quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Sinais

Não tenho lembrança de alguma vez ter visto tão baixo o nível de água da barragem. Dela se alimentam a vila inteira e as aldeias todas do município. Por este andar, lá tem que voltar a malta toda a encher a cantarinha na fonte de mergulho.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Sinais

Na aldeia terminou a campanha das castanhas. Há cinquenta anos saíam daí comboios delas, vinham ranchos de mulheres de longe para as apanhar. Os soitos cobriam toda a encosta e as árvores duravam séculos. Aos poucos foram morrendo, da tinta, do cancro americano, da nova vespa das galhas. Os ouriços já nem abrem ao toque do martelo de madeira, que perdeu utilidade. Recolhem-se em grandes  baldes, passam-se num moinho tocado a tractor, quem o tiver. Escolhem-se os frutos e devolvem-se ao campo os ouriços vazios. Uma trabalheira.

As castanhas já não têm a qualidade antiga, depressa criam bicho. E quem planta castanheiros novos logo vê secar metade. Um jogo de cabra-cega, uma tramoia. Tudo sinais dum mundo que já foi.