domingo, 20 de janeiro de 2013

HAJA LUZ! - 3 - CRIAÇÃO

[Quando andou por terras autro-húngaras, Napoleão instalou-se num palácio rural da família Esterhazi, onde Haydn tinha sido recebido e alojado.
O corso chamava ao compositor "Papa Haydn", tal o apreço em que o tinha. E mandou que os pátios fossem todos cobertos de palha, para que o ruído dos cavalos não perturbasse o mestre, logo pela manhã.]

«A 29 e 30 de Abril de 1798 ouviu-se a luz! Aconteceu em Viena, no palácio Schwarzenberg, durante o ensaio geral e estreia da Oratória de Joseph Haydn, A CRIAÇÃO, sob a direcção do compositor. A explosão coral e sinfónica que acompanha as palavras Und es ward Licht! (e fez-se luz!) foi recebida com uma trovoada de aplausos. (...)
Haydn passara duas longas temporadas em Inglaterra entre 1791 e 1795. Recebera o grau de doutor honoris causa pela Universidade de Oxford, e fora na capital inglesa que se familiarizara com as oratórias de Georg Friedrich Händel.(...)
Em Londres, Haydn teve acesso a um guião, ou libreto, para uma peça sacra, vagamente baseado no Paraíso Perdido (1667) de John Milton. De regresso a Viena no Verão de 1795, decidiu avançar com a composição duma oratória na língua vernácula, à moda de Händel. Passou o guião ao Barão Gottfried van Swieten, que o editou e transformou no feliz libreto d'A CRIAÇÃO. (van Swieten é o mesmo Barão a quem a viúva de Mozart recorrera, pobre e aflita, após a morte do marido; o Barão aconselhou-a a sepultar Mozart na vala comum dos pobres, para poupar dinheiro...).
A CRIAÇÃO é uma origem. Começa com o Génesis, o primeiro livro da Bíblia. No princípio era o Caos, e Deus criou o Céu e a Terra. E a Terra era informe e vazia, toda envolta em trevas e coberta de águas profundas. (...)
A CRIAÇÃO de Haydn representou uma nova imagem e uma nova perspectiva do universo, com a luz como símbolo maior dessa nova consciencialização. (...) Haydn fez explodir a palavra LUZ como um verdadeiro big-bang sonoro - orquestral e coral - na tonalidade alegre e triunfal de dó maior. E o espírito de Deus pairou sobre as águas. E Deus disse: Faça-se luz! E fez-se luz. E dividiu Deus a luz das trevas. E foi este o primeiro dia. (...)»

Jorge Calado