Viveu comigo seis anos. Há dias entrei o portão da rua e salta-me ele do muro à esquerda. Não era a primeira vez que o fazia, como quem dá as boas-vindas. Mas desta vez passou por baixo do carro e foi pisado por uma roda.
Com a coluna partida, o meu 4-patas arrastou-se à volta da casa e apareceu-me no alpendre. Não sei definir o que senti ao vê-lo, a arrastar-se e a sangrar da boca. Chegou à beira, desceu para os agapantos num gesto costumeiro, e morreu.
Em lugar dum 4-patas, eu tenho agora comigo um sentimento de culpa. E duas lágrimas.