Podia ser uma pontada, que tantas vezes dá até um dia. Mas não. É o Pontal, onde esta cáfila de facínoras se reúne para a entremeada, tentando fazer-se ouvir. Duas mil almas penadas.
Todos os anos é a mesma merda. E o filho da puta do mestre de cerimónias faz por desconhecer que o Siresp foi em tempos aprovado pelo pau-mandado do Daniel Sanches.
terça-feira, 15 de agosto de 2017
segunda-feira, 14 de agosto de 2017
'Tão foi assim!
A dada altura o Guterres, bom espírito mas mau governante, declarou o pântano e foi-se embora. Com ele foi o Sócrates, seu ministro, que resolveu depois ir a Paris, buscar à Sorbonne os trunfos intelectuais que não tinha. E quando voltou tinha à espera a matilha das leis, essa corporação sinistra, para lhe tratarem da saudinha.
O PS ficara nas mãos de Seguro, um comparsa juvenil do Passos Coelho em vários objectivos. E foi altura de entrar em acção essa eminência intelectual do Relvas, que viera analfabeto do sertão e em três tempos se fez doutor.
O Relvas tratou de levar o Passos Coelho a São Bento, interrompendo um futuro brilhante no teatro Politeama a voltear zarzuelas. E a certa altura, seguro de que as grandes negociatas passavam pelos municípios, resolveu agir, avançando para uma reforma administrativa.
Foi então que o Rua, de Viseu, depois de açular o povo aos fiscais do ambiente, do alto da Associação Nacional de Municípios Portugueses lhe levantou a voz: vai-te foder e tira as patas daí, porque o lóbi autárquico foi sempre a grande força do PPD. E assim era.
O desgraçado Relvas extinguiu mil e tal freguesias, meteu o rabo entre as pernas e foi tratar da vidinha, como facilitador de negócios. É por onde tem andado, não se sabe bem com que sucesso. Nem interessa.
Voltam agora as autárquicas, enquanto o país arde inapelavelmente. Ninguém sabe ao certo o que fazer dele, enquanto prosseguem as negociatas. O povo emigra. É assim há 500 anos.
O PS ficara nas mãos de Seguro, um comparsa juvenil do Passos Coelho em vários objectivos. E foi altura de entrar em acção essa eminência intelectual do Relvas, que viera analfabeto do sertão e em três tempos se fez doutor.
O Relvas tratou de levar o Passos Coelho a São Bento, interrompendo um futuro brilhante no teatro Politeama a voltear zarzuelas. E a certa altura, seguro de que as grandes negociatas passavam pelos municípios, resolveu agir, avançando para uma reforma administrativa.
Foi então que o Rua, de Viseu, depois de açular o povo aos fiscais do ambiente, do alto da Associação Nacional de Municípios Portugueses lhe levantou a voz: vai-te foder e tira as patas daí, porque o lóbi autárquico foi sempre a grande força do PPD. E assim era.
O desgraçado Relvas extinguiu mil e tal freguesias, meteu o rabo entre as pernas e foi tratar da vidinha, como facilitador de negócios. É por onde tem andado, não se sabe bem com que sucesso. Nem interessa.
Voltam agora as autárquicas, enquanto o país arde inapelavelmente. Ninguém sabe ao certo o que fazer dele, enquanto prosseguem as negociatas. O povo emigra. É assim há 500 anos.
domingo, 13 de agosto de 2017
Homem velho e mulher nova dão filhos até à cova!
O apressado primarismo indígena resumiu A Cidade e as Serras a umas favas com chouriço em Tormes. E no entanto está lá muito mais que isso. Até a estirpe dos Jacintos ressurgiu da decadência!
Por pouco se diria que lá cabe metade do nosso séc. XIX, se não toda a nossa história. Que o resto pouco contou, e muito menos conta.
"(...) O rapazito emudecera, chupando o dedo, com os tristes olhos pasmados. E o Silvério sorria, com bondade:
- Nada! este é sãozinho... Coitado, é assim amarelado e enfezadito, porque... Que quer Vossa Excelência? Malcomido! muita miséria... Quando há o bocadito de pão é para todo o rancho. Fomezinha, fomezinha!
Jacinto pulou bruscamente da borda do carro.
- Fome? Então ele tem fome? Há aqui gente com fome? (...)".
sábado, 12 de agosto de 2017
Verão
Publicado há meia dúzia de anos, mais parece que foi hoje. Nem o linguajar francês de além-Pirinéus mudou de acento.
" (...) Saudoso já de alguma realidade, vai acabar o seu dia na feira, onde anda tudo numa roda-viva em azáfamas de última hora. Já está montada a tômbola das rifas, à entrada, para distribuir ursinhos de peluche e batedeiras eléctricas a quem acertar na lotaria.
Logo depois vem o poço da morte, andam a acabar-lhe a escadaria. Entre braços de carrocéis voadores , pistas de engenhos de choque e as diversões costumeiras, sente o viajante a falta dos espelhos aldrabões da sua infância distante, e do comboio fantasma, e da rampa do canhão. Terão passado de moda, que já estão aqui as quinquilharias de plástico, e as barracas das bonecas matrafonas que vieram das fábricas chinesas, e os colares e os couros e as missangas que chegaram do Magrebe. Há balcões ambulantes de churros e farturas, e está pronta a exposição dos automóveis, tanto novos como usados. E também a das máquinas industriais e agrícolas, que tanta falta fariam nesses campos. (...)"
[Portugalmente, Peregrinação da Lapa a Riba-Côa, Jorge Carvalheira, Lx 2012, pág. 137]
" (...) Saudoso já de alguma realidade, vai acabar o seu dia na feira, onde anda tudo numa roda-viva em azáfamas de última hora. Já está montada a tômbola das rifas, à entrada, para distribuir ursinhos de peluche e batedeiras eléctricas a quem acertar na lotaria.
Logo depois vem o poço da morte, andam a acabar-lhe a escadaria. Entre braços de carrocéis voadores , pistas de engenhos de choque e as diversões costumeiras, sente o viajante a falta dos espelhos aldrabões da sua infância distante, e do comboio fantasma, e da rampa do canhão. Terão passado de moda, que já estão aqui as quinquilharias de plástico, e as barracas das bonecas matrafonas que vieram das fábricas chinesas, e os colares e os couros e as missangas que chegaram do Magrebe. Há balcões ambulantes de churros e farturas, e está pronta a exposição dos automóveis, tanto novos como usados. E também a das máquinas industriais e agrícolas, que tanta falta fariam nesses campos. (...)"
[Portugalmente, Peregrinação da Lapa a Riba-Côa, Jorge Carvalheira, Lx 2012, pág. 137]
sexta-feira, 11 de agosto de 2017
Feira de Agosto
Há um sobressalto na paisagem. Do céu fugiu a cor. A brisa bate à porta. Vem entrando Saturno, o melancólico.
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
Primavera indecisa
Tenho à espera a Feira Cabisbaixa atrás dum microfone, a Feira do O'Neill, a feira de nós todos, que um cego encomendou à biblioteca sonora. Mas encontro no jardim de São Lázaro a Primavera a hesitar.
As camélias já andam pelo chão e a Primavera a hesitar, incham os botões dos rododendros e a Primavera a hesitar, os rebentos das tílias a explodir e a Primavera a hesitar, os velhos da sueca, são quinhentos, a improvisar a banca e a Primavera a hesitar, a mimosa das coxas tentadoras a faltar-me no passeio o riso quotidiano, bons-dias
mimosinha, e os dentitos de marfim, o drapejar da pestana, o peito da mimosa a faltar-me os olhos, as formas arredondadas a morder-me no ventre e os pombos num badanal, a mulher desdentada a pedir-me um cigarro, a levar dois para a amiga encostada na esquina, a solicitar-me o favor dum lume, a mesura brejeira a agradecer-me, a aventurar se gosto de ir ao quarto e eu a dizer-lhe que não, um trunfo a cair na mesa a esquartejar a manilha e os pombos amotinados, e a mimosa que lá vem dobrando a esquina num riso de Gioconda a tentar-me de longe, os pés que já não comando na direcção dela, um instinto a farejá-la, a correr-lhe a garupa, o flanco acolchoado, o lago misterioso, quanto vale o teu riso, mimosinha, a Primavera ainda a hesitar e eu a deslizar-lhe a nota na palma acetinada, um roçagar de leve, uma aflição de seda...
E vou-me então à Feira Cabisbaixa, à Feira do O'Neill, à feira de nós todos, que um cego precisa dela, e a Primavera enfim se decidiu.
(a publicar)
As camélias já andam pelo chão e a Primavera a hesitar, incham os botões dos rododendros e a Primavera a hesitar, os rebentos das tílias a explodir e a Primavera a hesitar, os velhos da sueca, são quinhentos, a improvisar a banca e a Primavera a hesitar, a mimosa das coxas tentadoras a faltar-me no passeio o riso quotidiano, bons-dias
mimosinha, e os dentitos de marfim, o drapejar da pestana, o peito da mimosa a faltar-me os olhos, as formas arredondadas a morder-me no ventre e os pombos num badanal, a mulher desdentada a pedir-me um cigarro, a levar dois para a amiga encostada na esquina, a solicitar-me o favor dum lume, a mesura brejeira a agradecer-me, a aventurar se gosto de ir ao quarto e eu a dizer-lhe que não, um trunfo a cair na mesa a esquartejar a manilha e os pombos amotinados, e a mimosa que lá vem dobrando a esquina num riso de Gioconda a tentar-me de longe, os pés que já não comando na direcção dela, um instinto a farejá-la, a correr-lhe a garupa, o flanco acolchoado, o lago misterioso, quanto vale o teu riso, mimosinha, a Primavera ainda a hesitar e eu a deslizar-lhe a nota na palma acetinada, um roçagar de leve, uma aflição de seda...
E vou-me então à Feira Cabisbaixa, à Feira do O'Neill, à feira de nós todos, que um cego precisa dela, e a Primavera enfim se decidiu.
(a publicar)
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Controlanços
Desde que os filhos da puta que mandam na Internet me forçaram a migrar do Windows 7 para o Windows 10, perdi 80% das capacidades na utilização desta selva.
A verdade é que só preciso dela para receber correio electrónico e alimentar um blogue pré-histórico, e cá me vou arranjando.
Mas se o que eles pretendem é controlar as coisas, bem podiam dedicar-se a controlar a puta que os pariu. Estou certo que já lhes dava muito que fazer.
A verdade é que só preciso dela para receber correio electrónico e alimentar um blogue pré-histórico, e cá me vou arranjando.
Mas se o que eles pretendem é controlar as coisas, bem podiam dedicar-se a controlar a puta que os pariu. Estou certo que já lhes dava muito que fazer.
terça-feira, 8 de agosto de 2017
Jorge de Sena, Camões e outros exilados 1
No dia 10 de Junho de 1977 Jorge de Sena foi convidado para fazer, numa escola secundária da Guarda, o discurso de celebração das comunidades portuguesas.
Foi um discurso notável, com variados ecos na cidade. Mas caiu no mais absoluto silêncio para lá do termo dela.
E como não?! Se nunca se ouviu falar deste Camões e deste Portugal aos catedráticos dele!
"É para mim uma honra insigne ter sido oficialmente convidado pela comissão organizadora das comemorações de Camões e ao dedicar-se o Dia de Camões à recordação das comunidades portuguesas ou de origem portuguesa dispersas pelo mundo, para aqui falar na minha dupla qualidade de estudioso de Camões e de residente no estrangeiro.
Com efeito, em 1978 cumprem-se 30 anos sobre a primeira vez que em público me ocupei de Camões, iniciando o que tem sido um contínua campanha para dar a Portugal um Camões autêntico e inteiramente diferente do que tinham feito dele: um Camões profundo, dramático e dividido, um Camões subversivo e revolucionário, em tudo um homem do nosso tempo, que poderia juntar-se ao espírito da Revolução de Abril, e ao mesmo tempo sofrer em si mesmo as angústias e as dúvidas do homem moderno, que não obedece a nada nem a ninguém senão à sua própria consciência. Esse meu Camões foi longamente o riso dos eruditos e dos doutos, de qualquer cor e feitio; foi a indignação do nacionalismo fascista, dentro e fora das universidades, dentro e fora de Portugal; foi a aflição inquieta do catolicismo estreito e tradicional, dentro e fora de Portugal. (...)
Porque, sendo Camões o maior escritor da nossa língua, que é uma das seis grandes línguas do mundo, e um dos maiores poetas que esse mundo alguma vez produziu, ele é uma pedra de toque para portugueses, porque tentar vê-lo como ele foi, e não como as pessoas querem que ele seja, é um escândalo. (...)
Eu nem estou a regressar, nem tenho Lusíadas nenhuns. Mas não sou exactamente um emigrante no estrangeiro, ainda que neste viva, e com os emigrantes me possa identificar - aqueles emigrantes que eu tenho visto de perto, primeiro no Brasil e depois nos Estados Unidos, e também pelo mais largo mundo que tenho percorrido, e que com a sua laboriosidade, a sua dignidade, a sua humanidade convivente, são em toda a parte os embaixadores que Portugal não envia, ou os representantes da cultura que Portugal não exporta. (...)
Seja o que seja continuo a ser o que era, quando me exilei muito a tempo naqueles idos negros e tristes de 1959 (...).Democrata como sou, não falo em nome de ninguém sem ter recebido um expresso mandato para tal. Eu fui convidado por Lisboa e de Lisboa, o que é uma honra, mas Lisboa não tem o direito de nomear representantes de nada ou de ninguém. Esse vício centralista da nossa tradição administrativa - um dos vícios que Camões denunciou e castigou nos seus Lusíadas - deve ser eliminado e banido dos costumes portugueses, sem perda da autoridade central que deve manter unido um dos povos mais anárquicos do mundo e menos realistas quando de política se trata. Porque os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha; e por isso disfarçam a sua insegurança adulta sob a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega, ou do cinismo mais oportunista, quando se vêem confrontados, como é o caso desde Abril de 1974, com a experiência da liberdade. (...)"
Foi um discurso notável, com variados ecos na cidade. Mas caiu no mais absoluto silêncio para lá do termo dela.
E como não?! Se nunca se ouviu falar deste Camões e deste Portugal aos catedráticos dele!
"É para mim uma honra insigne ter sido oficialmente convidado pela comissão organizadora das comemorações de Camões e ao dedicar-se o Dia de Camões à recordação das comunidades portuguesas ou de origem portuguesa dispersas pelo mundo, para aqui falar na minha dupla qualidade de estudioso de Camões e de residente no estrangeiro.
Com efeito, em 1978 cumprem-se 30 anos sobre a primeira vez que em público me ocupei de Camões, iniciando o que tem sido um contínua campanha para dar a Portugal um Camões autêntico e inteiramente diferente do que tinham feito dele: um Camões profundo, dramático e dividido, um Camões subversivo e revolucionário, em tudo um homem do nosso tempo, que poderia juntar-se ao espírito da Revolução de Abril, e ao mesmo tempo sofrer em si mesmo as angústias e as dúvidas do homem moderno, que não obedece a nada nem a ninguém senão à sua própria consciência. Esse meu Camões foi longamente o riso dos eruditos e dos doutos, de qualquer cor e feitio; foi a indignação do nacionalismo fascista, dentro e fora das universidades, dentro e fora de Portugal; foi a aflição inquieta do catolicismo estreito e tradicional, dentro e fora de Portugal. (...)
Porque, sendo Camões o maior escritor da nossa língua, que é uma das seis grandes línguas do mundo, e um dos maiores poetas que esse mundo alguma vez produziu, ele é uma pedra de toque para portugueses, porque tentar vê-lo como ele foi, e não como as pessoas querem que ele seja, é um escândalo. (...)
Eu nem estou a regressar, nem tenho Lusíadas nenhuns. Mas não sou exactamente um emigrante no estrangeiro, ainda que neste viva, e com os emigrantes me possa identificar - aqueles emigrantes que eu tenho visto de perto, primeiro no Brasil e depois nos Estados Unidos, e também pelo mais largo mundo que tenho percorrido, e que com a sua laboriosidade, a sua dignidade, a sua humanidade convivente, são em toda a parte os embaixadores que Portugal não envia, ou os representantes da cultura que Portugal não exporta. (...)
Seja o que seja continuo a ser o que era, quando me exilei muito a tempo naqueles idos negros e tristes de 1959 (...).Democrata como sou, não falo em nome de ninguém sem ter recebido um expresso mandato para tal. Eu fui convidado por Lisboa e de Lisboa, o que é uma honra, mas Lisboa não tem o direito de nomear representantes de nada ou de ninguém. Esse vício centralista da nossa tradição administrativa - um dos vícios que Camões denunciou e castigou nos seus Lusíadas - deve ser eliminado e banido dos costumes portugueses, sem perda da autoridade central que deve manter unido um dos povos mais anárquicos do mundo e menos realistas quando de política se trata. Porque os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha; e por isso disfarçam a sua insegurança adulta sob a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega, ou do cinismo mais oportunista, quando se vêem confrontados, como é o caso desde Abril de 1974, com a experiência da liberdade. (...)"
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
Sazonalidades
Cercado pelas muralhas que o rei Lavrador mandou erguer há muito, o burgo só teve vida a sério há 500 anos, quando os judeus expulsos de Castela o fizeram viver enquanto cá estiveram.
No séc. XIX sofreu alguns sobressaltos, quando o excesso de população indígena fez reviver a feira de São Bartolomeu, que durava três dias e regia a vida toda da província.
Hoje tem outra vez um simulacro de vida durante o mês de Agosto, quando a ele regressam quantos trabalham na Europa. Isto enquanto se casam e descasam.
É então que os restaurantes não têm mãos a medir, nem chegam para as encomendas.
No séc. XIX sofreu alguns sobressaltos, quando o excesso de população indígena fez reviver a feira de São Bartolomeu, que durava três dias e regia a vida toda da província.
Hoje tem outra vez um simulacro de vida durante o mês de Agosto, quando a ele regressam quantos trabalham na Europa. Isto enquanto se casam e descasam.
É então que os restaurantes não têm mãos a medir, nem chegam para as encomendas.
domingo, 6 de agosto de 2017
Só lendo
Romance da última fase do Eça, publicado em 1899, um ano antes da sua morte.
Se não tivesse sido cônsul por esse mundo (Havana, Inglaterra, Paris) nada do que Eça criou em literatura teria existido. Ficaria soterrado na indigência miguelista indígena.
O leitor ainda hoje encontra aqui um verdadeiro pitéu. Só lendo!
"(...) Desventurado Príncipe! (Jacinto) Com o seu dourado cigarro de Yaka a fumegar, errava então pelas salas (do 202 dos Campos Elísios),lenta e murchamente, como quem vaga em terra alheia sem afeições e sem ocupações. Estes desafeiçoados e desocupados passos monotonamente o traziam ao seu centro, ao gabinete verde, à Biblioteca de ébano, onde acumulara Civilização nas máximas proporções, para gozar nas máximas proporções a delícia de viver. Espalhava em torno um olhar farto. Nenhuma curiosidade ou interesse lhe solicitavam as mãos, enterradas nas algibeiras das pantalonas de seda, numa inércia de derrota. Anulado, bocejava com descoroçoada moleza. E nada mais instrutivo e doloroso do que este supremo homem do séc. XIX, no meio de todos os aparelhos reforçadores dos seus órgãos, e de todos os fios que disciplinavam ao seu serviço as forças Universais, e dos seus trinta mil volumes repletos do saber dos séculos - estacando, com as mãos derrotadas no fundo das algibeiras, e exprimindo, na face e na indecisão mole de um bocejo, o embaraço de viver"." (pág.74)
sábado, 5 de agosto de 2017
The horror! The horror!
Está lá tudo: os crimes da guerra do Vietname, os erros dos franceses em Diem Bien Phu, a borracha do seringal brasileiro, o atoleiro que não acha fim. Só não vê quem não quer ver, que é o mais fácil.
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Verduras
"Somos só verdes vimes que um vento verga."
Quem isto disse, a páginas 55 desta obra, foi um capelão militar católico, personagem trágica que usou aqui voz poética mais que profética.
Vezes há em que os deuses põem em vozes humanas o que eles próprios não querem dizer.
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
Curadores e criadores
Uns curam, outros criam, é a função que lhes compete a todos. Porque a uns chamaram curadores e a outros criadores. E o fundamental nisto é o que se diz, muito mais do que se faz.
À sombra do Eça (um bom avatar convém sempre!) juntam-se assim uns e outros. Inventa-se um festival, o povo quer é pitança, o sucesso é garantido.
Não sei bem se foi o Camarneiro ou outro da mesma laia, que eles são todos parecidos. Uns põem o Parati feminino a soluçar, outros pedem colo porque o pai um dia lhes faleceu, a comoção é enorme. E a vida segue.
"A gastronomia é bastante presente, sobretudo nos meus últimos livros. Desde os meus primeiros livros que se come muito. Quando um prato resulta particularmente bem, se calhar predispõe-me depois a criar. Uma boa refeição e um bom vinho ajudam-me a lançar para a escrita."
Podia-lhes dar para muito pior, verdade seja dita. E a literatura, a arte... que merda afinal vem a ser essa?!
quarta-feira, 2 de agosto de 2017
Micro-histórias do Fernando Venâncio, farto de aturar gajos prolixos
O ouvinte de si próprio
Nunca chegou à voz, menos ainda ao palco. Ignora como a genial piada soaria em boca alheia.
Vez por outra, ouvem-no gargalhar, alta noite. "Mais um com os copos", pensam, e às vezes dizem.
Nunca chegou à voz, menos ainda ao palco. Ignora como a genial piada soaria em boca alheia.
Vez por outra, ouvem-no gargalhar, alta noite. "Mais um com os copos", pensam, e às vezes dizem.
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