terça-feira, 22 de janeiro de 2013

HAJA LUZ! - 4

Música e Astronomia:
«Haydn estava, a vários títulos, especialmente bem preparado para compor uma obra sobre a Criação. Interessava-se por Astronomia e ouvira certamente falar da "hipótese da nebulosa", desenvolvida por Pierre Laplace, para explicar a origem do sistema solar. A "Representação do Caos" é uma boa evidência disso.»

O Inventário:
«A vida de Haydn coincidiu com a grande revolução classificativa que alterou para sempre a botânica e a zoologia. No séc. XVIII, as espécies naturais - plantas e animais - são chamadas, contadas e baptizadas, e isto equivale a uma segunda Criação. Como em tudo na vida e na história, nada acontece sem antecedentes.
A aventura comercial dos Descobrimentos e o interesse pelo exotismo por ela gerado tinham aberto o caminho ao estudo regular da flora e da fauna dos continentes distantes (e respectiva comparação com os reinos vegetal e animal da Europa). 
Uma tal diversidade era motivo de espanto. Basta lembrar o zelo do nosso D. Manuel I, ao incluir um elefante e uma onça caçadora na embaixada papal de 1514, liderada por Tristão da Cunha. Mais acidentada foi a tentativa no ano seguinte de oferecer, ao mesmo papa Leão X, o rinoceronte que Afonso de Albuquerque trouxera para Lisboa. O bicho ainda foi visto em Marselha, pelo jovem rei de França. Mas o barco naufragou perto de Porto Venere e o rinoceronte morreu afogado. Lá conseguiram recuperar o cadáver, e o que o papa admirou foi o animal embalsamado. (...)
O racionalismo do séc. XVII estimulou a observação sistemática da natureza e favoreceu o coleccionismo de plantas e de animais; jardins zoológicos e jardins botânicos privados brotaram por toda a Europa. Mas a febre estendeu-se a todos os tipos de objectos, através dos chamados gabinetes de curiosidades. (...)
Em 1708, Gottfried Leibniz aconselhava o czar Pedro o Grande da Rússia a coleccionar praticamente tudo: "Um tal gabinete deve conter todas as raridades e coisas importantes criadas pela natureza e pelo homem. Em especial são precisas pedras, metais, minerais, plantas silvestres e as suas cópias artificiais, animais tanto empalhados como embalsamados. Entre as coisas estrangeiras a comprar devem incluir-se os livros, instrumentos, curiosidades e raridades. Em suma, tudo o que esclareça e seja agradável à vista".»

[Nota pessoal: Por cá, o espírito português ruminava, sonolento, o feno seco da escolástica.]