[Pedra da Rosetta - Museu Britânico, Londres]
« (...) De onde vinha Young? Originário duma família Quaker, onde frivolidades como a arte, a música e até a literatura eram banidas, Thomas Young teve uma educação diversificada. Sendo o mais velho de dez irmãos, ficou a cargo do avô materno. Muito precoce, aprendeu a ler aos dois anos; ao perfazer quatro já tinha lido a Bíblia, não uma, mas duas vezes; sabia grego e latim aos dez, e aprendeu hebraico aos doze; seguiram-se outras línguas orientais, com a ajuda de gramáticas e dicionários, bem como italiano e francês, de tal modo que antes de perfazer vinte anos já se desembaraçava em treze línguas, incluindo o turco, o arábico e o persa. Na adolescência, fabricava aparelhos ópticos e telescópios, e este interesse pelos mecanismos da luz e da visão manteve-se toda a vida. (...)
Finalmente há que recordar o seu papel pioneiro na interpretação das inscrições da Pedra da Rosetta (hoje no Museu Britânico), que levou à decifração dos hieróglifos. Descoberta em 1799 em al-Rashid (Rosetta), na sequência da conquista do Egipto por Bonaparte (1798), a Pedra é uma estela de diorito negro que contém uma inscrição gravada em três idiomas - grego, egípcio demótico e hieróglifos. Young percebeu que o egípcio demótico (a que chamou enchorios, que quer dizer da terra ou do país) derivava da escrita hieroglífica, e com a ajuda do grego meteu ombros à tarefa de o traduzir. A chave estava em nomes próprios, como Ptolomeu, que apareciam repetidos várias vezes em cada um dos textos.
A inscrição na Pedra da Rosetta é um decreto editado em 196 a.C. pelo faraó Ptolomeu V, cuja mulher e filha se chamavam Cleópatra. (Durante a dinastia ptolomaica, que se estendeu de 323 a.C. a 30 a.C., sucederam-se os nomes de Ptolomeu e Cleópatra; a Cleópatra que todos conhecem é a filha de Ptolomeu XII e irmã de Ptolomeu XIII). Young levou o seu trabalho muito a sério durante uma dúzia de anos (1814 a 1827), decifrou vários caracteres hieróglíficos, mas acabou por abandonar o assunto, farto das controvérsias com Jean-François Champollion, que viria a continuar com sucesso o seu trabalho. (...)
Eis um homem de quem se disse que "nunca teve um dia de folga em toda a sua vida". (...)»