sábado, 30 de março de 2013

É sempre assim

O fruto proibido é o mais apetecido.

Vozes à solta

Hoje entendo delas o mesmo que entendia.
E não entendo porque eram escondidas.

Aleluia!

Estes destroços naufragados da cultura da inanidade e da civilização do petróleo barato, mal acaba a puta da quaresma, dão logo nisto!

Uma coisa insuportavelmente clara

O regresso de José Sócrates tornou insuportavelmente clara esta coisa, que sempre foi transparente: a fauna decadente das elites da direita, acocorada à volta do Cavaco, amesendada à pia do orçamento, e acolitada por um batalhão de lacaios que a servem de mil maneiras, (na comunicação social e outros terrenos), só conhece as regras da batota e da canalhice. 
No que respeita à democracia e ao bem público, ao povo desta pátria e ao destino dela, esta fauna decadente nunca passou daí. E mesmo o esquerdismo proletário é uma flor que ela despreza, mas exibe na lapela quando pode.
Isto foi sempre uma coisa transparente, que agora se tornou insuportavelmente clara. Quem ainda a não consegue ver, nem ter na conta devida, é porque só merece o destino que vai ter.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Ó cabrão!

Vivemos um 'tempo histórico'?!
Então e os outros todos?! Eram lendários?!

As regras da nossa tragédia

Quando os figurantes são risíveis e poltrões, a verdade sai de cena e suicida-se nos bastidores. O palco é dos espantalhos, que ficam por ali a apodrecer em público.
Quando os actores são cidadãos inteiros, a verdade poderá sangrar um tanto, enquanto não chega um clímax. Mas fica em cena e acaba por se impor, a menos que um canhão a silencie.
Isto é sempre verdadeiro. Sobretudo em sociedades como a nossa, onde a ignorância é atávica bandeira e a cobardia ancestral militância. E é mais verdadeiro ainda, se em causa estão figuras da política ou os excelsos vultos da cultura.
Eis um exemplo prático daquelas
Já o destes... nem dá para acreditar. Só dispondo mesmo de algum tempo e indo lá ver!
Um caso e outro ainda exemplificam que há cidadãos entre nós.

Traição

"O PEC IV iria chegar? Isso é como perguntar se a vida chega para evitar a morte. Não só não iria chegar por razões inerentes à complexidade dos problemas económicos e à volatilidade do clima financeiro como PSD, CDS, BE e PCP continuariam a boicotar de todas as formas possíveis a actividade do Governo. Mas o PEC IV foi um daqueles momentos na História em que alguns tentaram proteger os portugueses e em que outros os abandonaram. Não admira que tantos queiram agora enterrar fundo no esquecimento o seu passado de traição."
Podes ver integral aqui.

quinta-feira, 28 de março de 2013

É assim!

Tal e qual!

Ó Carrilho!

Faz um favor ao pagode: vai 'tomar no cu' e cura-te!

Porquê isto agora, repetido?

Pois não sei ao certo. Talvez por aquelas palavras que não decifro, mas intuo.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Hurraaahhh!

Uma vez! Duas vezes! Três vezes! Quatro, cinco, seis vezes! Chega?!

E é tudo!

[O terramoto de Lisboa de 1755]
Já algo foi dito, aqui, ali e acolá, sobre a notável obra que HAJA LUZ! é. Saída das mãos dum químico português, tem tanto de fascinante como de surpreendente. Nela se entrelaçam a química, a história, a música, a literatura, a biografia, a curiosidade, o cinema, o teatro, a ópera, a física, a alquimia, a verdade e a lenda, a cultura e a vida, a dedicação à ciência e à experimentação. Tudo coisas que apenas interessam a quem se preocupa em entender o mundo. Não estranha, assim, vê-la tão injustamente pouco divulgada, nesta nossa terra de retóricos, de escolásticos e de nefelibatas manhosos!
A série de transcrições que hoje termina foi uma homenagem ao autor, e o meu modesto contributo para a divulgação desta obra espantosa, agora também gravada, para cegos, na Sonora da BPM do Porto . E termina com o registo diacrónico das presenças do génio pátrio, ao correr do texto.

«- No séc. XVIII, as espécies naturais - plantas e animais - são chamadas, contadas e baptizadas, e isto equivale a uma segunda Criação. Como em tudo na vida e na história, nada acontece sem antecedentes. A aventura comercial dos Descobrimentos e o interesse pelo exotismo por ela gerado tinham aberto o caminho ao estudo regular da flora e da fauna de continentes distantes, e respectiva comparação com os reinos vegetal e animal da Europa. Uma tal diversidade era motivo de espanto. Basta lembrar o zelo do nosso D. Manuel I ao incluir um elefante e uma onça caçadora na embaixada papal de 1514, liderada por Tristão da Cunha. Mais acidentada foi a tentativa no ano seguinte de oferecer ao mesmo papa Leão X o rinoceronte que Afonso de Albuquerque trouxera para Lisboa. O bicho ainda foi visto vivo em Marselha pelo jovem rei de França Francisco I, mas o barco naufragou perto do porto Venere e o rinoceronte morreu afogado. Lá conseguiram recuperar o cadáver, e o que o papa admirou foi o animal embalsamado. Albrecht Dürer imortalizou este rinoceronte num desenho (hoje no museu britânico de Londres).

- (...) Em Portugal, a Academia das Ciências de Lisboa foi fundada em 1779 por D. João de Bragança, 2º Duque de Lafões, e pelo abade José Francisco Corrêa da Serra. Estivemos entre os primeiros. (...)

- (...) Uma boa notícia é que existe na biblioteca do IST em Lisboa um conjunto da raríssima nova edição (da Enciclopédia Diderot/D'Alembert) (1778); a má notícia é que um aluno ou professor mais patriota roubou o Tomo 14, correspondente à letra P, com o artigo sobre Portugal.(...)

- (...) Henry Fielding foi sepultado no cemitério dos Ingleses, à Estrela, mas nem a família nem os amigos se deram ao trabalho de arranjar uma pedra tumular decente. (...) Parece de D. João de Bragança, 2º Duque de Lafões, ainda tentou mandar construir um monumento apropriado, mas deparou com a oposição frontal da Igrela Católica, que mal tolerava um cemitério para protestantes heréticos no centro de Lisboa. (...)

- (...) Muitas daquelas plantas tinham propriedades medicinais, como era do conhecimento dos povos nativos. O médico e botânico português Garcia de Orta publicou em Goa os Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia. (...) Orta tinha sido condenado postumamente pela Inquisição em 1580. Já que o não puderam queimar vivo, foi queimado morto; a sepultura foi aberta e os ossos incinerados. (...)

- (...) A monarquia só viria a ser re-estabelecida em 1660 com a subida ao trono de Charles II, que dois anos depois casaria com Catarina de Bragança, filha de D. João IV de Portugal ( a qual depois introduziu o hábito do chá na corte inglesa). (...)

- (...)Quem fez as obervações do Trânsito de Vénus em Portugal (1761) foi o padre Teodoro de Almeida, da congregação do Oratório. Desterrado no Porto à data do Trânsito, foi no convento da Igreja dos Congregados que fez as suas medidas. Os resultados chegaram a Delisle através de João Chevalier (padre da mesma congregação, perseguido pelo Marquês de Pombal em 1760, com residência fixa em Freixo de Espada-à-Cinta. Fugiu depois para Paris, viveu em Bruxelas durante mais de 30 anos, indo acabar os seus dias em Praga). Teodoro de Almeida fugiu para Espanha em 1768, depois emigrou para França, só tendo regressado a Portugal após a morte de D. José I, e a queda do ditador Pombal. (...)

- (...) constando que a dita Passarola voou da praça de armas do Castelo de S. Jorge em Lisboa, até se despenhar no Terreiro do Paço. Infelizmente a história não passa dum boato, e a verdade é que não se sabe se a Passarola chegou mesmo a ser construída, ou se não passou dum mero projecto utópico. (...) Quanto ao padre Gusmão, a história verdadeira regista que teve um frim triste. Intrigas de corte e perseguições inquisitórias levaram-no a fugir a pé para Espanha em 1724, vindo a morrer na penúria em Toledo, nesse mesmo anos. (...)

- (...) A 3 de Abril de 1784, um dos membros fundadores da Academia de Ciências de Lisboa, o padre João Faustino, fez subir perante os soberanos, no Palácio da Ajuda, um balão de ar quente com 15 metros de diâmetro. (...) Também há notícia de que o padre Jerónimo de Allen espantou os lisboetas com outra subida em balão. (...)

- (...) Montigny herdara do pai um espião científico, Jean-Hyacinthe Magellan, a viver em Londres. Digamos que João Jacinto de Magalhães era um daqueles iluminados que dedicava a vida a espalhar o que sabia e ouvia pelos cientistas dos vários países. (...) Em Paris conheceu o médico António Nunes Ribeiro Sanches, outro português estrangeirado, um cristão-novo forçado a emigrar para escapar às penas da Inquisição, e que deve tê-lo ajudado. (...)

- (...) Tanto Voltaire como o filósofo Immanuel Kant escreveram longamente sobre o assunto, e até Goethe, com seis anos na altura do terramoto, viria a registar as impressões que a terrível catástrofe lhe deixara. (...)

- (...) Foi a partir desses extractos que, caerca de 1810, o médico português Bernardino António Gomes conseguiu isolar o primeiro alcalóide; julgava ter obtido o princípio activo da casca da quina, e chamou-lhe chinchonina. Foi só em 1820 que dois farmacêuticos franceses isolaram a quinina, um alcalóide muito mais febrífugo que a chinchonina e que se revelaria uma droga eficaz no tratamento da malária. (...)

- (...) Julgo importante referir que vários físicos e químicos portugueses - Mário Silva, Manuel Valadares, Branca Edmée Marques - passaram pelo laboratório de Madame Curie, no Instituto do Rádio, onde se doutoraram, durante os anos 1920 e princípio dos anos 1930. No entanto, a influência de Marie Curie na ciência portuguesa foi diminuta, em parte porque os melhores dos seus discípulos lusos seriam compulsivamente afastados das universidades pelo governo salazarista. (...)»

Diamonds are forever!

[Selo do Lesoto, comemorando a Conferência Internacional da Kimberlite, 1976]
«(...) No que respeita à massa, o carbono é o quarto elemento mais abundante no universo, com 0.5% (depois do hidrogénio, hélio e oxigénio). Na crusta terrestre ocupa o 14º lugar, com uma percentagem de cerca de 0.18 %. Uma vez sabido que a grafite e o diamante eram formas dum mesmo elemento, pôs-se o problema de saber como transformar a primeira no segundo, tanto mais que o diamante é muito valioso.
A maior densidade do diamante (3.52 contra 2.16) sugeria a compressão. Durante século e meio falharam todas as tentativas. O diamante era, em geral, encontrado em terrenos aluviais na Índia, no Brasil, etc. Em 1866, porém, um pastor de 15 anos, Erasmus Jacobs, encontrou uma pedra azulada do tamanho dum ovo de passarinho, nas margens do rio Orange, perto de Hopetown, na África do Sul. Quando se confirmou que a pedra era mesmo um diamante, mudou a história e a economia do dito. A zona estava semeada de diamantes!
Durante os anos 1870, a produção mundial aumentou mais de dez vezes. A província do Cabo, na África do Sul, era agora responsável pela produção de mais de 95% dos diamantes, e Kimberley era a sua capital.
Incrustados na rocha, os diamantes de Kimberley eram primários. Não se tinham formado localmente. A sua origem era vulcânica: tinham vindo das profundezas da Terra em tempos imemoriais. Quem possui um diamante pode gabar-se de ter uma das peças mais antigas do mundo, com cerca de dois terços da idade da Terra (que é de 4.5 mil milhões de anos).
Como o diamante é menos estável do que a grafite, o seu aparecimento à superfície da crusta terrestre deve ter sido repentino (de outro modo ter-se-ia transformado em grafite). A análise geológica da kimberlite - uma mistura de várias rochas ígneas ricas em potássio, magnésio, ferro e alumínio com fragmentos do manto terrestre - e a morfologia dos veios mostraram que os diamantes eram formados a centenas de quilómetros de profundidade e tinham chegado à superfície arrastados por violentas erupções de magma, há três mil milhões de anos. Na subida, o magma misturou-se com dióxido de carbono e outros gases, fez estalar as rochas da crusta, e abriu com força explosiva, múltiplos canais na crusta, pulverizando as rochas no processo de descompressão.
O resultado desta violência geológica são inúmeros pilares verticais de kimberlite amarela embebidos nas rochas, com as suas preciosas incrustações. Gigantescos tampões em forma de cenoura, enterrados na crusta. Como as transformações em fase sólida são muito lentas, os diamantes não tiveram tempo de se transformar em grafite. A kimberlite funcionou apenas como uma espécie de elevador para trazer os diamantes até à superfície. A erosão fez o resto. Noutros casos, como aconteceu no maciço Beni Bousera em Marrocos, encontram-se formas cúbicas e octaédricas de grafite - sinal de que a erupção foi lenta, dando tempo aos diamantes para se transformarem em grafite.
A crusta terrestre tem, em média, cerca de 35 quilómetros de espessura. Os diamantes formaram-se a mais de 150 quilómetros de profundidade, onde as temperaturas ultrapassam os 1500 ºC e as pressões atingem as 50 000 atmosferas. São estas as condições que há que reproduzir no laboratório, se se quiser fabricar diamantes artificialmente. (...)»
[in HAJA LUZ! Uma História da Química através de Tudo - Jorge Calado]

sábado, 23 de março de 2013

Satie

Élégie.

HAJA LUZ! - 32

«(...) Em 1885, o embriologista alemão Oscar Hertwig, que descobrira que a fertilização celular correspondia à união dos núcleos das células sexuais masculina e feminina, sugeriu que "a nucleína era a substância responsável não só pela fertilização, como também pela transmissão das características hereditárias". Outros - e Mischer era um deles - achavam que não; a molécula era demasiado pequena para conter tanta informação. Mal sabiam eles! (...)
Leitores: é tempo de adoptar a sugestão (1889) do histologista alemão Richard Altman - um discípulo de Miescher - e passar a chamar à nucleína ácido nucleico. Trata-se afinal de um ácido orgânico complexo, rico em fósforo. (...)
Miescher conduzia a investigação com uma fé quase religiosa. Conta-se que, no dia do casamento, tiveram que o ir buscar à universidade; esquecera-se das horas, e a noiva estava já na igreja à espera... As condições em que trabalhava eram modestíssimas, o laboratório não passava dum acanhado corredor deficientemente equipado; quando faltava material de vidro, substituía-o por peças do seu serviço de porcelana de Sèvres (para desespero da mulher). Nesses tempos a ciência ainda era vista como uma missão de sacrifício, e não como uma fábrica de ganhar dinheiro. Miescher morreu tuberculoso em 1895, com 51 anos de idade. Deve-se-lhe uma descoberta importante - a do ADN. Que a sua molécula era complexa, prova-o o facto de a sua estrutura só ter ficado estabelecida nos anos 1950. No entanto, quando a história da grande descoberta veio a ser escrita numa espécie de autobiografia romanceada, o nome de Friedrich Miescher não constava do índice nem era referido no texto. (...)»

[Estruturas helicoidais do ADN e do ARN]
(Os actores da descoberta do ADN foram múltiplos, com variadas contribuições: Albrecht Kossel, médico e fisiologista; o russo Phoebus Levene, emigrado na América em 1893 por causa das perseguições anti-semitas; Erwin Chargaff, bioquímico austríaco judeu emigrado na América em 1935 para escapar ao nazismo; Oswald Avery, médico e investigador americano; Lawrence Bragg, director do Laboratório Cavendish em Cambridge; Linus Pauling, professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia; Dorothy Hodgkin, de Oxford; John Randall, bioquímico do King's College; Maurice Wilkins, físico do King's College; James Watson, zoólogo da Universidade de Indiana; John Kendrew e Max Perutz, do laboratório Cavendish; Francis Crick, físico do Cavendish; Rosalind Franklin, químico-física e cristalógrafa; Alexander Todd, químico na universidade de Cambridge. Muitos deles foram contemporâneos e parceiros nas pesquisas, no pós-guerra. E as relações mútuas nem sempre foram edificantes.)

«(...) A arquitectura do ADN assemelhava-se a uma escada de corda torcida (uma escada em caracol - a imagem favorita de Pasteur!), com as prumadas constituídas por cadeias de fosfato e desoxirribose (em alternância), e as traves, ou degraus, formados pelos planos das bases orgânicas nitrogenadas. (...) Alto e bom som, Crick anunciou que tinham descoberto "o segredo da vida". (...) Franklin, em especial, não mostrou o menor ressentimento. Um verdadeiro cientista exulta com as soluções de problemas difíceis, mesmo obtidas por outrem. Mal sabia ela que a bonita arquitectura da hélice dupla tinha sido riscada nas suas costas, usando os seus resultados!
Franklin já tinha um artigo praticamente pronto com o seu trabalho sobre a estrutura do ADN. Wilkins resolveu fazer o mesmo e, por acordo de cavalheiros entre Bragg e Randall, os três artigos saíram no mesmo número da Nature, a 25 de Abril de 1953. (...)
O modelo da hélice dupla é, no fundo, o de um par de escantilhões ou gabaritos, aptos para executar a duplicação. Quebrando-se as ligações de hidrogénio, as duas cadeias desenrolam-se e separam-se (tal como acontece com a abertura dum fecho éclair, ou zip), ficando cada uma pronta a ligar-se à sua cadeia complementar. Eis o "segredo da vida".(...)»
[Caduceu e logótipo do editor Johann Froben - ca. 1523]
 «O que é curioso é que o caduceu, o conhecido símbolo da medicina e da farmácia, parece antecipar a hélice dupla. A sua origem perde-se no tempo. Constituído por duas serpentes enroladas (antiparalelamente) num bastão coroado por um par de asas, o caduceu andou associado a Hermes ou Mercúrio, o deus mensageiro. Que mensagem? O conhecimento, em geral, quiçá o código da hereditariedade... As conotações químicas são também óbvias - de Hermes Trimegisto ao mercúrio metálico propriamente dito usado pelos alquimistas, passando pelo ouroboros. A associação à medicina deriva provavelmente duma confusão com o bastão (com uma única serpente) de Esculápio, o deus da medicina; generalizou-se no final do séc. XV, quando editores de livros médicos, com Johann Froben, um amigo de Erasmo, começaram a usar o caduceu como ex-libris ou logótipo da casa da imprimissão. (...)
[Monumento à III Internacional - Vladimir Tatlin, 1919]
«(...) A beleza do ADN é a beleza dum arranha-céus que se ergue e prolonga a alturas inimagináveis. Evoca a beleza utópica da torre helicoidal - duas hélices paralelas - imaginada em 1919 por Vladimir Tatlin para homenagear (e alojar) a Terceira Internacional: um engenhosa estrutura transparente de ferro, aço e vidro de quatrocentos metros de altura, que deixaria a Torre Eiffel a perder de vista. Infelizmente nunca foi construída. 
Quem me acompanhou ao longo destas centenas de páginas percebeu a beleza visível do carbono, quer na forma de diamante ou de fullereno (a bola de futebol à escala atómica), quer na perfeição hexagonal da grafite (reencontrada no benzeno). Percebeu que o fascínio do carbono assimétrico é uma fonte de prazer que conduz à doçura dos sacáridos. Percebeu que o equilíbrio estrutural do ADN helicoidal é a beleza da vida. A química é a forma mais íntima de arquitectura.»

HAJA LUZ! - 31

[Vacinação pública de carneiros contra o antraz em Pouilly-le-Fort - Eugène Damblans, 1881]
«(...) Todos os anos, vários homens, mulheres e crianças eram mordidos por cães raivosos. Sabia-se que, uma vez declarada, a doença era fatal. Pasteur não era médico, estava proibido de administrar tratamentos, e só podia fazer inoculações com o consentimento e na presença de um médico. (...) Em Dezembro de 1885, quatro crianças americanas, filhas de trabalhadores do porto de Newark, em New Jersey, foram mordidas por um cão raivoso. (...) No regresso à América foram exibidas numa montra da Bowery (uma rua popular de Nova Iorque), para gáudio de cerca de 300 000 curiosos! Em Março de 1886 foi a vez de 19 russos de Smolensk, todos violentamente mordidos por um lobo raivoso; Pasteur conseguiu salvar desasseis. (...)
Um ano antes da inauguração do Instituto, Pasteur respondera a um anúncio do Governo de New South Wales (Austrália), publicado no jornal Le Temps, pedindo ajuda no combate à praga de coelhos no território australiano. Pasteur pensou imediatamente num ataque bacteriológico, aproveitando o facto de o micróbio da cólera das galinhas ser também letal nos coelhos. Como só confiava nos seus colaboradores directos, enviou o seu sobrinho e assistente Adrien Loir, com as suas culturas de micróbios da cólera aviária. Mas o método não foi aplicado, porque outros interesses mais altos se levantaram  (a caça exterminadora do coelho tornara-se uma profissão lucrativa). (...)
Em 1891, Sarah Bernhardt chegava a Sidney para uma tournée australiana, acompanhada dos seus cães. Saíra da Europa loura, e desembarcara no quinto continente de cabelo castanho. O problema era a quarentena forçada dos cães. (A quarentena dos cães e gatos tinha sido inventada para prevenir a introdução dessa mesma raiva no continente). Loir ofereceu-se para acolher os cães da sua ilustre compatriota no Instituto, prometendo tratá-los com todos os mimos e regalias. Em paga de tal favor, Loir teve a honra e o gosto de desempenhar o curto (e mudo) papel de amante da divina Sarah, na peça Fédora (1882), de Victorien Sardou. (...)»

sexta-feira, 22 de março de 2013

Rossini

Abertura do Barbeiro de Sevilha

HAJA LUZ! - 30

[Sexta praga do Egipto - Bíblia de Wittenberg, 1572]

«(...) Com cerca de cem mil habitantes, Lille era então a quinta cidade francesa. Importante centro industrial, conhecido pelas suas fábricas de fiação, destilarias de sumo de beterraba, fábricas de cerveja, construção mecânica e minas de carvão, Lille aspirava tornar-se num centro universitário moderno, onde a ligação universidade-indústria fosse uma prioridade. Pasteur acreditava na capacidade motivadora da ciência. E ao contrário de muitos colegas, o novo professor de química da Universidade de Lille tinha uma concepção revolucionária das ciências aplicadas. Não eram, para ele, as divisões elitistas entre puro e aplicado. É uma atitude nova, que permeou toda a segunda metade do séc. XIX em França, tal como em Inglaterra (a época vitoriana) e no Ocidente em geral. (...)
Pouco tempo depois de se instalar em Lille, Pasteur foi procurado por um industrial do álcool, a contas com um problema sério: o álcool, produzido por fermentação do sumo da beterraba, aparecia contaminado por substâncias estranhas. Pasteur, que não tinha qualquer experiência de fermentação, consagraria ao tema mais de vinte anos da sua vida. (...) Pasteur pensou imediatamente que a fermentação, longe de ser um processo meramente químico, resultava da actividade de organismos vivos, de "fermentos vivos". Micróbios ou microorganismos estavam, afinal, na origem de uma das tecnologias químicas mais antigas - a da fermentação alcoólica! (...) Outras fermentações muito conhecidas são a do leite (que azeda), a do vinho (que se transforma em vinagre), a da manteiga (que fica rançosa). No primeiro caso é o acúcar do leite (lactose) que passa a ácido láctico; no segundo, o álcool (etanol) é oxidado e dá o ácido acético; no terceiro, os ácidos gordos de cadeia (de carbonos) longa decompõem-se para dar ácido butírico. (...)
Em 1865, Pasteur foi chamado a resolver o problema da doença do bicho-da-seda, que ameaçava a indústria da seda no Sul de França, responsável por um décimo da produção mundial. (...) Pasteur descobriu que não se tratava de uma doença, mas de duas: uma delas, a pebrina, era contagiosa e transmitida por um parasita; a outra, a flacidez, era causada pela fermentação (induzida por uma bactéria) das folhas de amoreira húmidas, no longo tracto intestinal da lagarta. (...)
A experiência adquirida no estudo dos bichos-da-seda fez de Pasteur uma autoridade na transmissão e controle das doenças infecciosas. (...) Nos hospitais generalizavam-se as infecções, e a mortalidade era enorme. Vinte por cento das mulheres morriam de febre puerperal, na sequência do parto. A guerra Franco-Prussiana de 1870, com a sua multidão de estropiados, só veio agravar a situação. Das 13.176 amputações operadas nos hospitais militares franceses, 10.006 conduziaram à morte do amputado, de infecção e gangrena. Pasteur bem proclamava que todas estas infecções eram causadas por micróbios, mas o establishment medico-cirúrgico preferia explicações absurdas. A solução preconizada por Pasteur - uma higiene rigorosa e o uso de substâncias anti-sépticas - era olimpicamente ignorada pela generalidade dos cirurgiões. (...)
1877 seria outro ano de viragem na carreira de Pasteur. A pedido do Ministério da Agricultura, aceitou investigar as causas da epidemia de antraz que dizimava centenas de milhares de cabeças de gado (cavalos, vacas e ovelhas) por toda a Europa. Na Rússia, a doença era conhecida como a "praga da Sibéria". (...) Para Pasteur, já não havia qualquer dúvida: as doenças contagiosas, como a peste bubónica, a febre-amarela, a varíola, a gripe, etc, eram causadas por micróbios e não por emanações ambientais; o antraz não seria excepção. (...) Guiado pelos trabalhos de Pasteur sobre o bicho-da-seda, Koch identificou a bactéria em forma de haste do Bacillus anthracis e verificou que a sua reprodução se processava por esporos. O antraz assumia assim o papel da Sexta Praga do Egipto, tal como é apresentada no Livro do Êxodo, da Bíblia. O Senhor disse a Moisés para apanhar uma mancheia de cinza do forno e lançá-la aos céus: "Ela tornar-se-á em pó fino sobre toda a terra do Egipto, e haverá nos homens e nos animais úlceras com erupções de pústulas por toda a terra do Egipto". (...)»

Offenbach

La Grande Duchesse de Gerolstein

HAJA LUZ! - 29

[Cripta com os túmulos de Louis e Marie Pasteur-Paris 1896]

«(...) Louis Pasteur veio ao mundo a 27 de Dezembro de 1822, em Dôle, na região vinhateira do Jura, no leste de França, mas cresceu perto dali, em Arbois. Não admira que os produtos do vinho e a fermentação tenham ocupado uma boa parte da sua vida de cientista prático. O pai, Jean-Joseph, servira nos exércitos de Bonaparte, e depois abrira uma pequena alcaçaria doméstica, onde trabalhava o couro. Homem modesto mas de grandes ideais, passava as noites a ler livros (principalmente de história) para remediar a educação que não tivera. Ambicionava uma carreira de professor para o filho, e incutiu nele os valores do estudo, do trabalho, da disciplina, do amor ao próximo e duma profunda ligação à terra. "Há mais sabedoria nestas centenas de litros de vinho, do que em todos os livros de filosofia do mundo". (...)
De qualquer modo, aos dezanove anos, e sem que se saiba bem porquê, Pasteur abandonou a pintura para se dedicar totalmente à ciência. (...) A ideia de Pasteur era especializar-se em física e química, com ênfase na cristalografia (que estava na moda). (...) Nesses tempos, o ensino era fundamentalmente livresco, mas Pasteur entusiasmou-se cedo pela experimentação, aproveitando todos os tempos livres para trabalhar no laboratório. (...) Terminado o doutoramento em 1847, foi colocado numa escola de Dijon a ensinar Física. Confrontado com turmas de 80 alunos, inventou as aulas práticas de laboratório para lhes prender a atenção. Mas não aqueceu o lugar. O que Pasteur mais desejava era ser investigador e contribuir para o progresso da ciência. Em Janeiro de 1848, graças à intercessão de Biot e Dumas, foi nomeado professor de Química na Universidade de Estrasburgo.
Poucos meses depois conheceu Marie Laurent, uma das filhas do reitor da universidade, e foi amor à primeira vista. (...) As bodas realizaram-se em Maio desse ano, assim começando uma das mais felizes uniões da história da ciência, apesar de marcada por desgostos pessoais como a morte de três filhas pequenas (duas de febre tifóide), ou a congestão cerebral que o cientista sofreu em 1868, e que o deixou parcialmente paralítico do lado esquerdo (mas não inactivo). (...) Parte do salário e todo o dinheiro dos prémios que ao longo da vida foi acumulando eram investidos em equipamento e consumíveis de laboratório. Mme Pasteur não só não se queixava, como protegia o marido de todos os dissabores. Soube rodeá-lo do conforto, paz e silêncio de que ele necessitava para prosseguir nas suas investigações. (...) Em 1854 aceitou o lugar de professor de Química e deão das ciências na recém-criada Universidade de Lille, com a missão expressa de orientar o ensino e a investigação para as indústrias locais. (...)»

Ainda o Sócrates

«(...) O facto é que há um trabalho a fazer em nome da democracia, do Estado de direito, da salubridade do espaço público, da decência, da coragem e de Portugal. Esse trabalho consiste no confronto sem piedade com os agentes da indústria da calúnia, os manipuladores das misérias económicas, educativas e psicológicas, os serventuários da oligarquia, os vendilhões da República. Esse trabalho devia ter sido assumido por Seguro, quão mais não fosse por módica lealdade ao partido. Ora, Seguro não só se calou como até alinhou no massacre. Enfim, o que vier a nascer da intervenção de Sócrates será sempre um acrescento de racionalidade argumentada e de contraditório benéfico. (...) O ódio é a cicuta da inteligência.»
Integral aqui.

quinta-feira, 21 de março de 2013

HAJA LUZ! 28

[Ilustração do desastre fatal de Pierre Curie, anos 1940 - Júlio Amorim (?)]
«(...) Em Março de 1902, ao fim de quatro anos de exaus
tivas investigações (e alguns valores errados), [Pierre e Marie Curie] podiam anunciar que a massa atómica do rádio era 225.93. No ano seguinte eram contemplados com a medalha Davy da Royal Society e partilhavam o Prémio Nobel da Física com Becquerel. Era a primeira vez que o Prémio Nobel era atribuído a uma mulher. Em 1911, já viúva, Madame Curie receberia um segundo Prémio Nobel (desta vez de Química), pela descoberta do polónio e do rádio. Sucedera também ao marido na Sorbonne - a primeira mulher catedrática na história da instituição. O seu prestígio no mundo científico era enorme, e a publicação das Investigações sobre as Substâncias Radioactivas (1904) consagrou-a como Madame Rádio!
Em 1909, em colaboração com o Instituto Pasteur, foi criado em Paris o Instituto do Rádio, que ficou operacional em 1914 com a construção de dois pavilhões - o Pavilhão Curie, dirigido por Mme Curie, para investigações em física e química; e o Pavilhão Pasteur, para o estudo dos efeitos médicos e biológicos da radiação.
Julgo importante referir que vários físicos e químicos portugueses - Mário Silva, Manuel Valadares, Branca Edmée Marques - passaram pelo laboratório de Madame Curie, no Instituto do Rádio, onde se doutoraram, durante os anos 1920 e princípio dos anos 1930. No entanto, a influência de Marie Curie na ciência portuguesa foi diminuta, em parte porque os melhores dos seus discípulos lusos seriam compulsivamente afastados das universidades pelo governo salazarista. (...)»

Não há efeito sem causa

A perspectiva de José Sócrates vir em breve ao exercício do comentário político na RTP1 está a causar pele de galinha a muita gente. Não deixa de ser extraordinário, para não lhe chamar patético, mesquinho e vergonhoso. Por alguma razão alguns querem assim calar a boca ao homem.
Sócrates deixou de ser primeiro-ministro há dois anos. Mesmo longe do país e em absoluto silêncio, tem servido aos marginais do actual governo como bode expiatório para tudo e mais alguma coisa. Sem contraditório que se ouça, mesmo do seu próprio partido.
Ao longo dos seis anos em que foi chefe do governo, Sócrates foi alvo duma persistente campanha de ódio, de calúnia personalizada, de suspeição nunca demonstrada, de intriga, de inverdade, de destruição de carácter, por parte da elite indígena. Começou na boca suja de Santana Lopes em 2005, continuou no Freeport e numa série de infindáveis peripécias, e ainda não acabou. Para vergonha dos próprios, se a tivessem, a campanha teve a cumplicidade activa dos partidos da chamada extrema esquerda. 
Não é a primeira vez que isto acontece na pálida história da pátria. E alguma razão há-de haver neste caso, como sempre houve em casos semelhantes. Porque os efeitos sem causa não existem.

Ouro em azeite

[Rei Midas com a filha, 1893 - Walter Crane]
Azeite com aparas de ouro, é o que alguns produtores trouxeram ao mercado. Fazem lembrar antigos alquimistas, que sonham com maravilhas e prometem milagres. O melhor é dar ouvidos a quem sabe.

«(...) A ironia é que o ouro não serve para (quase) nada. De facto, é demasiado denso e demasiado macio para ser útil, mesmo como adereço. Numa escala de 1-10 - a conhecida escala proposta por Friedrich Mohs em 1812, que vai do talco ao diamante - a sua dureza é apenas de 2.5. Para maior dureza, usa-se ligado a outros metais (em geral prata ou cobre). A composição é medida em termos de quilates (com 24 quilates para o ouro puro). Assim, uma liga de ouro de 18 quilates representa uma pureza aurífera de 75%. Saliente-se que o ouro também não desempenha qualquer papel significativo ao nível biológico (ao contrário do sódio, do potássio, do magnésio, do cálcio, do ferro, do cobre, do manganésio, do cobalto, do níquel, do zinco e, mesmo, do vanádio). O paradoxo da inutilidade altamente desejável do ouro é reforçado pela conhecida história do Rei Midas (ou Mita) da Frígia (séc.VIII a.C.): Sileno, um beberrão consumado - mas também respeitado tutor de Dioniso - vagueava, perdido, pela Frígia, quando foi levado à presença do rei. Este, porém, acolheu-o com galharda hospitalidade. Grato pelos favores concedidos ao mestre, Dioniso resolveu recompensar Midas, satisfazendo-lhe qualquer pedido que ele fizesse. A escolha recaiu no dom de trnsformar em ouro tudo em que tocasse. Não tardou muito para que Midas percebesse que tinha requerido uma sentença de morte, para si e todo o reino. Ao menor contacto, o vinho, a comida, até a sua filha se transformavam em inertes estátuas de ouro (o sonho alquímico?). Aflito, o rei recorreu novamente a Dioniso que, para o libertar de tal maldição, o mandou banhar-se no rio Pactolo. A história acaba bem: Midas voltou a ser um rei normal e as areias do rio ficaram auríferas. (...)
Um dos usos mais extraordinários da capacidade única da água-régia para dissolver o ouro ocorreu em Copenhaga durante a II Guerra Mundial. Dois físicos alemães, Max von Laue e James Franck, ambos galardoados com o Prémio Nobel de Física (em 1914 e 1925 respectivamente), com receio de verem as suas medalhas de ouro confiscadas pelo governo nazi em prol do esforço da guerra, tinham-nas confiado a Niels Bohr, fundador e director do famoso Instituto de Física Teórica em Copenhaga. Com a invasão da Dinamarca pela Alemanha em 1940, tornava-se imprescindível esconder as medalhas (até porque elas estavam identificadas com o nome do laureado). Foi o químico húngaro George de Hevesi, então a trabalhar no Instituto de Bohr, quem teve a ideia de, em vez de esconder as medalhas, as dissolver em água-régia e de arrumar o frasco da solução nas prateleiras do laboratório. Quando a guerra acabou, Hevesi precipitou o ouro que depois foi devolvido à Fundação Nobel em Estocolmo, para cunhar novas medalhas. (...)»
[in HAJA LUZ! Uma História da Química através de Tudo - Jorge Calado]

Outro, do Pina

[A primeira leitura é um reconhecimento. Do terreno.
A segunda é um encontro. Do chão.]

No leito de morte de Eugénio de Andrade

Na mão de Ana o iogurte não
iluminava, escurecia,
comunhão ajoelhada
no fundo do coração do dia

dividido onde, desperto, ele dormia.
O movimento da colher embalava-o
como uma música que quase se ouvia
neste mundo ou um colo que o adormecia.

A tarde declinava, as sombras,
como sonhos, alongavam-se na almofada;
tudo fazia um sentido
limpo e simples, onde não alcança a poesia.

O que não fora dito
calado ficaria para sempre,
as palavras haviam-se sumido, transidas,
no interior da casa, o próprio silêncio emudecera.

Senhor, permite que adormeçamos
antes que feches a luz,
que os rebanhos estejam recolhidos
e os credores se tenham afastado da nossa porta,
mas que tenhamos pago as dívidas aos que nos serviram
e aos que nos amaram e aos que nos esperaram;
as tuas grandes mãos sustentaraão o telhado e as paredes
e moerão o grão e fermentarão o trigo,
apaga com as tuas mãos o nosso rasto
e que repousemos
sem motivo para nos culparmos
por não termos sido felizes.
                                              Foz do Douro, 22/1/2005

Textos perfeitos

Fazem bem ao corpo, ao espírito e aos humores.

Claro!

Claríssimo!

Boa malha

Ó Medina! Só que o Gaspar é um lacaio dos oligarcas! Os fiascos dele são medalhas no currículo! 

HAJA LUZ! - 27

«(...) Electrão, protão, neutrino e neutrão (mais as respectivas partículas da antimatéria como o positrão, o antiprotão, o antineutrino e o antineutrão). Quatro a quatro: o número mágico dos elementos gregos? Duas partículas pesadas (protão e neutrão), chamadas bariões (do grego baros, para 'peso'), e duas partículas leves (electrão e neutrino) chamadas leptões (do grego leptos, para 'fino'). A massa do neutrino continua em disputa - chegou a pensar-se que não teria massa, uma partícula imaterial! - mas deve ser cerca de um milhão de vezes mais pequena do que a do electrão. A história, porém, não é tão simples. (...)
Levantemos já a ponta do véu: a verdade é que, ao contrário do electrão, o protão e o neutrão são feitos de quarks! O nome soa bem, mas não quer dizer nada. Quando, em 1963, Murray Gel-Mann deu o nome de quark aos constituintes fundamentais dos nucleões (protão e neutrão), soletrou a palavra como kwork (que tem a beleza que advém do trabalho ou work). Foi só mais tarde, ao folhear o Finnegans Wake (1939) de James Joyce, que Gell-Mann encontrou a expressão "Three quarks for Muster Mark" que pode, ou não, significar um pedido de cerveja: Três cuartos para o Sinhor Mark") - e quark ficou. O humor, que tinha entrado na ciência pela porta da mecânica quântica, viera para ficar. (...)
Mas há que referir ainda os mesões, os muões e os tauões. Os mesões e os bariões nucleares (protão e neutrão) formam o classe dos hadrões (do grego hadros, para compacto); os muões e os tauões estão juntos com os electrões e os neutrinos na classe dos leptões. O muão e o tauão podem ser considerados electrões pesados.(...) Os mesões têm tipicamente uma massa menor que os bariões, mas significativamente maior que a do electrão.
Qual a origem de tantas partículas? Umas são fabricadas nesse laboratório de muito altas energias que são os raios cósmicos. Feixes de partículas sub-atómicas com velocidades elevadíssimas, os raios cósmicos resultam de processos astrofísicos como a fusão nuclear do Sol. Ao atravessarem a atmosfera, causam reacções nucleares secundárias que levam à formação de partículas como os mesões e os muões. (...)
Enquanto os mesões são constituídos por dois quarks, os bariões são formados por três. E há seis tipos de quarks (...). Isolar os quarks é uma tarefa impossível: a forte força atractiva que os mantém presos nos hadrões aumenta com a distância (ao contrário do que sucede com as forças electromagnética e gravitacional). Quando muito podem sentir-se os quarks dentro dos hadrões. Como? Uma analogia será imaginar um saco ou uma peúga bem apertada , com três objectos dentro: uma esfera de ferro, um cubo de madeira e uma esponja. Bate-se com o saco na cabeça duma pessoa: A vítima certamente perceberá a diferença entre cada um dos objectos. (...)
Então de que são feitas as coisas? De átomos, cujos núcleos são feitos de protões e neutrões, que são feitos de quarks, que se comportam como supercordas, etc. Vem à baila o paradoxo da dicotomia com que, no século V a.C., Zenão de Eleia pretendia demonstrar a não existência do movimento: a seta que, uma vez disparada, nunca atinge o alvo, o corredor que nunca corta a meta. Antes do alvo ou da meta há a metade da distância, depois um quarto, um oitavo, etc - um número infinito de tarefas, isto é, uma impossibilidade. Ou, em termos de tempo: o corredor gastou metade do tempo, depois um quarto (para a metade seguinte), um oitavo, e assim sucessivamente.
Solução: o movimento acopla o espaço com o tempo, e não pode ser discutido só em termos de espaço (ou de tempo).»

quarta-feira, 20 de março de 2013

Quem não tem unhas

Vira as pautas!

Manhã

Sair à rua, beber café, sentir o aconchego deste sol, ouvir os ecos de insânias longínquas nas gordas do jornal, agradecer o misterioso impulso à genesíaca força do universo, saborear o privilégio de estar vivo quando podia não estar, voltar a casa, retocar um texto, acreditar em Epicuro e no auto-frugalismo, ouvir os pardais inquietos a programar os ninhos que vão fazer no telhado, deixar correr o primeiro andamento da 5ª do Beethoven pelo Karajan...
É isto a Primavera?! Será o Dia Mundial da Felicidade?!

terça-feira, 19 de março de 2013

Mais outro!

Catroga é um lustroso exemplar das nédias elites lusas. Já foi gestor, ministro, conselheiro, professor, académico, sei lá. Foi mesmo agora ouvido ali ao lado, sobre a vida da pátria, num canal de televisão.
A inverdade, a cobardia, o despudor, a falta de decência, a decadência ética e moral que patenteia causam vergonha, repugnância, náusea, asco, nojo, luto.
E reconciliam-me com esta pátria indígena. Que há séculos tem o que merece ter.

Que Beleza!

Mais do que uma fala de alquimista, este é o discurso do verdadeiro Hermes Trimegisto.
Podes ouvi-lo ali.  

O que eles mostram

E o que escondem!

HAJA LUZ! - 26

«(...) No que respeita aos elementos, o primeiro a ser isolado ou fabricado foi certamente o carbono, na forma de carvão. Onde há fogo, há fumo, cinzas e carvão (e dióxido de carbono). Viu-se no Capítulo Cinco como a descoberta do fogo constituiu o primeiro acto civilizacional. Ao observar os incêndios naturais, a Humanidade assistiu à produção de carbono; ao queimar madeira para se aquecer e cozinhar, isolou o carbono.
Se o carbono marcou o início da História, o enxofre purificador, vindo das entranhas da Terra, e à vista de todos nos depósitos vulcânicos, andou lá perto. O enxofre era conhecido e utilizado desde tempos imemoriais. No final da Odisseia, de Homero, Ulisses, depois de matar os pretendentes de Penélope, manda a ama Ericleia fumegar a casa com enxofre:

Traz enxofre, ó anciã, para afugentar o mal
e traz tochas, para purificarmos a sala.

A ama não lhe desobedeceu:

mas trouxe tochas e enxofre; e Ulisses purificou
toda a sala de banquetes, toda a casa e o pátio

antes de enfrentar as mulheres e a rainha. De facto, o produto da combustão do enxofre, o dióxido SO2, tem acção anti-microbiana e, sob o nome de E220, é um aditivo alimentar.
No seu projecto grandioso e comovente sobre o Trabalho (1993) - uma arqueologia da era industrial - o fotógrafo Sebastião Salgado registou o esforço dos habitantes de Licin, na Indonésia, para colher o enxofre nativo do vulcão próximo, a vinte e sete quilómetros de distância. Começam a faina à uma da manhã, trepam os 2.300 metros da montanha até atingir a cratera, para depois descerem mais de 600 metros da bocarra fumegante, até chegarem aos depósitos sulfurosos no lago que enche o centro da cratera.
As nuvens sulfurosas mal os deixam respirar. Protegem o nariz e a boca com um trapo, e aguentam-se nas canelas o melhor que podem. Carregam 70 ou 75 quilos de enxofre em dois cestos e transportam-nos aos ombros, equilibrados numa longa vara de bambu. Esperam-nos duas horas de subida árdua e um descanso para almoço frugal de peixe seco.
Depois é a corrida montanha abaixo, o único modo de suportar carga tão pesada. Sofrem todos de pernas bambas, deformadas pelo peso, só aguentam fazer duas travessias por semana, e ganham três dólares e meio por dia. (...)»

Proezas - 10

Mais um escroque, este zebrado. Entre os muitos da matilha

segunda-feira, 18 de março de 2013

Se pensavas que a festa dos escroques cavaquistas e apêndices afins tinha acabado

 Bem enganado andavas! 

Quem assim fala

Não é nada gago!

Estampa

[Foto de Alfredo Cunha]
Meteram o homem naqueles espectáculos de ilusionismo arriscado, com muitas plagas distantes, e gestas aventureiras, e almas repartidas em pedaços, coisa e tal. Era o comparsa que aceitava trancar-se na caixa das espadas.
Porém o animador do palco era um farsante, um vulgar aprendiz de feiticeiro. Uma tarde abriu a caixa e o pobre saiu assim, desmanchado em talhadas desconexas.
E ficou para ali, às postas, num terreiro do sertão, como um desperdício triste. Um homem que era uma estampa!

domingo, 17 de março de 2013

Doutrina nova

Os inimigos do homem deixaram de ser o mundo, o demónio e a carne.
São a ignorância mais o medo. E os escroques da finança.

Outra vez o trono e o altar

- Uma Igreja pobre para os pobres! - promete o papa de Roma.
- Aqui tem pobres para ela! - diz o governo do pobre Portugal.
Em quinhentos anos de história muito triste, nem as varejeiras mudaram. Mutatis mutandis, claro!

sábado, 16 de março de 2013

Francisco

Não distingo muito bem as mafias do Opus Dei das camorras maçónicas. Nem os negócios de armas do IOR, nem as lavagens do Banco Ambrosiano, nem outros mortais pecados me retiram o sono. Ao longo duma vida, se tomado gota a gota, um organismo são adapta-se ao veneno da mais farisaica serpente.
É certo que assim me soa estranho, este epíteto sem ordinal sucessório, lá saberá porquê o santo homem. E o Espírito Santo será essa pomba estúpida, que poisa nas estátuas e suja os bancos dos jardins, mas brinca pouco em serviço.
O que eu sei é que a América Latina, com quarenta e tal por cento, constitui o mercado mais pujante do Vaticano católico. Sei que os cristãos evangélicos surfam por lá na crista da onda. Sei que a Europa papista é um recanto céptico e descrente, em acentuada regressão. Marcado por um relativismo dissolvente, a prometer bem fraco dividendo.
Isso é que explica as escolhas da mais estúpida pomba. IVG, casamento dentro do mesmo sexo, crimes de pedofilia, celibato canónico, ordenação feminina, eutanásia, combate à Sida, uso do preservativo, isso agora não interessa nada! 
Uma Igreja pobre para os pobres?! Pobres deles!

Proezas - 9

Destes cabrões marginais, e dos muitos papagaios amestrados! 
Não se cansam de martelar a realidade, a ver se nos fazem a cabeça. 
E em casos até conseguem, com a ajuda da nossa estupidez. 
O mal deles é o que atrás deixaram dito.

Só se desvenda isto aqui, por ser política pura. Por ser mais uma proeza destes cabrões marginais.

«Caros camaradas
Sabiam que, depois de um civil ter passado a fazer parte do Conselho Directivo do IASFA [Instituto de Acção Social das Forças Armadas], foi nomeado outro civil como responsável pela ADM [Assistência na Doença aos Militares]?
Sabiam, também, que, ao que consta, por despacho da tutela, estão suspensas as nomeações de militares para o IASFA, a fim de que, aos poucos, vão sendo substituídos por pessoal civil?
Não estando em causa a competência dos nomeados, o que se encontra subjacente a estas decisões é a passagem do controlo do que é nosso [possessivo aqui usado com toda a propriedade!], uma obra erigida maioritariamente com as contribuições, directas ou indirectas dos militares, para as mãos de quem nada tem a ver com ela. 
Se, ainda por cima, tivermos presente a valia do património do IASFA, muito dele oriundo do Cofre de Previdência das Forças Armadas, as nossas preocupações acrescem de forma substancial.
Mais: se nos lembrarmos de que, em documentos que circularam, o MDN afirma haver quadros a mais nas Forças Armadas, a que forçosamente haverá que dar destino se for por diante a chamada reestruturação que se pretende implementar, e uma situação de reserva a que importará dar “trabalho”, não deixa de causar novas preocupações este tipo de decisões . (...)»
[Extracto de correspondência da AOFA - ASSOCIAÇÃO DE OFICIAIS DAS FORÇAS ARMADAS (activo, reserva e reforma)]

Sic transit

[Foto de Duarte Belo]
Depois da invernada cavaquista que durou uma década comprida, quando em 1995 o eng. Guterres chegou ao governo, tomou duas decisões:
- suspender as portagens na CREL;
- suspender a barragem do Côa, com a obra já em andamento.
Ora o que tem que ser tem muita força, como às vezes é sabido. E a CREL lá tem portagens há muito. O mesmo não sucedeu, infelizmente, às gravuras nem às obras. A EDP recebeu cem milhões pelos trabalhos já feitos, esfregou as mãos toda contente, e foi assaltar os vales do Sabor mais o do Tua.
Com o disparate assim em roda livre, o Museu do Côa era uma questão de tempo. E hoje lá está, no cimo dum outeiro. Não liga o aquecimento, porque não há dinheiro para a factura e a EDP não fia. Não tem cartuchos para a fotocopiadora, porque o Gaspar mandou fechar as torneiras. Não há iniciativas culturais, porque o dinheiro escasseia. Em Castelo Melhor e Muxagata, as instalações de apoio estão paralisadas. Há muito que os arqueólogos perderam o trabalho, e os visitantes votam por correspondência.
O que nos vale, a nós todos, é o eng. Sócrates, como bode expiatório. Já que, de elefantes brancos visionários, temos os manuais de história a abarrotar.

Mas o que é isto?!

Nada! Nada! Só lembranças dum tempo em que o mundo parecia ter uma lógica humana. Mesmo se duvidosa, era uma lógica!

Séc. XVIII

[Entrada duma mina inglesa de carvão, com engrenagem enroladora accionada por máquina a vapor - ca. 1800]
[Autor desconhecido]

«À partida não faz sentido perguntar à ciência para que serve. O que não é a mesma coisa que dizer que os seus resultados não devam ser vigiados e controlados, (às vezes por razões éticas). Tal como não faz sentido perguntar para que serve um bebé.»
[in HAJA LUZ! Uma história da química através de tudo - Jorge Calado]

[NOTA: Há-de parecer-nos hoje muito estranho, para só dizer o pouco! Por estas eras, andavam numa fona os nossos avós épicos, a levar para a Amazónia caravelas carregadas de granito aparelhado. Para construir fortins que ainda hoje lá estão, a delimitar soberanias, comidos pela floresta. É caso para dizer, bem a propósito: as nossas pseudo-elites que se fodam, as de então e as de agora!]

Património imaterial

Lá será. Porém "o  fado exercita a garganta, mas tolhe as mãos e adormece a mente".

Vê-me só!

Saúde-se aquilo que é uma beleza. Criativa, certeira, edificante.
Mesmo se prolixa, a espaços. Menos tensa.

Ó Catroga!

Há dois anos andaste para aí a embandeirar em arco. Foste parte orgulhosa da escumalha que varreu finalmente o governo do Sócrates, e prometeste-nos o paraíso por causa do bom acordo que as tuas intervenções arrancaram à troika. Reivindicaste mesmo a parte que ao teu partido cabia no festim. Íamos todos ser felizes, finalmente.
Então não é que, agora, os marginais teus amigos andam para aí a dizer que o desenho que ajudaste a fazer era uma merda?! Limpa as mãos à parede, meu bandalho!!

Fado

Neste pé a que as coisas já chegaram, só não vê com clareza quem não quer. Ou os carreiristas parasitas. Ou as múmias carpideiras, manobristas e inúteis.
- E de que é que tudo isso hoje me vale?
- Pois de muito! Se isso já te não valer de nada, mesmo hoje, quer dizer que mereces o que tens. Mereces o pior que ainda virá. Porque este fado, este jugo, o presente e o já passado, foi das tuas próprias mãos ignaras que saiu. Há séculos e ainda hoje.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Tudo

Tudo quanto sei, e não é muito, aprendi-o com as mulheres, os jesuítas e os americanos do Texas.
Aprendi com estes últimos a reduzir ao mínimo as hipóteses de voar um avião e partir o canastro.
Os jesuítas ensinaram-me em três tempos os segredos da sermonária mais elaborada.
E as namoradas inspiraram-me o resto, exceptuando aquelas que nem resto me deixaram.

Proezas - 8

Destes cabrões marginais!

Proezas - 7

Destes cabrões marginais!

Proezas - 6

Destes cabrões marginais!

Proezas - 5

Destes cabrões marginais!

Proezas - 4

Destes cabrões marginais!

Proezas - 3

Destes cabrões marginais!

Proezas - 2

Destes cabrões marginais!

Proezas - 1

Destes cabrões marginais!

HAJA LUZ! - 25

[Nuvem atómica de Nagasaki, 9 de Agosto de 1945]
«(...) Em 1949 a União Soviética realizou o seu primeiro teste com uma bomba nuclear. Seguiram-se o Reino Unido (1952), a França (1960) e a China (1964). Um conflito ideológico novo tomou conta das consciências dos cidadãos responsáveis, em especial dos cientistas: contribuir, ou não, para o fabrico  e teste de armas de destruição maciça. (...)
Oppenheimer construíra a bomba, mas depois de Little Boy (Hiroshima) e Fat Man (Nagasaki) pensava que a humanidade tinha chegado ao limite do aceitável. Talvez o tivesse mesmo ultrapassado. Fabricar uma bomba mais potente que a de Hiroshima seria tão absurdo como condenar uma pessoa a várias penas de morte em simultâneo. Pela primeira vez desde que o homo sapiens emergira há cerca de 200 000 anos, a Humanidade tinha inventado os meios de se autodestruir total e irreversivelmente. Nada seria como dantes. (...) Para os EUA, era difícil partilhar a supremacia nuclear e muito menos renunciar a ela. A saída foi seguir em frente e passar à ainda mais potente bomba de hidrogénio, baseada na fusão (em vez de fissão) nuclear. Sabia-se que era viável e tinha grandes defensores, o mais entusiasta dos quais seria Edward Teller. (...) A bomba H seria uma verdadeira superbomba, dez mil vezes mais potente que a bomba de Hiroshima e letal num diâmetro de mais de quinhentos quilómetros. A partir de 1949, a pressão para construir a bomba H tornou-se irresistível.
O ponto de não-retorno aconteceu a 29 de Agosto de 1949, quando a União Soviética ensaiou a sua primeira bomba atómica de fissão. Perdido o monopólio nuclear, começava o despique e a luta entre as pombas pacíficas e os aguerridos falcões. Em Outubro o Conselho Consultivo Geral da AEC, liderado por Oppenheimer mas que incluía também Fermi, pronunciava-se unanimemente contra a construção da bomba de hidrogénio, por razões técnicas e éticas: "Acreditamos que a superbomba não deverá nunca ser produzida. (...) Ao decidir não continuar a desenvolver a superbomba, criamos com o nosso exemplo uma oportunidade única de pôr algumas limitações à guerra total e assim reduzir o medo e despertar as esperanças da Humanidade". (...) No entanto, um mês depois os Chefes de Estado Maior Reunidos opinavam em sentido contrário e instavam o Presidente Harry Truman a ordenar o desenvolvimento da nova bomba. (...) O pai seria agora Edward Teller. O projecto levou quase três anos a frutificar: a 1 de Novembro de 1952, a primeira bomba H era ensaiada num atoll das ilhas Marshall, no oceano Pacífico. Menos de um ano depois, a 12 de Agosto de 1953, era a vez da União Soviética testar a sua versão da bomba H. Voltava-se à estaca zero da paridade nuclear. (...)
J.R.Oppenheimer morreu, de cancro da laringe, a 18 de Fevereiro de 1967. No funeral, o Juilliard String Quartet tocou dois andamentos do Quarteto nº 14 em dó sustenido menor Op. 131, o penúltimo e mais experimental dos quartetos de Beethoven. Aquele que contém, no dizer de Wagner, a música mais triste do mundo. (...)»

quinta-feira, 14 de março de 2013

HAJA LUZ! - 24

[Teste da bomba de plutónio, em Trinity, 16 de Julho de 1945] 
« (...) O novo laboratório veio a crescer em Los Alamos, a cerca de 40 quilómetros de Santa Fé. Robert Oppenheimer amava o Sudoeste americano, o deserto e as suas mesas, e era aqui que passava as férias.(...) Aos poucos formou-se a maior concentração de talento científico que o mundo jamais conhecera ou viria a conhecer. De início seriam uns vinte ou trinta cientistas, depois centenas, e no fim mais de seis mil pessoas (dos quais cerca de quatro mil seriam cientistas e técnicos). (...)
Nunca será demais salientar a importância que imigrantes como Bethe, Fermi, Frisch, Peierls, Weisskopf, Szilárd, Teller, etc., fugidos aos odiosos regimes ditatoriais que tinham engolido a Itália, a Alemanha, a Áustria e a Hungria, tiveram na concepção e construção das primeiras bombas nucleares em Los Alamos. (...) Quanto à bomba propriamente dita, havia quem favorecesse um teste público que levasse os japoneses a renderem-se (a Guerra na Europa tinha terminado nos primeiros dias de Maio, com a derrota e rendição da Alemanha). O problema é que não havia a certeza de que qualquer das bombas funcionasse e explodisse. Vinte e oito meses após o começo das operações, a 16 de Julho de 1945, era ensaiada a primeira bomba (de plutónio). O teste esteve marcado para 4 de Julho - o Dia da Independência Americana - mas teve de ser sucessivamente adiado, por causa das tempestades eléctricas e das más condições atmosféricas. Teste e local foram baptizados de Trinity, ou Trindade. (...)
O teste realizou-se em Jornada del Muerto, uma área no meio do nada, a cem quilómetros de Alamogordo, no deserto do Novo México. Às cinco e meia da manhã, num ambiente da maior tensão, viu-se pela primeira vez aquela luz cauterizante, feitra de muitas cores, do dourado ao púrpura, ao violeta, ao cinzento e ao azul - uma luz mais intensa do que o sol do meio-dia. Ao mesmo tempo erguia-se uma nuvem em forma de cogumelo ou alforreca. Um escasso minuto depois, a onda de choque, furiosa como um tornado, apanhou alguns observadores desprevenidos. (...) A potência ultrapassara em muito o limite superior expectável das dez mil toneladas de TNT. Quanto ao estrondo, em vez do trovão apocalíptico esperado, ouviu-se um barulho que soava a tiro de pólvora seca, e que reverberou pelos montes e vales do deserto durante alguns minutos. Concretizava-se a profecia de T.S.Elliot (no poema Os Homens Ocos, 1925):

É assim que o mundo acaba
Não com um estrondo, mas com uma lamúria.

"A guerra acabou!", exclamaram alguns dos observadores do teste. (...) Para Oppenheimer, porém, a guerra tinha começado. (...) E assim foi. A 6 de Agosto de 1945, um bomba nuclear de urânio 235, com a alcunha de Little Boy, devastava Hiroshima (60% da cidade ficou destruída). Como o Japão não se rendeu, três dias depois os EUA bombardeavam Nagasaki, com um engenho de plutónio 239, com o nome de Fat Man, que deixou 40% da cidade em escombros. (...)»

[NOTA: Suspeita-se, cá em casa, que o real destinatário da mensagem nuclear era Moscovo. A Tóquio foi apenas enviado conhecimento, pessoal, oportuno e doloroso, da barbárie criminosa.] 

HAJA LUZ! - 23

[Cratera do meteoro Barringer, no Arizona]
A Idade da Terra Revisitada
«(...) Holmes andava perto, mas não estava ainda completamente correcto. A metodologia estava certa mas faltava afinar o ponto de partida - a composição isotópica primordial do chumbo. A solução viria do espaço, na forma de meteoritos de ferro. Tudo indicava uma ligação genética entre a Terra e os meteoritos (que se confirmou). Terra, Lua, meteoritos, formaram-se na mesma altura. (...)
O meteorito escolhido foi um dos mais célebres - o do Canyon Diablo, causador da famosa cratera Barringer no estado do Arizona, há 20 mil ou 40 mil anos. Em Setembro de 1953 Patterson anunciava num congresso que a Terra tinha 4510 milhões de anos de existência. (...) O  valor hoje aceite é de 4.55 mil milhões de anos. Patterson cortara a meta, mas Holmes construíra a pista onde ele e vários outros correram. (...) "Ao olhar para trás, é uma pequena consolação, para as desvantagens da velhice, notar que a Terra envelheceu muito mais rapidamente do que eu - passou de cerca de seis mil anos, quando eu tinha dez anos (a estimativa do arcebispo Ussher) para quatro ou cinco biliões quando cheguei aos sessenta". (...)
E o Universo? O paradoxo é que, durante anos, mesmo décadas, muitos tiveram de conviver com o absurdo dum Universo mais novo do que a Terra! (...) O certo é que Georges Lemaître, sacerdote católico, astrónomo e professor de física na Universidade Católica de Lovaina, aplicou a teoria da relatividade geral de Einstein à cosmologia, tendo chegado à conclusão de que o Universo estaria em expansão. (...) Lemaître teve então oportunidade de explicar a sua concepção: o Universo ter-se-ia expandido a partir duma sigularidade inicial a que chamou o "átomo primitivo" ou primordial. Esta ideia de que tudo começara numa espécie de ovo cósmico que explodiu no instante inicial cheirava demasiado a Criação, para poder ser aceite sem reservas por físicos como Einstein e Eddington. (...)
A teoria de Lemaître acabaria por tomar o nome de teoria do big-bang, ou da grande explosão, um termo usado pela primeira vez em 1949 pelo cosmólogo inglês Fred Hoyle (...). O 'átomo' cósmico de Lemaître, que ele imaginava que tivesse várias vezes o tamanho do Sol, é agora um ponto - a ausência de espaço. (...)
Tudo começou, portanto, há cerca de 14 mil milhões de anos com um grande bangue, num ponto de densidade infinita e temperatura infinita. Depois, foi só uma questão de tempo... É o big-bang que marca a origem do tempo e o início do espaço. O Universo foi-se expandindo e arrefecendo, criando o espaço e começando a contagem do tempo, até atingir os actuais 3 kelvin ou K (uma temperatura de -270 ºC). (...). Para comparação, a menor temperatura registada até hoje à superfície da Terra é de -89.6 ºC (na Antárctida, a 21 de Julho de 1983; a temperatura média global à suaperfície de Marte é de 220 K, e a de Plutão é estimada em cerca de 40 K.
A evolução foi rápida. A história está contada num livro célebre de Steven Weinberg, professor da Universidade de Harvard e Nobel da Física em 1979, Os Primeiros Três Minutos (1977). A receita para a evolução do Universo é: expansão, arrefecimento, 'cozinhado' de partículas. Ao fim dum centésimo de segundo a temperatura era de cem mil milhões de graus, muito maior do que a temperatura no interior de qualquer estrela. (A temperatura no centro do Sol é estimada em 15 milhões de graus). Tão grande a temperatura, que não havia matéria tal como a concebemos hoje - apenas fotões de luz e algumas partículas mais pequenas como os electrões, os positrões e os neutrinos. (...)
Ao fim dum segundo, a temperatura já era de dez mil milhões de graus. Aos catorze segundos, quando a temperatura era de três mil milhões de graus, dois protões e dois neutrões poderiam formar uma partícula alfa. Aos três minutos, a temperatura era de mil milhões de graus, possibilitando a formação significativa dos primeiros núcleos atómicos de hélio. Aos quatro minutos e novecentos milhões de graus, o deuterão é estável; um quarto da massa do Universo é hélio. Mas foi preciso esperar mais setecentos mil anos para que a temperatura baixasse até aos três mil graus, e os electrões pudessem juntar-se às partículas alfa e aos deuterões, para formarem os primeiros átomos neutros: hélio e hidrogénio. (...) Ainda hoje, noventa por cento do Universo é hidrogénio e nove por cento é hélio (...).»