sábado, 29 de setembro de 2012

Gaivota em terra

Íamos à escola os dois. E ao fim da tarde, estendidos ao sol no alpendre de pedra, fazíamos os deveres nos cadernitos pardos de papel costaneira. Depois era o assalto da cozinha, alguma coisa haveria para matarmos a fome, a minha ocasional, a dele persistente.
Fazia-me confusão o capricho do David em manejar o giz à mão canhota. E doíam-me as varadas com que a professora o corrigia. Ele acabou por forçar a mão direita, e lá ia desenhando letras hesitantes e algarismos trôpegos. Mas não chegou a derrotar um tamanho Golias.
Quando lhe chegou a altura fez-se marinheiro, que o bombordo era já nele o lado natural. Mas saudava o comandante com a direita, e fazia à esquerda os cálculos do rancho da equipagem da corveta.
Um dia reformou-se, deu um jeito na casa da mulher e é onde vive. Mas nunca se libertou das saudades do mar, naquele exacto momento em que chegava a porto seguro e punha outra vez o pé em terra firme. Foi assim que plantou no jardinzito um cedro, puxou duma tesoura, e fez dele o convés duma corveta nova. Todos os dias desembarca dela.

Intuição

Hoje ponho um garrote no peito. E fico em casa.

Voo de pássaro

A última trovoada arrastou encosta abaixo a aflição dos incêndios na serra de Guilheiro, que um paisano ateou à beira do caminho.
Para trás ficou este velho que já não existe, acamado e preso a tubos que o sujeitam. E a uma pilha que lhe cravaram no peito, e alimenta as fantasias duma Electra sonhadora, a quem o pai desenhava trancinhas no cabelo, numa infância que o tempo já levou.
Ficou esta viúva que vive duma horta e da pensão, e tem em casa um rapaz à procura de emprego.
Ficou este casal já trôpego, cujo filho partiu ontem para a Suíça porque as férias acabaram.
Ficou este polícia reformado, a quem uns falsários das finanças roubaram dois salários para acudir à dívida soberana. A quem ele gostava de acudir era aos dois netos, duma filha separada dum genro que é esquizofrénico e não se deixa tratar.
Ficou esta velhota com Alzheimer, à espera duma sopa que há-de vir das meninas da Misercórdia, caso elas ainda disponham da memória que a ela falta.  
Ficou esta casa de turismo que os turistas desertaram por causa da interioridade, por causa das distâncias, por causa das portagens, por causa da gasolina.
Ficaram os carvões acumulados no leito da ribeira, que só as enxurradas do inverno hão-de lavar.

Uma última vez

Na sua linguagem tosca, um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida escandalizou alguns visionários. Convir-nos-á separar os alhos dos bugalhos.
 «No cancro, quando os pacientes não respondem aos tratamentos de primeira e segunda linha, avança-se muitas vezes para os últimos fármacos a surgir no mercado, bem mais caros. "Podem custar entre 30 mil a 50 mil euros por doente", diz Vaz Carneiro, que adianta que o impacto na sobrevida destes doentes oscila entre as seis semanas e os três meses, em média». [in PÚBLICO de hoje] 
Estes barcos de cruzeiro estão fora do porto, que a greve dos pilotos de barra lhes fechou a porta. Para a próxima buscarão outro cais de acostagem menos inamistoso. É o que não falta por aí.
De Norte a Sul os portos estão parados, não há estiva para ninguém por causa duma greve.
Uns e outros vão ter um lindo enterro, estes marítimos!

Em 1968 errava eu pelos sertões do Congo, à procura da pátria. E tarde lá chegou a imagem dum jovem que se imolou pelo fogo na praça Venceslau, numa página perdida do Paris-Match. 
Por isso a minha Primavera de Praga só aconteceu em Março de 2011, quando o comité central se aliou à pior escória de que há memória (a tal da credibilidade), para recusar o PEC IV e derrubar o governo de Sócrates.
E só há dias percebi essa traição, reparando no boneco da última sondagem. O que move o comité central não é proteger o povo, nem são as soluções para a vida dele, que as não tem e as dispensa. É apenas cavalgar a nossa raiva e garantir um precário nicho do mercado político. 
Se a manif de amanhã vier a ser tão poderosa como a de 15 de Setembro, bem garantido fica o comité central. O povo é que não tem garantia nenhuma.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Zoom

O quadro doméstico assusta, de tão inverosímil, de tão contraditório, de tão irracional.
Mas é só um pormenor do quadro mais geral.
Gasta uns minutos do teu tempo a observá-lo aqui, à frente dos teus olhos!

"Precisamos"

Para quê estar a inventar o que já foi dito ali brilhantemente?

Residência artística4

Performance Portugal 1143/2012 Guimarães
Cap.IV - MORTE

Residência artística3

Performance Portugal 1143/2012 Guimarães
Cap.III REPRESSÃO

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Residência artística2

Performance* Portugal 1143/2012 - Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura
Cap.II - TRAIÇÃO

Luiz Goes

Toada beirã.

É preciso acreditar

Comove-te, se preferires. Mas acredita!

As ridentes "primaveras" da Síria

Estes são os planos americanos
Estes são os modos de actuação.
Estes são os companheiros de luta
Esta é a hipocrisia geral.
Este é o papel triste da França.
Este é o futuro mais provável.

Residência artística1

Assim se chamou, e saiu dela, a performance Portugal 1143/2012, integrada na Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.
O autor é o artista Miguel Januário e os capítulos são quatro. Este é o primeiro, e chama-se AVISO.
Recomenda-se, sem outro comentário.

Alquimias

Toadas árabes na Andaluzia.
Juan Martin

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Refugo

De todas as malfeitorias deste governo, geradas na cabeça do Passos, do Relvas e do Gaspar, a mais nefanda e gravosa, a mais insana de todas é a alteração das taxas da TSU. 
Ninguém concorda com ela, nem os seus beneficiários. Não inverte as curvas do desemprego, nem do desinvestimento, nem do consumo, nem do défice, nem da dívida. Estilhaça apenas o mundo do trabalho, reduz apenas salários já precários. Tira apenas a este, que pouco tem, para entregar àquele, que nada pediu. Serve apenas, enquanto a põe a nu, a ideologia perversa da finança mais negra.
Recuar ainda seria um gesto de remissão. Mas o que é que se espera do malfadado PPD, um partido que é já refugo de si próprio?

Alucinação

Eis uma simples amostra do estado de alucinação e irrealidade e pânico em que naufragam as cabeças dos trombeteiros do Relvas, do Passos e do Gaspar. 
Nada disto é novo. Mas dói nos olhos, por tão flagrante ser.  

Performance?

Tens aqui. Uma beleza!

domingo, 16 de setembro de 2012

Por quem és!

Não percas isto!

Encenador

Quando eu for o sultão do Brunei, e me fizer falta um encenador pós-moderno para divertir o serralho, juro que vou contratar o cabrão do Portas!

Dia D

O povo era um grande bicho que ali estava na praça, aflito e perplexo, de rabo preso numa gigantesca ratoeira perversa, dissimulada por trás da cortina do medo.
No princípio, um terço estava ausente. Depois já só faltava um quarto. E no fim apenas ficou de fora o quinto do costume, e os jogadores de sueca do jardim do Marquês, a espadeirarem trunfos no flanco da manilha.
Lá para o final do dia o povo era, na praça, aquele grande bicho inquieto e perplexo, de rabo preso na incompreensível ratoeira perversa. Não sabia muito bem o que fazer do rabo aprisionado, mas tinha perdido o medo.
Foi assim que foi para casa, sabendo muito bem que a cada dia basta o seu tormento.

Lavar a alma

Do ruidoso desespero anglo-saxão.

Ventos, por enquanto

Afeganistão, Iraque, Líbia, Cairo, Túnis, Kartum, Yemen, Síria(?), Irão(?)...  

sábado, 15 de setembro de 2012

De colher de pau na mão

Os druídas entretêm-se a remexer o caldeirão das poções mágicas.

Sempre é verdade!

Os filhos da puta andam sempre em parelha.

Decisão difícil

Estarei hoje na praça!
E não é para defenestrar in situ o bando de alienados, ignorantes e arrivistas que assaltaram o poder.
Verdade é que não têm formação pessoal, nem técnica, nem humana, nem cultural, nem política, para pôr as patas no leme. Mas baldeá-los, pura e simplesmente, é no momento presente um salto para o vazio.
Vou à praça porque é dever de cidadania sujeitar-lhes o freio e limitar-lhes os danos. Até futuro aviso.

Gorduras

Um anafado feiticeiro da tribo (o das gorduras do estado!), a esconder num frenesi o triste estado das cuecas.

Maravilhas

Quando ouvi o nosso primeiro Passos lançar o repto ao retalhista Belmiro, para aproveitar o maná da TSU e logo baixar os preços, deu-me vontade de rir.
Mas quando apareceu o jornalista Fernandes (esse mesmo da inventona cavaquista do Lima, a das escutas a Belém pelo cabrão do Sócrates), a considerar que os patrões até podem usar a benesse da TSU para a devolver aos seus trabalhadores, fiquei tão emocionado que só me deu para chorar.
É o que sucede a quem vive num país de maravilhas!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Pelos tomates

Conta TM, no PÚBLICO de hoje:

"(...) Há dias fui a Berlim. Escolhi a TAP porque gosto da TAP. Cresci a considerá-la como nossa. Mas já não é assim tão nossa. Dez minutos antes do embarque - já de si atrasado - fomos avisados, pelos altifalantes, de que por falta de um tripulante não haveria serviço a bordo, isto é, não seria servida a refeição que tínhamos pago.
A bordo constatámos que havia três tripulantes que, aparentemente, não tinham nada para fazer, pelo que cumprir o serviço de refeições não lhes seria impossível, ou sequer difícil. Mas deve resultar de um qualquer acordo de empresa a obrigação de existirem quatro tripulantes a bordo para servir a refeição. 
Como é evidente, não havia qualquer questão de segurança que impedisse que servissem as refeições. Daria mais trabalho, levaria um pouco mais de tempo. Mas não foi isso que aconteceu: os três tripulantes a bordo ficaram no fundo do avião a entregar pãezinhos e bebidas a quem os lá fosse buscar. Pelo que me foi dito, nem sequer a comida foi aproveitada, parece que teria de ser toda deitada fora. (...)" 

Estes proletários-fashion tresleram os manuais. E depois guincham, quando lhes aparece um Relvas qualquer e os pendura pelos tomates, num gancho do talho!

Misérias renovadas

Há dois anos atrás, no meio da hecatombe financeira que alastrava da América como uma peste negra, não havia entre nós oligarca, banqueiro, barão, não havia partido, politólogo, analista, não havia gestor, economista ou magistrado sindicalista, não havia opinador, intriguista ou jornaleiro que não apontasse a Sócrates a culpa pessoal dos males todos. Muito mais do que o próprio governo, era a cabeça de Sócrates que era urgente degolar, para que o sol raiasse.
Um povo ignaro deixou-se ludibriar, a história é pródiga em exemplos desses. E levou ao poder o pior que já se conheceu, desde que há eleições.
Passado um ano, face à rudeza da realidade, não há um único destes canalhas que ainda apoie o governo. E Portugal deitou dois anos fora. 
Que remédio haverá senão pagá-los?! Um povo que anda há séculos a pagar aventuras antigas à custa de penúrias, lá terá que resgatar as aventuras novas com renovadas misérias.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Nem mais!

Diz a espanhola, a respeito do Acordo Ortográfico:

"(...) se frequentei a escola de línguas da minha cidade (Zamora) durante cinco anos a estudar Português, se há dez anos costumo tirar todas as minhas férias e fins de semana alongados nesse país vizinho, se nos últimos cinco anos li apenas dois livros na minha língua materna mas dúzias e dúzias deles em língua portuguesa (...), determinei que tenho alguma coisa a dizer. E rogo-lhes que me permitam dizê-lo sem se ofenderem, porque é por respeito e afecto que escrevo.
Sou contra o mal chamado AO (porque nem é acordo nem é apenas ortográfico), em primeiro lugar porque defendo as diferenças. (...)
Quando falo com colegas, amigos ou familiares sobre o AO da Língua Portuguesa, eles ficam admirados. Não percebem e dizem que eles nunca permitiriam uma coisa dessas aqui. (...)
Até onde eu sei, nunca veio aqui um país maior em número de habitantes (o México, por exemplo) a dizer-nos que tínhamos que falar ou escrever como eles, como também não tivemos uns académicos que, servindo vá lá saber os interesses de quem, decidiram um dia inventar um acordo ortográfico irracional e completamente contra natura, uma vez que as línguas devem evoluir ao ritmo do uso que lhes dão os povos que as utilizam para a sua comunicação, e nunca servir interesses politico-económicos. 
(...) este Acordo que, longe de unificar, traz (ainda) mais duplas grafias e gera uma confusão que não existia. Inventaram um problema onde ele não existia.
(...) antes que seja tarde demais e a Língua Portuguesa seja definitivamente traída. (...)

[PÚBLICO, 07 Set.]

Couto privado

Se isto é há séculos couto privado duns tantos, porque é que agora havia de ser diferente?!

Lavar os ouvidos

do insuportável orneio anglo-saxão.

Encore27

Paco de Lucia - Rodrigo - Aranjuez

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O pior é o resto!

Diz-se que não custou mais que 5 milhões, que foi financiado por judeus, e feito por um desqualificado qualquer da Califórnia. 
É um objecto risível e abaixo de cão, como se poderá verMas está a incendiar embaixadas, e a matar embaixadores.
Cá por mim, estão muito bem uns para os outros. O pior é o resto!

Há uma voz ali...

... que é indispensável ouvir!
Por que será que os media ta escamoteiam?!

Tão cedo

Já estalam as castanhas, na boca duns facínoras! E outras mais ainda estalarão! 

Genial

Esta página do PÚBLICO de ontem diz mais sobre o mundo, e a história, e a sociedade, e a nossa vida, do que uma academia inteira de historiadores, sociólogos e politólogos em roda livre.
Não dispondo de um link, transcrevo-a integralmente, com grande vénia ao seu autor, José Vítor Malheiros.

O sonho de Pedro Passos Coelho

Um terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa. Se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. Se quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar melhor. É por isso que nós não os vamos matar. Eles é que vão morrendo.  Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos. E as estatísticas já mostram isso. O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. Não são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde? Eles lá sabem. Por isso joga tudo a nosso favor. A tendência já mostra isso, e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. A natureza faz o resto. O Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é estatística. Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre sacrifícios. Só podemos salvar alguns, e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.
Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.
Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem. Tem de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho muita pena… os recursos são escassos. Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com um milhão de analfabetos. O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento? Só vão engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta. Portanto são: os analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e os ciganos, claro. E os deficientes. Não são todos. Mas se não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. Não era justo. E temos de promover a justiça social.
O outro terço temos que os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de alguns operários e assim, mas esta pouca-vergonha de pensarem que mandam no país só porque votam tem de acabar. Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente. Não digo voltar à escravatura – é outro papão de que não se pode falar – mas a verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura. Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para garantir o progresso, e permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam. A chatice de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas chatas, e para mais (por enquanto) votam, ainda que a maioria deles ou não vote, ou vote em nós. O que é preciso é acabar com esses direitos garantidos, que fazem com que eles trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira. Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem que eles são: proletários. Acabar com os direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem manda. Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. E enchê-los de futebol e telenovelas e reality shows para os anestesiar, e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.
O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. Já os convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável (tenho de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem viver com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os ciganos e os desempregados e acabar com o RSI, e que para pagar a saúde deles não podemos pagar a saúde dos pobres. Com um terço da população exterminada, um terço anestesiado e um terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável.
A verdade é que a pegada ecológica da sociedade actual não é sustentável. E se não fosse assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um dia. Não vou ficar em Massamá a vida toda. O Ângelo diz que, se continuarmos a portar-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite.

Outra vez a memória

Porque sem memória nada sobrevive. Nem os vendilhões do templo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Cultivar a memória

Para não viver completamente bronco, e não morrer completamente estúpido.

Desaparecer do mapa

Sobrevivente que foi do velho bafio fascista, o PPD sempre se constipou com as aragens de Abril. Acolitado pelos padres, alimentando-se de atavismos rurais e obscurantismos crassos, passou todos estes anos a arredondar o bandulho com o tutano do país. E assim foi reciclando gerações de oportunistas e de eminências de lata, umas atrás das outras: a dos senadores, a dos barões, a dos demagogos, a dos gangsters, a dos cavaquistas, a dos manobristas, a dos maoístas, a dos dândis inúteis, a dos autarcas dinossauros exemplares...
Restava a borra do fundo, a que agora está à vista. É de tal ordem que nem o país lhe sobreviveria, se não fosse antes o próprio PPD a desaparecer do mapa.

A desonra, o móbil e o mandante


 Este e aquele foram dois crimes distintos.
Mas para além da data coincide em ambos a desonra, o móbil e o mandante.

Ó Passos!

Deixa-te de pieguices de puta e assume o que te compete enquanto carteirista!
Passa ali à rua da esquadra e atira-me a carteira para o passeio. É que me ficou lá a carta de condução.
O resto havemos de ver!

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mesmo que só decifres metade da algaravia!

Atentando nisto, aprendes pelo menos três coisas. 
A primeira será o que é que pensa, o que é que move, e o que é que diz um filho da puta dum vigarista que faz vida a planear, a pôr em acção, e a justificar a desregulamentação dos mercados financeiros, isto é, a desordem das economias e a desgraça das pessoas. O qual é, ao mesmo tempo, conselheiro do Gaspar, substituto do Relvas, e principal arma secreta do governo do imbecil do Passos.
A segunda é poderes formar uma ideia concreta do que é a atitude profissional dum jornalista que pode ser tomado a sério.
A terceira é ganhares melhor perspectiva àcerca da escumalha com quem estás metido.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Tese 1

Nem aqui moram economistas, nem especialistas em gestão de catástrofes. Nem cá vêm, nem cá fazem falta. O que nos é indispensável é não abdicarmos do pensamento e da memória, não cedermos à confusão. Comecemos do princípio.
A gangrena e o desespero do mundo são criação da finança em roda livre, na City e em Wall Street.
Esta é a tese primeira, e está ali bem explicada. Poupemos por agora o nosso tempo.

Ó sorte malvada!

Acende aí o lampião, que o gajo não dá com a porta!

Abreviando

Nem mais!

Instantâneos 8

Ai que dor de dentes!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

4' 33''

Esta pérola da contemporaneidade é já um clássico, dado o grande valor de uso em círculos cabotinos.
Para os tímpanos, então, é um descanso!
Já o público melómano, do qual todos somos parte, é modelar. 
Cuida de ti, não destoes, faxavor!

Olha olha!

Então não é que voltou a ala dos namorados?! Lá razões é o que não faltava!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Yuri, Paulo, Joaquim

Não aparecia há dois anos, Yuri, o ucraniano. Nesse tempo perdera o trabalho certo que tinha na construção, esmolava sem pedir, era polido e humilde e alimentava a esperança com expedientes. O aspecto escorreito que mantinha era uma afirmação disso.
Agora já fala bem português e deixou crescer a barba. Fala dos estrangeiros que vivem lá para o Sul, em montes isolados, e guardam milhares de Euros no colchão, porque não têm multibancos perto. Às vezes vêm assaltantes da mafia e levam dinheiro aos sacos. O mundo está muito estranho.
O passaporte já perdeu a validade e ele ficou ilegal. Mas ir à Ucrânia arranjar outro custava-lhe meio ano, e uma fortuna de que nunca vai dispor. Uma piorreia séria começa a levar-lhe os dentes, acentua-lhe a degradação. Ele sorri... que às vezes faz uns ganchitos...
O Paulo frequentava a metadona, pedia uma moeda todas as manhãs, e metia petas que eu lá deixava passar, para comprar o passe do autocarro. De vez em quando recebia os filhos, que vinham de Coimbra a visitá-lo. Agora há muito tempo já desapareceu, que o levou a heroína, ou a sida, ninguém sabe.
O Joaquim já era velho. Usava barbas compridas e trazia num plástico tudo quanto possuía. Pedia umas moedas para comprar remédios. Pelos vistos também o não salvaram.

Lê aqui!

Que vale sempre a pena!

O circo dos mamões

Este palhaço triste, o bando de cãezinhos amestrados que assaltaram a arena, e o coro decadente que os aplaude (Catrogas, Ângelos, Leites, Borges, Mendes, Marcelos e tutti quanti) salivaram todos pela troika (que veio tarde demais!), para lhe mamarem nas tetas.
Agora que o leite lhes sai azedo, puseram-se todos a sonhar com o ovo no cu da galinha. Que a troika era responsável pelo circo, e certamente ia contemporizar, amaciar, facilitar, ajustar por sua própria iniciativa, para se limpar a si própria.
Enganaram-se outra vez, estes ranhosos!  A troika estendeu o guardanapo e mandou-os limpar as beiçolas.

A cor da coisa

Seja ele preto ou branco, o detalhe muda muito a cor da coisa!

domingo, 2 de setembro de 2012

Ó Marques Lopes!

Portugal só viveu em relativo sossego enquanto foi desse modo
Formataram-no assim elites de traidores, parasitas e aventureiros, há muitos séculos atrás, e o luxo dos últimos trinta anos foi um intermezzo, uma excepção que a história nos brindou por razões lá só dela. Tu é que já não te lembras, se alguma vez o soubeste, com essas teias de aranha que ainda trazes na cabeça! 
Por que pensas tu que o Sócrates foi objecto dum ódio tão feroz e personalizado, como já se não via desde o Marquês de Pombal?! Porque sonhou, esse triste, fazer desta merda um país.

Universidades de Verão

Uma adolescente que se desmamou há tempos a imitar os Morangos com Açúcar, e é da família política que já nos deu o Oliveira e Costa, e o Dias Loureiro, e o Coimbra, e o Arlindo Cunha, e o Duarte Lima, e o Isaltino Morais, e os gajos dos submarinos, e os outros da Portucale, e ainda tem lá mais para nos brindar, foi visitar a universidade do PSD, para aprender com os melhores mestres e assegurar um futuro.
E vai daí perguntou "como é possível que o eng. José Sócrates esteja em Paris a fazer uma vida de luxo com o salário de primeiro-ministro, sem ser preso."
A magistrada Cândida Almeida, que é procuradora-adjunta, e corre riscos de vir a ser procuradora-geral, e é directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, e já tem em mãos o recente acórdão do tribunal do Barreiro sobre o caso Freeport para que sejam tomadas as medidas convenientes face ao decidido no acórdão (aqui para nós, agitar outra vez a inculpação de Sócrates), lá titubeou enquanto palestrante que o ministério público não dispõe de poderes para chegar ao banco e começar por uma ponta a vasculhar as contas, e pegar nas algemas, e pôr-se a engavetar pessoas.
Realmente o patamar abaixo de cão existe mesmo! Porque é que eles não vão antes todos divertir-se para a benfeitora do Relvas, e deixam o mundo em paz?!

Emprestem um lenço ao homem!

Ou telefonem ao INEM, porra! Não fiquem p'raí pasmados, maré de lhe dar alguma coisa má!

Ó Cavaco!

Faz um grande favor a este país que não mereces. Vai-te foder com a conversa!

sábado, 1 de setembro de 2012

Ó Jerónimo!

Pedes tu mais força ao PCP, para poder fazer frente, e coisa e tal, já sabemos que é às políticas de direita. Tudo bem, mais força é o que todos precisamos. Mas diz-me agora uma coisa. Que fizeste tu da força que te deram, em Março de 2011, quando o governo que aí estava antes do Relvas pretendeu aprovar o PEC IV e puxar o freio à troika, como andam a ensaiar os espanhóis?! 
Pois usaste-a para estender a passadeira ao Relvas! Seguiste os velhos critérios dum fantasma paranóico, que há muitos anos também preferia os nazis aos sociais-democratas. Que venha Hitler, nós seguiremos Hitler! E ainda hoje consideras que o PS é igual ao PPD, caso não seja pior.
Sabes bem que o povo tem direito a ser estúpido, e mais ainda que é fácil endrominá-lo, conforme o Relvas fez exemplarmente. Tu é que não podes sê-lo. Para que te serve mais força? Para dares um nó mais forte no barbante das patas do cordeiro que levas ao açougue?!

Mestre Santos

O Santos atura um gancho como ajudante de farmácia, para a cobertura fiscal. Mas a sua verdadeira actividade começa às seis da tarde. É especialista em luxações, entorses, tendinites, em casos de pulso aberto e espinhela caída. Já não é o primeiro físico encartado que lhe pede uma consulta. E os pacientes comuns fazem bicha no pátio da vivenda, muito antes de ele chegar a cavalo na moto, a estrondear petardos no arrabalde.
Atende-os no rés-do-chão, enquanto o dia durar. E na sala de espera tem fotos do James Dean penduradas nas paredes, entre cursos de massagem desportiva e diplomas de fisioterapeuta. A um canto há uma gravura dum Isaac, e um Abraão de cutelo já nas unhas, e um anjo que ergue a mão sobressaltada, a suspender a bíblica insânia do velho que endoideceu.
Mestre Santos há-de ser o anjo salvador, mas cultiva outras facetas. Numa caricatura mais conservadora, ali dependurada, faz lembrar o Estaline, debaixo da bigodaça. Na outra, de traço mais modernista, é um Trotsky arrebatado.
Em volta há expositores de canetas, e colecções numismáticas, e relógios de bolso com tampa basculante. Quem se divertiu a vê-las foi esta adolescente, e mais a prima, que agora se sentaram no sofá. Ela conta, entusiasmada, as peripécias da parva da stôra, que a pôs na rua por lhe chamar paneleira. A tia gorda ri muito, de cadeiras enfaixadas nas calças de licra, e sopra balões de chuinga que faz rebentar no fim, sobressaltando a plateia.
Duas freiras carmelitas entraram com ar sisudo e interrompem a conversa. Padecem de artroses várias, têm fé nas mãos do mestre. E uma vez que foram relaxadas ao braço secular, vêm acompanhadas por uma assistente, a mulher jovem que as trouxe na carrinha do convento.
Mestre Santos manda entrar um paciente. E eu aproveito-lhe a deixa e fujo para o James Dean. Para as ilusões que havia no tempo dele.

Quasi-verdade

"Um povo que tem a coragem de ser pobre é invencível."
[Salazar]

Trata-se duma quasi-verdade e o resultado viu-se. Mas o Passos e o Gaspar acreditam piamente nela, porque foi o que aprenderam.