A Bruxa do Monte Córdova - Camilo Castelo Branco
Hoje em dia, em que a tarefa magna do leitor consiste em orientar-se numa floresta de estéticas caóticas, faz pouco sentido ler Camilo. Quando muito, faz algum o gesto de quem visita anualmente o orago, no cimo do outeiro, numa tarde soalheira. Sobretudo em se tratando duma obra menor, das muitas que serviram ao autor para cumprir o honesto castigo de pagar o seu jantar com o suor do rosto.
Sobra, porém, qualquer ganho, se um utente pediu a gravação. À uma por ser gratificante fazer-se cada dia o que deve ser feito. E às duas por ser útil mergulhar na longínqua vida do baixo século dezanove, e naquela sociedade ultramontana: nos morgadios que imolavam ao deus do património gerações de filhos segundos, condenados ao convento e à frustração das vidas; nos ódios que tomaram rédea solta naquela esquina da história, entre passado e futuro, entre o direito e o privilégio, entre as novas ideias liberais e o conúbio de mútua conveniência entre o altar e o trono absoluto; na degradação moral e ética da vida nos conventos, que eram há muito tempo sucursais do inferno; e nos muitos batalhões sagrados miguelistas, que usavam na mira a cruz de Cristo mas disparavam zagalotes de mosquete.
No fim consola retemperar o fôlego, e mergulhar no sol que bafeja a cidade. Onde antigas disputas estão por deslindar, mudando uns pormenores.