão nada, como não
mudaram os liberais, nem os republicanos, nem a extrema-esquerda em 1975. O Portugal mágico de felicidade e de justiça só vive no fanatismo deles. Ganhem ou não ganhem em 4 de Outubro, o destino deles (como o nosso) não será agradável.»
[VPV, PÚBLICO]
Vénus
A estrela da manhã, a estrela da tarde, a estrela do pastor... nunca a vi tão luminosa como esta madrugada, à ilharga da Orion. Era uma candeia acesa no céu da alvorada, na dúbia média-luz do nosso quarto minguante.
sábado, 12 de setembro de 2015
Um tantinho de nozes
Angelina tem mais de setenta anos e vive
em Dine, que é o lugar onde nasceu. É uma aldeia com fornos de cal, abandonados
há muito. E fica atrás do derradeiro monte que limita os fins do mundo.
Chega-se lá depois de passar muitas encruzilhadas, e é um lugar tão bonito que
nem apetece deixá-lo.
É aqui que Angelina vive, com uma cadela
que se chama Luna. Ouve uma pessoa um nome assim e põe-se logo a fazer
perguntas ao instinto.
A seu tempo foi Angelina mãe solteira,
duma filha que vive na cidade. Trabalha no comércio, a rapariga, e Angelina
está toda contente. Gosta mais de a ver longe neste ofício, do que perto a
labutar no campo. Ressalvando a tristeza comum de se encontrarem só de horas em
quando. Mas um dia há-de-lhe dar uma netinha.
Angelina vive perto da fontana, ao lado
duma represa que também serve de tanque de lavar. E quando chega o Natal faz um
presépio ali no jardinzito, para alegria e animação do povo. A casa fica além,
debaixo da parreira, e vivem hoje nela a dona e a cadela, conforme antigamente lá
viviam a filha e a mãe já velha. Sempre que voltava a casa, Angelina punha-se a
fingir a voz duma vizinha, às punhaladas na porta com recados urgentes. – Oh
que assim és tontinha, minha filha! – E riam ambas no fim.
Ao contrário do resto da aldeia Angelina
não anda de preto, porque não é viúva. E por sobre ser uma mulher com ar
alegre, tem um espírito aberto, dado e solto. O melhor será chamar-lhe livre,
porque o é. Ninguém lho amansou, que é o que sucede as mais das vezes, quando
passa por cima das mulheres o rolo compressor da conjugalidade.
À despedida oferece-nos um tantinho
de nozes e castanhas. E confessa que, por esse mundo além, só lhe agradava ver
a árvore de Natal numa praça do Porto. Dizem na televisão que não há outra
maior, e ela acredita.
Previsões
4. UM PROCESSO QUE CUSTARÁ IMENSO SANGUE
"Estou muito preocupado, não por mim, mas pelos meus netos. Escrevi-o há 30 anos: o que se passa no mundo não é um fenómeno de imigração, mas de migração. A migração produz a cor da Europa. Quem aceitar esta ideia, muito bem. Quem não a aceitar, pode ir suicidar-se. A Europa irá mudar de cor, tal como os Estados Unidos. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue. A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos. Portanto, vai acontecer algo terrível antes de se encontrar um novo equilíbrio. Há um ditado chinês que diz: 'Desejo-te que vivas numa era interessante'. Nós estamos a viver numa era interessante." [Humberto Eco]
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
"A sociedade do privilégio"
Não se nota que o marmanjo seja cultivado, nem particularmente ilustrado. Conhece mal a história do país, e em bom rigor não domina os recursos da língua em que se exprime. Porque os livros que leu são os que não existem.
Foi aí gestor duma empresa, num esquema montado por uma seita para chamar a si uns fundos europeus da formação: mil técnicos de autarquias haveriam de aprender a gerir uns aerodrómos perdidos no sertão, quando não eram simplesmente imaginários.
Cresceu nas alfurjas da juventude social-democrata, aprendeu uns truques nela. E no estertor do longo cavaquismo, tomou conta dos restos do partido. Hoje nenhum dos ínclitos barões lhe passa qualquer cartão.
O seu governo deixa o caos na Justiça. Degradou os serviços na Saúde. Arruinou sem remédio a Escola pública. Lançou borda fora a Ciência e a Universidade. Abandonou projectos e percursos na Inovação e Tecnologia. Desorganizou serviços públicos. Passou a patacos, miseravelmente, o património da nação. Precarizou as condições do trabalho e soltou a rédea ao desemprego. Empurrou centenas de milhares para a emigração. Abriu portas ao desespero e à miséria de milhões de portugueses. Instalou a vesânia entre gerações. Atraiçoou a pátria como títere das elites. Mentiu até ao absurdo, aumentou impostos, confiscou salários e pensões e não reduziu a dívida. Mas aviltou o Estado, porque "quanto menos estado, melhor estado", diz a falhada cartilha neoliberal.
Acossado, arma-se de farronca para nos dizer que ali "mora muita força"; que há "determinação e ideias para o futuro"; que a "sociedade do privilégio já começou a ceder".
De que "sociedade de privilégio" falará este marmanjo? A do ultra-liberalismo, que não pretende outra coisa senão reproduzir a escravatura do antigo regime? Ideologia pura!
Foi aí gestor duma empresa, num esquema montado por uma seita para chamar a si uns fundos europeus da formação: mil técnicos de autarquias haveriam de aprender a gerir uns aerodrómos perdidos no sertão, quando não eram simplesmente imaginários.
Cresceu nas alfurjas da juventude social-democrata, aprendeu uns truques nela. E no estertor do longo cavaquismo, tomou conta dos restos do partido. Hoje nenhum dos ínclitos barões lhe passa qualquer cartão.
O seu governo deixa o caos na Justiça. Degradou os serviços na Saúde. Arruinou sem remédio a Escola pública. Lançou borda fora a Ciência e a Universidade. Abandonou projectos e percursos na Inovação e Tecnologia. Desorganizou serviços públicos. Passou a patacos, miseravelmente, o património da nação. Precarizou as condições do trabalho e soltou a rédea ao desemprego. Empurrou centenas de milhares para a emigração. Abriu portas ao desespero e à miséria de milhões de portugueses. Instalou a vesânia entre gerações. Atraiçoou a pátria como títere das elites. Mentiu até ao absurdo, aumentou impostos, confiscou salários e pensões e não reduziu a dívida. Mas aviltou o Estado, porque "quanto menos estado, melhor estado", diz a falhada cartilha neoliberal.
Acossado, arma-se de farronca para nos dizer que ali "mora muita força"; que há "determinação e ideias para o futuro"; que a "sociedade do privilégio já começou a ceder".
De que "sociedade de privilégio" falará este marmanjo? A do ultra-liberalismo, que não pretende outra coisa senão reproduzir a escravatura do antigo regime? Ideologia pura!
9/11
Um dia viremos a saber com rigor o que isso foi. Quem o mandou, quem o fez, e com que fins.
Esse dia ainda vem longe, mas já faltou muito mais.
Esse dia ainda vem longe, mas já faltou muito mais.
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Devaneios
As andorinhas foram levantando ferro, quem sabe quantas já cruzaram o estreito. E ontem à tarde, sossegava o dia, vieram ao alpendre meia dúzia delas. Entraram e saíram, capricharam nos volteios, acenaram adeuses, afinaram a bússola e lá foram. Hoje não resta nenhuma.
Dá-me jeito pensar em despedidas, dos pais e dos cinco filhos que se criaram aqui. Serão devaneios meus!
Dá-me jeito pensar em despedidas, dos pais e dos cinco filhos que se criaram aqui. Serão devaneios meus!
Mensagens substantivas
Esta é assinada por baixo, pelo punho dum Ten.General. Transcreve-se com vénia e em sentido:
«Data: 04/09/2015 15:50
Assunto: Re: Ministério da Defesa Nacional | DEFESA 2020
Senhores,
Dispenso propaganda do MDN na minha caixa de correio.
A politica sistemática de desconstrução das Forças Armadas e o desrespeito permanente pelos militares, no âmbito dos seus direitos consagrados na Lei, fazem deste MDN e dos seus acólitos militares a expressão mais acabada do desprezo e da ignorância sobre a politica de Defesa Nacional do País.
Perante isto, é atentatório da inteligência e do bom senso, e ofensivo até, a lavagem que este MDN pretende fazer da política de baixa extracção e de sanha persecutória aos militares e às FA, que a propalada agenda 2020 pretende fazer.»
Assunto: Re: Ministério da Defesa Nacional | DEFESA 2020
Senhores,
Dispenso propaganda do MDN na minha caixa de correio.
A politica sistemática de desconstrução das Forças Armadas e o desrespeito permanente pelos militares, no âmbito dos seus direitos consagrados na Lei, fazem deste MDN e dos seus acólitos militares a expressão mais acabada do desprezo e da ignorância sobre a politica de Defesa Nacional do País.
Perante isto, é atentatório da inteligência e do bom senso, e ofensivo até, a lavagem que este MDN pretende fazer da política de baixa extracção e de sanha persecutória aos militares e às FA, que a propalada agenda 2020 pretende fazer.»
Sabores
Fazer a caminhada matinal, parar à beira dum silvado, encher um frasco de amoras silvestres e trazê-las para casa, tem tanto significado como esmiuçar ensaios filosóficos sobre a natureza humana, sobre o sentido da vida ou os mistérios do universo.
E dão ao pequeno-almoço um sabor muito melhor.
E dão ao pequeno-almoço um sabor muito melhor.
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
O resto
Enquanto governante, o pobre do Coelho nunca fez outra coisa senão cavalgar as duas rodas da mesma bicicleta: Sócrates levou o país à ruína, até ficar de joelhos perante a malvada troika.
São rodas ferrugentas e empenadas, por serem as duas falsas. E só podiam levá-lo a estatelar-se.
O resto, que é muito, compete agora aos portugueses.
São rodas ferrugentas e empenadas, por serem as duas falsas. E só podiam levá-lo a estatelar-se.
O resto, que é muito, compete agora aos portugueses.
Emprenhar de ouvido
Sondagens são aquilo que o nome indica: auscultações. E antes disso são negócio.
Num país de grande iliteracia, abandonado ao massacre da televisão generalista, podem ser um pesado mecanismo de propaganda e condicionamento.
Por isso emprenhar de ouvido não é conveniente. Nem dá gozo!
Num país de grande iliteracia, abandonado ao massacre da televisão generalista, podem ser um pesado mecanismo de propaganda e condicionamento.
Por isso emprenhar de ouvido não é conveniente. Nem dá gozo!
"Há um tempo para tudo."
"Neste momento, o que mais importa é que todos aqueles que se batem por uma alternativa política de mudança saibam que estou do seu lado".
Só asnos ou pulhas imaginavam outra coisa!
Só asnos ou pulhas imaginavam outra coisa!
"... é o PS o grande culpado"
«A gestão da legislatura de Sócrates que o PS fez foi desastrosa deste a primeira hora. A gestão do assunto Operação Marquês seguia a mesma linha.
Chega a ser confrangedor a dificuldade que o PS manifesta na discussão destes assuntos, o que para mim é um mistério, de tão simples que seria uma gestão correcta e equilibrada.
Primeiro começou com o traidor do Seguro a tentar mostrar ao mundo que ele era diferente de toda a gente e que nunca tinha estado envolvido na política nem nunca tinha sido deputado. A única estratégia de Seguro era diabolizar Sócrates e o anterior governo o que, por evidentes razões, era uma estratégia aplaudida pela direita e evidentemente suicida.
Agora Costa vai na onda da comunicação social, deixa-se enredar pelos soundbytes da direita e anda sempre assustado, com medo que toquem no assunto Sócrates.
Não sei quem é o estratega do PS mas de uma coisa tenho a certeza, é uma merda!
Vamos lá a ver o que devia ter sido feito desde o primeiro dia desta legislatura e ainda pode ser feito:
1- Analisar a legislatura de Sócrates e evidenciar, até à morte, o que de bom foi feito, ponto por ponto, e não pela rama.
2- Assumir os erros que foram cometidos, mas os erros reais e documentáveis, não o tipo de conversa de “levaram o país à falência”, e “roubaram-nos”. Factos senhores, factos.
3- A questão da Operação Marquês é um problema pessoal de Sócrates, mas a amizade está acima de tudo. Ninguém confia em alguém que sacrifica a amizade pelo poder. Confiar na justiça, manifestar convicção na inocência do arguido e esperar que isso possa ser provado. Se for considerado culpado lamentar o facto. Sócrates não é o PS nem vice-versa.
Exige trabalho e carácter mas isso são características fundamentais para quem quer governar um país.
Se esta direita ganhar as eleições é o PS o grande culpado.»
[lido aqui em comentários]
Chega a ser confrangedor a dificuldade que o PS manifesta na discussão destes assuntos, o que para mim é um mistério, de tão simples que seria uma gestão correcta e equilibrada.
Primeiro começou com o traidor do Seguro a tentar mostrar ao mundo que ele era diferente de toda a gente e que nunca tinha estado envolvido na política nem nunca tinha sido deputado. A única estratégia de Seguro era diabolizar Sócrates e o anterior governo o que, por evidentes razões, era uma estratégia aplaudida pela direita e evidentemente suicida.
Agora Costa vai na onda da comunicação social, deixa-se enredar pelos soundbytes da direita e anda sempre assustado, com medo que toquem no assunto Sócrates.
Não sei quem é o estratega do PS mas de uma coisa tenho a certeza, é uma merda!
Vamos lá a ver o que devia ter sido feito desde o primeiro dia desta legislatura e ainda pode ser feito:
1- Analisar a legislatura de Sócrates e evidenciar, até à morte, o que de bom foi feito, ponto por ponto, e não pela rama.
2- Assumir os erros que foram cometidos, mas os erros reais e documentáveis, não o tipo de conversa de “levaram o país à falência”, e “roubaram-nos”. Factos senhores, factos.
3- A questão da Operação Marquês é um problema pessoal de Sócrates, mas a amizade está acima de tudo. Ninguém confia em alguém que sacrifica a amizade pelo poder. Confiar na justiça, manifestar convicção na inocência do arguido e esperar que isso possa ser provado. Se for considerado culpado lamentar o facto. Sócrates não é o PS nem vice-versa.
Exige trabalho e carácter mas isso são características fundamentais para quem quer governar um país.
Se esta direita ganhar as eleições é o PS o grande culpado.»
[lido aqui em comentários]
Esta pêssega!
Sabe muito bem que não há efeito sem causa. Sabe que a Nato, ao serviço da América, andou na Líbia à caça do Kadhafi para o entregar aos rebeldes da Primavera Árabe, que o sodomizaram depois de morto.
Sabe que a Europa não foi parceiro no crime. Alguns sim, como o Blair e o Aznar, mais o valete Barroso que trouxe os cafés à mesa na cimeira dos Açores.
Ela sabe muito bem que foi o bêbado Bush, um títere das oligarquias americanas apoiado nos poderes do Patriot Act e no combate ao Terror, engendrados com a implosão das Torres Gémeas, quem de imediato atacou o Afeganistão e invadiu o Iraque, com apoio exclusivo de Blair.
Ela sabe mas não diz. Mais lhe convém dar uma no cravo e outra na ferradura.
Sabe que a Europa não foi parceiro no crime. Alguns sim, como o Blair e o Aznar, mais o valete Barroso que trouxe os cafés à mesa na cimeira dos Açores.
Ela sabe muito bem que foi o bêbado Bush, um títere das oligarquias americanas apoiado nos poderes do Patriot Act e no combate ao Terror, engendrados com a implosão das Torres Gémeas, quem de imediato atacou o Afeganistão e invadiu o Iraque, com apoio exclusivo de Blair.
Ela sabe mas não diz. Mais lhe convém dar uma no cravo e outra na ferradura.
E é isto!
(Recebido de JJRoseira)
«Are you confused by what is going on in the Middle East? Let me explain.
«Are you confused by what is going on in the Middle East? Let me explain.
We support the Iraqi government in the fight against Islamic State. We don't like IS, but IS is supported by Saudi Arabia, whom we do like.
We don't like President Assad in Syria. We support the fight against him, but not IS, which is also fighting against him.
We don't like Iran, but Iran supports the Iraqi government against IS. So, some of our friends support our enemies and some of our enemies are our friends, and some of our enemies are fighting against our other enemies, whom we want to lose, but we don't want our enemies who are fighting our enemies to win.
If the people we want to defeat are defeated, they might be replaced by people we like even less. And all this was started by us invading a country to drive out terrorists who weren't actually there until we went in to drive them out.
Do you understand now?
AUBREY BAILEY, Fleet, Hants.
AUBREY BAILEY, Fleet, Hants.
[Você está confuso com o que está a acontecer no Médio Oriente? Deixe-me explicar.
Nós apoiamos o governo iraquiano na luta contra o Estado Islâmico. Nós não gostamos do EI, mas o EI é apoiado pela Arábia Saudita, de quem nós gostamos (e de quem dependemos muito, por causa do comércio do petróleo em dólares).
Nós não gostamos do Presidente Assad, da Síria. Apoiamos a luta contra ele, mas não apoiamos o EI, que contra ele também luta.
Nós não gostamos do Irão, mas o Irão apoia o governo iraquiano contra o EI.
Quer dizer, alguns dos nossos amigos apoiam os nossos inimigos, e alguns dos nossos inimigos são nossos amigos; e alguns dos nossos inimigos lutam contra outros nossos inimigos que nós queremos que percam; mas não queremos que ganhem os nossos inimigos que lutam contra esses nossos inimigos.
Se as pessoas que queremos derrotar forem derrotadas, elas podem ser substituídas por pessoas de quem nós gostamos ainda menos. E tudo isso foi iniciado por nós, que invadimos um país para expulsar os terroristas que na realidade não estavam lá, até nós lá termos entrado para os expulsar.
Entendeu agora?]
Nós apoiamos o governo iraquiano na luta contra o Estado Islâmico. Nós não gostamos do EI, mas o EI é apoiado pela Arábia Saudita, de quem nós gostamos (e de quem dependemos muito, por causa do comércio do petróleo em dólares).
Nós não gostamos do Presidente Assad, da Síria. Apoiamos a luta contra ele, mas não apoiamos o EI, que contra ele também luta.
Nós não gostamos do Irão, mas o Irão apoia o governo iraquiano contra o EI.
Quer dizer, alguns dos nossos amigos apoiam os nossos inimigos, e alguns dos nossos inimigos são nossos amigos; e alguns dos nossos inimigos lutam contra outros nossos inimigos que nós queremos que percam; mas não queremos que ganhem os nossos inimigos que lutam contra esses nossos inimigos.
Se as pessoas que queremos derrotar forem derrotadas, elas podem ser substituídas por pessoas de quem nós gostamos ainda menos. E tudo isso foi iniciado por nós, que invadimos um país para expulsar os terroristas que na realidade não estavam lá, até nós lá termos entrado para os expulsar.
Entendeu agora?]
terça-feira, 8 de setembro de 2015
O que havemos nós de ser
Se não soubermos aquilo que foi, nunca entenderemos o que a vida é nem aquilo que nós somos.
Menos ainda o que havemos de ser.
Um pensador "insuspeito" atacado por dúvidas
« (...) Houve mesmo “claustrofobia democrática” sob Sócrates, como uma vez disse Paulo Rangel? A pergunta não tem interesse apenas para a história de um governo. É que se Sócrates foi mesmo uma espécie de Putin sem petróleo, há que lembrar que o seu reinado só acabou quando a crise da dívida em 2011 lhe tirou os meios de fazer pagamentos e promover negócios. O fim do socratismo não foi uma questão de resistência cívica, mas de tesouraria. (...)»
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
"Por muito que apeteça mandar tudo isto às malvas, não pode ser."
«É preciso não desistir e agir em tempo útil. A direita tem que ser derrotada em 4 de Outubro.»
domingo, 6 de setembro de 2015
Não se vê
A mulher vivia com os cinco filhos num tugúrio do neandertal. Um dia bateu à porta e pediu: - Dê-me que fazer e dê-me de comer; senão morremos à fome!
E passou a ir todos os dias, ladeira acima e abaixo, buscar à cabeça o cântaro do leite dum rebanho que vivia além na cumeada.
Há-de parecer que era assim há uma eternidade, que tinha mudado muito a nossa vida. Mas foi ontem. Hoje voltou a sê-lo e não se vê.
E passou a ir todos os dias, ladeira acima e abaixo, buscar à cabeça o cântaro do leite dum rebanho que vivia além na cumeada.
Há-de parecer que era assim há uma eternidade, que tinha mudado muito a nossa vida. Mas foi ontem. Hoje voltou a sê-lo e não se vê.
Peripécias exemplares
Em 1967, estes dois F-4 Phantom foram atingidos pela artilharia antiaérea que protegia Hanoi. Ambos estavam a perder combustível, com fuga particularmente severa no que vemos em primeiro plano. Essa perda não permitiria chegar ao Laos (onde o salvamento por meios amigos teria fortes hipóteses em caso de ejecção). E muito menos à Tailândia, onde se encontrava a base de partida.A aeronave estava equipada com gancho de retenção de cauda, característico da aterragem em porta-aviões. E foi assim que o companheiro em segundo plano o empurrou com o nariz, durante cem milhas, num exercício de pura adrenalina e muito jeito. No fim ejectaram-se todos, em zona onde puderam ser recolhidos pelos meios de busca e salvamento.
sábado, 5 de setembro de 2015
"Democracia cultural"
« (...) Humberto Eco é sempre citado e referido para lhe ser dada razão e fazer soar o aplauso. Ele já
teria morrido de medo e privação, se deixasse de escutar a aclamação unânime tanto das massas
integradas como das elites fugidas ao apocalipse.
A grande proeza “vanguardista” de Eco foi a de ter consagrado a cultura de massas e estabelecido uma paz perpétua entre a elite e a massa. Com enorme vocação demagógica e génio para o exercício da homologação, ele propôs-nos que as mais profanas comédias dos best-sellers contemporâneos são tão excitantes e dignas como a Divina Comédia; e que isso da ciência dos signos é tão interessante e profundo nos Estóicos como num romance policial; e que nos espera uma felicidade imensa, capaz de esconjurar a maldição apocalíptica, se lermos a Madame Bovary como um romance de aventuras.
Ele instaurou com êxito o grande regime da grande tolerância cultural, da culturalização generalizada, precisamente aquela onde prosperam as formas da nova barbárie. E é esta indiferenciação cultural, expurgada de toda a imprecação e de todo o furor, de toda a crítica e resistência política, que suscita o aplauso e incute a ilusão de actualidade.
As categorias dos apocalípticos e dos integrados serviram a Eco para dar caução teórica à sua vocação de comediante e enciclopedista estéril. Mas serviram também para se apresentar como um mágico da nivelação de público, de géneros e até de profissões: nivelação do kitsch com a vanguarda, fusão do jornalista com o universitário, do grande teórico e erudito com o showman que se dá como atracção a uma “classe média” planetária, que alimenta uma devastadora "democracia cultural”. (...)»
[António Guerreiro, in Ipsilon]
teria morrido de medo e privação, se deixasse de escutar a aclamação unânime tanto das massas
integradas como das elites fugidas ao apocalipse.
A grande proeza “vanguardista” de Eco foi a de ter consagrado a cultura de massas e estabelecido uma paz perpétua entre a elite e a massa. Com enorme vocação demagógica e génio para o exercício da homologação, ele propôs-nos que as mais profanas comédias dos best-sellers contemporâneos são tão excitantes e dignas como a Divina Comédia; e que isso da ciência dos signos é tão interessante e profundo nos Estóicos como num romance policial; e que nos espera uma felicidade imensa, capaz de esconjurar a maldição apocalíptica, se lermos a Madame Bovary como um romance de aventuras.
Ele instaurou com êxito o grande regime da grande tolerância cultural, da culturalização generalizada, precisamente aquela onde prosperam as formas da nova barbárie. E é esta indiferenciação cultural, expurgada de toda a imprecação e de todo o furor, de toda a crítica e resistência política, que suscita o aplauso e incute a ilusão de actualidade.
As categorias dos apocalípticos e dos integrados serviram a Eco para dar caução teórica à sua vocação de comediante e enciclopedista estéril. Mas serviram também para se apresentar como um mágico da nivelação de público, de géneros e até de profissões: nivelação do kitsch com a vanguarda, fusão do jornalista com o universitário, do grande teórico e erudito com o showman que se dá como atracção a uma “classe média” planetária, que alimenta uma devastadora "democracia cultural”. (...)»
[António Guerreiro, in Ipsilon]
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
O preso 44 no EPE deixou de o ser
E eu, enquanto cidadão, rejubilo.
Mas sobram-me duas perguntas e uma perplexidade:
- quando é que a justiça lavra uma sentença sobre as acusações com que o difamou, falseada seja ela?
- que veredas seguirão as elites indígenas para prosseguir a campanha do ódio a Sócrates, ininterrupta desde as eleições de 2005?
- não ajuízo acerca das implicações políticas e eleitorais deste facto, sobre o Costa e o PS.
Mas sobram-me duas perguntas e uma perplexidade:
- quando é que a justiça lavra uma sentença sobre as acusações com que o difamou, falseada seja ela?
- que veredas seguirão as elites indígenas para prosseguir a campanha do ódio a Sócrates, ininterrupta desde as eleições de 2005?
- não ajuízo acerca das implicações políticas e eleitorais deste facto, sobre o Costa e o PS.
Fazer-se de morto
A morte é uma bicha implacável, não tolera aldrabices nem ronhas. Um triste morto só consegue fazer-se de morto.
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Profecias
O maurício picapau foi tipógrafo durante um ror de anos. Fartou-se de esquadriar linguados no linótipo, já via tudo mais pardo que o chumbo dos caracteres. Costumava passar todos os dias no jardim de são lázaro, abria os olhos para o céu alto e deleitava-se com a majestade das copas das tílias. Pareciam mesmo árvores da pomerânia.
De há uns tempos para cá, começou a andar de cabeça baixa e ar consumido. Os computadores entraram na gráfica ideal e desataram a fazer o trabalho com uma prontidão nunca vista. Primeiro o maurício ficou regalado, depois ficou perplexo, e finalmente aflito. Mas o pior sucedeu no dia em que o patrão falou da flexibilização do trabalho pela primeira vez. O rapaz levou o lenço tabaqueiro aos olhos, talvez para estancar uma emoção inoportuna, e deu conta de que estava a crescer-lhe um bico na ponta do nariz.
A situação agravou-se com o tempo, à medida que o patrão entrou a falar de globalização, de deslocalização e de coisas assim. O bico do nariz cresceu-lhe descontroladamente, e o velho tipógrafo acabou mesmo despedido, por clara inadequação para o serviço.
Depois disso, o picapau continuou a fazer todos os dias o trajecto de sempre, mas nunca foi além do jardim de são lázaro. Mirava de longe os velhos reformados que lhe estranhavam a fisionomia, às vezes subia o olhar pela majestade das tílias e pensava na família, pensava na ordem de despejo por falha da renda, pensava numa solução para a vida. Até que um dia deixou avançar a tarde, marinhou pela tília mais alta, e passou a noite a escavar uma toca numa forquilha aconchegada.
Na manhã seguinte mudou-se para lá com a mulher. A entrada é acanhada, de tão redonda, e o nariz é complicado de arrumar lá dentro. Mas há males que vêm por bem, com este inverno de chuva que anda por aí.
[O Mensário do Corvo, ed. Quasi, V.N.Famalicão, 2002]
De há uns tempos para cá, começou a andar de cabeça baixa e ar consumido. Os computadores entraram na gráfica ideal e desataram a fazer o trabalho com uma prontidão nunca vista. Primeiro o maurício ficou regalado, depois ficou perplexo, e finalmente aflito. Mas o pior sucedeu no dia em que o patrão falou da flexibilização do trabalho pela primeira vez. O rapaz levou o lenço tabaqueiro aos olhos, talvez para estancar uma emoção inoportuna, e deu conta de que estava a crescer-lhe um bico na ponta do nariz.
A situação agravou-se com o tempo, à medida que o patrão entrou a falar de globalização, de deslocalização e de coisas assim. O bico do nariz cresceu-lhe descontroladamente, e o velho tipógrafo acabou mesmo despedido, por clara inadequação para o serviço.
Depois disso, o picapau continuou a fazer todos os dias o trajecto de sempre, mas nunca foi além do jardim de são lázaro. Mirava de longe os velhos reformados que lhe estranhavam a fisionomia, às vezes subia o olhar pela majestade das tílias e pensava na família, pensava na ordem de despejo por falha da renda, pensava numa solução para a vida. Até que um dia deixou avançar a tarde, marinhou pela tília mais alta, e passou a noite a escavar uma toca numa forquilha aconchegada.
Na manhã seguinte mudou-se para lá com a mulher. A entrada é acanhada, de tão redonda, e o nariz é complicado de arrumar lá dentro. Mas há males que vêm por bem, com este inverno de chuva que anda por aí.
[O Mensário do Corvo, ed. Quasi, V.N.Famalicão, 2002]
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Uma tristeza, ou um país de falhados?!
«O Governo em funções, através do seu Ministro da Defesa – seguramente um dos piores
ministros desde que o cargo foi criado, em 1950 – decidiu encerrar o Instituto de Odivelas (IO),
escola notável, centenária e de excelência.
A admissão de novas alunas foi interrompida este ano lectivo e as alunas existentes, que assim
o entendam, irão ser transferidas para o Colégio Militar, onde está a ser ultimada uma
camarata, para estabelecer a aberração da existência de um internato feminino e masculino de
menores, no mesmo espaço colegial. Edifício já cognominado pelos actuais alunos com o significativo nome de “maternidade”…
Este encerramento configura um crime cultural, educativo e patrimonial; antipatriótico e de vistas curtas. (...) Nele serão implicados os sucessivos políticos – quais bárbaros do “Estado Islâmico” - que provocaram o acto; as chefias militares que tremeram de coragem, na defesa pífia que fizeram das Instituições que tutelavam; as diferentes associações de pais e de antigos alunos, por causa da falta de entendimento que revelaram, ao não terem estabelecido uma acção comum e concertada, para fazer frente a esta verdadeira “invasão de Vândalos”. (...)
A Comunicação Social eivada de “ismos”, nunca transmitiu uma ideia equilibrada do que se estava a passar, ao passo que o comum dos cidadãos vive uma ignorância esfarrapada, relativamente a tudo o que é importante e se passa à sua volta.
Quanto ao inquilino de Belém, lá esteve no seu comportamento habitual de “falta de comparência a jogo”. Uma tristeza. (...)»
[Brandão Ferreira]
Este encerramento configura um crime cultural, educativo e patrimonial; antipatriótico e de vistas curtas. (...) Nele serão implicados os sucessivos políticos – quais bárbaros do “Estado Islâmico” - que provocaram o acto; as chefias militares que tremeram de coragem, na defesa pífia que fizeram das Instituições que tutelavam; as diferentes associações de pais e de antigos alunos, por causa da falta de entendimento que revelaram, ao não terem estabelecido uma acção comum e concertada, para fazer frente a esta verdadeira “invasão de Vândalos”. (...)
A Comunicação Social eivada de “ismos”, nunca transmitiu uma ideia equilibrada do que se estava a passar, ao passo que o comum dos cidadãos vive uma ignorância esfarrapada, relativamente a tudo o que é importante e se passa à sua volta.
Quanto ao inquilino de Belém, lá esteve no seu comportamento habitual de “falta de comparência a jogo”. Uma tristeza. (...)»
[Brandão Ferreira]
Varoufakis
« (...) Os responsáveis chineses podem não responder perante um Parlamento democraticamente eleito ou um congresso. Mas as autoridades governamentais têm um órgão unitário - o comité permanente de sete membros do Politburo - ao qual eles devem responder pelos seus fracassos. A zona euro, por outro lado, é dirigida pelo oficialmente não oficial Eurogrupo, que compreende os ministros das Finanças dos Estados membros, representantes do BCE e, quando se discutem "programas económicos em que está envolvido", o Fundo Monetário Internacional.
Só muito recentemente, como resultado das intensas negociações do governo grego com os seus credores, os cidadãos europeus perceberam que a maior economia do mundo, a zona euro, é dirigida por um organismo que carece de regras escritas de procedimento, que debate sobre questões cruciais "confidencialmente" (e sem serem feitas atas) e que não é obrigado a responder perante qualquer órgão eleito, nem sequer o Parlamento Europeu.
(...) A nossa "Primavera de Atenas" foi sobre algo mais profundo: o direito de um pequeno país europeu de desafiar uma política fracassada que estava a destruir as perspectivas de uma geração (ou duas), não só na Grécia, mas também noutros lugares da Europa. (...)»
Extinção! É a palavra de ordem destes marginais!
«Em pleno mês de Agosto e a pouco mais de 1 mês das eleições legislativas, o MDN re-
solveu publicitar um projecto legislativo canhestro que visa extinguir o Laboratório Militar. Não é sério! O assunto é importante demais para as Forças Armadas, Farmácia Militar, Família Militar e trabalhadores do estabelecimento, para que se deixe passar sem uma reflexão e um grito de alarme!
É sabido que, durante a I Guerra Mundial, quando Portugal se tornou nação beligeran-
te, as Forças Armadas estavam mal instruídas e mal equipadas. Não foi difícil ao Gen.
Norton de Matos verificar que, entre muitas outras deficiências, faltava um órgão que
assegurasse a logística farmacêutica e, como Ministro da Guerra, criou a Farmácia
Central do Exército.
Chegado o tempo de paz, poderiam os governantes de então, extinguir aquele estabe-
lecimento. Mas foram inteligentes e seguiram a velha máxima de que é “na paz que se
prepara a guerra”. É, assim que, durante a II Guerra Mundial (1939-45), a FCE esteve
com as FA portuguesas em missão de soberania nas Ilhas Adjacentes e estabeleceu de-
legações nas colónias, dando apoio logístico-farmacêutico aos contingentes destacados.
No intervalo entre as 2 guerras, a FCE, para além da sua valência de reabastecimento,
dedicou-se ao que hoje se chama I&D: elaborou a IV Farmacopeia Portuguesa e as primeiras unidades de indústria farmacêutica civis existentes em Portugal foram cria-
das por farmacêuticos que pertenceram aos seus quadros e nela trabalharam e aprenderam.
As necessárias adaptações do Exército ao pós-guerra trouxeram novas estruturas aos Es-
tabelecimentos Produtores do Ministério da Guerra. Os EPMG passaram a designar-se Estabelecimentos Fabris do Exército (EFE) e a FCE transformou-se no Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), recebendo como legado todo o seu inestimável património, técnico, científico, cultural, organizacional e edificado, bem assim como as tradições da Farmácia Militar Portuguesa. (...)
Os EFE têm estatuto próprio: pertencendo ao Exército, têm autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Não dependem do Orçamento do Estado e, por isso, têm de gerar receitas para a sua vida corrente, incluindo vencimentos, manutenção e investimentos; as suas contas são controladas pelo Conselho Fiscal dos EFE, sem prejuízo do visto final pelo Tribunal de Contas. Vivem do seu trabalho, da sua marca (neste caso, “LM”), da sua produtividade e do cumprimento da missão.
O edifício sede do LMPQF foi por si mandado construir dentro dos padrões próprios da indústria farmacêutica, satisfazendo às Normas de Bom Fabrico aceites internacionalmente. A construção e equipamento foram por si pagos integralmente. É património próprio e faz parte do seu capital social.
Durante os 14 anos que durou Guerra Colonial (1961-75), o LMPQF esteve presente nos 3 teatros de operações abastecendo Unidades e Hospitais Militares dos 3 Ramos das Forças Armadas. Foi um esforço enorme para o pequeno número de farmacêuticos militares somente do Exército) quer a nível da produção de medicamentos e material de penso, quer do seu encaminhamento e entrega em destinos muitas vezes longínquos e sem transportes adequados. Foi consensual que, onde estivesse um militar, havia produtos “LM”. Finda a guerra, poderiam os governantes de então, extinguir este estabelecimento. Mas, inteligentes e avisados, mantiveram-no.
Após a descolonização, o LMPQF assumiu a responsabilidade de abastecer os hospitais civis da rede de saúde pública com medicamentos do Formulário Nacional de Medicamentos por si produzidos. Ainda recentemente, em Junho de 2013, o Ministro de Saúde considerou o LMPQF como alternativa à produção e abastecimento de medicamentos em casos de insuficiência no mercado, quer por os produtos serem de baixo valor económico, quer por serem utilizados em quantidades reduzidas, razão porque foram abandonados pela indústria farmacêutica privada, apesar de alguns deles serem indispensáveis no tratamento de algumas doenças. Estão neste caso, sobretudo, medicamentos para uso pediátrico. É também por este tipo de intervenções que o LMPQF deve ser considerada uma unidade estratégica. É também estratégico no apoio permanente às Nossas Tropas Destacadas no estrangeiro em missões internacionais de paz, abastecendo-as com prontidão. (...)
Pese embora a pretensa “ótica de serviços partilhados”que o projecto legislativo preconiza, será que haverá alguém no Ministério da Defesa que saiba qual é a legislação nacional e internacional que rege o sector farmacêutico, para propor a junção, numa mesma empresa, da Manutenção Militar e do Laboratório Militar? Chouriços e medicamentos? E onde foram descobrir a vocação do IASFA para a dispensa de medicamentos através do que chamo de farmácias-pirata?
Esperemos que a hierarquia militar, o Ministério da Saúde, através da Administração Central do Sistema da Saúde e do INFARMED e a Ordem dos Farmacêuticos, possam esclarecer o MDN da enormidade do erro que quer cometer.
E que alguém, inteligente e avisado, o trave a tempo!»
[José A. Damas Móra
Coronel Farmacêutico
Director do LMPQF – 1993-97]
solveu publicitar um projecto legislativo canhestro que visa extinguir o Laboratório Militar. Não é sério! O assunto é importante demais para as Forças Armadas, Farmácia Militar, Família Militar e trabalhadores do estabelecimento, para que se deixe passar sem uma reflexão e um grito de alarme!
É sabido que, durante a I Guerra Mundial, quando Portugal se tornou nação beligeran-
te, as Forças Armadas estavam mal instruídas e mal equipadas. Não foi difícil ao Gen.
Norton de Matos verificar que, entre muitas outras deficiências, faltava um órgão que
assegurasse a logística farmacêutica e, como Ministro da Guerra, criou a Farmácia
Central do Exército.
Chegado o tempo de paz, poderiam os governantes de então, extinguir aquele estabe-
lecimento. Mas foram inteligentes e seguiram a velha máxima de que é “na paz que se
prepara a guerra”. É, assim que, durante a II Guerra Mundial (1939-45), a FCE esteve
com as FA portuguesas em missão de soberania nas Ilhas Adjacentes e estabeleceu de-
legações nas colónias, dando apoio logístico-farmacêutico aos contingentes destacados.
No intervalo entre as 2 guerras, a FCE, para além da sua valência de reabastecimento,
dedicou-se ao que hoje se chama I&D: elaborou a IV Farmacopeia Portuguesa e as primeiras unidades de indústria farmacêutica civis existentes em Portugal foram cria-
das por farmacêuticos que pertenceram aos seus quadros e nela trabalharam e aprenderam.
As necessárias adaptações do Exército ao pós-guerra trouxeram novas estruturas aos Es-
tabelecimentos Produtores do Ministério da Guerra. Os EPMG passaram a designar-se Estabelecimentos Fabris do Exército (EFE) e a FCE transformou-se no Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), recebendo como legado todo o seu inestimável património, técnico, científico, cultural, organizacional e edificado, bem assim como as tradições da Farmácia Militar Portuguesa. (...)
Os EFE têm estatuto próprio: pertencendo ao Exército, têm autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Não dependem do Orçamento do Estado e, por isso, têm de gerar receitas para a sua vida corrente, incluindo vencimentos, manutenção e investimentos; as suas contas são controladas pelo Conselho Fiscal dos EFE, sem prejuízo do visto final pelo Tribunal de Contas. Vivem do seu trabalho, da sua marca (neste caso, “LM”), da sua produtividade e do cumprimento da missão.
O edifício sede do LMPQF foi por si mandado construir dentro dos padrões próprios da indústria farmacêutica, satisfazendo às Normas de Bom Fabrico aceites internacionalmente. A construção e equipamento foram por si pagos integralmente. É património próprio e faz parte do seu capital social.
Durante os 14 anos que durou Guerra Colonial (1961-75), o LMPQF esteve presente nos 3 teatros de operações abastecendo Unidades e Hospitais Militares dos 3 Ramos das Forças Armadas. Foi um esforço enorme para o pequeno número de farmacêuticos militares somente do Exército) quer a nível da produção de medicamentos e material de penso, quer do seu encaminhamento e entrega em destinos muitas vezes longínquos e sem transportes adequados. Foi consensual que, onde estivesse um militar, havia produtos “LM”. Finda a guerra, poderiam os governantes de então, extinguir este estabelecimento. Mas, inteligentes e avisados, mantiveram-no.
Após a descolonização, o LMPQF assumiu a responsabilidade de abastecer os hospitais civis da rede de saúde pública com medicamentos do Formulário Nacional de Medicamentos por si produzidos. Ainda recentemente, em Junho de 2013, o Ministro de Saúde considerou o LMPQF como alternativa à produção e abastecimento de medicamentos em casos de insuficiência no mercado, quer por os produtos serem de baixo valor económico, quer por serem utilizados em quantidades reduzidas, razão porque foram abandonados pela indústria farmacêutica privada, apesar de alguns deles serem indispensáveis no tratamento de algumas doenças. Estão neste caso, sobretudo, medicamentos para uso pediátrico. É também por este tipo de intervenções que o LMPQF deve ser considerada uma unidade estratégica. É também estratégico no apoio permanente às Nossas Tropas Destacadas no estrangeiro em missões internacionais de paz, abastecendo-as com prontidão. (...)
Pese embora a pretensa “ótica de serviços partilhados”que o projecto legislativo preconiza, será que haverá alguém no Ministério da Defesa que saiba qual é a legislação nacional e internacional que rege o sector farmacêutico, para propor a junção, numa mesma empresa, da Manutenção Militar e do Laboratório Militar? Chouriços e medicamentos? E onde foram descobrir a vocação do IASFA para a dispensa de medicamentos através do que chamo de farmácias-pirata?
Esperemos que a hierarquia militar, o Ministério da Saúde, através da Administração Central do Sistema da Saúde e do INFARMED e a Ordem dos Farmacêuticos, possam esclarecer o MDN da enormidade do erro que quer cometer.
E que alguém, inteligente e avisado, o trave a tempo!»
[José A. Damas Móra
Coronel Farmacêutico
Director do LMPQF – 1993-97]
Acólitos
O comité central só está disponível para qualquer entendimento de governo com o PS, desde que o Costa se disponha a ir a despacho directamente com o fantasma do Stalin.
Fora disso prefere viver por conta da escória ideológica que manda no país há quatro anos. E que, em 2011, ele acolitou ao altar do poder.
Fora disso prefere viver por conta da escória ideológica que manda no país há quatro anos. E que, em 2011, ele acolitou ao altar do poder.
É obra!
Fernando Medina, entrevistado numa televisão: «Nos últimos anos, os Metros de Lisboa e Porto, a Carris e os STCP perderam cem milhões de passageiros.»
Como descalabro, é obra!
Como descalabro, é obra!
Lido aí, em comentários
«Os grupos da esquerda verdadeira só são ouvidos e seguidos por pequenas franjas do povo. E porquê? Porque o povo, na sua generalidade, é bem mais prático do que tais esquerdas julgam. O povo sabe, intuitivamente, que não se pode alcançar o óptimo para todos e, muito menos, que isso possa ser realizado de um momento para o outro. O povo sabe que há imensos obstáculos (interesses) em jogo, que têm de ser considerados; que somos todos diferentes e estamos todos amarrados uns aos outros, de uma forma ou de outra.
Cada um sabe, a não ser que seja meio maluco idealista ou suicida, que não pode, sem mais aquelas, vergar as vontades de uma multidão ao seu próprio ideal. As ditaduras tentam-no, com os resultados que todos conhecemos. O diálogo sério, duro e persistente é a alternativa humanista e democrática.
A nossa esquerda verdadeira não aceita uma governação em diálogo e só admitem o “oito ou oitenta”. Quando entram no dificil jogo da democracia, como fez o Syriza, acabam por “cair na real”. E a realidade, aqui e agora, é bem filha da puta, numa UE que perdeu a alma humanista.
Tsipras compreendeu que, a bem do mal menor para a generalidade do seu povo, tinha que dialogar, séria e fortemente, com os estupores que assumiram o controle da UE. O radicalismo dos que abandonaram o Syriza é comparável ao radicalismo da nossa esquerda verdadeira de Jerónimo, Louçã, Catarina e afins.
Os mesmíssimos que não hesitaram um segundo em entregar o poder absoluto a Cavaco, Passos e Portas. Podem negar esta barbaridade um milhão de vezes, mas eles sabem muito bem o que fizeram por causa do seu radicalismo cego. Por via deles, estamos a poucos passos de ver aniquiladas as preciosas conquistas de Abril: SNS, Escola Pública, Segurança Social. Sem estes serviços básicos, para que servem a liberdade de expressão e as outras?
Ironia das ironias: quando a esquerda verdadeira deteve o poder real para determinar o rumo dos acontecimentos, como aconteceu no fatídico ano de 2011, usou esse poder colando-se à direita radical para derrubar a esquerda dialogante, que lutava com todas as suas forças contra as bestas que dominam esta Europa do início do século XXI.
Louçã e Jerónimo foram carrascos de Abril. Na hora do confronto decisivo entre o radicalismo da direita e a postura dialogante da esquerda democrática, aqueles dois ratos fedorentos da política escolheram os radicais da direita.»
Cada um sabe, a não ser que seja meio maluco idealista ou suicida, que não pode, sem mais aquelas, vergar as vontades de uma multidão ao seu próprio ideal. As ditaduras tentam-no, com os resultados que todos conhecemos. O diálogo sério, duro e persistente é a alternativa humanista e democrática.
A nossa esquerda verdadeira não aceita uma governação em diálogo e só admitem o “oito ou oitenta”. Quando entram no dificil jogo da democracia, como fez o Syriza, acabam por “cair na real”. E a realidade, aqui e agora, é bem filha da puta, numa UE que perdeu a alma humanista.
Tsipras compreendeu que, a bem do mal menor para a generalidade do seu povo, tinha que dialogar, séria e fortemente, com os estupores que assumiram o controle da UE. O radicalismo dos que abandonaram o Syriza é comparável ao radicalismo da nossa esquerda verdadeira de Jerónimo, Louçã, Catarina e afins.
Os mesmíssimos que não hesitaram um segundo em entregar o poder absoluto a Cavaco, Passos e Portas. Podem negar esta barbaridade um milhão de vezes, mas eles sabem muito bem o que fizeram por causa do seu radicalismo cego. Por via deles, estamos a poucos passos de ver aniquiladas as preciosas conquistas de Abril: SNS, Escola Pública, Segurança Social. Sem estes serviços básicos, para que servem a liberdade de expressão e as outras?
Ironia das ironias: quando a esquerda verdadeira deteve o poder real para determinar o rumo dos acontecimentos, como aconteceu no fatídico ano de 2011, usou esse poder colando-se à direita radical para derrubar a esquerda dialogante, que lutava com todas as suas forças contra as bestas que dominam esta Europa do início do século XXI.
Louçã e Jerónimo foram carrascos de Abril. Na hora do confronto decisivo entre o radicalismo da direita e a postura dialogante da esquerda democrática, aqueles dois ratos fedorentos da política escolheram os radicais da direita.»
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Muros
[1956, refugiados húngaros numa estação austríaca]
O Pavelca era um pilúcio ruivo que nos apareceu um dia, na aldeia da meninice. Vivia acolhido em casa do padre, mas depressa cedeu às tentações da rua. Aprendeu connosco rudimentos de palavras, e um dia ouvimos dizer que ele vinha da Hungria, onde estava aprisionado atrás dum grande muro.
Nenhum de nós percebeu a conversa. E o Pavelca jogava à bola connosco, e ao feijão, e às escondidas, foi aos ninhos pelos valados quando veio o tempo deles. Um dia desapareceu sem deixar rasto.
Calculo hoje que tenha ido para a América, num barco a fumegar, duvido muito que tenha voltado a casa. Quem estava preso atrás dum grande muro, não ia agora voltar para fazer muros novos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)