«A notícia da derrota chegou em menos de 20 horas a Ceuta; a Lisboa, só a 10 ou 11 de Agosto [1578]. Os governadores esconderam a nova. A 13 enviaram o provincial da Companhia de Jesus a Alcobaça, a chamar o cardeal D. Henrique. As ruas encheram-se de uma multidão alucinada. No dia 24 entrou a barra a armada que fora para Arzila e Larache. Dizia-se que D. Sebastião vinha disfarçado por vergonha. Durante todo o dia, em 24 e 25, tocaram os sinos. (...)
O resgate dos milhares de cativos sangrou o país. O cardeal mandou juntar num cofre, administrado por oficiais da coroa, as jóias, as peças de ouro, de prata, as pedras preciosas. Na primeira leva, as roupas atingiram 300 mil cruzados, as jóias e preciosidades 800 mil. Venderam-nas em Ceuta a mouros e a judeus. Mais tarde seguiu para Ceuta novo galeão com 20 mil cruzados em dinheiro, 17 mil em fazendas da Índia e novas jóias e preciosidades de particulares.
Duzentos e dezasseis fidalgos regressaram do cativeiro, mas em 1596 ainda havia prisioneiros em Marraquexe, Alcácer Quibir e Tetuão. Um cativo cristão custava uns cem cruzados, e aquele sobre quem recaía a suspeita de ser fidalgo não custava menos de dois mil. Muitos foram vendidos em Argel como escravos.
A 20 de Setembro celebrou-se na igreja dos Jerónimos o saimento pela morte de D. Sebastião. Falou o padre jesuíta Luís Alvares: "Quem vos matou, meu formoso? Matou-vos o bispo, matou-vos o clérigo, matou-vos o frade, matou-vos o grande, matou-vos o pequeno, matou-vos o privado, matou-vos o baixo, matou-vos o povo, matei-vos eu, matámo-lo todos quantos somos, pois entre nós não houve um tanoeiro que lhe tivesse mão pela rédea, como se já fez a outro rei deste reino."» *
* Queiroz Velloso, O Reinado do Cardeal D. Henrique, pp.12