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Isto não é verdade, por muito que o senhor Nobel o sugira!
Passa por aqui uma Addie Bundren, que é a mãe da família e morre, porque o médico Peabody já não a pôde salvar. Mas ainda deixou dito que quer ser enterrada em Jefferson. E há o Adse, que por nada deixaria de cumprir o último desejo da mulher.
Depois ao lado anda numa fona a filharada toda, a Dewey Dell, o Vardamann, o Darl, o Cash que aplainou o caixão e depois partiu uma perna, o Jewel que insiste em ir a cavalo, e os outros todos que juntam esforços para transportar a mãe na carroça das mulas. A viagem demora nove dias.
Pelo meio há um rio que transborda, e uma ponte de madeira levada pelas águas, e duas mulas que morrem afogadas (ou não?!), e um caixão que tem lá dentro um peixe. Há um estábulo que arde, e uma vaca estúpida e aflita, e umas talas de cimento que não podem salvar uma perna partida, e uma sepultura que é preciso cavar quando se chegar a Jefferson, onde um comboio-brinquedo desliza pelos carris no vidro duma montra.
Toda esta tropa fandanga assume a condição de narrador, quando lhe chega o momento. Todos eles se esfalfam a contar-nos a história, vez à vez. Mas o que cada um diz não vem no seguimento do que disse o anterior. Nem é deixa obrigatória para o que dirá o próximo.
Em que é que isto serve a literatura? Só um génio poderá explicá-lo.
Desconfia, leitor, dos modos narrativos que se esmeram a servir-te enigmas e charadas, para encarecer a inovação e a criatividade. São o capote que os toureiros usam, para burlar os touros nas arenas.
Não desperdices o tempo, nem as energias, que eles te reclamam na decifração. E sobretudo não permitas que génio nenhum te considere estúpido, porque és tu que não consegues entender.
Manda-os à bardamerda sem complexos! Porque a literatura a sério é luminosa e transparente como um cristal de rocha.