segunda-feira, 31 de outubro de 2016

domingo, 30 de outubro de 2016

Homens bons

Nascido em Cartagena em 1951, Pérez-Reverte é actualmente o autor espanhol mais lido do mundo, estando traduzido em 40 idiomas (fora os dialetos!); escreve romances trepidantes, que são muitas vezes viagens ao coração das trevas (Rui Lagartinho); domina como ninguém a arte de contar uma história (El Mundo)...
Pois assim será! Para mim, enquanto leitor, que chegou à concisão dos textos com dez linhas... com sete... a questão maior concentra-se no tempo. Onde é que o leitor tem tempo para as 510 páginas do livralhão, quando metade chegaria, se o houvesse?!
Espraiando-se entre o séc. XVIII e a actualidade (espanhola e mundial), Reverte recreia-se no prado. Haverá quem goste, eu não! Que cheguei à página 200 e daqui não passo!

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Ele anda aí!

O nazi handicapado não desarma. Não sabe o que há-de fazer da enxurrada do Deutsche Bank, mais do que imputá-la às galdérias do Sul. Talvez se foda!

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Centum Celas

« (...) Mas afinal de que falamos quando falamos de Centum Celas? Antes de mais é um topónimo. Desconhece-se a sua origem, embora a tradição oral atribua esta designação às "cem celas" da prisão que aqui teria existido. Durante a Idade Média este local parece ter tido particular importância na consolidação da fronteira nacional, e em 1188 surge referido como Centum Celli em carta de foral de D. Sancho I.
Centum Celas é um Monumento Nacional, assim classificado desde 1927, e situa-se no local de Colmeal da Torre, junto a Belmonte. É precisamente a torre que ainda hoje mantém que mais caracteriza este local, deveras emblemático da região. (...)
A torre tem uma planta rectangular, quase quadrada, e atinge cerca de 12 metros de altura. Não conserva a cobertura, e assim as paredes terminam de forma desigual, fazendo lembrar as ameias e abertas de um castelo. (...)
Desconhecem-se os pormenores da funcionalidade desta torre ao longo dos tempos, mas é evidente que os panos de parede superiores serão posteriores aos da construção original, a qual se mantém, ao que tudo indica, nos dois pisos inferiores. (...)
A ideia deste local corresponder a uma villa é defendida desde 1988 por Jorge de Alarcão. Antes desta interpretação, outros estudiosos classificaram este lugar como tendo sido uma mansio, conforme defendeu o primeiro arqueólogo, Aurélio Ricardo Belo, que escavou no local entre 1958 e e 1960. Outros estudiosos defenderam ter-se tratado de uma atalaia e prisão, outros ainda de um acampamento militar, e a ideia de ter sido um santuário também não ficou excluída. (...)»

domingo, 23 de outubro de 2016

Lavar a honra

Esquecendo aqui os Cem Anos de Solidão, de todos os trabalhos produzidos por este mestre colombiano de narradores é o que mais me toca enquanto leitor. O realismo mágico de há décadas ainda anda por aqui. E ainda hoje é um grande prazer lê-lo.
A devolução à mãe duma esposa que não estava virgem na noite de núpcias é a peripécia essencial. Santiago Nasar, membro duma comunidade muçulmana há muito integrada na Colômbia, é tomado como culpado, e cortado às postas por dois irmãos da noiva, Angela Vicário. Para lavar a honra.
Personagem marcante e curiosa, "Bayardo San Román, o homem que devolveu a esposa, tinha vindo pela primeira vez à vila em Agosto do ano anterior: seis meses antes do casamento. Chegou no barco semanal com uns alforges guarnecidos de prata a dar com as fivelas da correia e as argolas das botinas. Andava pelos trinta anos, mas muito bem disfarçados, pois tinha cintura fina de novilheiro, os olhos dourados, e a pele curtida a fogo lento pelo salitre."
O tempo da narrativa não vai além duma noite. E o melhor é dar a palavra ao narrador:
«Durante anos não conseguimos falar de outra coisa. O nosso comportamento diário, até então dominado por tantos hábitos lineares, começara subitamente a girar à volta duma mesma ansiedade comum. Surpreendiam-nos os galos do amanhecer quando tentávamos ordenar os inúmeros acontecimentos fortuitos encadeados que tinham tornado possível o absurdo, e era evidente que o não fazíamos por um empenho de esclarecer mistérios, mas porque nenhum de nós podia continuar a viver sem saber exactamente qual o sítio e a missão que lhe designara a fatalidade.
(...) Cristo Bedoya, que chegou a ser um cirurgião notável, não conseguiu explicar a  si próprio por que cedeu ao impulso de esperar duas horas em casa dos avós até o bispo chegar, em vez de ir descansar para casa dos pais, que ficaram à sua espera até ao romper do dia, para avisá-lo. (...) Hortensia Baute, cuja única participação foi ter visto manchadas de sangue as facas que ainda estavam limpas, sentiu-se tão afectada pela alucinação, que caiu numa crise de penitência e um dia não conseguiu suportá-la e saiu em pêlo para a rua. Flora Miguel, a noiva de Santiago Nasar, fugiu por despeito com um tenente do Serviço de Fronteiras que a prostituiu entre os seringueiros de Vichada. Aura Villeros, a comadre que ajudara a nascer três gerações, sofreu um espasmo da bexiga quando lhe deram a notícia, e até ao dia da morte necessitou de sonda para urinar. D. Rogelio de la Flor, o bom do marido de Clotilde Armenta, que era um prodígio de vitalidade aos 86 anos, levantou-se pela última vez para ver como despedaçavam Santiago Nasar contra a porta fechada de sua casa, e não sobreviveu à comoção. (...)»

sábado, 22 de outubro de 2016

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

J. S. Bach

Tocata e fuga em ré menor. (Atenção a Pedro Monteiro.)

domingo, 16 de outubro de 2016

Kubrik

A ver urgentemente, por qualquer meio disponível!
Filme superior, de 1971, do mestre Kubrik, baseado na novela de Anthony Burgess, Clockwork Orange.
Num momento em que os gangs da ultra-violence duma juventude mimada, se disputavam territórios em Londres. E é isto.
Prémio da Associação de Críticos de Cinema de Nova York, com quatro nomeações para os Óscares de Melhor Filme.
E isto
Interpretações notáveis de Malcom Macdowell, entre outras. Tudo antes de a indústria do entretenimento de massas americana ter reduzido a cinzas a cultura europeia e a sua cinematografia. E isto.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Nobel

Bons tempos estes, para a literatura, quando os nomes dos autores apareciam minúsculos na capa, comparados com o título das obras! Sinal de que não havia as inversões e os equívocos que depois vieram!
Esta obra do mestre Saramago não é um concentrado de Literatura, porque não há disso. Mas está nela tudo quanto prenuncia um tempo áureo e único das letras portuguesas. Nos finais de 1975 era Saramago um jornalista da direcção do DN. E essa condição veio opô-lo a um grupo de colegas jornalistas que o acusavam de estalinismo, provavelmente com alguma razão. Saramago demitiu-se e abandonou a direcção do DN. Passou uns tempos no Lavre, ouviu o povo camponês e produziu esta obra, que dedicou a Isabel da Nóbrega.
A obra contém o substrato (ideário e um modo narrativo novo, à maneira das antigas narrativas orais de serão) donde sairiam os romances inesquecíveis com que ganhou o Nobel: Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis, A Jangada de Pedra, a História do Cerco de Lisboa, a Viagem a Portugal, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e esse portento do Ensaio Sobre a Cegueira. A par com meia dúzia de romances de António Lobo Antunes, que apareceram de rajada, fulgurantes e inovadores - Os Cus de Judas, Memória de Elefante, Explicação dos Pássaros, As Naus, O Esplendor de Portugal, Fado Alexandrino - ambos puseram a Europa inteira a ler-nos, coisa que antes nunca tinha acontecido nem voltaria a acontecer.

«(...) Um povo que se lava é um povo que não trabalha, talvez nas cidades, enfim, não digo que não, mas aqui, no latifúndio, vai contratado por três ou quatro semanas para longe de casa, e meses até, se assim convier a Alberto, e é ponto de honra e de homem que durante todo o tempo do contrato se não lave nem cara nem mãos, nem a barba se corte. E se o fizer, hipótese ingénua de tão improvável, pode contar com a troça dos patrões e dos próprios companheiros. É esse o luxo da época, gloriarem-se os sofredores do seu sofrimento, os escravos da escravidão. É preciso que este bicho da terra seja bicho mesmo, que de manhã some a remela da noite à remela das noites, que o sujo das mãos, da cara, dos sovacos, das virilhas, dos pés, do buraco do corpo, seja o halo glorioso do trabalho no latifúndio, é preciso que o homem esteja abaixo do animal, que esse, para se limpar, lambe-se, é preciso que o homem se degrade para que não se respeite a si próprio nem aos seus próximos.
E mais. Gabam-se os trabalhadores das pontadas que apanharam nos trabalhos de arroteia. Cada uma delas é medalha para vanglórias de taberna, entre o casco e o copo, Já apanhei tantas ou tantas pontadas a arrotear para Berto e Humberto. Esses é que eram os trabalhadores bons, os que, em tempo de chicote, mostrariam envaidecidos os vergões encarnados, e se sangrarem melhor ainda, gabarolas iguais ao rebotalho das cidades que presumiam de virilidade tanto maior quanto mais cavalos duros ou cancros moles adquirissem no comércio da cama alugada. Ah, povo conservado na banha ou no mel da ignorância, que nunca te faltaram ofensores. E trabalha, mata-te a trabalhar, rebenta se for preciso, que assim deixarás boa lembrança no feitor e no patrão, ai de ti se ganhas fama de malandro, nunca mais tens quem te queira. Podes ir por-te às portas da tabernas, com os teus companheiros de desfortuna, eles próprios te hão-de desprezar, e o feitor, ou o patrão, se lhe deu para isso, olhará para ti com nojo e tu só ficarás sem trabalho, para aprenderes. Que os outros decoraram a lição, vão matar-se todos os dias no latifúndio, e quando tu chegares a casa, se casa isso é, com que cara vais dizer que não arranjaste trabalho, que os outros sim, mas tu não. Emenda-te, se ainda vais a tempo, jura que já tiveste vinte pontadas, crucifica-te, estende o braço para a sangria, abre as veias e diz, Este é o meu sangue, bebei, esta é a minha carne, comei, esta é a minha vida, tomai-a, com a bênção da igreja, a continência à bandeira, o desfile das tropas, a entrega das credenciais, o diploma da universidade, façam-se em mim as vossas vontades, assim na terra como nos céus. (...)»

terça-feira, 4 de outubro de 2016