quarta-feira, 13 de março de 2013

Do vinagre

Dizem que o deram a beber a Cristo, verdade amarga será. Mas curativo como aquele, apenas este:
«(...) A Cúria, composta, em teoria, pelos homens de mais densa fé religiosa, é afinal uma montra de horrores - vícios, abusos, traições, assédios morais, ou, para tudo dizer com católica terminologia, é uma montra barroca repleta de pecados - de grandes pecados (pedofilia, fraude, negócio de armas). (...)
Os cardeais são vistos na azáfama do manobrismo político, do jogo de influências, da luta dos lóbis (mais ou menos gays). Mas do mesmo passo todos eles, sem excepção, declaram que 'é o Espírito Santo que vai decidir quem é o novo Papa'. Pode isto merecer consideração? Então os srs. cardeais insultam o Senhor de forma tão descarada? (...)
É admissível que uma religião possua um Estado? Como aceitar com tranquilidade, sem sobressalto ético-político-cultural, a existência no coração da Europa de um Estado religioso, decorridas que estão mais de duas centúrias desde o triunfo da Revolução Americana e da Francesa, que nos legaram a noção de estado de direito democrático, precioso fruto do esforço de alguns dos melhores espíritos do Iluminismo? Vêm então evocar 'a figura de Deus', o deus cristão - que, convirá recordar, é um dos cerca de dois mil deuses demiúrgicos recenseados (...) -, colocando a sua existência como Verdade absoluta, coisa que (...) escancara de imediato a porta ao irracionalismo caótico. (...)»
[João Maria de Freitas Branco, filósofo, in PÚBLICO-13 MAR]