terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Bio-diversidade
O Parque da Cidade é uma reserva inesperada de bio-diversidade. Há damas de idade atreladas ao cachorro, que abusou visivelmente dos croquetes; e casais de quarentões a pôr em dia a conversa atrasada; e caminheiros em trânsito estugado, pendurados em bastões; e atletas já garrinchas às voltas com a maratona; e jovens bem musculados a pensar na São Silvestre; e raparigas em esforço, na guerra com a celulite; e bicicletas BTT, e as ultra-leves do contra-relógio, e velhas pasteleiras pachorrentas, em gincanas pelas veredas; e grupos mistos a treinar nos relvados, a puxar pela massa muscular; e jogos de futebol de solteiros e casados; e patos-marrecos e pombos e gansos e garças e gralhas e corvos e grous, e cisnes que talvez sonhem com Leda.
Não fora a inusitada mistura de géneros e a humidade da manhã, já eu me julgava em Esparta, a dos jogos de virilidade e dos campos de exercício. Mas, cá por coisas, o Eça das ironias cínicas é que devia ver isto.
No final da caminhada veio-me à ideia o rifão: pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina... e merda para a medicina! É capaz de ser verdade.
Não fora a inusitada mistura de géneros e a humidade da manhã, já eu me julgava em Esparta, a dos jogos de virilidade e dos campos de exercício. Mas, cá por coisas, o Eça das ironias cínicas é que devia ver isto.
No final da caminhada veio-me à ideia o rifão: pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina... e merda para a medicina! É capaz de ser verdade.
Os poetas podem desiludir, enquanto dormem
Mas não mentem, quando lhes calha acordarem. É o que se mostra na pág.1 da revista LER nº 130, que se transcreve.
Conversa no Tiergarten
É verdade, somos do Sul.
Teve razão em reparar em nós.
Somos aqueles que passaram de pedreiros e mulheres-a-dias,
que cumpriam as suas tarefas com modéstia e simplicidade,
a devedores alegres e inconscientes,
que vivem à custa dos sacrifícios dos operários da Renânia-Palatinado.
Somos nós mesmos, gnädige Frau.
Sim, eu li como viveram os seus pais
nesse ano em que perderam a guerra:
nas caves encharcadas de prédios em ruínas,
com esmolas avulsas dos soldados da Ocupação.
Mas reparou
como depois foram tratados pelos vencedores?
Sim, você disse-me também
que desde a adolescência não compreende
que tenha de pagar pelas culpas dos seus pais
e dos criminosos que governaram o seu povo,
antes mesmo de você ter nascido.
Mas se para a vossa língua dívida e culpa
são a mesma palavra,
então seremos nós agora a pagar
até aos netos dos nossos netos,
já que as vossas dívidas estão saldadas?
É isso, gnädige Frau?
(Luís Filipe Castro Mendes, inédito, a publicar em A Misericórdia dos Mercados, programada para Fevereiro de 2014)
Conversa no Tiergarten
É verdade, somos do Sul.
Teve razão em reparar em nós.
Somos aqueles que passaram de pedreiros e mulheres-a-dias,
que cumpriam as suas tarefas com modéstia e simplicidade,
a devedores alegres e inconscientes,
que vivem à custa dos sacrifícios dos operários da Renânia-Palatinado.
Somos nós mesmos, gnädige Frau.
Sim, eu li como viveram os seus pais
nesse ano em que perderam a guerra:
nas caves encharcadas de prédios em ruínas,
com esmolas avulsas dos soldados da Ocupação.
Mas reparou
como depois foram tratados pelos vencedores?
Sim, você disse-me também
que desde a adolescência não compreende
que tenha de pagar pelas culpas dos seus pais
e dos criminosos que governaram o seu povo,
antes mesmo de você ter nascido.
Mas se para a vossa língua dívida e culpa
são a mesma palavra,
então seremos nós agora a pagar
até aos netos dos nossos netos,
já que as vossas dívidas estão saldadas?
É isso, gnädige Frau?
(Luís Filipe Castro Mendes, inédito, a publicar em A Misericórdia dos Mercados, programada para Fevereiro de 2014)
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Ah elites do caralho!
O Corpo Expedicionário Português foi enviado para a carnificina, onde ninguém o chamou, onde ninguém o queria. Condenados ao abandono, 7.500 portugueses morreram só em La Lys, para salvaguardar os mitos do império dum país de marinheiros.
Não salvaguardaram nada que valesse a pena, e muito menos os gaseados nas trincheiras, que vieram a morrer tresmalhados pelas aldeias. Ainda me lembro de alguns, lunáticos, perdidos, na verdade nunca regressaram do açougue.
Faça-se-lhe justiça, já que o cabrão afinal tinha razão
«2015 é o ano consequente a 2014.»
(Vitor Gaspar, quando dava cartas neste governo de marginais)
(Vitor Gaspar, quando dava cartas neste governo de marginais)
Da bovinidade ruminante
Àparte aquela dos cínicos, dos diletantes e dos oportunistas, que acabam de braço dado com os nazis de sangue puro, a bovinidade máxima é a ruminante. A daqueles que a bem dizer não coisam, mas fazem questão de não sair de cima. A dos que misturam alhos com bugalhos, quando deviam mantê-los separados, para não gerar confusões. A dos que bem podiam informar-se mas não querem. A dos que se desobrigam de pensar.
Para eles os políticos são todos iguais, sem um sinal que os distinga. E assim ruminam no meio dos chacais, sem darem conta que se tornam parte da matilha.
Para eles os políticos são todos iguais, sem um sinal que os distinga. E assim ruminam no meio dos chacais, sem darem conta que se tornam parte da matilha.
domingo, 29 de dezembro de 2013
Austeridade - A história duma ideia perigosa (Mark Blyth)
[Fig 2.3 Dívida governamental antes e depois da crise de 2006/2012. Fonte OCDE]
«(...) Espero que isto demonstre que qualquer narrativa que localize a despesa esbanjadora dos governos antes da crise de 2007 como causa da crise é mais do que um simples erro: é malícia e facciosismo.
De facto, a dívida média dos países da OCDE antes da crise estava a descer e não a subir. O que aconteceu foi que os bancos prometeram crescimento mas deram prejuízos, e transferiram o custo para o Estado, que depois ficou com a culpa de gerar a dívida, e desde logo a crise, coisa que, é claro, tem que ser paga com cortes na despesa. Os bancos podem ter tido prejuízos, mas os cidadãos pagá-los-ão. Este é um modelo que vemos repetir-se na crise. (...)
Uma forma simples de ver a decisão de resgatar os bancos dos EUA em vez de os deixar falir é considerar que há 311 milhões de pessoas nos EUA. Dessas, 64% tem 16 anos ou mais; cerca de 158 milhões de pessoas trabalham. 72% da população trabalhadora vive do salário. Tanto quanto se pode afirmar, há cerca de 70 milhões de revólveres nos EUA. Então que aconteceria se não houvesse dinheiro nos ATM e os salários não fossem pagos? Era esse o medo. (...)
No 3º trimestre de 2008, o auge da crise, os seis bancos de topo dos EUA , Goldman Sachs, J.P.Morgan, Bank of America, Morgan Stanley, Citigroup e Wells Fargo tinham, no seu conjunto, um quociente de activos, em relação ao PIB, de 61,61%. Tinham quocientes de alavancagem que chegavam a 27 para 1, ou eram tão baixos como 10 para 1. Compare isto com o que se passava no Lehman Brothers. O Lehman tinha uma alavancagem de 31 para 1, numa base de activos de 503,54 milhares de milhões de dólares, que é o equivalente a cerca de 3,5% do PIB dos EUA. Se isto não era suficiente para o governo dos EUA deitar logo mãos à obra para impedir que o contágio se disseminasse através dos mercados de CDS e de repo, a possibilidade de lançar mais 60% do PIB para a fogueira, o total de activos do conjunto dos bancos, concentraria certamente a mente colectiva no problema do demasiado grande para falir. Portanto os bancos foram resgatados e os custos, como vimos, foram suportados, primeiro pelo Estado, e em última instância pelo contribuinte. (...)
A crise começou na América, porque este sistema tinha-se tornado demasiado grande para falir. (...)
sábado, 28 de dezembro de 2013
Conheceste a tua pátria, na década de 50?!
Era essa a única, a que hoje resta. Compara agora com esta, que ficou lá pelo sertão.
Ia a passar por aí e dei com isto. Sem um preto na paisagem, sem o mínimo sinal de contacto com a realidade.
Perguntei-me quem terá pago isto tudo. Pergunto-me quem anda ainda a pagá-lo. Perguntarei por que mãos andámos todos.
Mas a quem é que interessam as respostas?
Ia a passar por aí e dei com isto. Sem um preto na paisagem, sem o mínimo sinal de contacto com a realidade.
Perguntei-me quem terá pago isto tudo. Pergunto-me quem anda ainda a pagá-lo. Perguntarei por que mãos andámos todos.
Mas a quem é que interessam as respostas?
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Manjedoura
Quanto mais leio, e olho, e junto peças, mais concluo: a nossa história é a história da falência das nossas pseudo-elites. Que sempre viram na pátria a manjedoura.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Bonitona (rev.)
Era uma silhueta
vestida de preto, debaixo dum chapéu de palha de aba larga, a resguardar-se do
sol. Aparecia ao pé do poço, acarinhava as sécias, e lembrava à minha mãe um
pingo de água aos manjericos.
- Ué! Ué! Tens aqui um
morgado!
Eu estranhava-lhe o
rouquejar raspado, os modos brandos, as manchas escuras nas costas da mão. O
nome exótico punha-me a sorrir. E conheci-a melhor muito mais tarde, muitos
anos depois dela morrer.
Casou-se com o Cipriano
e logo foi para o Brasil. Viveu por lá, em Santos, muito tempo, vendia frutas
estranhas num mercado. E um dia que regressou era diferente. Recusava as
novenas na capela, e recitava um remoto padre-nosso, falando não sei com quem.
Grande foco vivo do universo, venha a nós a vossa luz, e cumpram-se as vossas
leis, neste e nos outros planetas. Nem a Nossa Senhora a percebia.
Quando o Cipriano lhe
morreu não deitou uma lágrima. Vestiu-lhe o fato melhor, fez-lhe uma festa na
cara e despediu-o:
- Adeus, meu
perfeitoso! Os anjos vieram a buscar-te, vai com eles!
Nem a Nossa Senhora a
percebia. E por pura caçoada chamavam-lhe a Bonitona. Por ser feia.
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Condição militar
[Rebenta-minas de Bambadinca? Granadero de Enxalé? Tanto faz, o bicho era este, aqui rapinado a JJRoseira!]
As putas da desinformação andam aí a levantar poeiradas a propósito de suplementos remuneratórios que oneram a despesa na função pública. E são bem capazes de aguçar os apetites da galdéria dos SWAP's, para cortar na condição militar da tropa. Sugerem que se trata dum privilégio descartável.1 - Logo que a actual geração de políticos saiu da puberdade alegre, em que era um gozo mostrar as nalgas em público, a primeira coisa que fizeram foi acabar com o serviço militar obrigatório. Era chato aturar as rudezas do sargento e os caprichos do capitão, a pátria que se fodesse. Imitaram à pressa as luminárias da América avançada (que o Giap e o Ho Chi Min derrotaram no Vietnam, e que tinham perdido o controlo da opinião pública jovem americana). Foi assim que nenhum destes inúteis diletantes foi à tropa, nem faz ideia do que é ser militar. E foi pelo mesmo caminho que transformaram um exército patriota numa tropilha qualquer de mercenários.
2 - Há meses dois soldados comandos, no quartel da Carregueira, deram um arraial de pancada num capitão comando e mandaram-no para o hospital. Ele produzira sobre eles uma informação negativa, que os impediu de serem nomeados para uma missão na Bósnia. É nisto que esta escumalha transformou o exército, sob a falácia de reduzir nas despesas. E é também por isto que esta escumalha se dá ao luxo de tratar a tropa abaixo de cão, porque lhe partiu a espinha há décadas. Escolhe chefias pusilânimes e cúmplices, com reflexos caninos, e deixa correr o marfim. Não fora assim e já tinha levado um pontapé no cu há muito tempo.
3 - Nenhum deles faz ideia das limitações impostas pela condição militar. As restrições de direitos, liberdades e garantias, de cidadania, de expressão, de manifestação, de reivindicação. Não lhes passa pela cabeça que, sem a condição militar, a tropa tem natural direito a associações sindicais, que há muito tempo existem em toda a Europa. A dita passa a ter horários de funcionário público, e às cinco da tarde interrompe até ao dia seguinte uma qualquer acção de busca e salvamento. E ao fim de semana tem direito a ter família e vida pessoal, sem horário ilimitado.
4 - As remunerações dos militares são hoje metade daquelas auferidas há uma dúzia de anos, em paralelo com profissões que lhe eram referência, como juízes, académicos e outros. Basicamente porque os militares não podem reivindicar.
5 - Os hospitais militares foram reduzidos a um só, justamente o que abrangia o efectivo menor, no Lumiar. O resultado é que não chega para as encomendas, nem tem serviços de apoio pediátrico aos filhos de militares até aos 17 anos. Daqui resulta enorme degradação na prestação de cuidados de saúde, que a tropa alimenta com descontos mensais a que nunca se eximiu, nem que o quisesse fazer.
6 - O Instituto de Acção Social das Forças Armadas - IASFA - era um organismo alimentado e dirigido pelos militares, que entre outras administrava as questões da assistência social. Até ser tomado de assalto e gerido por esta escumalha, para colocar os seus rapazes, licenciados em neo-liberalismo pela Univ. Católica.
7 - O Estatuto dos Militares das Forças Armadas - EMFAR - está a ser revisto, sem qualquer participação das Associações socio-profissionais, perante o silêncio cúmplice das chefias. Não faltarão doutos pareceres de afamadas sociedades de advogados pagas a peso de ouro. Mas é difícil imaginar enxovalho maior.
8 - O Fundo de Pensões foi criado e alimentado por militares desde 1990, desde o Cavaco e o Fernando Nogueira, e era gerido pelo BPI. O objectivo era garantir aos velhos pensionistas, com mais de setenta anos e pensões degradadas, que não viriam abaixo de oitenta por centro dos valores activos. O Fundo de Pensões dos Militares acaba de ser extinto.
9 - A condição militar, de facto, é um anacronismo, no mundo em que esta escumalha se movimenta. Ela confunde a tropa com os generais de 4 estrelas, que ela mesma escolhe a dedo. Há nisto uma grande cobardia e um revanchismo histórico indisfarçável. E espera passar impune perante um grupo profissional que aguentou uma guerra absurda durante treze anos, resgatou a pátria das mazelas de séculos duma história desgraçada, devolveu à pátria a dignidade perdida sem lhe pedir nada em troca, deixou atrás dez mil mortos e trinta mil feridos, sem contar as dezenas de milhar de vidas arruinadas que se arrastam por aí num silêncio desesperado. Esta escumalha irresponsável só pára quando voltarmos aos finais do séc. XIX, com a tropa a estender a mão à caridade pública.
"Não acredito na capacidade política de Passos Coelho para defender os interesses dos portugueses. Não acredito mesmo nada na competência política do seu ministro dos Negócios Estrangeiros para conduzir uma política europeia. Não acredito na competência e na credibilidade da sua ministra das Finanças, que é um avatar de Vítor Gaspar."
- «(...) a única maneira de evitar o resgate era ir pelo caminho, que aliás a Espanha seguiu, que a Itália seguiu e que outros países estão a seguir, como agora a Eslovénia, que era o caminho de procurar apoio europeu para a consolidação orçamental necessária sem nos colocarmos nas mãos da troika. Esse caminho era o PEC IV. [Esse apoio europeu foi garantido por Merkel]
- Era um programa cautelar, ao fim e ao cabo?
- Era o PEC IV. Ao fim de dois anos e meio perdidos, nós estamos a tentar chegar a uma coisa que será parecida com o PEC IV. Mas perdemos dois anos e meio e pusemos aí 300 mil pessoas no desemprego e aí 100 mil jovens a sair todos os anos do país. Não há hoje uma família que não tenha próxima gente que se licenciou, que se doutorou, do mais qualificado que o país produziu até agora, e que anda a beneficiar, com a formação que nos pagámos, países como a Suíça, a Áustria, a Alemanha, a Austrália, por aí fora. Qualquer que seja o desenlace, esta responsabilidade tem de ser assumida. (...)»
- [Entrevista de Augusto Santos Silva, PÚBLICO de ontem]
domingo, 22 de dezembro de 2013
Tolentino Mendonça
Depois de uma tarde a tratar do jardim
a nossa vida
importa menos
(A Papoila e o Monge)
a nossa vida
importa menos
(A Papoila e o Monge)
sábado, 21 de dezembro de 2013
Solstício
O Sol deixou de fugir para Sul, e finalmente arrepia caminho. A vida não corre a jeito, à escumalha que despreza o povo e põe a pátria a render.
Sentenças
Um paisano viaja na sua moto, estrada fora, sem capacete. A polícia intercepta-o e aplica-lhe o código.
O indígena contrata um amigo e pega fogo a um canto do Caramulo. Para repor a justiça, opina ele.
O Caramulo arde durante quinze dias. Dezenas de milhares de hectares ficam em cinzas. Quatro bombeiros morrem no meio das labaredas. Milhões são consumidos em horas de voo dos meios aéreos de combate.
O esquadrão de fuzilamento era a única sentença, mas o país não vai aplicá-la. Atenta a sua história, seria na própria testa que devia disparar.
O indígena contrata um amigo e pega fogo a um canto do Caramulo. Para repor a justiça, opina ele.
O Caramulo arde durante quinze dias. Dezenas de milhares de hectares ficam em cinzas. Quatro bombeiros morrem no meio das labaredas. Milhões são consumidos em horas de voo dos meios aéreos de combate.
O esquadrão de fuzilamento era a única sentença, mas o país não vai aplicá-la. Atenta a sua história, seria na própria testa que devia disparar.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Apesar do TC
Estivemos a um passo, desde há séculos. De começarmos a deixar de ser um povo deserdado, numa pátria precária, sugada por elites parasitárias, minada pelos nossos próprios atavismos.
O gesto do TC é um suplemento de alma, um resto de dignidade. Mas estivemos a um passo, e ainda não será desta.
O gesto do TC é um suplemento de alma, um resto de dignidade. Mas estivemos a um passo, e ainda não será desta.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Pura literatura
A arte literária é criatividade, não é uma teimosia amanuense. E se um texto não desvela temas novos - que os não há - basta-lhe contar o trivial quotidiano de forma nunca vista.
Menos que isto é tudo verbo de encher, que apenas provoca sono e formata imbecis.
O meu irmão está deprimido
Não, não é uma pessoa qualquer que vem ter consigo na rua e lhe diz que está deprimida. É o meu irmão, e quer suicidar-se. E foi precisamente a mim que o veio dizer. Porque é de mim que ele gosta mais, e eu dele, mas já viram a prenda?!
Eu e o meu irmão mais novo estamos ambos no jardim da rua Sheinkin, e o meu cão, Hendrix, está a puxar pela trela com toda a força, a tentar morder a cara dum miúdo vestido com jardineiras. E eu, com uma mão luto com Hendrix e com a outra procuro o isqueiro no bolso. «Não faças isso», digo ao meu irmão. O isqueiro não está em nenhum dos bolsos. «Por que não?», pergunta o meu irmão mais novo. «A minha namorada deixou-me por um bombeiro. Odeio os estudos na Universidade. Toma lá lume. E os meus pais são as pessoas mais desgraçadas do mundo.» Atira-me o cricket dele. Eu apanho. O Hendrix foge. Salta sobre o garoto de jardineiras, atira-o para a relva e fecha as aterradoras mandíbulas rottweilerianas na cara dele.
Eu e o meu irmão tentamos separar Hendrix do garoto, mas ele obstina-se. A mãe do jardineiras põe-se aos gritos. O miúdo, pelo contrário, está estranhamente silencioso. Dou um pontapé a Hendrix com toda a força, mas ele nem se mexe. O meu irmão encontra uma barra de ferro na relva e dá-lhe com ela na cabeça. Ouve-se um horrível ruído de explosão e Hendrix cai para o lado. A mãe grita. Hendrix arrancou o nariz ao miúdo. E agora morreu. O meu irmão matou-o. E para além disso ainda se quer suicidar, porque a traição da namorada com o bombeiro parece-lhe a coisa mais humilhante do mundo. A mim a profissão de bombeiro até me parece bastante digna, salva pessoas e tudo o resto. Mas do ponto de vista dele era melhor ela ter fodido com o carro do lixo. Agora é a mãe do miúdo que se atira a mim, a tentar arrancar-me os olhos com as unhas compridas pintadas de verniz branco repugnante. O meu irmão levanta a barra de ferro no ar e dá-lhe também uma pancada na cabeça. Tem o direito, está deprimido.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Ecos da Sonora - LX
[Festa de Natal nazi em 1941, antes do inverno russo - rapinado a JJRoseira]
1 - Kiev anda aí nas notícias, pelas razões conhecidas. E um dia destes pediu-me a Sonora a gravação dum texto de A. Kuznetsov - Babi Yar. Eu nunca soube onde era Babi Yar. Mas o nome trouxe-me à lembrança um poema antigo de Y. Yievtushenko. Fui revê-lo.
(...)
A erva brava rumoreja em Babi Yar.
As árvores mostram-se ameaçadoras
Como juízes.
Aqui tudo grita em silêncio
E, descobrindo a cabeça,
Sinto que, aos poucos,
Fico grisalho.
E eu próprio
Sou um grito maciço, silente
Acima dos muitos milhares aqui enterrados.
Sou
cada velho
aqui fuzilado.
Sou
cada criança
aqui fuzilada.
Nada em mim
Jamais esquecerá!
(...)
Babi Yar era afinal uma ravina, nas cercanias de Kiev, onde os nazis começaram por enterrar judeus e prisioneiros fuzilados, em gigantescas valas comuns. Durante os dois anos de ocupação, acabou por transformar-se num campo de concentração, até à chegada do exército soviético, que só parou em Berlim.
2 - «Os meios de comunicação de Kiev (linhas telefónicas e cabos telegráficos) foram maldosamente danificados. Como não se pode continuar a tolerar os sabotadores, foram fuzilados 400 homens na cidade, o que deverá constituir um aviso para a população. Uma vez mais, exijo que quaisquer actos suspeitos sejam participados às tropas ou à polícia alemã para que os criminosos sofram o castigo que merecem.
Kiev, 29 de Novembro de 1941
Eberhard, major-general e comandante da cidade»
3 - «Para Kiev, e para toda a Ucrânia, 1942 foi o ano da deportação para a escravatura. (...)
"Estou agora nos arrabaldes de Trier, a cerca de cem quilómetros da França, e vivo na quinta do meu patrão. (...) A quinta possui dezassete cabeças de gado e eu tenho de limpar os estábulos duas vezes por dia. (...) Depois tenho de arrumar os quartos, que são dezasseis, e fazer toda a lida da casa. Durante o dia inteiro não me sento. (...) A minha senhora é má. Não tem coração de mulher, apenas uma pedra. Não faz nada e berra como uma doida, com a saliva a correr-lhe da boca. (...)
Acalentávamos a esperança de que alguém nos comprasse depressa. As raparigas russas são muito baratas na Alemanha. Por cinco marcos escolhe-se à vontade. (...) Tratam-nos como se fôssemos animais. Não creio que alguma vez regresse a casa." (...) Carta escrita por uma rapariga de Kiev, encontrada em depósito alemão.»
4 - Gabi mostrava-me em Berlim o muro e os monumentos, o Sans-Soussi e o local da Conferência de Potsdam, os tanques T 34 expostos pelos parques, as campas floridas de soldados soviéticos perdidas pelos bosques. E falava-me do pai que vivia na Sérvia, e um dia no futuro havia der visitar.
Bogdan teria dezasseis anos em 1942, quando um dia foi apanhado por uma patrulha alemã nas cercanias de Belgrado. E acabou numa quinta de Eichsfeld, deportado como escravo, porque os arianos todos não eram bastantes para tanta guerra. A quinta pertencia à avó de Gabi, que administrava tudo. E durante três anos Bogdan fez nela o que podia fazer.
Quando a guerra terminou, Bogdan foi recambiado para Belgrado. Mas deixou no ventre da filha da patroa o fruto de amores mútuos e uma prenda lá do Sul. Era a Gabi em pessoa.
5 - O horror, organizado metodicamente, esmaga muito mais que o maior caos. Porque no caos há restos de humanidade, e no horror metódico só selvajaria.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
domingo, 15 de dezembro de 2013
Um cão a morder no rabo
A Portugal não faltaram espíritos lúcidos e clarividentes. A questão está no destino que tiveram.
Foi o caso do Infante D. Pedro, da ínclita geração. Antes de Ceuta, antes de Tânger... Trucidaram-no em Alfarrobeira, em proveito de elites fidalgas.
Foi o caso do Velho do Restelo (Luís de Camões). Insultaram-no e homiziaram-no, em proveito de cruzados e de aventureiros cúpidos.
Foi o caso do Damião de Góis. Antes da Contra-Reforma, antes de Trento... A Inquisição matou-o à cacetada, em proveito do altar.
Foi o caso do Marquês de Pombal. Destruíram-no às mãos da Viradeira, duma rainha que havia de enlouquecer, em proveito da parasitagem.
Foi o caso de José Sócrates, que estranhamente resiste. Trocaram-no por um bando de traidores revanchistas, de cafres iletrados, de sipaios da agiotagem internacional.
Foi o caso de milhares de outros, sem os quais Portugal é o que foi sempre. Uma pátria inexistente, dum povo de deserdados. Um cão a morder no rabo.
Foi o caso do Infante D. Pedro, da ínclita geração. Antes de Ceuta, antes de Tânger... Trucidaram-no em Alfarrobeira, em proveito de elites fidalgas.
Foi o caso do Velho do Restelo (Luís de Camões). Insultaram-no e homiziaram-no, em proveito de cruzados e de aventureiros cúpidos.
Foi o caso do Damião de Góis. Antes da Contra-Reforma, antes de Trento... A Inquisição matou-o à cacetada, em proveito do altar.
Foi o caso do Marquês de Pombal. Destruíram-no às mãos da Viradeira, duma rainha que havia de enlouquecer, em proveito da parasitagem.
Foi o caso de José Sócrates, que estranhamente resiste. Trocaram-no por um bando de traidores revanchistas, de cafres iletrados, de sipaios da agiotagem internacional.
Foi o caso de milhares de outros, sem os quais Portugal é o que foi sempre. Uma pátria inexistente, dum povo de deserdados. Um cão a morder no rabo.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Homenagem tardia, vinda de quem vem!
A Sócrates e aos seus ministros, pois a quem!
O EXTERMINADOR IMPLACÁVEL
- «"A escola portuguesa, dominada por uma horda de pedagogos pós-modernos, que impõem o "eduquês" e promovem o facilitismo, está a criar uma geração de analfabetos." Foi munido deste tonitruante aviso que Nuno Crato chegou à 5 de Outubro para não deixar pedra sobre pedra. Vou escolher apenas seis exemplos de vítimas deste exterminador implacável: o plano tecnológico, as novas oportunidades (ainda sem substituto), o plano de acção para a matemática, o programa de formação de professores do 1º ciclo, a obrigatoriedade de oferta de inglês no 1º ciclo e o programa de matemática de 2007. Porque escolhi estas seis medidas? Porque são algumas das que, tendo sido atiradas para o lixo por Crato, foram expressamente elogiadas no relatório do PISA deste ano. Quanto ao programa de matemática, que o ministro decidiu matar sem qualquer estudo e fazendo tábua rasa de todo o trabalho feito, o relatório do PISA diz que Portugal "melhorou na atitude, predisposição e confiança dos seus alunos sobre a escola em geral e em relação à matemática em particular, através, por exemplo, da reforma curricular da disciplina, sintonizando-os com os interesses e as competências dos alunos do século XXI". Não fazendo grande coisa, Crato desfez imensa: suspendeu as obras da Parque Escolar, acabou com o estudo acompanhado e com o horário completo e deu os primeiros passos na criação do cheque ensino, tendo sempre a Suécia como modelo.»
- [Daniel Oliveira, Expresso]
Pata-negra
As meninas voluntárias da CASA exultam, com os números dos sem-abrigo e das famílias carenciadas que acorrem ao seu almoço de Natal. Os repórteres da televisão querem-nos elucidados acerca das ementas, acerca das sobremesas, onde não faltam uns nacos de pata-negra que uns mecenas patrocinam.
Louvado seja Deus e a solidariedade do povo, interiorizamos nós, de coração contrito. Voltámos ao assistencialismo e à caridadezinha benfeitora. E rejubilamos sem nos darmos conta que uma grande pata negra nos intoxica as ideias, e o entendimento delas.
Louvado seja Deus e a solidariedade do povo, interiorizamos nós, de coração contrito. Voltámos ao assistencialismo e à caridadezinha benfeitora. E rejubilamos sem nos darmos conta que uma grande pata negra nos intoxica as ideias, e o entendimento delas.
Ópera-bufa?! Quem dera!
Infelizmente é uma tragédia desgraçada. E nós a emprenhar de ouvido. A ruminar como há séculos, enquanto as pseudo-elites nos fodem a vida em proveito próprio.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Tolentino Mendonça
Ao longo do rio
os que tombaram da embarcação
riem-se dos que tombam
(A Papoila e o Monge)
os que tombaram da embarcação
riem-se dos que tombam
(A Papoila e o Monge)
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Pois é, nós já esquecemos!
A Inglaterra e os Estados Unidos retiraram o apoio militar aos rebeldes patriotas da Síria, para não engordarem a barriga da Al-Qaeda. E nós, que emprenhamos de ouvido, ficamos todos contentes porque já esquecemos.
Já esquecemos que o Kadhafi foi trucidado pelos aviões da Nato. Foi caçado como um rato pelos agentes da Cia, e acabou sodomizado a varapau pelos rebeldes patriotas da Líbia quando já era um cadáver.
Já esquecemos que os líbios retrocederam três décadas, na civilização e nas condições de vida.
Já esquecemos que em Tripoli, no Mali, na Tunísia, no Sudão, no Egipto, no Iraque, no Afeganistão... são os radicais islâmicos fanáticos quem hoje mais ordena.
Já esquecemos que a Síria e Assad, o déspota que estava à mão, eram o passo seguinte.
Já esquecemos que o déspota resistiu, e os paladinos dos direitos humanos tiveram medo de partir os dentes e não se meteram lá.
Já esquecemos a história das armas químicas, que só um déspota usa contra o seu povo, sem nunca o terem demonstrado.
Já esquecemos que a Síria se transformou numa catástrofe humanitária indescritível.
Já esquecemos todos, conforme nos compete. Porque assim nos reduzimos ao simples papel do corno, o único e ruminante papel que nos reservam: ter a cargo a digestão das facturas, e ser o último a saber donde elas vêm.
Já esquecemos que o Kadhafi foi trucidado pelos aviões da Nato. Foi caçado como um rato pelos agentes da Cia, e acabou sodomizado a varapau pelos rebeldes patriotas da Líbia quando já era um cadáver.
Já esquecemos que os líbios retrocederam três décadas, na civilização e nas condições de vida.
Já esquecemos que em Tripoli, no Mali, na Tunísia, no Sudão, no Egipto, no Iraque, no Afeganistão... são os radicais islâmicos fanáticos quem hoje mais ordena.
Já esquecemos que a Síria e Assad, o déspota que estava à mão, eram o passo seguinte.
Já esquecemos que o déspota resistiu, e os paladinos dos direitos humanos tiveram medo de partir os dentes e não se meteram lá.
Já esquecemos a história das armas químicas, que só um déspota usa contra o seu povo, sem nunca o terem demonstrado.
Já esquecemos que a Síria se transformou numa catástrofe humanitária indescritível.
Já esquecemos todos, conforme nos compete. Porque assim nos reduzimos ao simples papel do corno, o único e ruminante papel que nos reservam: ter a cargo a digestão das facturas, e ser o último a saber donde elas vêm.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Não acontece a qualquer um!
[clicar]
Era um avô, que tinha uma neta, que fazia anos. A menina tinha olhos grandes e caracóis nos cabelos. E ao avô faltava a prenda para lhe dar.
Então escreveu uma história, a do Menino-Rei. Deu-lha de presente, e os dois ficaram a ganhar. Para não falar agora de quem se puser a lê-la!
sábado, 7 de dezembro de 2013
Era de esperar mais do que inépcia e destruição?!
Desta seita cavaquista que já usou na Educação ministros como Deus Pinheiro, Ferreira Leite ou Couto dos Santos, e agora usa o triste Crato?
Mais um cabrão que apanhou um susto
E agora dá uma no cravo e outra na ferradura, a ver se escapa à invernia.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Sepulcros caiados de branco
Em 1987, três países recusaram na ONU o apelo à libertação de Mandela, porque era um terrorista. Foram eles os EUA de Reagan, a UK de Thatcher, e Portugal do Cavaco.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Ó Meneses!
A ingratidão do povo é sem medida, se tivermos nós em vista promessas e resultados das últimas eleições. Que nelas perdeu o Porto o seu momento histórico de ter um túnel a Gaia por baixo do rio Douro; e o momento de tornar-se o pólo aglutinador do Noroeste Peninsular, para já não dizer a capital da Ibéria, quem sabe o centro real da Mitteleuropa toda!
É certo que Gaia lá tem o seu teleférico, para escalar o convento da Serra do Pilar. E a marina da Afurada, e uma Ribeira que faz verdes de inveja os vizinhos da frente. Porém, «o cumprimento do memorando de entendimento por Parte de Portugal com a troika pode estar dependente de Vila Nova de Gaia. Isto porque a autarquia é atualmente arguida em 64 processos judiciais, o que pode levar, inclusivamente, à falência do município. (...)
... pelo facto de ser uma dívida [30 milhões] a uma sociedade luxemburguesa, irá contribuir para o défice público. (...) Em Novembro, a autarquia dizia que no primeiro semestre deste ano as dívidas de Gaia chegavam aos 232 milhões de euros (...)» ***
Que grande jeitão nos dá, termos todos o cabrão do Sócrates como responsável pelo regabofe. Não é assim, ó magano?!
*** DN 03Dez.2013
É certo que Gaia lá tem o seu teleférico, para escalar o convento da Serra do Pilar. E a marina da Afurada, e uma Ribeira que faz verdes de inveja os vizinhos da frente. Porém, «o cumprimento do memorando de entendimento por Parte de Portugal com a troika pode estar dependente de Vila Nova de Gaia. Isto porque a autarquia é atualmente arguida em 64 processos judiciais, o que pode levar, inclusivamente, à falência do município. (...)
... pelo facto de ser uma dívida [30 milhões] a uma sociedade luxemburguesa, irá contribuir para o défice público. (...) Em Novembro, a autarquia dizia que no primeiro semestre deste ano as dívidas de Gaia chegavam aos 232 milhões de euros (...)» ***
Que grande jeitão nos dá, termos todos o cabrão do Sócrates como responsável pelo regabofe. Não é assim, ó magano?!
*** DN 03Dez.2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Contas bíblicas
Mudou hoje a minha década, as contas vão chegando.
E eu comi o pão com o suor do rosto; fiz um filho à Eva da maçã; escrevi um livro e li milhares; e planto amanhã a árvore na horta.
O tempo que me sobra não é muito. Porém é tudo ganho.
E eu comi o pão com o suor do rosto; fiz um filho à Eva da maçã; escrevi um livro e li milhares; e planto amanhã a árvore na horta.
O tempo que me sobra não é muito. Porém é tudo ganho.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Pura ideologia
Já tínhamos visto dois irlandeses a rir na televisão, e a lamentar-nos a sorte, quando viram que o Gaspar era o ministro da troika em Portugal, em lugar de ser o ministro de Portugal junto da troika. Foi isso num tempo em que os indígenas andavam ainda à procura da rolha, a ver se entendiam alguma coisa da crise, da falácia perversa da chamada austeridade, e do despudor das elites cleptocratas d'aquém e d'além-mar.
Como se isso não bastasse, e os indígenas nada tivessem aprendido entretanto, vem agora um frango destes mostrar o jogo todo. [É esta a imagem completa do bicho] O mundo inteiro já viu que o essencial da crise é um exercício de rapina das oligarquias, e as dívidas europeias são apenas argumento para o esbulho desbragado sobre os países do sul, de economias mais frágeis, apanhados na ratoeira do euro.
Esta recusa da união de esforços dos povos garrotados, para dar a resposta mais adequada aos arrogantes dirigentes do Norte, mostra bem que objectivos persegue, e ao serviço de quem está, o governo deste bando de canalhas. Quadrilha de marginais, é o que eles são.
Como se isso não bastasse, e os indígenas nada tivessem aprendido entretanto, vem agora um frango destes mostrar o jogo todo. [É esta a imagem completa do bicho] O mundo inteiro já viu que o essencial da crise é um exercício de rapina das oligarquias, e as dívidas europeias são apenas argumento para o esbulho desbragado sobre os países do sul, de economias mais frágeis, apanhados na ratoeira do euro.
Esta recusa da união de esforços dos povos garrotados, para dar a resposta mais adequada aos arrogantes dirigentes do Norte, mostra bem que objectivos persegue, e ao serviço de quem está, o governo deste bando de canalhas. Quadrilha de marginais, é o que eles são.
Cronistas 7
«(...) Albuquerque iniciou então a construção da fortaleza [de Ormuz]. Os capitães protestaram. Não estava no programa do rei D. Manuel. João da Nova insistiu: não estava sujeito àquela armada.
Albuquerque tomou-o pelos peitos. No arremesso, arrancou-lhe alguns cabelos da barba que caíram pelo chão. João da Nova apanhou-os e atou-os no lenço. Prenderam-no com grossos ferros debaixo da coberta.
Mais tarde, a pedido dos fidalgos, voltou ao seu navio com menagem assinada. Pouco depois, fugiram para a Índia três capitães com as suas naus. (...)»
Albuquerque tomou-o pelos peitos. No arremesso, arrancou-lhe alguns cabelos da barba que caíram pelo chão. João da Nova apanhou-os e atou-os no lenço. Prenderam-no com grossos ferros debaixo da coberta.
Mais tarde, a pedido dos fidalgos, voltou ao seu navio com menagem assinada. Pouco depois, fugiram para a Índia três capitães com as suas naus. (...)»
domingo, 1 de dezembro de 2013
Adivinha quem disse isto, hoje!
"Eu lembro-me bem de termos passado por tempos parecidos, não exatamente iguais, mas muito parecidos, 1983 e 1985, e ainda me lembro bem de termos passado ainda por problemas bastante delicados, parecidos com estes últimos em 1977, 1978. De resto, ainda me lembro bem de ter chegado de Angola há não muito tempo e de ser preciso de acordar bem cedo para ir para a fila arranjar leite para poder consumir em nossa casa - havia racionamento de alguns produtos essenciais", referiu.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Malapata histórica
Dentro de 40 anos andaremos ainda a babar lamúrias, por não termos um comboio decente que nos ligue à Europa. E substitua o Sud-Expresso, lôbrego e centenário, que já não existe há muito.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Para ilustração duns tristes que merecem dó
E que em tempos ajudaram a chumbar o PEC IV de Sócrates. Não vão eles morrer de estupidez, sem entenderem porquê.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Um pirómano inútil e ridículo
No tempo em que Portugal teve um governo, eleito, patriota e responsável, Mário Nogueira dirigia os professores, a quem a avaliação não agradava. Eram os tempos da ministra sinistra, do Mariano Gago da Ciência, da Belém Roseira da Saúde, do tipo dos corninhos na Economia, do Vieira da Silva, do Sócrates enfim.
O Nogueira, sempre a mando do comité central, arregimentou então os professores avenida abaixo. Garantiu-lhes a terra prometida e eles acreditaram. E foi assim que retirou a Sócrates a maioria absoluta em 2009, antes de acompanhar ao altar o Passos mais o Relvas em 2011.
Os professores são hoje um rebanho tresmalhado, que ele entregou ao açougue do Crato. O destino da Ciência é o mesmo do peixe seco, que se come no inverno quando a horta não dá couves. A escola pública troca-se por um cheque-ensino. Os projectos construídos vão à vida, porque são delírios megalómanos que é saudável descartar. E para rejeitar o orçamento do Passos, o melhor que o Nogueira descobriu foi fazer dos papéis dele uma fogueira. A iletrada cegueira geral há-de fazer o resto.
O Nogueira, sempre a mando do comité central, arregimentou então os professores avenida abaixo. Garantiu-lhes a terra prometida e eles acreditaram. E foi assim que retirou a Sócrates a maioria absoluta em 2009, antes de acompanhar ao altar o Passos mais o Relvas em 2011.
Os professores são hoje um rebanho tresmalhado, que ele entregou ao açougue do Crato. O destino da Ciência é o mesmo do peixe seco, que se come no inverno quando a horta não dá couves. A escola pública troca-se por um cheque-ensino. Os projectos construídos vão à vida, porque são delírios megalómanos que é saudável descartar. E para rejeitar o orçamento do Passos, o melhor que o Nogueira descobriu foi fazer dos papéis dele uma fogueira. A iletrada cegueira geral há-de fazer o resto.
Comidos por parvos
Ecos da Sonora - LIX
A Bruxa do Monte Córdova - Camilo Castelo Branco
Hoje em dia, em que a tarefa magna do leitor consiste em orientar-se numa floresta de estéticas caóticas, faz pouco sentido ler Camilo. Quando muito, faz algum o gesto de quem visita anualmente o orago, no cimo do outeiro, numa tarde soalheira. Sobretudo em se tratando duma obra menor, das muitas que serviram ao autor para cumprir o honesto castigo de pagar o seu jantar com o suor do rosto.
Sobra, porém, qualquer ganho, se um utente pediu a gravação. À uma por ser gratificante fazer-se cada dia o que deve ser feito. E às duas por ser útil mergulhar na longínqua vida do baixo século dezanove, e naquela sociedade ultramontana: nos morgadios que imolavam ao deus do património gerações de filhos segundos, condenados ao convento e à frustração das vidas; nos ódios que tomaram rédea solta naquela esquina da história, entre passado e futuro, entre o direito e o privilégio, entre as novas ideias liberais e o conúbio de mútua conveniência entre o altar e o trono absoluto; na degradação moral e ética da vida nos conventos, que eram há muito tempo sucursais do inferno; e nos muitos batalhões sagrados miguelistas, que usavam na mira a cruz de Cristo mas disparavam zagalotes de mosquete.
No fim consola retemperar o fôlego, e mergulhar no sol que bafeja a cidade. Onde antigas disputas estão por deslindar, mudando uns pormenores.
Hoje em dia, em que a tarefa magna do leitor consiste em orientar-se numa floresta de estéticas caóticas, faz pouco sentido ler Camilo. Quando muito, faz algum o gesto de quem visita anualmente o orago, no cimo do outeiro, numa tarde soalheira. Sobretudo em se tratando duma obra menor, das muitas que serviram ao autor para cumprir o honesto castigo de pagar o seu jantar com o suor do rosto.
Sobra, porém, qualquer ganho, se um utente pediu a gravação. À uma por ser gratificante fazer-se cada dia o que deve ser feito. E às duas por ser útil mergulhar na longínqua vida do baixo século dezanove, e naquela sociedade ultramontana: nos morgadios que imolavam ao deus do património gerações de filhos segundos, condenados ao convento e à frustração das vidas; nos ódios que tomaram rédea solta naquela esquina da história, entre passado e futuro, entre o direito e o privilégio, entre as novas ideias liberais e o conúbio de mútua conveniência entre o altar e o trono absoluto; na degradação moral e ética da vida nos conventos, que eram há muito tempo sucursais do inferno; e nos muitos batalhões sagrados miguelistas, que usavam na mira a cruz de Cristo mas disparavam zagalotes de mosquete.
No fim consola retemperar o fôlego, e mergulhar no sol que bafeja a cidade. Onde antigas disputas estão por deslindar, mudando uns pormenores.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
domingo, 24 de novembro de 2013
Donde o desespero
Da canalhice e de mais uma traição das nossas elites oligárquicas parasitas; do manobrismo impenitente das nossas seitas de aventureiros inúteis; dos seculares equívocos e enganos da nossa ingenuidade iletrada; é deste cerco sem saída aparente que resulta o desespero que anda à solta.
O homem de que Portugal precisa existe, com os limites que tem. É o José Sócrates do PS, que Portugal deitou fora, o que não surgiu na história pela primeira vez.
Este governo de traidores decadentes e este presidente incapaz e cúmplice merecem o nosso asco e o banco dos réus (passe o eufemismo).
O Euro é uma armadilha pérfida, numa Europa tomada de cegueira e cupidez suicida. Portugal deve abandoná-lo.
Antes o inferno com ranger de dentes, alguma dignidade e a esperança possível, do que esta geena inútil, de condenados sem remissão.
O homem de que Portugal precisa existe, com os limites que tem. É o José Sócrates do PS, que Portugal deitou fora, o que não surgiu na história pela primeira vez.
Este governo de traidores decadentes e este presidente incapaz e cúmplice merecem o nosso asco e o banco dos réus (passe o eufemismo).
O Euro é uma armadilha pérfida, numa Europa tomada de cegueira e cupidez suicida. Portugal deve abandoná-lo.
Antes o inferno com ranger de dentes, alguma dignidade e a esperança possível, do que esta geena inútil, de condenados sem remissão.
sábado, 23 de novembro de 2013
Diz-se, sem haver razões para duvidar
Que é assim o pôr-do-sol em Marte. É mesmo este nosso, o pobre, tristonho e mesquinho como ele anda! [rapinado a JJRoseira]
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
J.F.Kennedy assassinado "por um bibliotecário". Em Dallas, em 1963.
[1964 - Ácido numa piscina de negros]
[Apartheid americano]
[1960 - Luther King arranca do jardim um presente incendiado pelo Ku-Klux-Klan]
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Cronistas 6
«Veneza mobilizava secretamente o novo sultão do Egipto para a luta contra os portugueses, que estrangulavam a rota de Alexandria. Em 1505 chegou a Lisboa, vindo de Roma onde se avistara com o papa, frei Mauro, monge de Santa Catarina do Monte Sinai. Se o rei D. Manuel não desistisse, o sultão do Egipto ocuparia os Lugares Santos e proibiria as peregrinações e o culto cristão.
Em resposta ao apelo de frei Mauro, D. Manuel enviou embaixadores a Henrique VII de Inglaterra e a França, Flandres e Roma. Propunha-lhes uma nova Cruzada com destino a Alexandria, e daí para a Terra Santa. Pelo seu lado, os reis indianos e os mercadores mouros instavam o sultão do Egipto: levante uma armada no Suez. Juntos, expulsaremos os portugueses da Índia.
Quando frei Mauro chegou a Lisboa, já sétima esquadra, a de Francisco de Almeida, partira com 22 velas e 1500 homens de armas, "gente limpa", em que entravam muitos fidalgos e 400 moradores, registados nos livros do rei. D. Manuel delegava os seus poderes em Francisco de Almeida, que na Índia assumiria o título de vice-rei. O pessoal dirigente e militar ficava sujeito a três anos de serviço pago. Levavam madeira lavrada e acertada para na Índia montar duas galés e um bergantim. E ferro, breu, pregos, alcatrão, linho, lonas, panos de Vila do Conde, âncoras, fateixas, remos, armas e muita artilharia e munições. Em cada nau havia botica bem provida, barbeiro sangrador, mestre para curar e dois capelães para confessar.
(...) Embarcaram carpinteiros, calafates, ferreiros, cordoeiros e degredados que viam perdoada parte substancial dos degredos. Os cronistas esqueceram-se dos escravos.»
(Gaspar Correia, Lendas da Índia)
Na Esfera do Mundo, Vol.IV, António Borges Coelho
[Eis os interesses duma falsa elite aventureira que pintaram de epopeia, o serviço do Vaticano, os destroços dum cruzadismo medieval, e a cobiça da pimenta que há-de levar à ruína, com proveito de ingleses e holandeses.
Ao longe pairam as sombras funestas de Alcácer-Quibir, que um rei menor, fanatizado e débil irá desencadear. Não fora ele como foi, doutro modo qualquer haveria de ser. Inapelavelmente.
As elites passaram a Castela, foram comer à mão de Filipe II. E o povo de Portugal foi mais uma vez crucificado, num exercício que ainda hoje se repete. Pois quem não aprende com os erros do passado, passa a vida inteira a repeti-los.]
Em resposta ao apelo de frei Mauro, D. Manuel enviou embaixadores a Henrique VII de Inglaterra e a França, Flandres e Roma. Propunha-lhes uma nova Cruzada com destino a Alexandria, e daí para a Terra Santa. Pelo seu lado, os reis indianos e os mercadores mouros instavam o sultão do Egipto: levante uma armada no Suez. Juntos, expulsaremos os portugueses da Índia.
Quando frei Mauro chegou a Lisboa, já sétima esquadra, a de Francisco de Almeida, partira com 22 velas e 1500 homens de armas, "gente limpa", em que entravam muitos fidalgos e 400 moradores, registados nos livros do rei. D. Manuel delegava os seus poderes em Francisco de Almeida, que na Índia assumiria o título de vice-rei. O pessoal dirigente e militar ficava sujeito a três anos de serviço pago. Levavam madeira lavrada e acertada para na Índia montar duas galés e um bergantim. E ferro, breu, pregos, alcatrão, linho, lonas, panos de Vila do Conde, âncoras, fateixas, remos, armas e muita artilharia e munições. Em cada nau havia botica bem provida, barbeiro sangrador, mestre para curar e dois capelães para confessar.
(...) Embarcaram carpinteiros, calafates, ferreiros, cordoeiros e degredados que viam perdoada parte substancial dos degredos. Os cronistas esqueceram-se dos escravos.»
(Gaspar Correia, Lendas da Índia)
Na Esfera do Mundo, Vol.IV, António Borges Coelho
[Eis os interesses duma falsa elite aventureira que pintaram de epopeia, o serviço do Vaticano, os destroços dum cruzadismo medieval, e a cobiça da pimenta que há-de levar à ruína, com proveito de ingleses e holandeses.
Ao longe pairam as sombras funestas de Alcácer-Quibir, que um rei menor, fanatizado e débil irá desencadear. Não fora ele como foi, doutro modo qualquer haveria de ser. Inapelavelmente.
As elites passaram a Castela, foram comer à mão de Filipe II. E o povo de Portugal foi mais uma vez crucificado, num exercício que ainda hoje se repete. Pois quem não aprende com os erros do passado, passa a vida inteira a repeti-los.]
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
As PPP's da miséria, e o grande cabrão do Sócrates que é o culpado disto tudo
Nestas troikas há sempre um presidente, que é quem manda e governa o município. Este tem mandado desde há muitos anos, desde há tantos que já nem pensa neles. Pôs um açaime ao voto popular e simplesmente fez o que lhe deu na gana.
Um Centro de Interpretação da Cultura Judaica faz muita falta à vila e à cultura dela, e às revoadas de turistas judeus que hão-de chegar aí à procura das raízes, à procura dos processos dos marranos que a Santa Inquisição fez arder no Rossio, à procura dos produtos Kosher ali da Beira Baixa. Vai ser um corrupio, o futuro do turismo passa por aí.
O Museu da Cidade faz-nos aqui muita falta. Ainda não sabemos bem o que meter lá dentro, mas isso agora não interessa nada. E uma vez que já lá vai quase um milhão no negócio das ruínas do Paço Ducal... sempre é melhor levar a coisa avante.
Outra coisa que faz falta ao progresso da vila é um Museu do Tempo. Trouxemos aí uns visionários bandarristas luso-brasileiros do Tribunal Europeu do Ambiente, a palestrar sobre a Arte e a Ciência, e um comendador que não sabe o que há-de fazer a uns quatrocentos relógios que lá tem. Um tal museu é que vem a calhar.
Faz-nos falta a Central de Camionagem, que todas as terras têm. De pouco nos servirá, mas tudo é negócio e obra.
Requalificar este Largo das Portas e o Campo da Feira é grande necessidade, uma vez que já são ambos muito velhos. E um Centro Cultural em Vila Franca há-de trazer mais-valias, mesmo que só venha a abrir as portas nas provas do vinho novo.
Tais são as atribulações dum presidente da câmara atento ao futuro e ao bem dos seus munícipes. Donde virá o dinheiro é que ainda não sabemos, mas viremos a saber em lá chegando.
O atelier dum arquitecto renomado já desenhou os projectos, é ele a segunda perna desta troika. Trata-se do senhor Gonçalo Byrne, e aqui o nome é meio caminho andado. Alguém há-de pagar os honorários.
Quem faz as obras é um empreiteiro, a perna que aqui faltava para manter em pé esta tripeça. E como não há dinheiro, ele mesmo se encarrega dessa questão maior. Umas PPP's resolvem o assunto. Os banqueiros vão lá fora, trazem dinheiro barato, para isso é que eles existem.
[Entre tantas PPP's, só sobreviveram três. A dívida que deixaram é de 8,5 milhões, a ladrar por 25 anos. E os encargos anuais contraídos sobem a 800 mil. Se num improvável dia deixarem de ser pagos, o empreiteiro é o dono do Rossio da Feira de São Bartolomeu. Mas onde é que está o problema?! Não é verdade que foi o cabrão do Sócrates que nos levou à miséria?!]
Um Centro de Interpretação da Cultura Judaica faz muita falta à vila e à cultura dela, e às revoadas de turistas judeus que hão-de chegar aí à procura das raízes, à procura dos processos dos marranos que a Santa Inquisição fez arder no Rossio, à procura dos produtos Kosher ali da Beira Baixa. Vai ser um corrupio, o futuro do turismo passa por aí.
O Museu da Cidade faz-nos aqui muita falta. Ainda não sabemos bem o que meter lá dentro, mas isso agora não interessa nada. E uma vez que já lá vai quase um milhão no negócio das ruínas do Paço Ducal... sempre é melhor levar a coisa avante.
Outra coisa que faz falta ao progresso da vila é um Museu do Tempo. Trouxemos aí uns visionários bandarristas luso-brasileiros do Tribunal Europeu do Ambiente, a palestrar sobre a Arte e a Ciência, e um comendador que não sabe o que há-de fazer a uns quatrocentos relógios que lá tem. Um tal museu é que vem a calhar.
Faz-nos falta a Central de Camionagem, que todas as terras têm. De pouco nos servirá, mas tudo é negócio e obra.
Requalificar este Largo das Portas e o Campo da Feira é grande necessidade, uma vez que já são ambos muito velhos. E um Centro Cultural em Vila Franca há-de trazer mais-valias, mesmo que só venha a abrir as portas nas provas do vinho novo.
Tais são as atribulações dum presidente da câmara atento ao futuro e ao bem dos seus munícipes. Donde virá o dinheiro é que ainda não sabemos, mas viremos a saber em lá chegando.
O atelier dum arquitecto renomado já desenhou os projectos, é ele a segunda perna desta troika. Trata-se do senhor Gonçalo Byrne, e aqui o nome é meio caminho andado. Alguém há-de pagar os honorários.
Quem faz as obras é um empreiteiro, a perna que aqui faltava para manter em pé esta tripeça. E como não há dinheiro, ele mesmo se encarrega dessa questão maior. Umas PPP's resolvem o assunto. Os banqueiros vão lá fora, trazem dinheiro barato, para isso é que eles existem.
[Entre tantas PPP's, só sobreviveram três. A dívida que deixaram é de 8,5 milhões, a ladrar por 25 anos. E os encargos anuais contraídos sobem a 800 mil. Se num improvável dia deixarem de ser pagos, o empreiteiro é o dono do Rossio da Feira de São Bartolomeu. Mas onde é que está o problema?! Não é verdade que foi o cabrão do Sócrates que nos levou à miséria?!]
terça-feira, 19 de novembro de 2013
A "igreja dos pobres", pobres deles!
«(...) Ninguém julgue que Francisco é um clérigo ingénuo (...) Francisco é o Papa necessário a esta fase em que a Europa, secularizada, começa a olhar para a Igreja católica perante a ameaça do proselitismo islâmico e que precisa de cuidar da América do Sul onde a implantação é grande e a concorrência evangélica agressiva.(...)»
[rapinado aqui]
[rapinado aqui]
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
"Os nossos credores"
É assim, nesta toada íntima, que estes degenerados filhos da puta referem os agiotas que nos vão esmifrando até ao osso.
Cornucópia
Dizem que nascer é benesse dos deuses, para além de ser, dos homens, necessidade
urgente. E assim será. Mas a bênção verdadeira consiste em sair infante no seio
dum casalinho português. É uma cornucópia de bem-aventuranças.
A primeira decisão que os papás tomam, mal o infante se instala nas suas
vidas, é deixarem de ser mulher e homem. Abdicam da condição, no bom propósito
de se tornarem papás a tempo inteiro.
Há um tempo em que o infante se limita a deglutir, a dormir e a defecar. E
os dois papás, enquanto espiam ansiosos o gráfico dos pesos e das medidas,
vivem o seu período de maior exaltação.
Depois o infante começa a gatinhar, começa a gaguejar, ensaia os primeiros
gestos de representação. É então que os dois papás, mais a família inteira, e
também os amigos que vieram, lhe oferecem o papel de prima-donna e
lhe cedem o palco inteiro. Organizam no salão a roda em volta dele, e cada um a
seu modo o estimula. A mamã pede-lhe um gesto, a tia dá-lhe uma deixa, a avó
bate-lhe palminhas à precocidade. E o infante faz o pino, puxa a orelha do
gato, deita a linguita de fora, cospe na mão da madrinha. A distância entre o
infante e um macaquito de circo reduz-se perigosamente. Mas ganha imenso a
alegria do salão e a felicidade colectiva.
O infante já descobriu que está no centro dum mundo onde nada mais existe
que o seu egoísmo cruel. E estabelece metodicamente a sua ditadura, em que vai
introduzindo invencíveis tácticas de guerrilha. Não tem horas de dormir ou de
comer, nem de chegar ou partir, nem de falar ou de ouvir.
O casalinho há muito que anda esfalfado, que não dorme, que não vive. Evita
lugares públicos onde se peça alguma compostura, e há muito tempo que trabalha
a meio gás. Mas assume esse calvário em função dum projecto de futuro.
Tendo assim sido menino, o infante fez-se entretanto criança, antes de se
tornar adolescente. Na escola descobriu o smartphone,
conheceu o mp3, ouviu falar duma nova play-station. E só há boa
cara para os papás se eles aceitarem o negócio. Caso contrário não abre a porta
do quarto. Depois a cena repete-se por aquela marca de roupa, por um acessório
gótico, por um camuflado da guerra do Afeganistão.
Até que chega o dia de ir à discoteca. E os papás, que já não têm vida
própria, que têm que trabalhar, que deixaram de ter intimidade, que há muito se
não entendem, que padecem de impotência irreversível, pagam a um segurança
profissional que a venha buscar a casa e a devolva às quatro da manhã.
Os papás já não são uma família. Agora só há mamã, porque o papá foi-se
embora. E um dia o adolescente, desinteressado da escola, vai à sua viagem de
finalistas, porque no último período fez um esforço final que afinal não
resultou.
A mãe está decidida a arranjar o segundo trabalho, porque um só não chega
para as encomendas. Além dum carro para poder ir às aulas, há que pagar as
propinas na privada, onde o infante se há-de licenciar um dia em Relações
Internacionais.
sábado, 16 de novembro de 2013
Era assim
[menina vietnamita, que tirou as roupas a arder, regadas com napalm - rapinado a JJRoseira]
Isto muito antes de os marines serem reciclados de Pai Natal e receberem o encargo de levar a liberdade e a democracia aos bárbaros da Líbia, do Iraque, do Afeganistão, da Síria...
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Partilha de despojos entre marginais mercenários da contra-informação
« (...)
- O que aconteceu quando o PSD ganhou as legislativas?
- (...) Como os blogueres tinham sido muito importantes para a chegada ao poder, chamaram alguns para o governo e suas imediações. Foi um erro.
- Nomes?
- Álvaro Santos Pereira, do Desmitos, foi para ministro da Economia; Carlos Sá Carneiro entrou para adjunto do primeiro-ministro; Pedro Correia foi para o gabinete do Relvas; Luís Naves também, mais tarde; João Villalobos para a Secretaria de Estado da Cultura; Carlos Abreu Amorim para deputado e vice-presidente do grupo parlamentar; António Figueira, do Cinco Dias e de esquerda, foi trabalhar com o Relvas; Francisco Almeida Leite para o Instituto Camões; Vasco Campilho foi para algo ligado aos Negócios Estrangeiros; José Aguiar para o ICEP; Pedro Froufe para a comissão de extinção das freguesias; o CDS também recrutou no 31 da Armada. Houve outros. Só em ministros, secretários de Estado e assessores foi uma razia em blogues como o Albergue Espanhol, o 31 da Armada, Delito de Opinião, O Insurgente, o Blasfémias, etc. Apenas o Aventar ficou imune. (...)»
[Entrevista a Fernando Moreira de Sá, Visão Nº 1080, pág. 50]
NOTA: Pela parte que me atinge neste lamaçal de infâmia, não posso calar a gratidão ao comité central, que se misturou a isto.
- O que aconteceu quando o PSD ganhou as legislativas?
- (...) Como os blogueres tinham sido muito importantes para a chegada ao poder, chamaram alguns para o governo e suas imediações. Foi um erro.
- Nomes?
- Álvaro Santos Pereira, do Desmitos, foi para ministro da Economia; Carlos Sá Carneiro entrou para adjunto do primeiro-ministro; Pedro Correia foi para o gabinete do Relvas; Luís Naves também, mais tarde; João Villalobos para a Secretaria de Estado da Cultura; Carlos Abreu Amorim para deputado e vice-presidente do grupo parlamentar; António Figueira, do Cinco Dias e de esquerda, foi trabalhar com o Relvas; Francisco Almeida Leite para o Instituto Camões; Vasco Campilho foi para algo ligado aos Negócios Estrangeiros; José Aguiar para o ICEP; Pedro Froufe para a comissão de extinção das freguesias; o CDS também recrutou no 31 da Armada. Houve outros. Só em ministros, secretários de Estado e assessores foi uma razia em blogues como o Albergue Espanhol, o 31 da Armada, Delito de Opinião, O Insurgente, o Blasfémias, etc. Apenas o Aventar ficou imune. (...)»
[Entrevista a Fernando Moreira de Sá, Visão Nº 1080, pág. 50]
NOTA: Pela parte que me atinge neste lamaçal de infâmia, não posso calar a gratidão ao comité central, que se misturou a isto.
Deserto
Sem surpresa de maior, Américo Rodrigues foi demitido da direcção do TMG pelo novo presidente da Câmara da Guarda.
Alguns reparos seriam naturais. Mas a atmosfera de deserto que já era no distrito um fenómeno relativo, passa agora a clima absoluto.
Alguns reparos seriam naturais. Mas a atmosfera de deserto que já era no distrito um fenómeno relativo, passa agora a clima absoluto.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Sobre os meios usados por estes canalhas para correrem com o governo de Sócrates e se apoderarem do poder
Está tudo em três páginas que um garganta funda forneceu à Visão Nº 1080 (48,49 e 50).
O essencial vem resumido aqui. http://corporacoes.blogspot.pt/2013/11/central-de-contra-informacao-vida-e.html
E ali bem explicadinho.
O essencial vem resumido aqui. http://corporacoes.blogspot.pt/2013/11/central-de-contra-informacao-vida-e.html
E ali bem explicadinho.
União de forças
«Tenha a forma de movimento, frente, coligação ou qualquer outra coisa, o novo sujeito político deve juntar quem, à esquerda, esteja interessado em unir forças. Pode e deve abranger partidos políticos já existentes, partidos políticos que entretanto se possam formar e muitos dos que não militam em qualquer partido. Mas, acima de tudo, a refundação de um espaço político à esquerda do PS tem de transportar consigo um potencial de esperança que, sozinhos, os atuais atores políticos são incapazes de oferecer aos portugueses. E isso depende dos seus protagonistas e da sua credibilidade e do realismo e coragem das suas propostas. Tem de corresponder a uma frente democrática que defenda um novo papel para Portugal na Europa. Um patriotismo que, não desistindo dos combates europeus, ponha a democracia e o Estado Social como as primeiras de todas as suas prioridades. E que esteja, na defesa da soberania democrática e dos direitos sociais, disposta a negociar com todos os que defendam um programa urgência nacional que se apresente com firmeza em alternativa ao programa de subdesenvolvimento proposto pela troika. É isto, ou a preparação para a deprimente tragédia francesa.»
Prémio APE da Crónica
A edição da obra de J. Rentes de Carvalho pela Quetzal é um elementar exercício de justiça e rectidão, que resgata a conhecida mesquinhez indígena. Durante 50 anos, o Rentes cumpriu o calvário de todos os nossos estrangeirados, produzindo lá fora a cultura e o espírito que serviu a outros, e que os asnos nacionais tomaram por dispensável.
Mazagran, conjunto de crónicas publicadas na Holanda e editadas em 2012, venceu há dias o Grande Prémio de Crónica da APE. E eu, que me rendo à excelência de Ernestina, de Com os Holandeses, e de A Flor e a Foice que ainda não viu a luz do dia, já estou tranquilo na bicha. Porque intuo que a crónica é o campo em que Rentes de Carvalho melhor brilha.
Cronistas 5
«(...) Ao outro dia, 17 de Dezembro de 1500, os navios portugueses tomaram de assalto as dez naus mouras, fundeadas no porto. Roubaram-lhes as especiarias, a fazenda e três elefantes que salgaram para comer. Ataram os pés e as mãos dos cativos e chegaram fogo às naus. Arderam à vista da cidade, assombrada pelas chamas e pelos gritos dos que morriam queimados. As naus portuguesas navegaram então para Cochim, cidade inimiga de Calecut. (...)
Calecut assumiu então a liderança contra o estabelecimento da nova rota. Impulsionavam-na os mercadores muçulmanos e os reis indianos do Malabar. Contavam também com o apoio do rei de Cambaia, o auxílio naval e militar do sultão do Egipto e a participação discreta de Veneza.
Anualmente as naus que chegavam de Lisboa descarregavam a artilharia sobre Calecut e roubavam e incendiavam os navios fundeados no seu porto. Na quarta viagem, a segunda de Vasco da Gama, a doutrina era a de impor pela força das armas o senhorio da navegação e do comércio e fechar o Mar Vermelho. Jogava-se na divisão das pequenas cidades-estado. (...)
No golfão da África para a Índia encontraram a nau Meri. Transportava 300 mouros de Meca, com as mulheres e os filhos. Roubaram a nau e tiraram os meninos, tornados mais tarde frades jerónimos em Nossa Senhora de Belém. Amarraram os tripulantes e os passageiros debaixo da coberta e deitaram fogo. Os presos soltaram-se. Com a água que entrava pelos buracos abertos pelos pelouros apagaram as chamas. As naus do Gama voltaram e atiraram tições a arder. Quando veio a noite, metade da nau ardia, a outra metade afundava-se com o resto da carga humana.
Ao entrar no porto de Calecut, Vasco da Gama capturou 50 pescadores. (...) Ao meio dia, ao sinal da sua bombarda, as naus aproximaram-se de terra com os 50 pescadores enforcados nos mastros. Omito o resto. (...)»
[António Borges Coelho, História de Portugal, Vol.IV, Na Esfera do Mundo]
Calecut assumiu então a liderança contra o estabelecimento da nova rota. Impulsionavam-na os mercadores muçulmanos e os reis indianos do Malabar. Contavam também com o apoio do rei de Cambaia, o auxílio naval e militar do sultão do Egipto e a participação discreta de Veneza.
Anualmente as naus que chegavam de Lisboa descarregavam a artilharia sobre Calecut e roubavam e incendiavam os navios fundeados no seu porto. Na quarta viagem, a segunda de Vasco da Gama, a doutrina era a de impor pela força das armas o senhorio da navegação e do comércio e fechar o Mar Vermelho. Jogava-se na divisão das pequenas cidades-estado. (...)
No golfão da África para a Índia encontraram a nau Meri. Transportava 300 mouros de Meca, com as mulheres e os filhos. Roubaram a nau e tiraram os meninos, tornados mais tarde frades jerónimos em Nossa Senhora de Belém. Amarraram os tripulantes e os passageiros debaixo da coberta e deitaram fogo. Os presos soltaram-se. Com a água que entrava pelos buracos abertos pelos pelouros apagaram as chamas. As naus do Gama voltaram e atiraram tições a arder. Quando veio a noite, metade da nau ardia, a outra metade afundava-se com o resto da carga humana.
Ao entrar no porto de Calecut, Vasco da Gama capturou 50 pescadores. (...) Ao meio dia, ao sinal da sua bombarda, as naus aproximaram-se de terra com os 50 pescadores enforcados nos mastros. Omito o resto. (...)»
[António Borges Coelho, História de Portugal, Vol.IV, Na Esfera do Mundo]
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Quando «a direita e a esquerda» protestavam
A geração (?) estava «à rasca», por causa da insegurança e da precariedade, e por causa do governo do cabrão do Sócrates. Por isso marchavam todos alegremente, ao compasso dos deolindos e dos falâncios.
Agora a geração está fodida e nem pia.
Agora a geração está fodida e nem pia.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
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