terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Vozes

Vasco Vieira de Almeida foi para Luanda há quarenta e tal anos, encarregado duma missão impossível: levar a bom porto um Governo de Transição, integrando elementos da Unita, do MPLA e da FNLA, antes da independência de Angola. Nunca mais ouvi falar dele até esta entrevista ao J. Negócios, a 8 de Junho de 2012. Há vozes que é útil ouvir. 

É a nação política, são as classes dirigentes que formulam o vocabulário político da consciência nacional. E também do que são os projectos nacionais, a sua execução e a imagem com que ficamos desses projectos. A ideia que a elite do tempo teve do que foram as Descobertas, realizadas por toda a espécie de razões (políticas, religiosas, económicas), não era a mesma dos marinheiros apanhados nas tabernas do Cais do Sodré, e que iam à força tripular as caravelas.

Eça de Queiroz dizia que a marcha da civilização para a justiça é feita pelos que riem. Ramalho Ortigão escreveu que o dever da crítica perante um acontecimento ou uma personagem importantes é o desprezo e a zombaria. A Geração de 70 representou um cosmopolitismo estéril. Por isso Antero respondeu que o riso é um dissolvente, não é um remédio. A elite fez as Descobertas mas depois expulsou os judeus. Foi a elite que fez de nós proprietários absentistas de um Império  que nunca desenvolvemos. E isso explica a indiferença com que o povo português recebeu a perda das colónias, alheio ao desaparecimento de um Império de que a maioria nunca beneficiou.

Em Portugal, pertencer a uma elite nunca representou, como devia, uma fonte extra de obrigações, antes uma atribuição anormal de privilégios. O povo foi sempre melhor do que as elites.

Gosto das pessoas. Têm qualidades que muitas vezes não vêm ao de cima, por circunstâncias que lhes são alheias. Os problemas dos portugueses não resultam da sua falta de qualidade, decorrem da estrutura que temos, dos corporativismos, da luta pela sobrevivência.