«(...) Ao outro dia, 17 de Dezembro de 1500, os navios portugueses tomaram de assalto as dez naus mouras, fundeadas no porto. Roubaram-lhes as especiarias, a fazenda e três elefantes que salgaram para comer. Ataram os pés e as mãos dos cativos e chegaram fogo às naus. Arderam à vista da cidade, assombrada pelas chamas e pelos gritos dos que morriam queimados. As naus portuguesas navegaram então para Cochim, cidade inimiga de Calecut. (...)
Calecut assumiu então a liderança contra o estabelecimento da nova rota. Impulsionavam-na os mercadores muçulmanos e os reis indianos do Malabar. Contavam também com o apoio do rei de Cambaia, o auxílio naval e militar do sultão do Egipto e a participação discreta de Veneza.
Anualmente as naus que chegavam de Lisboa descarregavam a artilharia sobre Calecut e roubavam e incendiavam os navios fundeados no seu porto. Na quarta viagem, a segunda de Vasco da Gama, a doutrina era a de impor pela força das armas o senhorio da navegação e do comércio e fechar o Mar Vermelho. Jogava-se na divisão das pequenas cidades-estado. (...)
No golfão da África para a Índia encontraram a nau Meri. Transportava 300 mouros de Meca, com as mulheres e os filhos. Roubaram a nau e tiraram os meninos, tornados mais tarde frades jerónimos em Nossa Senhora de Belém. Amarraram os tripulantes e os passageiros debaixo da coberta e deitaram fogo. Os presos soltaram-se. Com a água que entrava pelos buracos abertos pelos pelouros apagaram as chamas. As naus do Gama voltaram e atiraram tições a arder. Quando veio a noite, metade da nau ardia, a outra metade afundava-se com o resto da carga humana.
Ao entrar no porto de Calecut, Vasco da Gama capturou 50 pescadores. (...) Ao meio dia, ao sinal da sua bombarda, as naus aproximaram-se de terra com os 50 pescadores enforcados nos mastros. Omito o resto. (...)»
[António Borges Coelho, História de Portugal, Vol.IV, Na Esfera do Mundo]