Diz a espanhola, a respeito do Acordo Ortográfico:
"(...) se frequentei a escola de línguas da minha cidade (Zamora) durante cinco anos a estudar Português, se há dez anos costumo tirar todas as minhas férias e fins de semana alongados nesse país vizinho, se nos últimos cinco anos li apenas dois livros na minha língua materna mas dúzias e dúzias deles em língua portuguesa (...), determinei que tenho alguma coisa a dizer. E rogo-lhes que me permitam dizê-lo sem se ofenderem, porque é por respeito e afecto que escrevo.
Sou contra o mal chamado AO (porque nem é acordo nem é apenas ortográfico), em primeiro lugar porque defendo as diferenças. (...)
Quando falo com colegas, amigos ou familiares sobre o AO da Língua Portuguesa, eles ficam admirados. Não percebem e dizem que eles nunca permitiriam uma coisa dessas aqui. (...)
Até onde eu sei, nunca veio aqui um país maior em número de habitantes (o México, por exemplo) a dizer-nos que tínhamos que falar ou escrever como eles, como também não tivemos uns académicos que, servindo vá lá saber os interesses de quem, decidiram um dia inventar um acordo ortográfico irracional e completamente contra natura, uma vez que as línguas devem evoluir ao ritmo do uso que lhes dão os povos que as utilizam para a sua comunicação, e nunca servir interesses politico-económicos.
(...) este Acordo que, longe de unificar, traz (ainda) mais duplas grafias e gera uma confusão que não existia. Inventaram um problema onde ele não existia.
(...) antes que seja tarde demais e a Língua Portuguesa seja definitivamente traída. (...)
[PÚBLICO, 07 Set.]