quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
HAJA LUZ! - 8
O ENCICLOPEDISMO
«Ao longo do séc.XVII foram sendo publicados vários dicionários universais de "todos as artes liberais e de todas as ciências úteis". (...)
Mas foi verdadeiramente no séc. XVIII que a febre dos dicionários universais dos conhecimentos ou enciclopédias se espalhou. Com efeito este foi o século da ordem, da organização, da classificação e das regras.Basta pensar no urbanismo da Baixa lisboeta com o seu sistema de ruas perpendiculares, umas em direcção ao Tejo, outras paralelas ao rio, mais a atribuição de cada uma a um mester bem definido (sapateiros, retroseiros, correeiros, etc) e compará-lo com o labirinto acidentado de Alfama. No século XVIII até os direitos e liberdades apareceram codificados em declarações, constituições e palavras de ordem, como Liberdade, Igualdade e Fraternidade.»
[Denis Diderot-1713/1784]]
«A publicação da Enciclopédia de Diderot-D'Alembert foi também um magnífico sucesso comercial. A tiragem do primeiro volume, prevista para 1625 exemplares, teve que ser aumentada para 2500. (...) Em 1754 a tiragem já quase tinha duplicado para 4200 exemplares.»
[Jean Le Rond D'Alembert - 1717/1783]
«Uma boa notícia é que existe na biblioteca do Instituto Superior Técnico em Lisboa um conjunto da raríssima nova edição (1778); a má notícia é que um aluno ou professor mais patriota roubou o tomo 14, correspondente à letra P (com o artigo sobre Portugal).» (...)
A pior das falências
«(...) Porque a pior das falências é a que não tem recuperação! A que condena as crianças à aprendizagem duma macacada ortográfica que vai de par com obras literárias e outras ainda escritas como deve ser, e se submete à vacilação docente dos educadores que não estão aptos a ensinar a nova ortografia (porque não podem estar, tão "impossível de aplicar ela é!), e se sujeitam às emendas desencontradas dos correctores ortográficos diferentes uns dos outros, num atropelo ganancioso e aflitivo de caos, e que personificam a máquina, na pior das visões que de Orwell poderíamos herdar, a dominar-nos estupidamente a mente e a criação literária.
É tempo, é ainda tempo! Se saber escrever foi, até hoje, caminho para pensar melhor, com o Acordo Ortográfico pôr-se-ia em prática a máxima ideal para governos opressores ante os cidadãos que governam: quanto mais analfabetos, melhor...»
[Maria Alzira Seixo, in Público, 10 Janeiro]
«A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) vai continuar a redigir os seus documentos e a sua comunicação de acordo com a norma ortográfica antiga, recusando-se a implementar já as disposições do Acordo Ortográfico (AO). Esta decisão é justificada com a consideração de que "este assunto não foi convenientemente resolvido e encontra-se longe de estar esclarecido". A SPA invoca ainda a circunstância de "o Brasil ter adiado para 2016 uma decisão final sobre o AO", e de "Angola ter assumido publicamente uma posição contra". (...)
O professor Carlos Reis, reconhecido defensor do AO, critica a posição da SPA, acusando-a de "correr atrás de lebres mal informadas ou tendenciosas".» [Público 10 Janeiro]
É tempo, é ainda tempo! Se saber escrever foi, até hoje, caminho para pensar melhor, com o Acordo Ortográfico pôr-se-ia em prática a máxima ideal para governos opressores ante os cidadãos que governam: quanto mais analfabetos, melhor...»
[Maria Alzira Seixo, in Público, 10 Janeiro]
«A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) vai continuar a redigir os seus documentos e a sua comunicação de acordo com a norma ortográfica antiga, recusando-se a implementar já as disposições do Acordo Ortográfico (AO). Esta decisão é justificada com a consideração de que "este assunto não foi convenientemente resolvido e encontra-se longe de estar esclarecido". A SPA invoca ainda a circunstância de "o Brasil ter adiado para 2016 uma decisão final sobre o AO", e de "Angola ter assumido publicamente uma posição contra". (...)
O professor Carlos Reis, reconhecido defensor do AO, critica a posição da SPA, acusando-a de "correr atrás de lebres mal informadas ou tendenciosas".» [Público 10 Janeiro]
HAJA LUZ! - 7
«Na Europa, a partir do séc. XVI, a procura da pedra filosofal começou a confundir-se cada vez mais com os objectivos da medicina - o tratamento de doenças, o prolongamento da vida.
O encontro com plantas novas, proporcionado pelos Descobrimentos, deu também novo impulso a uma nova forma de química, ligada ao tratamento de doenças e outras aflições físicas. (...) O médico e botânico português Garcia de Orta publicou em Goa os Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia... (1563). Embora ainda não pudesse ser um cientista no sentido moderno do termo, Orta já valorizava o estudo da natureza em relação ao conhecimento livresco. (...)
Orta foi condenado (postumamente) pela Inquisição em 1580. Já que o não puderam queimar vivo, foi queimado morto; a sepultura foi aberta e os ossos incinerados. (...)
Na iatroquímica avulta a figura quase lendária de Philipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso.O cognome deve ter sido inventado pelo próprio, e quer dizer "maior que Celso". Referia-se, claro, a Aulus Cornelius Celsus, o maior escritor latino de medicina; a sua obra De Medicina foi um dos primeiros livros de medicina a ser impresso (1478). (...)
Cobrava fortunas aos ricos, mas curava os pobres de graça. Era requestado pelas cortes europeias, mas isso não o impedia de frequentar as tabernas e de levar uma vida dissoluta. Denunciou os preparados dos farmacêuticos como aldrabices e levou muitos à bancarrota. (...) Descreveu Martin Luther e o Papa como "duas putas a discutir castidade".»
A diáspora gloriosa
Quando o infante D. Henrique condenou à morte o irmão D. Fernando, abandonado nas enxovias mouras de Fez depois da aventura de Ceuta em 1415 e de Tânger vinte anos depois, ganhou direito ao título de mais ínclito filho da puta da longa história da pátria. Mas não demorou que as elites tratassem o cordeiro sacrificado como Infante Santo. Assim ética e civicamente se desobrigaram a si próprias, assim moralmente compensaram a vítima, e assim reduziram os indígenas à condição de imbecis, escrevendo a história dum modo peculiar. A diáspora estava a começar, disfarçada de epopeia.
Retomando um fadário que tem séculos, duzentos mil portugueses saíram de Portugal nos últimos dois anos, à procura do seu direito a uma vida, mesmo se expulsos da sua terra. E outra vez a diáspora do desespero é descrita pelas elites como exemplo da coragem nacional. Desta vez despudoradamente, duma forma descarada e impudente.
É esta uma realidade catastrófica, que nos desmente como país coeso e como sociedade organizada. Antes nos define como um rebanho ocasional que as pseudo-elites há muito tempo tratam como gado de exportação, e em que os direitos do povo se limitam a gestos de pura sobrevivência.
Só que hoje o país já não exporta somente multidões de calhaus com olhos. Antes lança borda fora a geração mais ilustrada de sempre, a que melhor podia romper este fadário triste, e construir um país diferente, e fazer nele os filhos que lhe faltam.
Mas foi isto que fizeram de nós as pseudo-elites que por aí se arrastam, a viver à nossa custa. Antes que tenhamos a coragem de lhes cortar a cabeça.
Retomando um fadário que tem séculos, duzentos mil portugueses saíram de Portugal nos últimos dois anos, à procura do seu direito a uma vida, mesmo se expulsos da sua terra. E outra vez a diáspora do desespero é descrita pelas elites como exemplo da coragem nacional. Desta vez despudoradamente, duma forma descarada e impudente.
É esta uma realidade catastrófica, que nos desmente como país coeso e como sociedade organizada. Antes nos define como um rebanho ocasional que as pseudo-elites há muito tempo tratam como gado de exportação, e em que os direitos do povo se limitam a gestos de pura sobrevivência.
Só que hoje o país já não exporta somente multidões de calhaus com olhos. Antes lança borda fora a geração mais ilustrada de sempre, a que melhor podia romper este fadário triste, e construir um país diferente, e fazer nele os filhos que lhe faltam.
Mas foi isto que fizeram de nós as pseudo-elites que por aí se arrastam, a viver à nossa custa. Antes que tenhamos a coragem de lhes cortar a cabeça.
Se não fossem o que são! - 3
Os marginais que mandam nisto pediam desculpas públicas a muita gente!
«Os Centros Novas Oportunidades (CNO) serão substituídos por uma nova rede de 120 Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional (CQEP) (...).
Actualmente há 55 mil formandos com processos de formação em aberto nos 129 CNO ainda em funcionamento, que poderão ser encaminhados para os novos Centros para terminar aí a sua formação. (...)
Durante a audição na Comissão de Educação, Ciência e Cultura, João Grancho disse que o governo admite o recurso a professores dos quadros do ministério da Educação, para a formação de jovens e adultos que procurem os novos Centros, à imagem do que já acontecia nas Novas Oportunidades.(...)
(in PÚBLICO, 30 Janeiro)
Adenda: Acintosos e contumazes filhos da puta!
«Os Centros Novas Oportunidades (CNO) serão substituídos por uma nova rede de 120 Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional (CQEP) (...).
Actualmente há 55 mil formandos com processos de formação em aberto nos 129 CNO ainda em funcionamento, que poderão ser encaminhados para os novos Centros para terminar aí a sua formação. (...)
Durante a audição na Comissão de Educação, Ciência e Cultura, João Grancho disse que o governo admite o recurso a professores dos quadros do ministério da Educação, para a formação de jovens e adultos que procurem os novos Centros, à imagem do que já acontecia nas Novas Oportunidades.(...)
(in PÚBLICO, 30 Janeiro)
Adenda: Acintosos e contumazes filhos da puta!
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Espuma
O PS não despejou a banheira, menos ainda a criança. E o país lá vai indo, cano abaixo.
Quem se rebola é o Relvas, a chafurdar nesta espuma!
Quem se rebola é o Relvas, a chafurdar nesta espuma!
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Vozes
Vasco Vieira de Almeida foi para Luanda há quarenta e tal anos, encarregado duma missão impossível: levar a bom porto um Governo de Transição, integrando elementos da Unita, do MPLA e da FNLA, antes da independência de Angola. Nunca mais ouvi falar dele até esta entrevista ao J. Negócios, a 8 de Junho de 2012. Há vozes que é útil ouvir.
É a nação política, são as classes dirigentes que formulam o vocabulário político da consciência nacional. E também do que são os projectos nacionais, a sua execução e a imagem com que ficamos desses projectos. A ideia que a elite do tempo teve do que foram as Descobertas, realizadas por toda a espécie de razões (políticas, religiosas, económicas), não era a mesma dos marinheiros apanhados nas tabernas do Cais do Sodré, e que iam à força tripular as caravelas.
Eça de Queiroz dizia que a marcha da civilização para a justiça é feita pelos que riem. Ramalho Ortigão escreveu que o dever da crítica perante um acontecimento ou uma personagem importantes é o desprezo e a zombaria. A Geração de 70 representou um cosmopolitismo estéril. Por isso Antero respondeu que o riso é um dissolvente, não é um remédio. A elite fez as Descobertas mas depois expulsou os judeus. Foi a elite que fez de nós proprietários absentistas de um Império que nunca desenvolvemos. E isso explica a indiferença com que o povo português recebeu a perda das colónias, alheio ao desaparecimento de um Império de que a maioria nunca beneficiou.
Em Portugal, pertencer a uma elite nunca representou, como devia, uma fonte extra de obrigações, antes uma atribuição anormal de privilégios. O povo foi sempre melhor do que as elites.
Gosto das pessoas. Têm qualidades que muitas vezes não vêm ao de cima, por circunstâncias que lhes são alheias. Os problemas dos portugueses não resultam da sua falta de qualidade, decorrem da estrutura que temos, dos corporativismos, da luta pela sobrevivência.
É a nação política, são as classes dirigentes que formulam o vocabulário político da consciência nacional. E também do que são os projectos nacionais, a sua execução e a imagem com que ficamos desses projectos. A ideia que a elite do tempo teve do que foram as Descobertas, realizadas por toda a espécie de razões (políticas, religiosas, económicas), não era a mesma dos marinheiros apanhados nas tabernas do Cais do Sodré, e que iam à força tripular as caravelas.
Eça de Queiroz dizia que a marcha da civilização para a justiça é feita pelos que riem. Ramalho Ortigão escreveu que o dever da crítica perante um acontecimento ou uma personagem importantes é o desprezo e a zombaria. A Geração de 70 representou um cosmopolitismo estéril. Por isso Antero respondeu que o riso é um dissolvente, não é um remédio. A elite fez as Descobertas mas depois expulsou os judeus. Foi a elite que fez de nós proprietários absentistas de um Império que nunca desenvolvemos. E isso explica a indiferença com que o povo português recebeu a perda das colónias, alheio ao desaparecimento de um Império de que a maioria nunca beneficiou.
Em Portugal, pertencer a uma elite nunca representou, como devia, uma fonte extra de obrigações, antes uma atribuição anormal de privilégios. O povo foi sempre melhor do que as elites.
Gosto das pessoas. Têm qualidades que muitas vezes não vêm ao de cima, por circunstâncias que lhes são alheias. Os problemas dos portugueses não resultam da sua falta de qualidade, decorrem da estrutura que temos, dos corporativismos, da luta pela sobrevivência.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Literatura para Totós - Tese 4
A literatura e a linguagem comum servem-se do mesmo conjunto de vocábulos e regras que constituem a língua. Com ele comunicam os falantes no seu quotidiano, com ele se fazem as notícias do jornal, e os livros de auto-ajuda, e os ensaios sociológicos, e os relatos de futebol. E com ele se constrói a arte literária.
Esta constatação implica que há forçosamente uma diferença no modo como cada uma destas situações utiliza os recursos da língua. Em usos comuns, o discurso enunciado é particular e denotativo, tem um único sentido, directo e literal. O que o texto quer dizer é apenas o que nele está, e deve ser expresso do modo mais transparente e menos ambíguo possível, para que a comunicação se estabeleça.
Já o discurso literário tem um significado universal e mais amplo. É polissémico e conotativo, deixando abertos múltiplos campos de significação e sugestão.
Deixando de lado o problema da organização da matéria narrativa (aquilo que se pretende contar), há entre a literatura e a composição musical um campo comum, já que as palavras e a música são ambas jogos de sons. E nenhuma delas é para fruir em silêncio. Por mais que isso arranhe os ouvidos dos correntes empilhadores de palavras, um texto literário sem harmonia, sem ritmo e sem musicalidade é um exercício truncado e sem vida. Reside aqui a principal desgraça de qualquer tradução, pois a música do original é a primeira vítima dela.
Desconfia, leitor empedernido, dum texto literário que se esgota no que lá está, e não te diz mais do que aquilo que afirma. No final sabe-te a pouco, já que estão a servir-te gato em vez de lebre. E se a tua língua se vir obrigada a dar saltos mortais na boca para lhe dar voz, o conto do vigário é ainda pior. Se não te dás conta disso, é que ainda leste pouco!
Esta constatação implica que há forçosamente uma diferença no modo como cada uma destas situações utiliza os recursos da língua. Em usos comuns, o discurso enunciado é particular e denotativo, tem um único sentido, directo e literal. O que o texto quer dizer é apenas o que nele está, e deve ser expresso do modo mais transparente e menos ambíguo possível, para que a comunicação se estabeleça.
Já o discurso literário tem um significado universal e mais amplo. É polissémico e conotativo, deixando abertos múltiplos campos de significação e sugestão.
Deixando de lado o problema da organização da matéria narrativa (aquilo que se pretende contar), há entre a literatura e a composição musical um campo comum, já que as palavras e a música são ambas jogos de sons. E nenhuma delas é para fruir em silêncio. Por mais que isso arranhe os ouvidos dos correntes empilhadores de palavras, um texto literário sem harmonia, sem ritmo e sem musicalidade é um exercício truncado e sem vida. Reside aqui a principal desgraça de qualquer tradução, pois a música do original é a primeira vítima dela.
Desconfia, leitor empedernido, dum texto literário que se esgota no que lá está, e não te diz mais do que aquilo que afirma. No final sabe-te a pouco, já que estão a servir-te gato em vez de lebre. E se a tua língua se vir obrigada a dar saltos mortais na boca para lhe dar voz, o conto do vigário é ainda pior. Se não te dás conta disso, é que ainda leste pouco!
HAJA LUZ! - 6
A Idade da Terra
«A botânica e a zoologia deram o mote, as restantes áreas do conhecimento foram atrás. No séc. XVIII assistiu-se a uma tentativa universal de sistematizar todos os conhecimentos. (...) Buffon juntou-se ao grupo, passeou pela Europa, visitou Londres e foi eleito sócio da Royal Society. (...)
Uma simples extrapolação para o diâmetro da Terra permitiu-lhe concluir que o nosso planeta teria levado 42.964 anos e 221 dias a arrefecer. A estimativa de Newton, que o próprio considerara pouco realista, era de 50 mil anos. O problema é que, em 1620, o arcebispo de Armagh e primaz da Irlanda, James Ussher, tinha concluído, através da cronologia das gerações bíblicas, que o universo tinha sido criado por Deus no Domingo, 23 de Outubro do ano de 4004 a.C! Cálculos semelhantes levaram-no a afirmar que Adão e Eva tinham sido expulsos do Paraíso a 10 de Novembro de 4004 a.C., e que a Arca de Noé pousara no monte Ararat na 4ª feira, 5 de Maio de 1491 a.C.»
As Academias
«A História Natural de Buffon cobria supostamente toda a criação divina. Faltava ainda dar conta de toda a criação humana - as artes, as ciências e os ofícios.Tal tarefa coube aos iluminados do séc. XVIII. (...)
Primeiro organizaram-se os homens interessados (eruditos ou instruídos); depois organizaram-se os conhecimentos - aquilo que aqueles sabiam. Uma das primeiras Academias (1603) foi a Accademia dei Lincei, em Roma, a que pertenceria Galileo Galilei. Mas as duas primeiras grandes sociedades, clubes ou academias de eruditos (filósofos naturais e homens de letras) foram a Royal Society de Londres e a Académie des Sciences de Paris. Ambas começaram como encontros informais de gente famosa.(...)
Em Portugal, a Academia Real das Ciências de Lisboa foi fundada em 1779 por D. João de Bragança, 2º duque de Lafões, e pelo abade José Francisco Corrêa da Serra, um dos mais distintos estrangeirados.(...)
Nasceu em Serpa em 1750, mas aos seis anos foi levado para Nápoles por um pai que desconfiava da Inquisição. Estudou direito e botânica em Roma, e em 1775 foi ordenado padre pelo recém-coroado papa Pio VI, na basílica de S.Pedro. Dois anos depois estava em Portugal, onde beneficiou da protecção do duque de Lafões. Complicações resultantes do apoio que dera a um refugiado girondino forçaram-no a fugir para Londres, onde foi recebido por Joseph Banks que o fez sócio da Royal Society e da Linnean Society.
Em 1801 era conselheiro da Legação de Portugal em Inglaterra, mas desentendimentos com o embaixador levaram-no a mudar-se para Paris, onde continuou os seus estudos de botânica no Jardim das Plantas. Opositor da invasão napoleónica da Península Ibérica, partiu em 1812 para a América, onde imediatamente integrou as elites política e científica de Washington, Filadélfia e Charlottesville (Virginia). (...)
A última grande obra de Thomas Jefferson seria a fundação da universidade da Virgínia (Charlottesville) onde tentou convencer o abade Corrêa a aceitar a cátedra de botânica. (...)
A carreira americana do abade Corrêa da Serra terminou com o regresso a Lisboa em 1821. Ainda foi deputado às Cortes por um ano, mas veio a morrer em 1823 nas Caldas da Rainha, onde se encontrava em cura de águas.(...)»
«A botânica e a zoologia deram o mote, as restantes áreas do conhecimento foram atrás. No séc. XVIII assistiu-se a uma tentativa universal de sistematizar todos os conhecimentos. (...) Buffon juntou-se ao grupo, passeou pela Europa, visitou Londres e foi eleito sócio da Royal Society. (...)
Uma simples extrapolação para o diâmetro da Terra permitiu-lhe concluir que o nosso planeta teria levado 42.964 anos e 221 dias a arrefecer. A estimativa de Newton, que o próprio considerara pouco realista, era de 50 mil anos. O problema é que, em 1620, o arcebispo de Armagh e primaz da Irlanda, James Ussher, tinha concluído, através da cronologia das gerações bíblicas, que o universo tinha sido criado por Deus no Domingo, 23 de Outubro do ano de 4004 a.C! Cálculos semelhantes levaram-no a afirmar que Adão e Eva tinham sido expulsos do Paraíso a 10 de Novembro de 4004 a.C., e que a Arca de Noé pousara no monte Ararat na 4ª feira, 5 de Maio de 1491 a.C.»
As Academias
«A História Natural de Buffon cobria supostamente toda a criação divina. Faltava ainda dar conta de toda a criação humana - as artes, as ciências e os ofícios.Tal tarefa coube aos iluminados do séc. XVIII. (...)
Primeiro organizaram-se os homens interessados (eruditos ou instruídos); depois organizaram-se os conhecimentos - aquilo que aqueles sabiam. Uma das primeiras Academias (1603) foi a Accademia dei Lincei, em Roma, a que pertenceria Galileo Galilei. Mas as duas primeiras grandes sociedades, clubes ou academias de eruditos (filósofos naturais e homens de letras) foram a Royal Society de Londres e a Académie des Sciences de Paris. Ambas começaram como encontros informais de gente famosa.(...)
Em Portugal, a Academia Real das Ciências de Lisboa foi fundada em 1779 por D. João de Bragança, 2º duque de Lafões, e pelo abade José Francisco Corrêa da Serra, um dos mais distintos estrangeirados.(...)
Nasceu em Serpa em 1750, mas aos seis anos foi levado para Nápoles por um pai que desconfiava da Inquisição. Estudou direito e botânica em Roma, e em 1775 foi ordenado padre pelo recém-coroado papa Pio VI, na basílica de S.Pedro. Dois anos depois estava em Portugal, onde beneficiou da protecção do duque de Lafões. Complicações resultantes do apoio que dera a um refugiado girondino forçaram-no a fugir para Londres, onde foi recebido por Joseph Banks que o fez sócio da Royal Society e da Linnean Society.
Em 1801 era conselheiro da Legação de Portugal em Inglaterra, mas desentendimentos com o embaixador levaram-no a mudar-se para Paris, onde continuou os seus estudos de botânica no Jardim das Plantas. Opositor da invasão napoleónica da Península Ibérica, partiu em 1812 para a América, onde imediatamente integrou as elites política e científica de Washington, Filadélfia e Charlottesville (Virginia). (...)
A última grande obra de Thomas Jefferson seria a fundação da universidade da Virgínia (Charlottesville) onde tentou convencer o abade Corrêa a aceitar a cátedra de botânica. (...)
A carreira americana do abade Corrêa da Serra terminou com o regresso a Lisboa em 1821. Ainda foi deputado às Cortes por um ano, mas veio a morrer em 1823 nas Caldas da Rainha, onde se encontrava em cura de águas.(...)»
domingo, 27 de janeiro de 2013
HAJA LUZ! - 5
O Endeavour
«O pretexto científico da viagem do Endeavour (capitaneado por James Cook), era curioso: observar em boas condições atmosféricas a passagem do planeta Vénus em frente do Sol - aquilo que é vulgarmente apelidado por Trânsito de Vénus. (...)
O Trânsito de 3 de Junho de 1769 foi seguido por equipas de vários países em vários pontos do globo. Só a Royal Society de Londres - já nessa altura a mais prestigiada sociedade científica do mundo - patrocinou quatro expedições. A Cook coubera a tarefa de montar um observatório em Thaiti, no Pacífico.
A conjunção de Vénus com Thaiti era apropriada. Descoberta em 1767 pelo inglês Samuel Wallis, Thaiti revelara-se uma verdadeira Ilha dos Amores - um paraíso reencontrado que escapara, imune, ao pecado original. Abençoada com um solo fértil e um clima de eleição, a ilha era uma espantosa cornucópia de frutos e delícias tropicais. Sem necessidade de labutar para comer, os seus habitantes viviam em perfeita harmonia, entregues aos prazeres do sexo, alheios a quaisquer inibições ou códigos moralistas. (...)
Thaiti tornou-se no destino sexual favorito de viajantes e turistas durante o séc. XIX (até ser corrompida por pragas e doenças venéreas introduzidas pelos homens ocidentais. O caso mais conhecido é o do pintor Paul Gauguin, que ali viveu e trabalhou durante duas temporadas (1891-1893 e 1895-1901). (...)
A topografia da zona recorda esta passagem: Cabo Banks, Ponta Solander. E também Cabo Sandwich, em homenagem ao quarto Earl of Sandwich, John Montagu. Sandwich foi um hábil político e administrador, mas também um viciado no jogo e libertino assumido. Hoje anda nas bocas do mundo graças à sua invenção culinária de 1762: a sanduíche permitia-lhe passar um dia inteiro a jogar, sem se levantar da mesa para tomar as refeições.(...)
H.M.S. Beagle
O projecto mais controverso foi o do transporte da fruta-pão do Pacífico Sul para as Caraíbas, a fim de fornecer alimento barato para os escravos. Em 1787, o capitão William Bligh foi encarregado dessa missão. Um mês depois da partida de Thaiti, a tripulação revoltou-se contra a disciplina cruel do capitão, expulsou-o do navio, e Bligh teve de percorrer 3600 milhas em barco aberto nos mares do Sul. O relato dessa experiência, A Revolta a Bordo do H.M.S.Bounty, publicado por Bligh em 1792, serviu de base a três filmes famosos. (...)
Graças à sua influência e amizade com Sandwich, Banks conseguiu também que pelo menos um cientista ou naturalista fosse incluído em todas as expedições geográficas. Foi graças a este esquema que Charles Darwin embarcou no H.M.S. Beagle para uma viagem de quase cinco anos (1831-1836), que o levou a Cabo Verde, América do Sul, ilhas Galápagos, Tahiti, Nova Zelândia, Austrália, Tasmânia, Maldivas, Maurício, Santa Helena, Ascenção e Brasil. Com a publicação de Da Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida, Darwin conseguiu dar a volta à Criação. Afinal, os sete dias (ou seis, tirando o dia de descanso) tinham sido umas centenas de milhões de anos de evolução.» (...)
«O pretexto científico da viagem do Endeavour (capitaneado por James Cook), era curioso: observar em boas condições atmosféricas a passagem do planeta Vénus em frente do Sol - aquilo que é vulgarmente apelidado por Trânsito de Vénus. (...)
O Trânsito de 3 de Junho de 1769 foi seguido por equipas de vários países em vários pontos do globo. Só a Royal Society de Londres - já nessa altura a mais prestigiada sociedade científica do mundo - patrocinou quatro expedições. A Cook coubera a tarefa de montar um observatório em Thaiti, no Pacífico.
A conjunção de Vénus com Thaiti era apropriada. Descoberta em 1767 pelo inglês Samuel Wallis, Thaiti revelara-se uma verdadeira Ilha dos Amores - um paraíso reencontrado que escapara, imune, ao pecado original. Abençoada com um solo fértil e um clima de eleição, a ilha era uma espantosa cornucópia de frutos e delícias tropicais. Sem necessidade de labutar para comer, os seus habitantes viviam em perfeita harmonia, entregues aos prazeres do sexo, alheios a quaisquer inibições ou códigos moralistas. (...)
Thaiti tornou-se no destino sexual favorito de viajantes e turistas durante o séc. XIX (até ser corrompida por pragas e doenças venéreas introduzidas pelos homens ocidentais. O caso mais conhecido é o do pintor Paul Gauguin, que ali viveu e trabalhou durante duas temporadas (1891-1893 e 1895-1901). (...)
A topografia da zona recorda esta passagem: Cabo Banks, Ponta Solander. E também Cabo Sandwich, em homenagem ao quarto Earl of Sandwich, John Montagu. Sandwich foi um hábil político e administrador, mas também um viciado no jogo e libertino assumido. Hoje anda nas bocas do mundo graças à sua invenção culinária de 1762: a sanduíche permitia-lhe passar um dia inteiro a jogar, sem se levantar da mesa para tomar as refeições.(...)
H.M.S. Beagle
O projecto mais controverso foi o do transporte da fruta-pão do Pacífico Sul para as Caraíbas, a fim de fornecer alimento barato para os escravos. Em 1787, o capitão William Bligh foi encarregado dessa missão. Um mês depois da partida de Thaiti, a tripulação revoltou-se contra a disciplina cruel do capitão, expulsou-o do navio, e Bligh teve de percorrer 3600 milhas em barco aberto nos mares do Sul. O relato dessa experiência, A Revolta a Bordo do H.M.S.Bounty, publicado por Bligh em 1792, serviu de base a três filmes famosos. (...)
Graças à sua influência e amizade com Sandwich, Banks conseguiu também que pelo menos um cientista ou naturalista fosse incluído em todas as expedições geográficas. Foi graças a este esquema que Charles Darwin embarcou no H.M.S. Beagle para uma viagem de quase cinco anos (1831-1836), que o levou a Cabo Verde, América do Sul, ilhas Galápagos, Tahiti, Nova Zelândia, Austrália, Tasmânia, Maldivas, Maurício, Santa Helena, Ascenção e Brasil. Com a publicação de Da Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida, Darwin conseguiu dar a volta à Criação. Afinal, os sete dias (ou seis, tirando o dia de descanso) tinham sido umas centenas de milhões de anos de evolução.» (...)
Ex-libris
[Foto de Alfredo Cunha]
Duma geração que anda pelo poder, ao serviço da finança que a governa. Felizmente existem outras, aqui todas ressalvadas.
Dois de Eugenio Montale (1896-1981)
Os elefantes
Os dois elefantes sepultaram cuidadosamente
o seu elefantezinho.
Cobriram com folhas a sua tumba e em seguida
afastaram-se tristemente.
À minha beira alguém enxugou um dos olhos.
Era em verdade uma furtiva lágrima
como requer a piedade quando é inerme:
na proporção inversa à maciça
imponência do caso. Os outros riram
porque algum palhaço aparecera já
no ecrã.
In hoc signo...
Uma agência funerária de Roma
chama-se PORVIR. E ainda dizem
que o humor negro morreu com Jean Paul,
Jonatas Swift e Achile Campanile.
sábado, 26 de janeiro de 2013
Ecos da Sonora - LI
Já ficara para trás a Maré Alta Socialista do grande timoneiro, em 1956. A 4 de Outubro de 1957 o Sputnik I, de 84 quilos, alcançou a sua órbita e ficou a pipilar à volta da terra a 29 mil quilómetros por hora. Um mês depois o Sputnik II, muito mais pesado, colocou em órbita a famosa Laika, que se esfanicou ao reentrar na atmosfera. Nessa altura chegou o 40º aniversário da Revolução de Outubro, que seria celebrado na Praça Vermelha na presença de milhares de líderes de partidos comunistas convidados, vindos do mundo inteiro. Dois aviões Tu-104 foram enviados a Pequim, para transportar a delegação chinesa para Moscovo. Foi aí que Mao declarou: "O camarada Khrushchev diz-nos que a União Soviética ultrapassará os Estados Unidos em 15 anos. Eu posso dizer-vos que em 15 anos nós podemos apanhar ou ultrapassar a Grã-Bretanha". Ia começar o Grande Salto em Frente.
Entre 1958 e 1961, andou à solta pela China a insânia mais ensandecida, mais paranóica e despótica. Milhões de camponeses foram afastados da produção agrícola e acantonados em gigantescas comunas populares (o comunismo de caserna), para trabalharem na campanha de conservação de água e irrigação, com grandes e pequenos reservatórios; introduziram o cultivo concentrado, com plantação mais densa das sementes para aumentar a colheita; forçaram a corrida aos fertilizantes, lançando aos solos algas do mar, fuligem raspada das chaminés, desperdícios animais, cabelos e excrementos humanos, tijolos de lama desfeitos, construções e casas de lama e palha reduzidas a pó, e até açúcar branco; inventaram a lavra profunda para aumentar a produtividade, entre 0,5 e 3 metros; puseram em marcha a campanha dos ratos e dos pardais, porque metiam o dente aos cereais; activaram a campanha do aço no quintal, com altos fornos de areia, pedra e barro, que acabaram com as árvores nos campos, e onde acabaram fundidas panelas, caçarolas, enxadas, ancinhos e machados, pregos e tesouras, e toda a sorte de latas e ferros velhos. Enquadrados por quadros partidários e por esquadrões de milícias, os camponeses foram forçados a horários de trabalho alucinados em condições infra-humanas. Uma grande fome tomou conta das vidas, o canibalismo foi solução para muitos. E o comunismo, prometido às massas para 1963, chegou tarde para 40 a 50 milhões de chineses, que entretanto morreram de penúria. O Grande Salto em Frente foi uma calamidade.
«O ponto de viragem aconteceu em Janeiro de 1962, quando 7000 quadros chegaram de todas as partes do país para assistir à maior conferência de trabalho jamais realizada no vasto e modernista Salão do Povo em Pequim.
Liu Shaoqi, o chefe de Estado, apresentou o relatório oficial durante 3 horas, e culpou frontalmente o comando central pela catástrofe. (...) "A história julgá-lo-á a si e a mim, e até o canibalismo irá para os livros!". (...)
Lin Biao elogiou de novo o Grande Salto em Frente, aclamado como um feito sem precedentes, quando comparado com qualquer outro período da história do país. (...)
Zhou Enlai fez o que sempre fez melhor. Tentou absolver Mao, assumindo a maior parte da culpa pelo que tinha corrido mal, aceitando responsabilidade pessoal pelos aprovisionamentos excessivos de cereais, pelos números de produção inflacionados, pelo escoamento de cereais das províncias e pelo aumento da exportação de géneros alimentícios. (...)
Nunca saberemos quando é que Mao resolveu livrar-se de Liu, pondo em marcha uma Revolução Cultural (a do livrinho vermelho, uma gigantesca manipulação da juventude que durante dez anos dizimou o partido e anulou qualquer outro resquício de ordem social estabelecida) a qual destruiria as vidas de todos quantos se tinham oposto a ele durante o Grande Salto em Frente. Mas uma boa suposição é que Mao começou a maquinar a eliminação do seu inimigo mais ameaçador, logo que se apercebeu de que todo o seu legado e o seu lugar na história estavam em causa.»
Destroços
Quando ao Passos, ao Relvas e ao Gaspar, (destroços pós-modernos) o discernimento indígena adiciona novos equívocos a equívocos já velhos, o resultado só pode ser um naufrágio geral à moda antiga.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Sem saída
"Manuel dos Santos considerou depois que os últimos episódios que se registaram na vida interna do seu partido “constituem um desrespeito em relação a António José Seguro, para mais um desrespeito vindo daqueles que são responsáveis pela actual situação do país e por a direita estar a governar Portugal”.
É este sarro de fundo do pote, esta voz do carreirismo, do aparelhismo e do oportunismo que capturou o PS, é isto que elegeu o Seguro e serve o Relvas. É isto que nos deixa sem saída.
É este sarro de fundo do pote, esta voz do carreirismo, do aparelhismo e do oportunismo que capturou o PS, é isto que elegeu o Seguro e serve o Relvas. É isto que nos deixa sem saída.
Vendavais
Quando em tempos, na Gráfica Ideal, se começou a falar de flexibilização, de globalização, de deslocalização e de coisas assim, o maurício picapau encontrou nelas uma solução.
Agora um vendaval fez desabar as tílias da Pomerânia, com graves danos para o inquilino e o jardim de São Lázaro. Até as fachadas da Sonora apanharam por tabela.
Ele há males que virão por bem. Mas outros vêm por muitíssimo mal, com este inverno de chuva que anda por aí...
Agora um vendaval fez desabar as tílias da Pomerânia, com graves danos para o inquilino e o jardim de São Lázaro. Até as fachadas da Sonora apanharam por tabela.
Ele há males que virão por bem. Mas outros vêm por muitíssimo mal, com este inverno de chuva que anda por aí...
Ó Seguro!
Maioria absoluta?! Para que querias tu uma relativa?!
Vai mas é levar nos entrefolhos, que isto não é para marrafinhas!
P'ra pior já basta assim!
Vai mas é levar nos entrefolhos, que isto não é para marrafinhas!
P'ra pior já basta assim!
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Onde andas tu, Sócrates?!
E tu, país que ficas sem comboios Lisboa/Porto durante uma semana porque houve um acidente em Alfarelos, o que é que andas a fazer?!
Já tarde!
António Borges, esse escroque que vende conselhos ao triste do Coelho, não passa dum cão de fila do Goldman Sachs e da mais negra e criminosa finança internacional.
Esse marginal bem pago está preocupado com o atraso na venda da RTP. Lá lhe parece que o asno do Relvas anda a perder fôlego, e teme que o negócio perca o seu momento. Daí aparecer, agora mesmo, a esporear a besta e a exigir-lhe diligência.
De caminho endeusa o génio do Gaspar, que vê universalmente reconhecido; lembra que a educação e a saúde são campos de puro desperdício, onde há milhares de parasitas que devem ser postos na rua; e embandeira em arco com o "regresso aos mercados", porque tudo está a correr pelo melhor e a bancarrota já foi.
Tenho para mim que o cabrão do Borges anda preocupado, e isso é lá com ele. O que a mim me preocupa mais é a relapsa alienação de indígenas como este, e este, e este. Um dia estas cavalgaduras, quando se derem conta de que é mesmo para o rabinho, até choram. Mas já tarde!
Esse marginal bem pago está preocupado com o atraso na venda da RTP. Lá lhe parece que o asno do Relvas anda a perder fôlego, e teme que o negócio perca o seu momento. Daí aparecer, agora mesmo, a esporear a besta e a exigir-lhe diligência.
De caminho endeusa o génio do Gaspar, que vê universalmente reconhecido; lembra que a educação e a saúde são campos de puro desperdício, onde há milhares de parasitas que devem ser postos na rua; e embandeira em arco com o "regresso aos mercados", porque tudo está a correr pelo melhor e a bancarrota já foi.
Tenho para mim que o cabrão do Borges anda preocupado, e isso é lá com ele. O que a mim me preocupa mais é a relapsa alienação de indígenas como este, e este, e este. Um dia estas cavalgaduras, quando se derem conta de que é mesmo para o rabinho, até choram. Mas já tarde!
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Estes filhos da puta não inventaram nada de novo! Só um comité central de oportunistas e aventureiros é que não deu conta disso, aqui há dois anos
"Mas Salazar tem todas as audácias dos homens tímidos e abstratos. Para ele o
problema é fácil; é aliás sempre fácil encontrar o equilíbrio das finanças quando
não se pensa em nenhum outro modo de equilíbrio, e quando, para manter a
predominância de uma classe, não se hesita em sacrificar para além dos
limites do razoável e do justo todas as outras classes de uma nação. O
salvador extirpará pois o défice de uma maneira expedita, rápida e brutal. O
milagre será feito à custa da instrução e da assistência, que já deixavam
tanto a desejar, e das classes produtoras e populares, já tão sacrificadas, e que
vão ser agora oprimidas sob o peso dos mais pesados impostos. O povo
geme, mas a clientela fica satisfeita".
[Manifesto de 5/10/1928, "A Luta pela Liberdade em Portugal. O seu Alcance
Universal. O que Pretendem os Liberais Portugueses", assinado, entre outros,
por A. Sérgio, J. Cortesão, Aquilino Ribeiro].
[Pilhado dum comentário AQUI]
problema é fácil; é aliás sempre fácil encontrar o equilíbrio das finanças quando
não se pensa em nenhum outro modo de equilíbrio, e quando, para manter a
predominância de uma classe, não se hesita em sacrificar para além dos
limites do razoável e do justo todas as outras classes de uma nação. O
salvador extirpará pois o défice de uma maneira expedita, rápida e brutal. O
milagre será feito à custa da instrução e da assistência, que já deixavam
tanto a desejar, e das classes produtoras e populares, já tão sacrificadas, e que
vão ser agora oprimidas sob o peso dos mais pesados impostos. O povo
geme, mas a clientela fica satisfeita".
[Manifesto de 5/10/1928, "A Luta pela Liberdade em Portugal. O seu Alcance
Universal. O que Pretendem os Liberais Portugueses", assinado, entre outros,
por A. Sérgio, J. Cortesão, Aquilino Ribeiro].
[Pilhado dum comentário AQUI]
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
As sete vidas da inteligência
Encontrei-o no cimento da garagem, enrolado no veludo das patitas estendidas no chão. Ali mesmo no caminho dos carros e das correntes de ar, onde alguém por força havia de passar. Julguei-o um bicho doméstico vitimado pela crise... pela morte duma dona já velhota... De modo que ele arriscou uma janela distraída e pôs-se ali à espera, descaradamente, à espera de algum madrugador. Rouquejava uma gosma que me pareceu fatal.
Aconcheguei-o a um canto e fui-me aconselhar com quem sabe de felinos. O bicho estava a morrer, melhor seria levá-lo ao consultório e ajudar-lhe o passamento. Mas lá voltei a encontrá-lo no meio do cimento.
A jovem veterinária desenhou-lhe o perfil de macho dominante. A bochecha façuda, a cicatriz na cara, dois cortes na orelha... eram medalhas de guerra dum campeão da rua. Diagnosticou-lhe a coriza das vias superiores, injectou-lhe na coxa um elixir e guardou-o numa jaula. Não era caso de morte, avisou maternal, nem pouco mais ou menos. Pediu-me uma semana. E o preparo ficou-me numa fortuna.
Quando ela telefonou eu fui saber novidades, que a decisão era minha. Sofria de sida, o bicho, tinha a leucemia dos felinos, engordara como um marajá e retomara os tiques do gato doméstico apaparicado, que outra vez voltara a ser. Rebolava-se no chão, ofertava a barriga em convites dengosos, uma beleza e uma rebaldaria. Caso voltasse para a rua não sobrevivia um mês, mas um dono aberto e complacente podia garantir-lhe anos de vida. A única questão era arranjar-lhe um lar.
A decisão era minha e não tardei a tomá-la. Com pena de não ter nascido um dia engenheiro naval por Glasgow, tipo vagamente de judeu português, com um coração de vidro pintado*, que se deita fora quando se põe a estalar.
*Álvaro de Campos
Aconcheguei-o a um canto e fui-me aconselhar com quem sabe de felinos. O bicho estava a morrer, melhor seria levá-lo ao consultório e ajudar-lhe o passamento. Mas lá voltei a encontrá-lo no meio do cimento.
A jovem veterinária desenhou-lhe o perfil de macho dominante. A bochecha façuda, a cicatriz na cara, dois cortes na orelha... eram medalhas de guerra dum campeão da rua. Diagnosticou-lhe a coriza das vias superiores, injectou-lhe na coxa um elixir e guardou-o numa jaula. Não era caso de morte, avisou maternal, nem pouco mais ou menos. Pediu-me uma semana. E o preparo ficou-me numa fortuna.
Quando ela telefonou eu fui saber novidades, que a decisão era minha. Sofria de sida, o bicho, tinha a leucemia dos felinos, engordara como um marajá e retomara os tiques do gato doméstico apaparicado, que outra vez voltara a ser. Rebolava-se no chão, ofertava a barriga em convites dengosos, uma beleza e uma rebaldaria. Caso voltasse para a rua não sobrevivia um mês, mas um dono aberto e complacente podia garantir-lhe anos de vida. A única questão era arranjar-lhe um lar.
A decisão era minha e não tardei a tomá-la. Com pena de não ter nascido um dia engenheiro naval por Glasgow, tipo vagamente de judeu português, com um coração de vidro pintado*, que se deita fora quando se põe a estalar.
*Álvaro de Campos
Três ecos
Vindos daqui!
Epigrama
Não sei porque se há-de pretender que Deus
castigue os meus erros
e premeie os meus benfeitores. Aquilo
que lhe compete a Ele não é da nossa conta.
(Nem é também da Sua provavelmente).
O que é horrível é pensar o impensável.
Eugenio Montale (Génova/Milão, 1896-1981)
Nobel 1975
O maior poeta
O maior poeta do mundo
é o aborrecimento,
e o romancista mais profundo
o vento.
Gerardo Diego (Santander/Madrid, 1896-1987)
Paz
De todas as pombas houve uma que partiu pelo mundo.
Ainda
continua a girar à volta do sol
ao compasso da terra.
Voo sem dono, sempre ameaçado.
Voltará alguma vez
ao velho pombal donde saiu um dia?
Rafael Alberti (Cádiz, 1902-1999)
Epigrama
Não sei porque se há-de pretender que Deus
castigue os meus erros
e premeie os meus benfeitores. Aquilo
que lhe compete a Ele não é da nossa conta.
(Nem é também da Sua provavelmente).
O que é horrível é pensar o impensável.
Eugenio Montale (Génova/Milão, 1896-1981)
Nobel 1975
O maior poeta
O maior poeta do mundo
é o aborrecimento,
e o romancista mais profundo
o vento.
Gerardo Diego (Santander/Madrid, 1896-1987)
Paz
De todas as pombas houve uma que partiu pelo mundo.
Ainda
continua a girar à volta do sol
ao compasso da terra.
Voo sem dono, sempre ameaçado.
Voltará alguma vez
ao velho pombal donde saiu um dia?
Rafael Alberti (Cádiz, 1902-1999)
HAJA LUZ! - 4
Música e Astronomia:
«Haydn estava, a vários títulos, especialmente bem preparado para compor uma obra sobre a Criação. Interessava-se por Astronomia e ouvira certamente falar da "hipótese da nebulosa", desenvolvida por Pierre Laplace, para explicar a origem do sistema solar. A "Representação do Caos" é uma boa evidência disso.»
O Inventário:
«A vida de Haydn coincidiu com a grande revolução classificativa que alterou para sempre a botânica e a zoologia. No séc. XVIII, as espécies naturais - plantas e animais - são chamadas, contadas e baptizadas, e isto equivale a uma segunda Criação. Como em tudo na vida e na história, nada acontece sem antecedentes.
A aventura comercial dos Descobrimentos e o interesse pelo exotismo por ela gerado tinham aberto o caminho ao estudo regular da flora e da fauna dos continentes distantes (e respectiva comparação com os reinos vegetal e animal da Europa).
Uma tal diversidade era motivo de espanto. Basta lembrar o zelo do nosso D. Manuel I, ao incluir um elefante e uma onça caçadora na embaixada papal de 1514, liderada por Tristão da Cunha. Mais acidentada foi a tentativa no ano seguinte de oferecer, ao mesmo papa Leão X, o rinoceronte que Afonso de Albuquerque trouxera para Lisboa. O bicho ainda foi visto em Marselha, pelo jovem rei de França. Mas o barco naufragou perto de Porto Venere e o rinoceronte morreu afogado. Lá conseguiram recuperar o cadáver, e o que o papa admirou foi o animal embalsamado. (...)
O racionalismo do séc. XVII estimulou a observação sistemática da natureza e favoreceu o coleccionismo de plantas e de animais; jardins zoológicos e jardins botânicos privados brotaram por toda a Europa. Mas a febre estendeu-se a todos os tipos de objectos, através dos chamados gabinetes de curiosidades. (...)
Em 1708, Gottfried Leibniz aconselhava o czar Pedro o Grande da Rússia a coleccionar praticamente tudo: "Um tal gabinete deve conter todas as raridades e coisas importantes criadas pela natureza e pelo homem. Em especial são precisas pedras, metais, minerais, plantas silvestres e as suas cópias artificiais, animais tanto empalhados como embalsamados. Entre as coisas estrangeiras a comprar devem incluir-se os livros, instrumentos, curiosidades e raridades. Em suma, tudo o que esclareça e seja agradável à vista".»
[Nota pessoal: Por cá, o espírito português ruminava, sonolento, o feno seco da escolástica.]
«Haydn estava, a vários títulos, especialmente bem preparado para compor uma obra sobre a Criação. Interessava-se por Astronomia e ouvira certamente falar da "hipótese da nebulosa", desenvolvida por Pierre Laplace, para explicar a origem do sistema solar. A "Representação do Caos" é uma boa evidência disso.»
O Inventário:
«A vida de Haydn coincidiu com a grande revolução classificativa que alterou para sempre a botânica e a zoologia. No séc. XVIII, as espécies naturais - plantas e animais - são chamadas, contadas e baptizadas, e isto equivale a uma segunda Criação. Como em tudo na vida e na história, nada acontece sem antecedentes.
A aventura comercial dos Descobrimentos e o interesse pelo exotismo por ela gerado tinham aberto o caminho ao estudo regular da flora e da fauna dos continentes distantes (e respectiva comparação com os reinos vegetal e animal da Europa).
Uma tal diversidade era motivo de espanto. Basta lembrar o zelo do nosso D. Manuel I, ao incluir um elefante e uma onça caçadora na embaixada papal de 1514, liderada por Tristão da Cunha. Mais acidentada foi a tentativa no ano seguinte de oferecer, ao mesmo papa Leão X, o rinoceronte que Afonso de Albuquerque trouxera para Lisboa. O bicho ainda foi visto em Marselha, pelo jovem rei de França. Mas o barco naufragou perto de Porto Venere e o rinoceronte morreu afogado. Lá conseguiram recuperar o cadáver, e o que o papa admirou foi o animal embalsamado. (...)
O racionalismo do séc. XVII estimulou a observação sistemática da natureza e favoreceu o coleccionismo de plantas e de animais; jardins zoológicos e jardins botânicos privados brotaram por toda a Europa. Mas a febre estendeu-se a todos os tipos de objectos, através dos chamados gabinetes de curiosidades. (...)
Em 1708, Gottfried Leibniz aconselhava o czar Pedro o Grande da Rússia a coleccionar praticamente tudo: "Um tal gabinete deve conter todas as raridades e coisas importantes criadas pela natureza e pelo homem. Em especial são precisas pedras, metais, minerais, plantas silvestres e as suas cópias artificiais, animais tanto empalhados como embalsamados. Entre as coisas estrangeiras a comprar devem incluir-se os livros, instrumentos, curiosidades e raridades. Em suma, tudo o que esclareça e seja agradável à vista".»
[Nota pessoal: Por cá, o espírito português ruminava, sonolento, o feno seco da escolástica.]
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
domingo, 20 de janeiro de 2013
Há 40 anos
Cabral foi assassinado em Conakry. Porque os deuses levam cedo aqueles que mais amam.
Ao tempo havia em Gabu Sara (Nova Lamego), ao serviço dum império mui famoso, um "aeroporto internacional" com duas pistas: uma de terra batida, mais antiga, e outra maior, asfaltada.
E havia também um general já falecido, herói de muitas guerras perdidas, que ganhou fama e medalhas a despejar napalm sobre multidões de negros atraídos aos terreiros de igrejas, nas vastidões do Congo.
Um dia esse general, que ainda o não era, quis demonstrar que era possível aterrar no Gabu. E lá foi. Atracou com a tubeira do escape a colidir no asfalto e deformou-a.
Os mecânicos acabaram por desenrascar a coisa à martelada. E o avião conseguiu sair de lá, porque as putas das turbinas Rolls-Royce aguentavam quase tudo. Até os desvarios da mais heróica lusitanidade.
Ao tempo havia em Gabu Sara (Nova Lamego), ao serviço dum império mui famoso, um "aeroporto internacional" com duas pistas: uma de terra batida, mais antiga, e outra maior, asfaltada.
E havia também um general já falecido, herói de muitas guerras perdidas, que ganhou fama e medalhas a despejar napalm sobre multidões de negros atraídos aos terreiros de igrejas, nas vastidões do Congo.
Um dia esse general, que ainda o não era, quis demonstrar que era possível aterrar no Gabu. E lá foi. Atracou com a tubeira do escape a colidir no asfalto e deformou-a.
Os mecânicos acabaram por desenrascar a coisa à martelada. E o avião conseguiu sair de lá, porque as putas das turbinas Rolls-Royce aguentavam quase tudo. Até os desvarios da mais heróica lusitanidade.
O riso e os costumes
Ouvi-a no Convés dos Almirantes, a um tripeiro empedernido. E vendo-a pelo preço que me custou!
Em 1955 a rainha Isabel II visitou Portugal. Eu lembrei-me logo da Praça do Município, em Lisboa, e do estado lamentoso em que ficou até hoje, quando a viu passar, o efebo de pedra que encima o frontão da Câmara Municipal. Mas o tripeiro já lá ia adiante!
O mais ruidoso da recepção à rainha teve então lugar no Porto. Houve mesmo uma sessão num Coliseu a abarrotar, onde o mestre de cerimónias ofereceu a Sua Alteza um broche de filigrana, duma oficina de Gondomar. Uma peça integralmente feita à mão, conforme se esforçou por sublinhar.
Logo caiu, do balcão, a corrigenda:
- Aube lá, murcón! Atão num tás a ber?! Se é feito à mão num é broche! É punheta, carago!
O Coliseu por pouco não desabou. E como ninguém traduziu, Sua Alteza tomou o sobressalto por emoção popular. Lá sorriu, gratificada.
Em 1955 a rainha Isabel II visitou Portugal. Eu lembrei-me logo da Praça do Município, em Lisboa, e do estado lamentoso em que ficou até hoje, quando a viu passar, o efebo de pedra que encima o frontão da Câmara Municipal. Mas o tripeiro já lá ia adiante!
O mais ruidoso da recepção à rainha teve então lugar no Porto. Houve mesmo uma sessão num Coliseu a abarrotar, onde o mestre de cerimónias ofereceu a Sua Alteza um broche de filigrana, duma oficina de Gondomar. Uma peça integralmente feita à mão, conforme se esforçou por sublinhar.
Logo caiu, do balcão, a corrigenda:
- Aube lá, murcón! Atão num tás a ber?! Se é feito à mão num é broche! É punheta, carago!
O Coliseu por pouco não desabou. E como ninguém traduziu, Sua Alteza tomou o sobressalto por emoção popular. Lá sorriu, gratificada.
À atenção duma corja de bestas que eu cá sei!
António Costa, em menos de 3 minutos, disse tudo, no programa«Quadratura do círculo».
E aqui está, textualmente, o que ele disse (transcrito manualmente):
A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir. Não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por exemplo no têxtil.
Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.
E, portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.
Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia, em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado.
E, portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia.
Portanto, não é aceitável agora dizer… Podemos todos concluir - e acho que devemos concluir - que errámos. Agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses.
Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira.
E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste.
Esta mentira só é ultrapassada por uma outra: a de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados.
Colossais fraudes!
Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o Orçamento do Estado.
A administração central e local enxameou-se de milhares de «boys», criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma.
A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção.
Os exemplos sucederam-se.
A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo.
Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha.
E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso.
A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas (16) e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público.
Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas.
Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam.
Há que renegociar as parcerias público-privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos...
Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões.
Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise.
Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção.
Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia.
[ Pilhado daqui, com reverência!]
E aqui está, textualmente, o que ele disse (transcrito manualmente):
A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir. Não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por exemplo no têxtil.
Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.
E, portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.
Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia, em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado.
E, portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia.
Portanto, não é aceitável agora dizer… Podemos todos concluir - e acho que devemos concluir - que errámos. Agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses.
Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira.
E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste.
Esta mentira só é ultrapassada por uma outra: a de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados.
Colossais fraudes!
Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o Orçamento do Estado.
A administração central e local enxameou-se de milhares de «boys», criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma.
A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção.
Os exemplos sucederam-se.
A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo.
Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha.
E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso.
A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas (16) e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público.
Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas.
Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam.
Há que renegociar as parcerias público-privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos...
Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões.
Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise.
Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção.
Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia.
[ Pilhado daqui, com reverência!]
HAJA LUZ! - 3 - CRIAÇÃO
[Quando andou por terras autro-húngaras, Napoleão instalou-se num palácio rural da família Esterhazi, onde Haydn tinha sido recebido e alojado.
O corso chamava ao compositor "Papa Haydn", tal o apreço em que o tinha. E mandou que os pátios fossem todos cobertos de palha, para que o ruído dos cavalos não perturbasse o mestre, logo pela manhã.]
«A 29 e 30 de Abril de 1798 ouviu-se a luz! Aconteceu em Viena, no palácio Schwarzenberg, durante o ensaio geral e estreia da Oratória de Joseph Haydn, A CRIAÇÃO, sob a direcção do compositor. A explosão coral e sinfónica que acompanha as palavras Und es ward Licht! (e fez-se luz!) foi recebida com uma trovoada de aplausos. (...)
Haydn passara duas longas temporadas em Inglaterra entre 1791 e 1795. Recebera o grau de doutor honoris causa pela Universidade de Oxford, e fora na capital inglesa que se familiarizara com as oratórias de Georg Friedrich Händel.(...)
Em Londres, Haydn teve acesso a um guião, ou libreto, para uma peça sacra, vagamente baseado no Paraíso Perdido (1667) de John Milton. De regresso a Viena no Verão de 1795, decidiu avançar com a composição duma oratória na língua vernácula, à moda de Händel. Passou o guião ao Barão Gottfried van Swieten, que o editou e transformou no feliz libreto d'A CRIAÇÃO. (van Swieten é o mesmo Barão a quem a viúva de Mozart recorrera, pobre e aflita, após a morte do marido; o Barão aconselhou-a a sepultar Mozart na vala comum dos pobres, para poupar dinheiro...).
A CRIAÇÃO é uma origem. Começa com o Génesis, o primeiro livro da Bíblia. No princípio era o Caos, e Deus criou o Céu e a Terra. E a Terra era informe e vazia, toda envolta em trevas e coberta de águas profundas. (...)
A CRIAÇÃO de Haydn representou uma nova imagem e uma nova perspectiva do universo, com a luz como símbolo maior dessa nova consciencialização. (...) Haydn fez explodir a palavra LUZ como um verdadeiro big-bang sonoro - orquestral e coral - na tonalidade alegre e triunfal de dó maior. E o espírito de Deus pairou sobre as águas. E Deus disse: Faça-se luz! E fez-se luz. E dividiu Deus a luz das trevas. E foi este o primeiro dia. (...)»
Jorge Calado
O corso chamava ao compositor "Papa Haydn", tal o apreço em que o tinha. E mandou que os pátios fossem todos cobertos de palha, para que o ruído dos cavalos não perturbasse o mestre, logo pela manhã.]
«A 29 e 30 de Abril de 1798 ouviu-se a luz! Aconteceu em Viena, no palácio Schwarzenberg, durante o ensaio geral e estreia da Oratória de Joseph Haydn, A CRIAÇÃO, sob a direcção do compositor. A explosão coral e sinfónica que acompanha as palavras Und es ward Licht! (e fez-se luz!) foi recebida com uma trovoada de aplausos. (...)
Haydn passara duas longas temporadas em Inglaterra entre 1791 e 1795. Recebera o grau de doutor honoris causa pela Universidade de Oxford, e fora na capital inglesa que se familiarizara com as oratórias de Georg Friedrich Händel.(...)
Em Londres, Haydn teve acesso a um guião, ou libreto, para uma peça sacra, vagamente baseado no Paraíso Perdido (1667) de John Milton. De regresso a Viena no Verão de 1795, decidiu avançar com a composição duma oratória na língua vernácula, à moda de Händel. Passou o guião ao Barão Gottfried van Swieten, que o editou e transformou no feliz libreto d'A CRIAÇÃO. (van Swieten é o mesmo Barão a quem a viúva de Mozart recorrera, pobre e aflita, após a morte do marido; o Barão aconselhou-a a sepultar Mozart na vala comum dos pobres, para poupar dinheiro...).
A CRIAÇÃO é uma origem. Começa com o Génesis, o primeiro livro da Bíblia. No princípio era o Caos, e Deus criou o Céu e a Terra. E a Terra era informe e vazia, toda envolta em trevas e coberta de águas profundas. (...)
A CRIAÇÃO de Haydn representou uma nova imagem e uma nova perspectiva do universo, com a luz como símbolo maior dessa nova consciencialização. (...) Haydn fez explodir a palavra LUZ como um verdadeiro big-bang sonoro - orquestral e coral - na tonalidade alegre e triunfal de dó maior. E o espírito de Deus pairou sobre as águas. E Deus disse: Faça-se luz! E fez-se luz. E dividiu Deus a luz das trevas. E foi este o primeiro dia. (...)»
Jorge Calado
Quem?!
E adonde?!
Nota: O texto desta belíssima composição, por certo velho de séculos, lembra as nossas antigas cantigas de amigo medievais, com diferenças marcantes.
O enunciador é masculino. Sugere um estratagema e incita a donzela (que trata como mulher, como dona, como fêmea) a escapar ao controle doméstico da mãe. Que uma mulher faz o que quer.
O quadro é naturalmente campestre, mas não há idílio ingénuo ou inocente. Antes uma carga erótica explícita e atrevida, que deve ter dado muito que fazer a teólogos e quejandos.
Arrisca-se uma tradução livre: Agarra na palha e vai acender o lume (pedir lume à vizinha?). Vai a casa do teu namorado e aproveita duas horas do teu tempo (de jogo?, de brincadeira?). Se a tua mãe se zangar contigo, diz-lhe que foste buscar lenha. Diz-lhe que foste ali ou acolá, que uma mulher faz o que quer. O sol brilha quando o tempo está bom. E assim brilhará o teu peito, que a mulher galante traz no seio dois punhais de prata. Quem lhe toca, bela, fica santo. Toco-lhe eu, que sou teu namorado. E certamente entramos no paraíso. Diz-lhe que foste ali ou acolá, que uma mulher faz o que quer.
Nota: O texto desta belíssima composição, por certo velho de séculos, lembra as nossas antigas cantigas de amigo medievais, com diferenças marcantes.
O enunciador é masculino. Sugere um estratagema e incita a donzela (que trata como mulher, como dona, como fêmea) a escapar ao controle doméstico da mãe. Que uma mulher faz o que quer.
O quadro é naturalmente campestre, mas não há idílio ingénuo ou inocente. Antes uma carga erótica explícita e atrevida, que deve ter dado muito que fazer a teólogos e quejandos.
Arrisca-se uma tradução livre: Agarra na palha e vai acender o lume (pedir lume à vizinha?). Vai a casa do teu namorado e aproveita duas horas do teu tempo (de jogo?, de brincadeira?). Se a tua mãe se zangar contigo, diz-lhe que foste buscar lenha. Diz-lhe que foste ali ou acolá, que uma mulher faz o que quer. O sol brilha quando o tempo está bom. E assim brilhará o teu peito, que a mulher galante traz no seio dois punhais de prata. Quem lhe toca, bela, fica santo. Toco-lhe eu, que sou teu namorado. E certamente entramos no paraíso. Diz-lhe que foste ali ou acolá, que uma mulher faz o que quer.
Das tuas mãos
Sonhar com cerejeiras em Janeiro
de pouco te servirá.
Mas se em Abril as vires florescer
das tuas próprias mãos
então conhecerás a embriaguez
da sua luz.
sábado, 19 de janeiro de 2013
HAJA LUZ! - 2
(Da Introdução)
«Alguns reconhecerão um certo desequilíbrio a favor da cultura anglo-saxónica. É um risco assumido. Não tenho culpa de Shakespeare e Newton terem nascido na ilha da Grã-Bretanha (e estes são os maiores vultos nas artes e nas ciências de todo o mundo e de todos os tempos), e que o mesmo tenha acontecido - para puxar as brasas à química - com Boyle, Dalton, Faraday e Crick. Mas a história passa também pelas Américas e pela Suécia, Rússia, Alemanha, República Checa, Áustria, Hungria, Polónia, Suíça, França, Países Baixos, Itália, Espanha, Egipto, Arábia, Índia, Austrália, Japão e Américas, muitas vezes antes de os países terem nomes.
E também por Portugal. Sim, aproveitei as linhas tortas da narrativa para trazer figuras ilustres até cá, e lembrar outras que cá nasceram mas emigraram (que remédio!).
Pelo caminho fui discorrendo sobre o que é fazer ciência - o método, o gozo, o erro, a humildade, o perigo. Para o melhor e para o pior, é o livro que eu gostaria de ler. Como pensava Blaise Pascal, mais do que o "meu livro", este é o livro de todos nós - das minhas ideias à volta das ideias dos outros, e das vossas à volta deste livro.»
Jorge Calado
«Alguns reconhecerão um certo desequilíbrio a favor da cultura anglo-saxónica. É um risco assumido. Não tenho culpa de Shakespeare e Newton terem nascido na ilha da Grã-Bretanha (e estes são os maiores vultos nas artes e nas ciências de todo o mundo e de todos os tempos), e que o mesmo tenha acontecido - para puxar as brasas à química - com Boyle, Dalton, Faraday e Crick. Mas a história passa também pelas Américas e pela Suécia, Rússia, Alemanha, República Checa, Áustria, Hungria, Polónia, Suíça, França, Países Baixos, Itália, Espanha, Egipto, Arábia, Índia, Austrália, Japão e Américas, muitas vezes antes de os países terem nomes.
E também por Portugal. Sim, aproveitei as linhas tortas da narrativa para trazer figuras ilustres até cá, e lembrar outras que cá nasceram mas emigraram (que remédio!).
Pelo caminho fui discorrendo sobre o que é fazer ciência - o método, o gozo, o erro, a humildade, o perigo. Para o melhor e para o pior, é o livro que eu gostaria de ler. Como pensava Blaise Pascal, mais do que o "meu livro", este é o livro de todos nós - das minhas ideias à volta das ideias dos outros, e das vossas à volta deste livro.»
Jorge Calado
HAJA LUZ! - 1
«Jorge Calado licenciou-se em engenharia química pelo IST, e doutorou-se em Química pela Universidade de Oxford. Professor catedrático (aposentado) de química-física do IST e membro do Centro de Química Estrutural (IST), foi também professor catedrático-adjunto de engenharia química na Universidade de Cornell, NY. (...)
É sócio efectivo da Academia de Ciências de Lisboa desde 1988.
Muito interessado nas relações entre as ciências e as artes, regeu cursos como "A Arte da Ciência", "Arte, Técnica e Sociedade", "Os Limites da Ciência", em Cornell e no IST.
A pedido do Ministério da Cultura, criou a Colecção Nacional de Fotografia (hoje no CPF, no Porto). (...)»
É sócio efectivo da Academia de Ciências de Lisboa desde 1988.
Muito interessado nas relações entre as ciências e as artes, regeu cursos como "A Arte da Ciência", "Arte, Técnica e Sociedade", "Os Limites da Ciência", em Cornell e no IST.
A pedido do Ministério da Cultura, criou a Colecção Nacional de Fotografia (hoje no CPF, no Porto). (...)»
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Tem um pouco de paciência
Olha dois minutos para estes gráficos, que são fáceis de entender.
Mas não te deixes manipular por este bando de marginais que há dois anos assaltaram as nossas vidas, a cavalo numa récua de alimárias desdentadas, que te acenaram com bandeirinhas vermelhas espetadas no cu.
Mas não te deixes manipular por este bando de marginais que há dois anos assaltaram as nossas vidas, a cavalo numa récua de alimárias desdentadas, que te acenaram com bandeirinhas vermelhas espetadas no cu.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Andante
O autocarro é articulado. Dobra em dois para caber nas esquinas e tem mais portas que Tebas. Mas os passageiros só entram pela da frente, à vista do condutor.
Logo picam o ponto à mão direita, numa geringonça à altura do baixo-ventre, ou passam o cartão na máquina da esquerda, à cota do coração.
Entra um homem de braços pendurados em sacos que derreiam, só de vê-los. Encostou o peito ao olho da maquineta, por tal forma diligente que logo leu o Andante emboscado no bolso do casaco. Acende a luzinha verde, solta um pio perfeitamente audível, recolheu ele o peito e avançou.
Eu fico a pontos de me converter às técnicas modernas, mas afinal renuncio. Imagino o despropósito, quando o homem voltar um dia destes pendurado nos dois sacos, com o Andante resguardado numa algibeira das calças.
Logo picam o ponto à mão direita, numa geringonça à altura do baixo-ventre, ou passam o cartão na máquina da esquerda, à cota do coração.
Entra um homem de braços pendurados em sacos que derreiam, só de vê-los. Encostou o peito ao olho da maquineta, por tal forma diligente que logo leu o Andante emboscado no bolso do casaco. Acende a luzinha verde, solta um pio perfeitamente audível, recolheu ele o peito e avançou.
Eu fico a pontos de me converter às técnicas modernas, mas afinal renuncio. Imagino o despropósito, quando o homem voltar um dia destes pendurado nos dois sacos, com o Andante resguardado numa algibeira das calças.
Pontos de vista
O mais incompreensível e abusivo:
A obra
aparenta uma vindicta pessoal contra o destino como se fosse possível vingar a
vida numa viagem. Lê-se, por isso, como um romance.
O mais atoleimado e pateta:
O leitor desprevenido que apanha com a cena do narrador 'a chorar' quando vê um Fiat [avião] em terra não fica com pena do narrador, fica é a pensar que ele é narcisista.
O mais exaltado:
Divino!
O mais atento:
Uma musicalidade, uma perfeição textual, uma capacidade descritiva que há muito não encontrava. Uma coisa nova, verdadeiramente.
HAJA LUZ! - 0
«Haja Luz! é uma história heterodoxa, onde a química vem entrelaçada não só com a outras ciências mas também com a literatura, a música, as artes visuais, o cinema, a filosofia, etc. Aqui, o químico Humphry Davy aparece de braço dado com o poeta Samuel T. Coleridge, Richard Wagner partilha a divisão do trabalho com Adam Smith, e a pintura de René Magritte é invocada a propósito de Louis Pasteur; Marilyn Monroe fica associada ao carbono, Jules Verne e Jacques Offenbach celebram o oxigénio, e Sebastião Salgado fotografa a alquimia sufocante do enxofre. E tudo começa com Joseph Haydn, e a sua oratória, a Criação.
A química resulta duma curiosidade básica: saber de que é que são feitas as coisas. Nesta fascinante digressão histórica, desde a época áurea dos Gregos até aos dias de hoje, Jorge Calado mostra como a química moderna deriva do conhecimento do fogo da combustão e do raio do relâmpago, isto é, da energia. Calor e electricidade permitiram analisar a terra, a água e o ar, até chegar ao conceito de elemento, representado pelo átomo. Prometeu e Frankenstein são os génios tutelares da química! (...)
Originalmente publicado no Ano Internacional da Química (2011), Haja Luz! foi considerado por António Barreto "uma maravilha... um assombroso livro, de rara inteligência e grande cultura". (...) Raquel Gonçalves-Maia, da Sociedade Portuguesa de Química, considera que "esta história da química, que não é bem História, este romance que quase o é, tem direito a lugar nobre nas leituras da nossa vida".»
A química resulta duma curiosidade básica: saber de que é que são feitas as coisas. Nesta fascinante digressão histórica, desde a época áurea dos Gregos até aos dias de hoje, Jorge Calado mostra como a química moderna deriva do conhecimento do fogo da combustão e do raio do relâmpago, isto é, da energia. Calor e electricidade permitiram analisar a terra, a água e o ar, até chegar ao conceito de elemento, representado pelo átomo. Prometeu e Frankenstein são os génios tutelares da química! (...)
Originalmente publicado no Ano Internacional da Química (2011), Haja Luz! foi considerado por António Barreto "uma maravilha... um assombroso livro, de rara inteligência e grande cultura". (...) Raquel Gonçalves-Maia, da Sociedade Portuguesa de Química, considera que "esta história da química, que não é bem História, este romance que quase o é, tem direito a lugar nobre nas leituras da nossa vida".»
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
We'll take it back someday, mock my words!
Thatcherites! Letra não há! Tira-a pelo ouvido!
Your doctrines I must blame, you will hear
Your doctrines I must blame, you will hear
You privatize away what is ours, what is ours
You privatize away what is ours
You privatize away and then you make us pay
We'll take it back someday...
We'll take it back someday...
Literatura para Totós - Tese 3
[CLICAR]
Isto não é verdade, por muito que o senhor Nobel o sugira!
Passa por aqui uma Addie Bundren, que é a mãe da família e morre, porque o médico Peabody já não a pôde salvar. Mas ainda deixou dito que quer ser enterrada em Jefferson. E há o Adse, que por nada deixaria de cumprir o último desejo da mulher.
Depois ao lado anda numa fona a filharada toda, a Dewey Dell, o Vardamann, o Darl, o Cash que aplainou o caixão e depois partiu uma perna, o Jewel que insiste em ir a cavalo, e os outros todos que juntam esforços para transportar a mãe na carroça das mulas. A viagem demora nove dias.
Pelo meio há um rio que transborda, e uma ponte de madeira levada pelas águas, e duas mulas que morrem afogadas (ou não?!), e um caixão que tem lá dentro um peixe. Há um estábulo que arde, e uma vaca estúpida e aflita, e umas talas de cimento que não podem salvar uma perna partida, e uma sepultura que é preciso cavar quando se chegar a Jefferson, onde um comboio-brinquedo desliza pelos carris no vidro duma montra.
Toda esta tropa fandanga assume a condição de narrador, quando lhe chega o momento. Todos eles se esfalfam a contar-nos a história, vez à vez. Mas o que cada um diz não vem no seguimento do que disse o anterior. Nem é deixa obrigatória para o que dirá o próximo.
Em que é que isto serve a literatura? Só um génio poderá explicá-lo.
Desconfia, leitor, dos modos narrativos que se esmeram a servir-te enigmas e charadas, para encarecer a inovação e a criatividade. São o capote que os toureiros usam, para burlar os touros nas arenas.
Não desperdices o tempo, nem as energias, que eles te reclamam na decifração. E sobretudo não permitas que génio nenhum te considere estúpido, porque és tu que não consegues entender.
Manda-os à bardamerda sem complexos! Porque a literatura a sério é luminosa e transparente como um cristal de rocha.
Afinal ainda há milagres!
Uma obra espantosa. Portuguesa. Ilustração soberba. Seiscentas páginas editadas pela IST Press, em Maio de 2011. Momento em que, pelos vistos, não aconteceram só desgraças, como andaremos lembrados.
A ela havemos de voltar. Fiquemos agora pelos lead dos capítulos.
Zero: CRIAÇÃO
Protagonistas: Joseph Haydn, Deus, William Herschel, Georg Bauer (Agricola), John Ray, Francis Willughby, Carl Linnaeus, Eva Ekeblad, Joseph Banks, James Cook, William Bligh, Giusepe Archimboldo, Eduard Hicks, Conde de Buffon, Lord Kelvin, René Descartes, Abade Corrêa da Serra, Pierre du Pont de Nemours, Thomas Jefferson, Denis Diderot, Jeam D'Alembert, Colin MacFarquhar, Andrew Bell, Jimmy Wales, Larry Sanger, Daniel Defoe, Henry Fielding, James Watt, Erasmus Darwin.
Um: O QUE É A QUÍMICA?
Protagonistas: Pierre de Fermat, Galileo Galilei, Johannes Kepler, Jonathan Swift, Jabir Ibn Hayyan, Richard Wagner, Ben Jonson, Johann Boettger, Rabi Jehuda Loew, Bruce Chatwin, Garcia de Orta, Paracelso, Carl Nielsen, Paul Hindemith, Robert Browning, Arthur Schnitzler, Frederick Sommer, Jorge Luís Borges, Joan Baptista van Helmont, Johann Becher, Georg Sthahl.
Dois: A ERA PNEUMÁTICA
Protagonistas: Otto von Guericke, Evangelista Torricelli, Robert Boyle, Lady Katharine - Viscondessa de Ranelagh, John Milton, Oliver Crommwell, Christopher Wren, John Evelyn, Henry Cavendish, Charles Blagden, William - 7º Duque de Devonshire, James Clerk Maxwell.
Três: ENTRE DOIS -ISMOS
Galileo Galilei, Edmund Halley, Jerehmiah Horrocks, William Crabtree, Pe. Teodoro de Almeida, John Philip Sousa, John Harrison, Joseph Black, Walter Scott, Adam Smith, James Hutton, David Hume, Erasmus Darwin, (...) Vincenzo Lunardi, Pe. Bartolomeu de Gusmão, José Saramago, Domenico Scarlatti, Azio Chorgi. José Agostinho de Macedo, Manuel Barbosa du Bocage, Rómulo de Carvalho, Thomas Beddoes (...).
Quatro: UMA DESCOBERTA SIMULTÂNEA
Protagonistas: John Mayow, Daniel Rutherford, Carl Scheele, Joseph Priestley, Antoine Lavoisier, João Jacinto de Magalhães, (...) Paulze Lavoisier, Louis XVI, Pierre de Laplace, Jean Paul Marat, Pierre Samuel Du-Pont, Jules Verne, Paul Bert, Michael Sendivogius.
Cinco: O FOGO E A FAÍSCA
Protagonistas: Prometeu, Percy Shelley, Aleksandr Scriabine, Richard Wagner, Stephen Gray, Abade Jean Nollet, Carles du Fay, Benjamin Franklin, John Adams, Voltaire, Franz Anton Mesmer, Luigi Galvani, Alessandro Volta, Mary Shelley, Victor Frankenstein e o seu Monstro, E.T.A Hoffmann, René Descartes, Jacques Offenbach, Oskar Kokoshka, Raoul Dufy.
Seis: O BAPTISMO DA ENERGIA
Protagonistas: Emilie - Marquesa de Châtelet, Voltaire, Ford Madox Brown, Charles Dickens, Friederich Engels, Benjamin Thomson, Samuel Coleridge, William Wordsworth, Thomas Young, Magnus Lindberg, Michael Faraday, James Joule, Sadi Carnot, Julius von Mayer, Werner Heisenberg.
Sete: ILUMINAÇÕES
Protagonistas: Humphry Davy, Michael Faraday, William Murdock, Gaston Bachelard, Ada Lovelace, John Tyndall, Edmund Burke, John Dalton, Lucrécio, Amedeo Avogadro, Stanislao Cannizzaro, Thomas Wedgood, Louis Daguerre, William Henry Fox Talbot, John Herschel.
Oito: OS ELEMENTOS
Protagonistas: Empedocles de Agrigento, Fean-Féry Rebel, Voltaire, Rei Midas, Georg Bauer (Agricola), Henry Moissan, Robert Bunsen, Gustav Kirchhoff, Juan José e Fausto de Elhuyar y de Zubice, Johan Gadolin, Alexandre o Grande, H.G.Wells, Dimitri Mendeleev, Czar Alexandre II, Oliver Sachs, Primo Levi, Simónides de Ceos, Maria Dmitrievna Mendeleev, Aleksander Borodine, Liubov Mendeleeva.
Nove: SOBRESSALTOS
Protagonistas: Wilhelm Roentgen, Henry Becquerel, Maria Sklodowska-Curie, Pierre Curie, J.J.Thomson, Ernest Rutherford, Max Planck, Niels Bohr, Wolfgang Pauli, Lord Kelvin, (...) Enrico Fermi, Albert Einstein, J.Robert Oppenheimer, Winston Churchill, James Cagney, (...) Lewis Strauss.
Dez: A LUZ DA VIDA
Protagonistas: Karel Capek, Isaac Newton, Gottfried Leibniz, Robert Boyle, (...) Jean Baptiste Biot, Louis Pasteur, Marie Pasteur, Joseph Lister, Edward Jenner, Joseph Meister, Adrien Loir.
Onze: ARQUITECTURAS
Protagonistas: Justus von Liebig, Jean-Baptiste Dumas, Auguste Laurent, Aleksandr Butlerov, Emil Fischer, (...) Linus Pauling, James Watson, Francis Crick, Rosalind Franklin, Francis Simon.
EPÍLOGO
Protagonistas: Antonio Salieri, Barão Pierre Caron de Beaumarchais, Wolfgang Amadeus Mozart, Isaac Newton, Edward Bulwer-Lytton, Karl Briullov, Joseph Turner, Hans Werner Henze, Percy Shelley. Georg Elliot.
Ena tantos! Para respigar na FNAC!
A ela havemos de voltar. Fiquemos agora pelos lead dos capítulos.
Zero: CRIAÇÃO
Protagonistas: Joseph Haydn, Deus, William Herschel, Georg Bauer (Agricola), John Ray, Francis Willughby, Carl Linnaeus, Eva Ekeblad, Joseph Banks, James Cook, William Bligh, Giusepe Archimboldo, Eduard Hicks, Conde de Buffon, Lord Kelvin, René Descartes, Abade Corrêa da Serra, Pierre du Pont de Nemours, Thomas Jefferson, Denis Diderot, Jeam D'Alembert, Colin MacFarquhar, Andrew Bell, Jimmy Wales, Larry Sanger, Daniel Defoe, Henry Fielding, James Watt, Erasmus Darwin.
Um: O QUE É A QUÍMICA?
Protagonistas: Pierre de Fermat, Galileo Galilei, Johannes Kepler, Jonathan Swift, Jabir Ibn Hayyan, Richard Wagner, Ben Jonson, Johann Boettger, Rabi Jehuda Loew, Bruce Chatwin, Garcia de Orta, Paracelso, Carl Nielsen, Paul Hindemith, Robert Browning, Arthur Schnitzler, Frederick Sommer, Jorge Luís Borges, Joan Baptista van Helmont, Johann Becher, Georg Sthahl.
Dois: A ERA PNEUMÁTICA
Protagonistas: Otto von Guericke, Evangelista Torricelli, Robert Boyle, Lady Katharine - Viscondessa de Ranelagh, John Milton, Oliver Crommwell, Christopher Wren, John Evelyn, Henry Cavendish, Charles Blagden, William - 7º Duque de Devonshire, James Clerk Maxwell.
Três: ENTRE DOIS -ISMOS
Galileo Galilei, Edmund Halley, Jerehmiah Horrocks, William Crabtree, Pe. Teodoro de Almeida, John Philip Sousa, John Harrison, Joseph Black, Walter Scott, Adam Smith, James Hutton, David Hume, Erasmus Darwin, (...) Vincenzo Lunardi, Pe. Bartolomeu de Gusmão, José Saramago, Domenico Scarlatti, Azio Chorgi. José Agostinho de Macedo, Manuel Barbosa du Bocage, Rómulo de Carvalho, Thomas Beddoes (...).
Quatro: UMA DESCOBERTA SIMULTÂNEA
Protagonistas: John Mayow, Daniel Rutherford, Carl Scheele, Joseph Priestley, Antoine Lavoisier, João Jacinto de Magalhães, (...) Paulze Lavoisier, Louis XVI, Pierre de Laplace, Jean Paul Marat, Pierre Samuel Du-Pont, Jules Verne, Paul Bert, Michael Sendivogius.
Cinco: O FOGO E A FAÍSCA
Protagonistas: Prometeu, Percy Shelley, Aleksandr Scriabine, Richard Wagner, Stephen Gray, Abade Jean Nollet, Carles du Fay, Benjamin Franklin, John Adams, Voltaire, Franz Anton Mesmer, Luigi Galvani, Alessandro Volta, Mary Shelley, Victor Frankenstein e o seu Monstro, E.T.A Hoffmann, René Descartes, Jacques Offenbach, Oskar Kokoshka, Raoul Dufy.
Seis: O BAPTISMO DA ENERGIA
Protagonistas: Emilie - Marquesa de Châtelet, Voltaire, Ford Madox Brown, Charles Dickens, Friederich Engels, Benjamin Thomson, Samuel Coleridge, William Wordsworth, Thomas Young, Magnus Lindberg, Michael Faraday, James Joule, Sadi Carnot, Julius von Mayer, Werner Heisenberg.
Sete: ILUMINAÇÕES
Protagonistas: Humphry Davy, Michael Faraday, William Murdock, Gaston Bachelard, Ada Lovelace, John Tyndall, Edmund Burke, John Dalton, Lucrécio, Amedeo Avogadro, Stanislao Cannizzaro, Thomas Wedgood, Louis Daguerre, William Henry Fox Talbot, John Herschel.
Oito: OS ELEMENTOS
Protagonistas: Empedocles de Agrigento, Fean-Féry Rebel, Voltaire, Rei Midas, Georg Bauer (Agricola), Henry Moissan, Robert Bunsen, Gustav Kirchhoff, Juan José e Fausto de Elhuyar y de Zubice, Johan Gadolin, Alexandre o Grande, H.G.Wells, Dimitri Mendeleev, Czar Alexandre II, Oliver Sachs, Primo Levi, Simónides de Ceos, Maria Dmitrievna Mendeleev, Aleksander Borodine, Liubov Mendeleeva.
Nove: SOBRESSALTOS
Protagonistas: Wilhelm Roentgen, Henry Becquerel, Maria Sklodowska-Curie, Pierre Curie, J.J.Thomson, Ernest Rutherford, Max Planck, Niels Bohr, Wolfgang Pauli, Lord Kelvin, (...) Enrico Fermi, Albert Einstein, J.Robert Oppenheimer, Winston Churchill, James Cagney, (...) Lewis Strauss.
Dez: A LUZ DA VIDA
Protagonistas: Karel Capek, Isaac Newton, Gottfried Leibniz, Robert Boyle, (...) Jean Baptiste Biot, Louis Pasteur, Marie Pasteur, Joseph Lister, Edward Jenner, Joseph Meister, Adrien Loir.
Onze: ARQUITECTURAS
Protagonistas: Justus von Liebig, Jean-Baptiste Dumas, Auguste Laurent, Aleksandr Butlerov, Emil Fischer, (...) Linus Pauling, James Watson, Francis Crick, Rosalind Franklin, Francis Simon.
EPÍLOGO
Protagonistas: Antonio Salieri, Barão Pierre Caron de Beaumarchais, Wolfgang Amadeus Mozart, Isaac Newton, Edward Bulwer-Lytton, Karl Briullov, Joseph Turner, Hans Werner Henze, Percy Shelley. Georg Elliot.
Ena tantos! Para respigar na FNAC!
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