Na aldeia terminou a campanha das castanhas. Há cinquenta anos saíam daí comboios delas, vinham ranchos de mulheres de longe para as apanhar. Os soitos cobriam toda a encosta e as árvores duravam séculos. Aos poucos foram morrendo, da tinta, do cancro americano, da nova vespa das galhas. Os ouriços já nem abrem ao toque do martelo de madeira, que perdeu utilidade. Recolhem-se em grandes baldes, passam-se num moinho tocado a tractor, quem o tiver. Escolhem-se os frutos e devolvem-se ao campo os ouriços vazios. Uma trabalheira.
As castanhas já não têm a qualidade antiga, depressa criam bicho. E quem planta castanheiros novos logo vê secar metade. Um jogo de cabra-cega, uma tramoia. Tudo sinais dum mundo que já foi.