[Nuvem atómica de Nagasaki, 9 de Agosto de 1945]
«(...) Em 1949 a União Soviética realizou o seu primeiro teste com uma bomba nuclear. Seguiram-se o Reino Unido (1952), a França (1960) e a China (1964). Um conflito ideológico novo tomou conta das consciências dos cidadãos responsáveis, em especial dos cientistas: contribuir, ou não, para o fabrico e teste de armas de destruição maciça. (...)Oppenheimer construíra a bomba, mas depois de Little Boy (Hiroshima) e Fat Man (Nagasaki) pensava que a humanidade tinha chegado ao limite do aceitável. Talvez o tivesse mesmo ultrapassado. Fabricar uma bomba mais potente que a de Hiroshima seria tão absurdo como condenar uma pessoa a várias penas de morte em simultâneo. Pela primeira vez desde que o homo sapiens emergira há cerca de 200 000 anos, a Humanidade tinha inventado os meios de se autodestruir total e irreversivelmente. Nada seria como dantes. (...) Para os EUA, era difícil partilhar a supremacia nuclear e muito menos renunciar a ela. A saída foi seguir em frente e passar à ainda mais potente bomba de hidrogénio, baseada na fusão (em vez de fissão) nuclear. Sabia-se que era viável e tinha grandes defensores, o mais entusiasta dos quais seria Edward Teller. (...) A bomba H seria uma verdadeira superbomba, dez mil vezes mais potente que a bomba de Hiroshima e letal num diâmetro de mais de quinhentos quilómetros. A partir de 1949, a pressão para construir a bomba H tornou-se irresistível.
O ponto de não-retorno aconteceu a 29 de Agosto de 1949, quando a União Soviética ensaiou a sua primeira bomba atómica de fissão. Perdido o monopólio nuclear, começava o despique e a luta entre as pombas pacíficas e os aguerridos falcões. Em Outubro o Conselho Consultivo Geral da AEC, liderado por Oppenheimer mas que incluía também Fermi, pronunciava-se unanimemente contra a construção da bomba de hidrogénio, por razões técnicas e éticas: "Acreditamos que a superbomba não deverá nunca ser produzida. (...) Ao decidir não continuar a desenvolver a superbomba, criamos com o nosso exemplo uma oportunidade única de pôr algumas limitações à guerra total e assim reduzir o medo e despertar as esperanças da Humanidade". (...) No entanto, um mês depois os Chefes de Estado Maior Reunidos opinavam em sentido contrário e instavam o Presidente Harry Truman a ordenar o desenvolvimento da nova bomba. (...) O pai seria agora Edward Teller. O projecto levou quase três anos a frutificar: a 1 de Novembro de 1952, a primeira bomba H era ensaiada num atoll das ilhas Marshall, no oceano Pacífico. Menos de um ano depois, a 12 de Agosto de 1953, era a vez da União Soviética testar a sua versão da bomba H. Voltava-se à estaca zero da paridade nuclear. (...)
J.R.Oppenheimer morreu, de cancro da laringe, a 18 de Fevereiro de 1967. No funeral, o Juilliard String Quartet tocou dois andamentos do Quarteto nº 14 em dó sustenido menor Op. 131, o penúltimo e mais experimental dos quartetos de Beethoven. Aquele que contém, no dizer de Wagner, a música mais triste do mundo. (...)»