A adolescente pica a senha no visor e avança pela coxia. Tem um ar um tanto produzido e o visual gótico destoa. Veste de preto integral, e a mochila avantajada que traz pendurada às costas dificulta-lhe a manobra. Traz cuidada a flor da face, rigorosa, maquilhada. Quase brilha, na geral vulgaridade. Ocupa o lugar em frente, dentro da sua redoma, vê-se bem que vem trancada numa filosofia.
De peito afogado em véus, veste uma saia de bicos, por baixo duma nuvem de organdis. Traz muitos anéis nos dedos, talvez de aço, e símbolos esotéricos pendurados ao pescoço. Os traços negros que desenhou nas pálpebras têm um quê de vampiro inofensivo.
Quando arrisco se já leu o Nabokov, diz que não gosta de ler. - E viste o filme?! - Qual filme?! Segue a escola japonesa que frequenta na Internet.
Cá fora vejo-a melhor. Tem pernas tortas, cambadas, e enviesa os pés para dentro. As Doc Martens são imitação ligeira.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
Outro do Herberto
«É o tema das visões e das vozes, um pouco ameaçador agora quando se lembra aquilo por que se passou. Era o costume das infâncias: viam-se faiscar os rostos, súbitos como pedrarias nos quartos obscuros, assemelhavam-se a alvéolos de colmeias uns sobre os outros. Na cama, escutava-se um clamor, os melhores instantes concentravam-se ali, que apuramento de palavras, de frases, de anúncios, e aquilo ascendia no silêncio, era a nossa música que se compunha, e em baixo mas inteiro nos dons, em estado de graça, respirávamos temerariamente. Estávamos atentos às matérias e sopros do mundo expressos em imagens e vozes autónomas. Nem sequer nos apercebíamos bem de que as noites separavam os dias: era verão. O espaço, os encontros, as caras, o cabelo das mulheres, roupas estendidas a suar, o vento amplo, grandes pedras, grandes girassóis, a fruta amarela, os bichos. Crescíamos no meio do atordoamento de flores e animais, crescíamos assim. Uma noite acordei com o som dos meus próprios gritos. (...)
Era a ordem ininterrupta das magias: à meia noite de sábado cravava-se uma faca no tronco das bananeiras, ia-se ver logo pela manhã, a seiva ácida deixara enigmáticas figuras na lâmina, decifrávamos, tínhamos inspirações, revelações: um cavalo, uma águia, um tigre, uma cobra, um leão. As bananeiras gemiam de noite: a sua carne rasgava-se por uma força que vinha de dentro, e das feridas brotavam os rebentos: cachos, frutas de ouro. (...)»
[Do prefácio, em prosa de poema]
saio hoje ao mundo,
cordão de sangue à volta do pescoço,
e tão sôfrego e delicado e furioso,
de um lado ou de outro para sempre num sufôco,
iminente para sempre.
23.XI.2010: 80 anos
Servidões, Herberto Helder
Era a ordem ininterrupta das magias: à meia noite de sábado cravava-se uma faca no tronco das bananeiras, ia-se ver logo pela manhã, a seiva ácida deixara enigmáticas figuras na lâmina, decifrávamos, tínhamos inspirações, revelações: um cavalo, uma águia, um tigre, uma cobra, um leão. As bananeiras gemiam de noite: a sua carne rasgava-se por uma força que vinha de dentro, e das feridas brotavam os rebentos: cachos, frutas de ouro. (...)»
[Do prefácio, em prosa de poema]
saio hoje ao mundo,
cordão de sangue à volta do pescoço,
e tão sôfrego e delicado e furioso,
de um lado ou de outro para sempre num sufôco,
iminente para sempre.
23.XI.2010: 80 anos
Servidões, Herberto Helder
Ó Cavaco!
Põe-te manso, pá! Não és só tu que não passas dum "palhaço"! Os "cidadões" que votaram em ti também o são. E estão calados!
quinta-feira, 30 de maio de 2013
O AO
«O Aleijão
(...) Pessoas que achavam que "tanto faz" ou que era muito barulho por nada, começam a dar ouvidos a Eduardo Lourenço e a António Lobo Antunes; a Vasco Graça Moura e a José Gil; a Pacheco Pereira e a Miguel Esteves Cardoso; até a Ricardo Araújo Pereira e a João Pereira Coutinho, que devem estar de acordo em poucos assuntos.
E talvez essas pessoas tenham lido as seguintes notícias: a faculdade de Letras da Universidade de Lisboa não aplicou o "acordo"; a Associação Portuguesa de Linguística criticou-o; o PEN clube recusou-o; a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros distanciou-se dele; a Sociedade Portuguesa de Autores e a Associação Portuguesa de Escritores não o aceitam. (...)
É um acto político, como reconheceu aliás o autor moral da iniquidade, Malaca Casteleiro, em declarações a este jornal: "isto não é uma questão linguística, é uma questão política, uma questão muito importante do ponto de vista da política de língua, no âmbito da lusofonia. (...)
O actual presidente da República disse um dia que o português de Portugal se arriscava a tornar-se uma espécie de latim, como se uma variante falada por dez milhões de indivíduos equivalesse a uma língua morta. (...)
Fizeram o acordo ignorando os pareceres técnicos divergentes e a opinião de agentes qualificados da língua. E agora assustam-se com o levantamento cívico. Perceberam que fracassaram, que nem todos nos calamos, que estivemos atentos às suas consequências. (...) Quis simplificar o ensino e cortou as palavras da sua raiz etimológica, da sua família, dificultando uma compreensão de conjunto. Quis ser um acordo "lusófono" e pouco mais é do que um contrato luso-brasileiro, do qual os brasileiros duvidam. E agora ainda passámos pela humilhação de ter o oficioso "Jornal de Angola" a lembrar-nos que o étimo latino ajuda a compreender o percurso de uma palavra.
Este acordo não serve, não presta, é preciso denunciá-lo, ou, no mínimo, revê-lo em profundidade. É preciso acabar com aberrações como a recessiva "receção" e o tauromáquico "espetador" e a lasciva "arquiteta". E com a fantasia de que as consoantes que abrem as vogais são mudas. E com a ideia de que a escrita é uma transcrição da fonética. (...)
[Pedro Mexia, in ATUAL]
(...) Pessoas que achavam que "tanto faz" ou que era muito barulho por nada, começam a dar ouvidos a Eduardo Lourenço e a António Lobo Antunes; a Vasco Graça Moura e a José Gil; a Pacheco Pereira e a Miguel Esteves Cardoso; até a Ricardo Araújo Pereira e a João Pereira Coutinho, que devem estar de acordo em poucos assuntos.
E talvez essas pessoas tenham lido as seguintes notícias: a faculdade de Letras da Universidade de Lisboa não aplicou o "acordo"; a Associação Portuguesa de Linguística criticou-o; o PEN clube recusou-o; a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros distanciou-se dele; a Sociedade Portuguesa de Autores e a Associação Portuguesa de Escritores não o aceitam. (...)
É um acto político, como reconheceu aliás o autor moral da iniquidade, Malaca Casteleiro, em declarações a este jornal: "isto não é uma questão linguística, é uma questão política, uma questão muito importante do ponto de vista da política de língua, no âmbito da lusofonia. (...)
O actual presidente da República disse um dia que o português de Portugal se arriscava a tornar-se uma espécie de latim, como se uma variante falada por dez milhões de indivíduos equivalesse a uma língua morta. (...)
Fizeram o acordo ignorando os pareceres técnicos divergentes e a opinião de agentes qualificados da língua. E agora assustam-se com o levantamento cívico. Perceberam que fracassaram, que nem todos nos calamos, que estivemos atentos às suas consequências. (...) Quis simplificar o ensino e cortou as palavras da sua raiz etimológica, da sua família, dificultando uma compreensão de conjunto. Quis ser um acordo "lusófono" e pouco mais é do que um contrato luso-brasileiro, do qual os brasileiros duvidam. E agora ainda passámos pela humilhação de ter o oficioso "Jornal de Angola" a lembrar-nos que o étimo latino ajuda a compreender o percurso de uma palavra.
Este acordo não serve, não presta, é preciso denunciá-lo, ou, no mínimo, revê-lo em profundidade. É preciso acabar com aberrações como a recessiva "receção" e o tauromáquico "espetador" e a lasciva "arquiteta". E com a fantasia de que as consoantes que abrem as vogais são mudas. E com a ideia de que a escrita é uma transcrição da fonética. (...)
[Pedro Mexia, in ATUAL]
Freixo-de-Espada-à-Cinta
Tarde plácida, o inverno fez as malas. Finalmente. As andorinhas andam num badanal, que os filhos estão uns borregos, de goela escancarada à janela dos beirais. Há que fazer pela vida, está à espera a segunda criação.
O burgo velho anda em obras, que as eleições estão aí. E reparte-se igualmente entre os sinais dos judeus e as marcas do Venturoso, que nunca se deram bem, como a história nos confirma. Isso mesmo parece acontecer entre o burgo do Freixo e os visitantes dele. Com excepção do largo da antiga sé, ali aos pés do morro do castelo, não há um metro quadrado de ruela que não seja cascalho e nuvens de poeirada. Logo que saia daqui, o panzer vai para a barrela.
Este solar dos pepinos, onde o visitante vai passar a noite, é uma construção de três andares. No rés-do-chão habita a estalajadeira, que mantém na cave uma padaria. Ela amassa o pão e põe-no a cozer, o marido ocupa-se da distribuição. Ultimamente o negócio perdeu metade do mercado, já ninguém sabe o que é que o povo come.
A estalagem, com sete quartos, ocupa o primeiro andar. E tudo nela parece improvisado, as escadas de tão estreitas, a fraca iluminação, os traiçoeiros degraus ali no corredor. O mais certo é que seja clandestina, parece à margem da lei. O quarto esconso é minúsculo, mal cabem nele as bagagens amontoadas no chão. Os lençóis dão-se por limpos, duas noites ficam por noventa euros.
A esplanada, no alpendre, é um tapete de poeiras que sobem da rua em obras, não há-de ser das farinhas que há na cave. Com a tarimba que ainda guardo das campanhas de além-mar, lavo uma mesa com toalhas do banheiro, instalo-me no jantarinho que trago na marmita.
À noite, a nave central da sé vai encher-se com as preces da novena de Maio. E uma lua cheia triunfante vagueará nas águas do estuário da Congida, no Douro Internacional. O povo seguirá no plasma da esplanada as gargalhadas obscenas do big brother vip. E talvez a musculagem me tolere amanhã a calçada de Alpajares.
Pela mão dum homem, Portugal esteve a um passo de deixar de ser aquilo que sempre foi, um logradouro improvisado e fatal. Agora tudo mudou, pela mão de dois ou três. E regrediu à fatalidade antiga.
O burgo velho anda em obras, que as eleições estão aí. E reparte-se igualmente entre os sinais dos judeus e as marcas do Venturoso, que nunca se deram bem, como a história nos confirma. Isso mesmo parece acontecer entre o burgo do Freixo e os visitantes dele. Com excepção do largo da antiga sé, ali aos pés do morro do castelo, não há um metro quadrado de ruela que não seja cascalho e nuvens de poeirada. Logo que saia daqui, o panzer vai para a barrela.
Este solar dos pepinos, onde o visitante vai passar a noite, é uma construção de três andares. No rés-do-chão habita a estalajadeira, que mantém na cave uma padaria. Ela amassa o pão e põe-no a cozer, o marido ocupa-se da distribuição. Ultimamente o negócio perdeu metade do mercado, já ninguém sabe o que é que o povo come.
A estalagem, com sete quartos, ocupa o primeiro andar. E tudo nela parece improvisado, as escadas de tão estreitas, a fraca iluminação, os traiçoeiros degraus ali no corredor. O mais certo é que seja clandestina, parece à margem da lei. O quarto esconso é minúsculo, mal cabem nele as bagagens amontoadas no chão. Os lençóis dão-se por limpos, duas noites ficam por noventa euros.
A esplanada, no alpendre, é um tapete de poeiras que sobem da rua em obras, não há-de ser das farinhas que há na cave. Com a tarimba que ainda guardo das campanhas de além-mar, lavo uma mesa com toalhas do banheiro, instalo-me no jantarinho que trago na marmita.
À noite, a nave central da sé vai encher-se com as preces da novena de Maio. E uma lua cheia triunfante vagueará nas águas do estuário da Congida, no Douro Internacional. O povo seguirá no plasma da esplanada as gargalhadas obscenas do big brother vip. E talvez a musculagem me tolere amanhã a calçada de Alpajares.
Pela mão dum homem, Portugal esteve a um passo de deixar de ser aquilo que sempre foi, um logradouro improvisado e fatal. Agora tudo mudou, pela mão de dois ou três. E regrediu à fatalidade antiga.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
O cavalo de Tróia - 2
Agrilhoado a uma história desgraçada imposta há séculos por elites parasitas e anti-patrióticas, Portugal chegou a Abril de 74 num estado comatoso. Em quinze anos, milhão e meio de portugueses fugiram a salto para matar a fome na Europa, outro milhão foi mobilizado para as guerras africanas. O analfabetismo era enorme, as condições de vida da maioria iam pouco além da sobrevivência, enquanto uma restrita camada tinha direitos de cidadania e as elites viviam à tripa forra.
Depois dum processo revolucionário atribulado, em que a sabedoria de uns poucos dirigentes soube evitar a guerra civil, Portugal alijou como pode a pesada mó imperial que trazia ao pescoço, e conseguiu integrar o desespero de cerca dum milhão de retornados de África. Acabou por aproximar-se da Europa e integrar-se na CEE, mais tarde UE, pela mão do Partido Socialista. Era o que havia a fazer.
E conheceu finalmente, nos últimos trinta anos, as benesses dum estado social que foi construindo aos poucos, apoiado no novo contexto. Na saúde, na educação pública, na segurança social, nas condições materiais de vida, Portugal acedeu finalmente a padrões civilizados.
Já aqui foi dito, por mais que uma vez, que o PPD tem sido o actor primeiro no palco da tragédia nacional, que não ocupa sozinho. Hoje volta-se a dizer, e não é por mania paranóica nem cegueira partidária. Oxalá fosse! O PPD representa na perfeição o que de mais negativo existe na idiossincrasia dos portugueses, nos seus atavismos e limitações. Sempre concentrou em si o que de mais manhoso existe na sociedade portuguesa.
Muito mais que o CDS, o PPD foi sempre o lídimo representante dos interesses da direita destronada em Abril, e das suas oligarquias decadentes. No seu conjunto, o PPD ainda hoje dormiria sossegado à sombra da bananeira fascista, se o poder lhe não tivesse caído no regaço.
A sua primeira contribuição para um Portugal democrático e moderno foi um D. Sebastião novo, tão irrelevante como o velho. Um pedante que ficou na história não pelo pouco que fez, mas pelo muito que havia de fazer, se não tivesse morrido tão cedo. Mas morreu num desastre fatal (ou um atentado?) exactamente quando apadrinhava a eleição presidencial dum general do calibre do Soares Carneiro! Fez do "regresso dos militares aos quartéis" o seu cavalo de batalha, como se aí residisse o cerne das encruzilhadas do país.
A segunda contribuição do PPD para a renovação da pátria foi o cavaquismo, (que ainda dura). O país nadava em fundos europeus. E durante dez anos capitais (86/95), em que era vital definir as linhas de orientação dum futuro novo, o que o inane Cavaco conseguiu foi liquidar a agricultura, foi acabar com as pescas, foi acabar com algum resto de indústria, foi trocar o que havia por fundos e betão.
Cavaco era um economista inculto, boçal primário, amanuense. Depois de York amesendou-se no Banco de Portugal, encaixou-se como professor de economia na novel Uninova, e criou à sua volta uma infindável geração de gestores, de ministros, de barões, tão famélicos e enfatuados como inúteis. Em 1989, com o novo regime da função pública, abriu caminho e deu origem remota ao "monstro" da dívida, que havia de vir. Desses tempos, nada sobrou de construtivo no campo da saúde, nem da segurança social, nem da educação (Couto dos Santos, Roberto Carneiro, Deus Pinheiro, Ferreira Leite...), nem da reforma do Estado, nem da justiça, nem na economia. Os dois governos de Cavaco foram a primeira década perdida. E o poder local "democrático", que foi sempre o maior esteio eleitoral do partido, iniciava a era eufórica das rotundas, dos pavilhões, dos complexos desportivos, das piscinas quentes e frias, e dos equipamentos que agora estão a fechar por insustentabilidade financeira.
A terceira contribuição do PPD para a modernização urgente do país foi a quadrilha de escroques do BPN, que empalidecem as vigarices do Alves dos Reis.
A quarta contribuição foi reciclar os serviços da trupe dos maoístas, com Durão Barroso e outros educadores da classe operária. Esse tal que também fez parte do curso à pala do PREC. A palavra de ordem dessa heteróclita gente resumia-se a boicotar qualquer espécie de ordem ou organização, era marchar contra a escola capitalista, era exigir passagens administrativas, era roubar mobiliário da faculdade de direito e levá-lo para a sede do MRPP, na avenida Álvares Cabral.
Mas o pior do PPD ainda estava para chegar. É esta borra do fundo da talha, este vinagre bíblico que nos toca beber. É este bando de facínoras que assaltaram Portugal e o esfacelam, com Cavaco ainda ao leme. Para chegarem ao poder, contaram com a cumplicidade e o sectarismo de múmias antigas, que sobrevivem nas desgraças do povo. O seu único programa para Portugal era o poder e a troika, à sombra da qual pôem em prática o que não seriam capazes de fazer sozinhos: desmantelar as relações de trabalho e a dignidade do povo, precarizar, fragilizar pelo medo, reduzir o Estado ao mínimo, essa última barricada dos mais frágeis, que em Portugal são a imensa maioria.
Enquanto estes marginais esperam receber umas migalhas, servem na perfeição as elites financeiras que manipulam o mundo, como Chomsky deixou dito. São o cavalo de Tróia, que nós, troianos, metemos na cidade.
Depois dum processo revolucionário atribulado, em que a sabedoria de uns poucos dirigentes soube evitar a guerra civil, Portugal alijou como pode a pesada mó imperial que trazia ao pescoço, e conseguiu integrar o desespero de cerca dum milhão de retornados de África. Acabou por aproximar-se da Europa e integrar-se na CEE, mais tarde UE, pela mão do Partido Socialista. Era o que havia a fazer.
E conheceu finalmente, nos últimos trinta anos, as benesses dum estado social que foi construindo aos poucos, apoiado no novo contexto. Na saúde, na educação pública, na segurança social, nas condições materiais de vida, Portugal acedeu finalmente a padrões civilizados.
Já aqui foi dito, por mais que uma vez, que o PPD tem sido o actor primeiro no palco da tragédia nacional, que não ocupa sozinho. Hoje volta-se a dizer, e não é por mania paranóica nem cegueira partidária. Oxalá fosse! O PPD representa na perfeição o que de mais negativo existe na idiossincrasia dos portugueses, nos seus atavismos e limitações. Sempre concentrou em si o que de mais manhoso existe na sociedade portuguesa.
Muito mais que o CDS, o PPD foi sempre o lídimo representante dos interesses da direita destronada em Abril, e das suas oligarquias decadentes. No seu conjunto, o PPD ainda hoje dormiria sossegado à sombra da bananeira fascista, se o poder lhe não tivesse caído no regaço.
A sua primeira contribuição para um Portugal democrático e moderno foi um D. Sebastião novo, tão irrelevante como o velho. Um pedante que ficou na história não pelo pouco que fez, mas pelo muito que havia de fazer, se não tivesse morrido tão cedo. Mas morreu num desastre fatal (ou um atentado?) exactamente quando apadrinhava a eleição presidencial dum general do calibre do Soares Carneiro! Fez do "regresso dos militares aos quartéis" o seu cavalo de batalha, como se aí residisse o cerne das encruzilhadas do país.
A segunda contribuição do PPD para a renovação da pátria foi o cavaquismo, (que ainda dura). O país nadava em fundos europeus. E durante dez anos capitais (86/95), em que era vital definir as linhas de orientação dum futuro novo, o que o inane Cavaco conseguiu foi liquidar a agricultura, foi acabar com as pescas, foi acabar com algum resto de indústria, foi trocar o que havia por fundos e betão.
Cavaco era um economista inculto, boçal primário, amanuense. Depois de York amesendou-se no Banco de Portugal, encaixou-se como professor de economia na novel Uninova, e criou à sua volta uma infindável geração de gestores, de ministros, de barões, tão famélicos e enfatuados como inúteis. Em 1989, com o novo regime da função pública, abriu caminho e deu origem remota ao "monstro" da dívida, que havia de vir. Desses tempos, nada sobrou de construtivo no campo da saúde, nem da segurança social, nem da educação (Couto dos Santos, Roberto Carneiro, Deus Pinheiro, Ferreira Leite...), nem da reforma do Estado, nem da justiça, nem na economia. Os dois governos de Cavaco foram a primeira década perdida. E o poder local "democrático", que foi sempre o maior esteio eleitoral do partido, iniciava a era eufórica das rotundas, dos pavilhões, dos complexos desportivos, das piscinas quentes e frias, e dos equipamentos que agora estão a fechar por insustentabilidade financeira.
A terceira contribuição do PPD para a modernização urgente do país foi a quadrilha de escroques do BPN, que empalidecem as vigarices do Alves dos Reis.
A quarta contribuição foi reciclar os serviços da trupe dos maoístas, com Durão Barroso e outros educadores da classe operária. Esse tal que também fez parte do curso à pala do PREC. A palavra de ordem dessa heteróclita gente resumia-se a boicotar qualquer espécie de ordem ou organização, era marchar contra a escola capitalista, era exigir passagens administrativas, era roubar mobiliário da faculdade de direito e levá-lo para a sede do MRPP, na avenida Álvares Cabral.
Mas o pior do PPD ainda estava para chegar. É esta borra do fundo da talha, este vinagre bíblico que nos toca beber. É este bando de facínoras que assaltaram Portugal e o esfacelam, com Cavaco ainda ao leme. Para chegarem ao poder, contaram com a cumplicidade e o sectarismo de múmias antigas, que sobrevivem nas desgraças do povo. O seu único programa para Portugal era o poder e a troika, à sombra da qual pôem em prática o que não seriam capazes de fazer sozinhos: desmantelar as relações de trabalho e a dignidade do povo, precarizar, fragilizar pelo medo, reduzir o Estado ao mínimo, essa última barricada dos mais frágeis, que em Portugal são a imensa maioria.
Enquanto estes marginais esperam receber umas migalhas, servem na perfeição as elites financeiras que manipulam o mundo, como Chomsky deixou dito. São o cavalo de Tróia, que nós, troianos, metemos na cidade.
Pedantes, presunçosos, parvalhões
Tinha-o ali em VHS antigo. Há dias, ao serão, meti-o ao leitor, que rapidamente se pôs a mastigar a fita. E fui à procura dele em DVD.
O filme de James Ivory - Room with a view* - é uma pérola que anda por aí. Relata uma viagem turística dum grupo heteróclito de ingleses a Itália, no princípio do século passado. E vive sobretudo dos contrastes entre uma certa hipocrisia anglo-saxónica e o paganismo solar latino. Entre a voz das conveniências sociais e a voz da natureza, na terra onde florescem os limões.
As contradições de classe entre liberais e tradicionalistas também lá estão. Embora secundárias, deixam efeitos fatais. É a vida!
[Tradução portuguesa - Quarto com vista sobre a cidade]
O filme de James Ivory - Room with a view* - é uma pérola que anda por aí. Relata uma viagem turística dum grupo heteróclito de ingleses a Itália, no princípio do século passado. E vive sobretudo dos contrastes entre uma certa hipocrisia anglo-saxónica e o paganismo solar latino. Entre a voz das conveniências sociais e a voz da natureza, na terra onde florescem os limões.
As contradições de classe entre liberais e tradicionalistas também lá estão. Embora secundárias, deixam efeitos fatais. É a vida!
[Tradução portuguesa - Quarto com vista sobre a cidade]
Marginais
Nas mãos de oligarquias decadentes e corruptas, Portugal foi, em séculos, um feudo. E os portugueses um bando tresmalhado, timorato e menor.
Nos últimos trinta anos esteve em vias de deixar de o ser, por acção dum homem.
Mas agora volta a sê-lo, pela mão de dois ou três.
Nos últimos trinta anos esteve em vias de deixar de o ser, por acção dum homem.
Mas agora volta a sê-lo, pela mão de dois ou três.
terça-feira, 28 de maio de 2013
Um do Herberto
Mais do que consagrado, Herberto Helder é um poeta de culto, diz-se que é um bom poeta. E sê-lo-á. Mas a instância derradeira é cada um dos seus leitores.
O poeta escreve os seus poemas, publica-os em três mil exemplares e recolhe-se.
Eu aplaudo. Por assim haver gente com juízo, que não confunde o mundo com o umbigo. Nem se deixa embalar por laironas de feira.
as manhãs começam logo com a morte das mães,
ainda oito dias antes lavavam os cabelos em alfazema cozida,
ainda oito anos depois os cabelos irrepetíveis,
todas as luzes da terra abertas em cima delas,
e então a gente enche a banheira com água fria até ao pescoço,
e tudo brilha na mesma,
brilha cegamente
Servidões, Herberto Helder,
O poeta escreve os seus poemas, publica-os em três mil exemplares e recolhe-se.
Eu aplaudo. Por assim haver gente com juízo, que não confunde o mundo com o umbigo. Nem se deixa embalar por laironas de feira.
as manhãs começam logo com a morte das mães,
ainda oito dias antes lavavam os cabelos em alfazema cozida,
ainda oito anos depois os cabelos irrepetíveis,
todas as luzes da terra abertas em cima delas,
e então a gente enche a banheira com água fria até ao pescoço,
e tudo brilha na mesma,
brilha cegamente
Servidões, Herberto Helder,
A Vénus do rio Gabriel
Nesse tempo viviam em Angola cinquenta portugueses. Nada como hoje, que são trezentos mil. E o rio Gabriel era um leito de areias a descer do planalto, à procura do mar: um promontório ao longe, uma enseada amena, uma praia circular ao fundo da falésia, que mergulhava a pique.
Varadas à beira de água meia dúzia de pirogas, em que os mainatos do Mário Cambuta arrancavam aos fundos cardumes de lagostas. Serviam-nas grelhadas à hora do almoço, à sombra duns tabiques de folhas de palmeira.
Quando acabava a jornada de trabalho, eu descia sem demora o areão do rio a cavalo no Toyota e só parava na foz. Estendia-me em pelota numas rochas, olhava o promontório escuro ao longe e lia. E foi assim que li os oito mil oitocentos e dezasseis versos d'Os Lusíadas, e pela mão do Virgílio corri os círculos todos da Divina Comédia.
Aconteciam às vezes chuvadas diluvianas, e o rio Gabriel era vê-lo a correr. Arrastava encosta abaixo toneladas de areia que despejava no mar. Depois vinha a maré, lambia a praia, aplanava aquilo tudo. O chão era movediço e um dia o milagre aconteceu: ao chegar à foz do rio, dei com o vulto duma Vénus de pedra estendida no areal. Era só um torso dela, mas o que não se via não fazia falta. Um ombro reclinado, um ventre misterioso, o flanco duma anca, duas coxas apartadas, o talvegue dum abismo, e dois joelhos que a areia já escondia. A maré deixara a descoberto aquela aparição.
Semanas e semanas voltei eu, à procura da Vénus, no final do dia. Mas a maré avara nunca mais ma desvendou.
Varadas à beira de água meia dúzia de pirogas, em que os mainatos do Mário Cambuta arrancavam aos fundos cardumes de lagostas. Serviam-nas grelhadas à hora do almoço, à sombra duns tabiques de folhas de palmeira.
Quando acabava a jornada de trabalho, eu descia sem demora o areão do rio a cavalo no Toyota e só parava na foz. Estendia-me em pelota numas rochas, olhava o promontório escuro ao longe e lia. E foi assim que li os oito mil oitocentos e dezasseis versos d'Os Lusíadas, e pela mão do Virgílio corri os círculos todos da Divina Comédia.
Aconteciam às vezes chuvadas diluvianas, e o rio Gabriel era vê-lo a correr. Arrastava encosta abaixo toneladas de areia que despejava no mar. Depois vinha a maré, lambia a praia, aplanava aquilo tudo. O chão era movediço e um dia o milagre aconteceu: ao chegar à foz do rio, dei com o vulto duma Vénus de pedra estendida no areal. Era só um torso dela, mas o que não se via não fazia falta. Um ombro reclinado, um ventre misterioso, o flanco duma anca, duas coxas apartadas, o talvegue dum abismo, e dois joelhos que a areia já escondia. A maré deixara a descoberto aquela aparição.
Semanas e semanas voltei eu, à procura da Vénus, no final do dia. Mas a maré avara nunca mais ma desvendou.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
sexta-feira, 24 de maio de 2013
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Ó senhores da televisão!
Parem de nos anestesiar, e de fazer dinheiro, com essa marmelada dos escândalos de pedofilia da padralhada!
Já conhecemos a dimensão e a antiguidade do fariseísmo papista!
Ajudem-nos mas é a exigir ao Vaticano o fim do celibato dos padres, esse anacronismo medievo!
Ajudem-nos a fazer dos padres homens, e a salvá-los! Ou então calem-se!
Já conhecemos a dimensão e a antiguidade do fariseísmo papista!
Ajudem-nos mas é a exigir ao Vaticano o fim do celibato dos padres, esse anacronismo medievo!
Ajudem-nos a fazer dos padres homens, e a salvá-los! Ou então calem-se!
Mala-sorte foi não haver Toyotas
Na savana da Quissama, as perdizes desciam à estrada para arredondarem o papo com as sementes do capim debruçado no asfalto. Quando o Toyota aparecia a roncar à distância, interrompiam o festim e punham-se ao fresco a pedalar em frente. A estrada era estreita, não podiam descolar no sentido transversal.
Um dia nós descobrimos que a cento e vinte quilómetros o jipe era mais rápido que as perdizes. Por mais que dessem às asas, acabavam espalmadas na grelha do nariz. Para nós eram simples vítimas das leis da aerodinâmica. E assim passámos a ter o pitéu à distância dum golpe de acelerador. Até que as perdizes associaram a sorte das primas mortas ao focinho dum Toyota, e deixaram de aparecer.
Para os escravos das vastidões do Cuanza, a mala-sorte foi não haver Toyotas há quinhentos anos. Também não conheciam as leis da aerodinâmica, nem puderam aprender esta lição das faunas da Quissama. Por isso mesmo acabavam agrilhoados em récuas de prisioneiros, a trotar em direcção ao mar, a atravessar oceanos, espalmados no convés dum negreiro qualquer.
Um dia nós descobrimos que a cento e vinte quilómetros o jipe era mais rápido que as perdizes. Por mais que dessem às asas, acabavam espalmadas na grelha do nariz. Para nós eram simples vítimas das leis da aerodinâmica. E assim passámos a ter o pitéu à distância dum golpe de acelerador. Até que as perdizes associaram a sorte das primas mortas ao focinho dum Toyota, e deixaram de aparecer.
Para os escravos das vastidões do Cuanza, a mala-sorte foi não haver Toyotas há quinhentos anos. Também não conheciam as leis da aerodinâmica, nem puderam aprender esta lição das faunas da Quissama. Por isso mesmo acabavam agrilhoados em récuas de prisioneiros, a trotar em direcção ao mar, a atravessar oceanos, espalmados no convés dum negreiro qualquer.
Mau Maria!
Bolsa de Tóquio cai 7%. Surpresas na economia chinesa?! Ventanias passageiras?! Mau Maria!
quarta-feira, 22 de maio de 2013
O cavalo de Tróia - 1
[Nota Prévia - Noam Chomsky: Em 2005, o Citygroup concebeu um folheto destinado aos investidores e intitulado "Plutonomia: Comprar Artigos de Luxo e Explicar os Desequilíbrios Globais". O folheto incitava os investidores a aplicarem o seu dinheiro num "índice de plutonomia". Lê-se no comunicado: "O mundo divide-se em dois blocos: a plutonomia e os restantes".
A plutonomia é dirigida aos ricos, àqueles que compram artigos de luxo, entre outros bens, e é esse o centro de toda a actividade. O banco anunciava que o seu índice de plutonomia ultrapassava consideravelmente o mercado bolsista, por isso era nele que as pessoas deviam investir. Quanto aos restantes, que se desenrascassem. Não precisam deles. Têm de os ter por perto para sustentar um estado poderoso, que proteja e que resgate os ricos quando estiverem em apuros, mas para além disso os restantes não têm qualquer utilidade. Hoje em dia, há quem diga que são o "precariado" - pessoas que têm uma existência precária na periferia da sociedade. E já não é só na periferia. Estão a tornar-se uma parte substancial da sociedade dos EUA, e na verdade de outros países. E parece que os mais endinheirados não vêem mal nisso.]
Para entender a grande armadilha em que a pátria está metida, é preciso abordá-la em dois planos: o geral e o particular, o alheio e o próprio, o internacional e o interno. Comecemos pelo primeiro:
Na década de 70, tornou-se clara ao mundo capitalista a queda inevitável do império de Moscovo. Durante o vietname soviético do Afeganistão, a América deu a Moscovo o golpe de misericórdia, com o repto económico e tecnológico da guerra das estrelas. Breznev não teve resposta para ele. Na década de 80, Reagan, Thatcher e o papa acabaram o trabalho e Moscovo implodiu.
Uma vez derrubado o muro de Berlim, as elites do mundo capitalista ficaram sem obstáculo. E sabiam muito bem que, nos 40 anos da guerra fria, tinham sido forçadas a fazer cedências aos trabalhadores e aos povos, para os preservar de aleivosias "revolucionárias". O estado social europeu nasceu daí. Chegara a altura de recuperar o perdido.
Na década de 90, o mundo capitalista com a América à cabeça (a política, a financeira, a industrial, a empresarial das grandes corporações) entrou de cabeça na globalização, aproveitando a onda das novas tecnologias. Mais do que o objectivo de fabricar produtos para o mercado, as empresas sacrificaram a economia à especulação e à finança, e passaram a gerar "dividendos para o accionista". Da desregulamentação da finança em roda livre passou-se à desindustrialização. A produção industrial "clássica" deixou de dar dividendos compensadores, e a deslocalização impôs-se como alavanca poderosíssima. Uma empresa deslocalizada para o Oriente duplicava em 3 meses o seu valor bolsista. Isto ao mesmo tempo que passava a dispor de trabalho escravo ao preço da chuva, e partia os dentes ao operariado que no Ocidente fazia mover as fábricas. Em três tempos a América destruiu a sua indústria automóvel (hoje em parte reconstruída por Obama), transformando Detroit num logradouro de ruínas. Reagan proletarizou todo o pessoal de voo, e Thatcher fechou as indústrias do carvão e destruiu os sindicatos ingleses.
As elites europeias cavalgaram a onda, não sendo esta a primeira vez que traíram os seus povos, como nos mostram a história e a vida.
Mas era preciso dar um passo em frente e pôr no terreno os mecanismos que conduziriam à maior transferência de riqueza a que o mundo já assistiu. George W. Bush perdeu numericamente as eleições em 2001. Mas foi entronizado presidente, porque era ele a peça que faltava às elites americanas. Bêbado e incapaz, era um bom pau-mandado. E fez muito bem o seu papel.
Ninguém no seu juízo acredita que as Torres Gémeas caíram, no 11 de Setembro, por acção dum Bin Laden qualquer. Porque é tecnicamente impossível acreditar nos relatórios e explicações que a América mostrou. Mas o golpe funcionou na perfeição: instalou a psicose do grande terror, abriu caminho ao Patriot Act e aos atentados contra essa coisa da lei e da democracia, e forneceu o pretexto para a guerra no Afeganistão e no Iraque, colocada nas mãos do Presidente. O complexo militar-industrial livrou-se de stocks indesejáveis, renovou armamentos, fez negócios fabulosos. O Saddam não tinha, afinal, armas de destruição em massa. E os iraquianos apanharam com munições de urânio empobrecido, e com bombas de 10 toneladas em ambiente urbano. Mas a quem é que isso interessa?!
A indústria da desinformação e da comunicação social dourou a pílula, como é da sua função. A América embarcou, as elites dirigentes europeias esfregaram as mãos, a City e Wall Street, o Goldman Sachs e o Citygroup alargaram apetites e negócios.
Tanto alargaram negócios e apetites que em 2007 o Lehman Brothers faliu, com a história do sub-prime. As dívidas privada, empresarial e pública tinham crescido um pouco por todo o lado. Em 2009/10/11, a matilha das agências de rating explorou fragilidades, baixou ratings, reduziu empresas e países e economias a lixo. Nenhuma delas previu as falências na América, mas todas puseram a Europa a ferro e fogo, ao serviço da ideologia, a coberto dos mercados. Mas já estava prevista uma saída, a chamada "austeridade". A responsabilidade era dos povos, que andavam a "viver acima das suas possibilidades", gerando o monstro da dívida. Por isso foram os contribuintes chamados a pagar a salvação dos bancos, para não falirem os estados. Caiu a Grécia, a Irlanda claudicou. Em Portugal foi o que já se viu.
Como sempre, a elite da América comandou este barco-pirata. E as múltiplas elites da Europa tomaram lugar a bordo. Ainda hoje lá estão, em alegre viagem. A arruinar os povos da Europa, se o tempo lhes der para isso.
(Segue!)
[Nesta avançada neoliberal que a América comandou, o crime foi tão longe, e foi tão descarado, que em certo momento foi imperioso limpar a face da América, elegendo o negro Obama para a Presidência. E o próprio partido republicano chegou a ter um presidente negro. Há jogadas arriscadas, que são inevitáveis. E já se viu que compensam, tendo em vista que Obama não conseguiu pôr em causa nada de essencial.]
A plutonomia é dirigida aos ricos, àqueles que compram artigos de luxo, entre outros bens, e é esse o centro de toda a actividade. O banco anunciava que o seu índice de plutonomia ultrapassava consideravelmente o mercado bolsista, por isso era nele que as pessoas deviam investir. Quanto aos restantes, que se desenrascassem. Não precisam deles. Têm de os ter por perto para sustentar um estado poderoso, que proteja e que resgate os ricos quando estiverem em apuros, mas para além disso os restantes não têm qualquer utilidade. Hoje em dia, há quem diga que são o "precariado" - pessoas que têm uma existência precária na periferia da sociedade. E já não é só na periferia. Estão a tornar-se uma parte substancial da sociedade dos EUA, e na verdade de outros países. E parece que os mais endinheirados não vêem mal nisso.]
Para entender a grande armadilha em que a pátria está metida, é preciso abordá-la em dois planos: o geral e o particular, o alheio e o próprio, o internacional e o interno. Comecemos pelo primeiro:
Na década de 70, tornou-se clara ao mundo capitalista a queda inevitável do império de Moscovo. Durante o vietname soviético do Afeganistão, a América deu a Moscovo o golpe de misericórdia, com o repto económico e tecnológico da guerra das estrelas. Breznev não teve resposta para ele. Na década de 80, Reagan, Thatcher e o papa acabaram o trabalho e Moscovo implodiu.
Uma vez derrubado o muro de Berlim, as elites do mundo capitalista ficaram sem obstáculo. E sabiam muito bem que, nos 40 anos da guerra fria, tinham sido forçadas a fazer cedências aos trabalhadores e aos povos, para os preservar de aleivosias "revolucionárias". O estado social europeu nasceu daí. Chegara a altura de recuperar o perdido.
Na década de 90, o mundo capitalista com a América à cabeça (a política, a financeira, a industrial, a empresarial das grandes corporações) entrou de cabeça na globalização, aproveitando a onda das novas tecnologias. Mais do que o objectivo de fabricar produtos para o mercado, as empresas sacrificaram a economia à especulação e à finança, e passaram a gerar "dividendos para o accionista". Da desregulamentação da finança em roda livre passou-se à desindustrialização. A produção industrial "clássica" deixou de dar dividendos compensadores, e a deslocalização impôs-se como alavanca poderosíssima. Uma empresa deslocalizada para o Oriente duplicava em 3 meses o seu valor bolsista. Isto ao mesmo tempo que passava a dispor de trabalho escravo ao preço da chuva, e partia os dentes ao operariado que no Ocidente fazia mover as fábricas. Em três tempos a América destruiu a sua indústria automóvel (hoje em parte reconstruída por Obama), transformando Detroit num logradouro de ruínas. Reagan proletarizou todo o pessoal de voo, e Thatcher fechou as indústrias do carvão e destruiu os sindicatos ingleses.
As elites europeias cavalgaram a onda, não sendo esta a primeira vez que traíram os seus povos, como nos mostram a história e a vida.
Mas era preciso dar um passo em frente e pôr no terreno os mecanismos que conduziriam à maior transferência de riqueza a que o mundo já assistiu. George W. Bush perdeu numericamente as eleições em 2001. Mas foi entronizado presidente, porque era ele a peça que faltava às elites americanas. Bêbado e incapaz, era um bom pau-mandado. E fez muito bem o seu papel.
Ninguém no seu juízo acredita que as Torres Gémeas caíram, no 11 de Setembro, por acção dum Bin Laden qualquer. Porque é tecnicamente impossível acreditar nos relatórios e explicações que a América mostrou. Mas o golpe funcionou na perfeição: instalou a psicose do grande terror, abriu caminho ao Patriot Act e aos atentados contra essa coisa da lei e da democracia, e forneceu o pretexto para a guerra no Afeganistão e no Iraque, colocada nas mãos do Presidente. O complexo militar-industrial livrou-se de stocks indesejáveis, renovou armamentos, fez negócios fabulosos. O Saddam não tinha, afinal, armas de destruição em massa. E os iraquianos apanharam com munições de urânio empobrecido, e com bombas de 10 toneladas em ambiente urbano. Mas a quem é que isso interessa?!
A indústria da desinformação e da comunicação social dourou a pílula, como é da sua função. A América embarcou, as elites dirigentes europeias esfregaram as mãos, a City e Wall Street, o Goldman Sachs e o Citygroup alargaram apetites e negócios.
Tanto alargaram negócios e apetites que em 2007 o Lehman Brothers faliu, com a história do sub-prime. As dívidas privada, empresarial e pública tinham crescido um pouco por todo o lado. Em 2009/10/11, a matilha das agências de rating explorou fragilidades, baixou ratings, reduziu empresas e países e economias a lixo. Nenhuma delas previu as falências na América, mas todas puseram a Europa a ferro e fogo, ao serviço da ideologia, a coberto dos mercados. Mas já estava prevista uma saída, a chamada "austeridade". A responsabilidade era dos povos, que andavam a "viver acima das suas possibilidades", gerando o monstro da dívida. Por isso foram os contribuintes chamados a pagar a salvação dos bancos, para não falirem os estados. Caiu a Grécia, a Irlanda claudicou. Em Portugal foi o que já se viu.
Como sempre, a elite da América comandou este barco-pirata. E as múltiplas elites da Europa tomaram lugar a bordo. Ainda hoje lá estão, em alegre viagem. A arruinar os povos da Europa, se o tempo lhes der para isso.
(Segue!)
[Nesta avançada neoliberal que a América comandou, o crime foi tão longe, e foi tão descarado, que em certo momento foi imperioso limpar a face da América, elegendo o negro Obama para a Presidência. E o próprio partido republicano chegou a ter um presidente negro. Há jogadas arriscadas, que são inevitáveis. E já se viu que compensam, tendo em vista que Obama não conseguiu pôr em causa nada de essencial.]
A tragédia anunciada
« (...) A austeridade, tal como a estamos a viver, com troika, memorando e tudo, foi uma bomba lançada irresponsavelmente sobre o país, por pequeno ganho político e enorme dano humano. (...)
(...) Que disse ele (Lobo Xavier)? Que as chefias da União Europeia naquele início de 2011, estavam apostadas em evitar o envio da troika para Portugal, e que foi sobretudo a pressa de Pedro Passos Coelho em chegar ao poder, em condições de implementar um programa ideológico impossível de levar a cabo em circunstâncias normais, que forçou a abertura da crise política com a correspondente chegada da troika. (...)
(...) Se há alguma desculpa para a irresponsabilidade de P.P. Coelho é que ele acreditava nela. Uma parte da direita, ainda que hoje abandone o barco, sempre acreditou que Portugal precisava de uma suspensão da democracia para endireitar as contas.
Já mais difícil de entender - e perdoar - é a atitude da esquerda. Não era possível ignorar o inferno a que já tinham sido submetidos os gregos e os irlandeses, nem negar que era necessário evitar o desembarque do FMI a todo o custo. (...)»
[Rui Tavares, in PÚBLICO]
Adenda: Falta aqui, ao menos em efígie, o chefe maior do bando: Cavaco Silva!
(...) Que disse ele (Lobo Xavier)? Que as chefias da União Europeia naquele início de 2011, estavam apostadas em evitar o envio da troika para Portugal, e que foi sobretudo a pressa de Pedro Passos Coelho em chegar ao poder, em condições de implementar um programa ideológico impossível de levar a cabo em circunstâncias normais, que forçou a abertura da crise política com a correspondente chegada da troika. (...)
(...) Se há alguma desculpa para a irresponsabilidade de P.P. Coelho é que ele acreditava nela. Uma parte da direita, ainda que hoje abandone o barco, sempre acreditou que Portugal precisava de uma suspensão da democracia para endireitar as contas.
Já mais difícil de entender - e perdoar - é a atitude da esquerda. Não era possível ignorar o inferno a que já tinham sido submetidos os gregos e os irlandeses, nem negar que era necessário evitar o desembarque do FMI a todo o custo. (...)»
[Rui Tavares, in PÚBLICO]
Adenda: Falta aqui, ao menos em efígie, o chefe maior do bando: Cavaco Silva!
Desta secreta inveja que eu tenho dos poetas, e dos filósofos da ataraxia*
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Odes, Ricardo Reis
[* sossego do espírito]
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Odes, Ricardo Reis
[* sossego do espírito]
À porta do comité central
«Nenhum inimigo é pior do que um mau conselho.»
(Sófocles, 500 anos antes de Cristo)
(Sófocles, 500 anos antes de Cristo)
terça-feira, 21 de maio de 2013
Excerto pilhado
[Dum comentário aqui]
«José Sócrates, não sendo própriamente de Esquerda, nem tendo o tal “pensamento ideológicamente estruturado” – falsamente tido por indispensável à acção, nas academias serôdias do esquerdismo nacional – em que basear a sua generosidade e enorme convicção, conseguiu fazer avançar mais este País, no sentido do Progresso económico e social nos seis anos em que nos governou, do que nos dez anos do cavaquismo e nos mesmos seis do guterrismo JUNTOS!
«José Sócrates, não sendo própriamente de Esquerda, nem tendo o tal “pensamento ideológicamente estruturado” – falsamente tido por indispensável à acção, nas academias serôdias do esquerdismo nacional – em que basear a sua generosidade e enorme convicção, conseguiu fazer avançar mais este País, no sentido do Progresso económico e social nos seis anos em que nos governou, do que nos dez anos do cavaquismo e nos mesmos seis do guterrismo JUNTOS!
O tempo dos Governos de José Sócrates, tirando a Festa abrilista e a aventura gonçalvista – que apesar de tudo foram necessárias para repor Portugal no caminho do Futuro! -, foi o único período pós-Abril comparável aos primeiros e gloriosos anos da República, em que a Direita andou sempre a ranger os dentes e a roer as unhas e foi por isso, E SÓ POR ISSO, que assestou contra ele todas as suas baterias até o derrubar e, quase, liquidar!
O facto de as supostas élites da Esquerda não só não terem percebido esta evidência histórica – fazia-lhe muita confusão o facto de José Sócrates não ser “baptizado”… -, como sobretudo terem-se aproveitado da barragem de propaganda e contra-informação anti-Sócrates em proveito da sua narrativa “revolucionária”, “progressista”, ou “libertária”, e com intuitos oportunistas e eleitoralistas, é simplesmente IMPERDOÁVEL!
O Povo inculto tem desculpa. Os supostos intelectuais não têm perdão e vão levar para a tumba essa CULPA monstruosa e a responsabilidade pela criação do MOSTRENGO que é o Portugal atual – e que só tende a piorar na próximos cinco ou dez anos!»
Tu, que já te esqueceste, ou tens naturais dúvidas
Vê-me só isto! A forma inacreditável, obscena, como estes aventureiros abrem as nalgas aos Relvas, aos Gaspares, aos Coelhos, à puta que os pariu!
O lícito e o justo
É legal fazer greve no primeiro dia dos exames?! - É legal!
É lícito fazer greve no primeiro dia dos exames?! - É lícito!
É patriótico fazer greve no primeiro dia dos exames?! - É duvidoso que o seja!
É justo fazer greve no primeiro dia dos exames?! - Não é justo! Nem pouco mais ou menos!
O Nogueira, esse mesmo do comité central, já em tempos usou os professores como aríete, para assaltar o seu palácio de inverno, que era a ministra sinistra. Foram eles a cabeça do carneiro que bateu contra a muralha. Deixou-os esfacelados.
Agora prepara-se para usar dezenas de milhares de adolescentes do ensino secundário, no primeiro dia dos exames. Quem fica a ganhar com isto são os Relvas deste mundo paranóico, os que apostam na degradação da escola, na perturbação das famílias, na perplexidade dos jovens a quem não faltam razões de desalento.
Deste modo o Nogueira vitima os alunos, as famílias, as escolas. Finge que combate aquilo mesmo em que aposta. E garante ao comité central um nicho de mercado.
É lícito fazer greve no primeiro dia dos exames?! - É lícito!
É patriótico fazer greve no primeiro dia dos exames?! - É duvidoso que o seja!
É justo fazer greve no primeiro dia dos exames?! - Não é justo! Nem pouco mais ou menos!
O Nogueira, esse mesmo do comité central, já em tempos usou os professores como aríete, para assaltar o seu palácio de inverno, que era a ministra sinistra. Foram eles a cabeça do carneiro que bateu contra a muralha. Deixou-os esfacelados.
Agora prepara-se para usar dezenas de milhares de adolescentes do ensino secundário, no primeiro dia dos exames. Quem fica a ganhar com isto são os Relvas deste mundo paranóico, os que apostam na degradação da escola, na perturbação das famílias, na perplexidade dos jovens a quem não faltam razões de desalento.
Deste modo o Nogueira vitima os alunos, as famílias, as escolas. Finge que combate aquilo mesmo em que aposta. E garante ao comité central um nicho de mercado.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
O espião alienígena e a Vénus de Milo
Já é conhecida a 3ª parte (a última) do Relatório galáctico. Podes consultá-lo aqui.
O avô João
[Ao meu amigo Caldeira, em Riba-Côa]
O avô João foi moleiro anos e anos, antes de ser hortelão e se resumir à horta à beira da ribeira. Trabalhava num moinho ali à Barca, e uma vez fui lá com ele. Dum lado punha a rodar a mó alveira, que o rodízio empurrava, a espadanar quando ele abria a levada. Do outro tinha hospedado um grande macho eguariço, que passava o tempo a ruminar uns fenos. Era um bicho escuro, de respeito. E fez-me cara de poucos amigos, quando me viu especado a olhar para ele.
Mas as águas no açude eram escassas, vinha o Verão e a mó alveira não fazia mais farinha. O macho ruço não gostava de jejuns nem dispensava o feno. E o avô João deixou de ser moleiro. A contribuição é que não desapareceu, lá vinha todos os anos. Bem reclamou ele nas finanças:
- Há um ror de tempo que deixei de ser moleiro...
- Enquanto o moinho se conservar de pé! - explicou-lhe o burocrata.
Assim o avô João voltou a casa, entendeu-se com a mulher, pediu a ajuda dos genros. Esqueceu-se de labutas antigas, meteu uns ferros às pedras, no final da manhã só restava a mó alveira, que levaram para o quintal da dona Lia. Era o mundo a fazer pouco dum homem, custou-lhe os olhos da cara. Mas lá voltou às finanças.
- Agora sim, não há mais contribuição! - E o burocrata passou um traço vermelho numa folha dum livralhão que lá tinha.
Mas a horta também precisava de água. E mais no Verão, que aquilo é uma sequia em Riba-Côa, quando a ribeira lhe falta.
- Ele um poço...
O avô João pôs-se a matutar no caso e encontrou-lhe uma saída. Era pôr-se a caminho da Argentina e aforrar algum dinheiro. Não andara já por lá o Zé Maria, o Tónio, o Zé barbeiro... E lá foi um grupo deles, pela Estremadura abaixo, passaram por Moralejo, Villafranca de los Barros, Jerez de los Caballeros, Aracena, numa barcaça atravessaram um rio, logo arribaram a Cádiz. Eram um grupo de animais amontoados no convés dum vapor, que se pôs a fumegar pelo mar afora. Foi a rijeza do corpo que os salvou.
Dois anos passou o avô João montado num cavalo, a apartar gado numa quinta que não conhecia começo nem fim. E um dia disfarçou um saquito com dinheiro pespontado nas bragas e voltou. Logo se pôs a construir o poço na horta da ribeira. Ia montar-lhe uma nora a andar à roda, água é que não havia de faltar.
Andavam eles a empedrar o poço, de noite veio o diabo, alguma bruxa invejosa, quem vai agora saber. Ou foi Deus, sabe-se lá! O poço desmoronou-se, assapou, desapareceu.
O avô João já conhecia o caminho. Voltou a Cádiz, voltou ao mesmo convés dum vapor enferrujado, voltou à quinta que não tinha fim. Voltou a andar a cavalo, voltou a apartar o gado. Voltou a disfarçar um saquitel com dinheiro pespontado nas bragas, e voltou a abrir o poço. Empedrou-o a preceito, ainda hoje lá está. Foi a rijeza da alma do avô João que o salvou.
sábado, 18 de maio de 2013
Agora que até a bússola perdeu o norte
Estes filhos de puta já o assumem claramente: os marginais que assaltaram o poder são pessoal e directamente responsáveis pela vinda da troika e o seu circo de horrores.
Paz à sua alma, a deles mais a dela. Que a nossa havemos de ver.
Paz à sua alma, a deles mais a dela. Que a nossa havemos de ver.
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Dos tímpanos delicados
Dizem que por cá se abusa do vernáculo. Alguém chega a lamentar. Aclaremos então.
Cá em casa não se pintam aguarelas. Diz a cara com a careta. Joga a mocha com a cornuda. Cada boi tem o seu nome, casando as realidades com a retórica delas. Aqui não se vendem bulas, nem se acredita em jaculatórias pias.
Em tempos que são de guerra não se limpam armamentos. Mesmo os de baixo calibre.
Cá em casa não se pintam aguarelas. Diz a cara com a careta. Joga a mocha com a cornuda. Cada boi tem o seu nome, casando as realidades com a retórica delas. Aqui não se vendem bulas, nem se acredita em jaculatórias pias.
Em tempos que são de guerra não se limpam armamentos. Mesmo os de baixo calibre.
As "perversões" deles
Esta aqui é apenas uma delas. E é daqueles casos claros em que mandá-los foder não é bastante.
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Ouve cá, ó tuga!
Foi o teu voto que fez, e voltou a fazer disto, o timoneiro supremo da pátria?! Então vai bardamerda e aguenta!
terça-feira, 14 de maio de 2013
Cristalinidades
De um lado da alameda havia um Karl Marx, uma cabeça de pedra em cima dum pedestal, a ladrar aos proletários uma antiga advertência que ainda não perdeu a validade. Do outro uma igreja gótica, de tijoleiras de barro, que era mais um monumento do que um templo. Lá dentro não tinha santos, nem pelicanos dourados, nem anjos de cu ao léu. Era uma nudez despida.
A princípio estranhei-lhe o despimento, mais tarde ganhei-lhe o gosto. E à sexta-feira, quando a noite se instalava e as neblinas dilatavam a avenida, quem me queria ver era na Marienkirche.
Havia bancos corridos voltados para a coxia, e um pastor ao fundo deles. E uma mulher, bem bonita, que o acompanhava sempre. O pastor sentava-se num banco e lia textos dum livro para a pequena assembleia. E cada palavra dele era um cristal, que lhe fluía dos lábios e retinia no ouvido. Mais do que a substância das palavras, via-se que o homem cultivava nelas uma música escondida. Mais que o sangue que por elas transitava, perseguia sobretudo a carne delas.
Eu acompanhava aquilo em estado de encantamento. E levei um ror de tempo a perceber porquê. É por isso que hoje fico assim um cão, a ladrar às canelas desses bárbaros. Que se dizem literatos, e se fartam de escrever romances, como quem descarrega numa escarpa as escombreiras da mina. Das palavras reconhecem o volume, com quantas se enche uma página, qual o dividendo delas. Mas despedaçam-lhes a cristalinidade.
Traidores. Que não são de hoje.
Nenhuma luz se acende, sem algum tempo e um pouco de paciência. Em 10 minutos, ouve e lê isto.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Exercício salutar
Este homem diz raras palermices, no entanto comete erros. Vários. Muitos. Apesar disso não nos faz corar em público, não nos viola o pudor, não nos provoca pena, nem vergonha, nem raiva, de sermos portugueses. Ouvi-lo é um exercício salutar. Mesmo para cínicos, mesmo para canalhas.
Um baque
Eric Frattini é um jornalista espanhol com vasto trabalho exposto. Nos tempos mais recentes tem posto ao soalheiro as bragas do Vaticano. Deu-lhe para ali, agora que o Torquemada já cá não anda, é lá com ele. Publicou A Santa Aliança, e mais recentemente Os Abutres do Vaticano.
O PÚBLICO de 3 de Maio apresenta uma entrevista de Sofia Lorena, da qual retiro este excerto:
«(...) É o que me acontece com o próximo livro, o meu próximo livro vai ser uma bomba atómica em Portugal. Sai em Março de 2014 (...), vai ser uma bomba, um choque para os portugueses. (...) Por causa das revelações que contém. É um livro de mais de 600 páginas só sobre Portugal. Vai ser um choque para os portugueses, quando descobrirem as coisas que revelamos, e vai ser um problema para os portugueses. (...) De 1943 a Dezembro de 2012. Não digo mais porque a Bertrand não me deixa. Mas vai ser dez vezes a bomba de Hiroshima em Portugal. (...)»
Ora emprenhar pelos ouvidos não é a coisa que eu mais aprecio. Mas isto que aí fica deu-me um baque. Não gostando de alarmismos, aqui o deixo, ao preço que me custou.
O PÚBLICO de 3 de Maio apresenta uma entrevista de Sofia Lorena, da qual retiro este excerto:
«(...) É o que me acontece com o próximo livro, o meu próximo livro vai ser uma bomba atómica em Portugal. Sai em Março de 2014 (...), vai ser uma bomba, um choque para os portugueses. (...) Por causa das revelações que contém. É um livro de mais de 600 páginas só sobre Portugal. Vai ser um choque para os portugueses, quando descobrirem as coisas que revelamos, e vai ser um problema para os portugueses. (...) De 1943 a Dezembro de 2012. Não digo mais porque a Bertrand não me deixa. Mas vai ser dez vezes a bomba de Hiroshima em Portugal. (...)»
Ora emprenhar pelos ouvidos não é a coisa que eu mais aprecio. Mas isto que aí fica deu-me um baque. Não gostando de alarmismos, aqui o deixo, ao preço que me custou.
Relatório - 2ª parte
Já foi aqui divulgada a 1ª parte do Relatório da espionagem galáctica.
Está agora disponível a 2ª. E a 3ª fica prometida.
Está agora disponível a 2ª. E a 3ª fica prometida.
A tia rica
Os marginais têm sorte, saiu-lhes outra vez a herança duma tia rica! Lá andam a gastá-la no casino e nas alternadeiras da finança. Uns cabrões.
Bem fazem eles!
Trinta e sete mil peregrinos chegaram a pé a Fátima, vindos de todo o país. Bem fazem eles, que são cidadãos exemplares e voltam a andar à pata, recuperando práticas antigas. Ao mesmo tempo que pacificam o espírito, ajardinam o corpo. E colaboram nos esforços do Gaspar, que também lhes exige sacrifícios e não garante romarias mais festivas.
De horas em quando estes maduros acertam
«(...) Não admira, por isso, que Vitor Gaspar e o BCE tenham concordado em declarar a operação [de regresso aos mercados] como um "enorme sucesso". Ainda assim, vale a pena temperar o optimismo e procurar explicações sobre o que levou os investidores a correr pela dívida portuguesa (além da taxa que vão cobrar). (...)
Uma operação sindicada por bancos não tem o mesmo valor duma acção directa no mercado. (...)
O risco de apostarem a prazo de uma década revela "a crescente confiança na determinação da Europa em manter a zona euro intacta.
Mas há sobre este comportamento dos investidores um juízo sobre a situação interna que vale a pena considerar. A começar, as ameaças do PS e os seus pedidos de antecipação das eleições nada valem nesta equação. A bicefalia do governo entre a ala Gaspar e a ala Portas são ignoradas. O que continua a ter peso no comportamento dos investidores é a famigerada austeridade. Só isso explica o momento escolhido para a operação: as águas políticas estão turvas, mas nada disso importa se o governo mantiver firme a promessa de cortar 4800 milhões de euros na despesa do Estado.
[in Editorial do PÚBLICO, 8 Maio]
Uma operação sindicada por bancos não tem o mesmo valor duma acção directa no mercado. (...)
O risco de apostarem a prazo de uma década revela "a crescente confiança na determinação da Europa em manter a zona euro intacta.
Mas há sobre este comportamento dos investidores um juízo sobre a situação interna que vale a pena considerar. A começar, as ameaças do PS e os seus pedidos de antecipação das eleições nada valem nesta equação. A bicefalia do governo entre a ala Gaspar e a ala Portas são ignoradas. O que continua a ter peso no comportamento dos investidores é a famigerada austeridade. Só isso explica o momento escolhido para a operação: as águas políticas estão turvas, mas nada disso importa se o governo mantiver firme a promessa de cortar 4800 milhões de euros na despesa do Estado.
[in Editorial do PÚBLICO, 8 Maio]
Recorde batido
Já um dia se gabou aqui, com grande encómio, a grande produtividade americana. Fala-se nela de novo, porque o subido recorde foi batido.
« (...) Dum incidente em Cumberland, Kentucky, [resultou ] a morte duma menina de dois anos, atingida pela arma do irmão de cinco anos, que a tinha recebido de presente de aniversário. Os pais não se aperceberam de que a arma tinha ficado a um canto, carregada. O médico legista comentou que se tratou "dum acidente estúpido como tantos outros".» Como é que alguém poderá competir com esta "mão invisível" dos mercados?!
[in PÚBLICO, 3 Maio]
« (...) Dum incidente em Cumberland, Kentucky, [resultou ] a morte duma menina de dois anos, atingida pela arma do irmão de cinco anos, que a tinha recebido de presente de aniversário. Os pais não se aperceberam de que a arma tinha ficado a um canto, carregada. O médico legista comentou que se tratou "dum acidente estúpido como tantos outros".» Como é que alguém poderá competir com esta "mão invisível" dos mercados?!
[in PÚBLICO, 3 Maio]
Ó Seguro!
Quanto mais ergues a voz e te esganiças, pior ficas no retrato! Faz um favor a ti próprio, talvez te salves a ti, e ao PS, e ao país: dá esse lugar a alguém que já use calças compridas!
domingo, 12 de maio de 2013
Estes pândegos
Em lugar de prestarem informação, divertem-se a confundir o cu com as calças. Só eles sabem onde é que lhes morde, é lá com eles!
Barracas
Há vinte anos, por junto, havia 44 mil barracas em Lisboa, de lona e contraplacado. Eram o cartão de visita da cidade imperial, para quem chegava do Norte, ali a Sacavém. Aniquilá-las custou 1400 milhões de euros.
Gaspar amamenta planos de as recuperar, mais os amigos do quanto menor Estado, melhor Estado. Ao pobre Passos é que tem faltado o tempo para os anunciar.
Gaspar amamenta planos de as recuperar, mais os amigos do quanto menor Estado, melhor Estado. Ao pobre Passos é que tem faltado o tempo para os anunciar.
Esta manhã
Ouvi dizer, de manhã, que o governo alemão já avisou a Itália e a Espanha que têm que levar a austeridade a sério. Considera imprescindíveis mais sacrifícios.
É indigno, vergonhoso e aviltante. Mas podia ser pior, por dois motivos. Por um lado ainda não há notícias de blindados teutónicos a cruzar a passagem de Innsbrück. E por outro, a Alemanha guarda no portfólio várias guerras contra a Europa. Qual delas é que venceu?!
É indigno, vergonhoso e aviltante. Mas podia ser pior, por dois motivos. Por um lado ainda não há notícias de blindados teutónicos a cruzar a passagem de Innsbrück. E por outro, a Alemanha guarda no portfólio várias guerras contra a Europa. Qual delas é que venceu?!
APRe! Quer dizer, porra que assim não vamos lá!
Nos regimes democráticos representativos como este, a ignorância é o primeiro calcanhar de aquiles do cidadão eleitor. Entra por ela o farpão do lacrau e adeus viola.
O segundo calcanhar é a estupidez alienada do eleitor, que não sabe, nem quer saber, que o terreno está minado. Vagamente fia-se na virgem e vai a pé até Fátima.
Mas há ainda um terceiro, que é a ingenuidade, igualmente corrosivo e anestesiante. Quem o conhece bem é o lacrau.
Maria do Rosário Gama é presidente duma associação de reformados. Enquanto activa, dirigia a Escola Secundária D. Maria, em Coimbra, um exemplo de excepção. Militava no PS e participou activamente na guerrilha contra a ministra sinistra (dum governo de Sócrates), em que se alistaram todos os canalhas que existem em Portugal, sem qualquer excepção. Quando se trata de guerra, não se limpam as armas, toda a gente sabe isso. E agora, já reformada, esta excelente directora decidiu fundar a APRe! Não somos descartáveis! Porque isto que aí está tem sido uma loucura. Matam-nos. Matam-nos mesmo. (...) Isto é terrorismo social. Não tem outro nome.
Aí perguntamos nós, por interposta pessoa da jornalista que a entrevista no PÚBLICO de hoje:
- Como é que entendeu a postura de Paulo Portas (...)?
- Perante o que disse o dr. Paulo Portas, das duas uma: ou caem os cortes (todos os cortes, retroactivos ou não), ou cai o governo. Sinceramente, já é a nossa única esperança.
- Está satisfeita com a oposição?
- Naturalmente que sim, em relação ao PCP, ao Bloco de Esquerda, aos Verdes, à CGTP, e em particular com a posição assertiva dos dirigentes do PS e da UGT.
- [O Presidente] devia ter demitido o governo?
- Devia. (...) [O Presidente] é uma desilusão. (...) Resta-nos que um desentendimento entre os membros da coligação faça cair o governo.
- Nesse cenário, a APRe! aconselharia o voto em quem?
- Não aconselharia. A APRe! é uma associação apartidária. Na direcção temos simpatizantes do CDS e militantes do PSD, do PS e do Bloco de Esquerda. Aconteceu por acaso, mas ainda bem que aconteceu.
Esta APRe! sofre da síndrome do albergue espanhol, é muito natural. E a sua presidente, com reiteradas provas de não ser ignorante nem estúpida, é ingénua. Só por isso não escapará ao ferrão do lacrau, que já sorri, desdenhoso. Nem ela nem os seus acompanhantes.
Com o maior dos respeitinhos, o povo, que é libertino, define muito bem estes equívocos: o pior deste serviço é encanar a perna à rã, nem lá vou nem faço minga; quer-se dizer, é não foder, nem lhe sair de cima!
O segundo calcanhar é a estupidez alienada do eleitor, que não sabe, nem quer saber, que o terreno está minado. Vagamente fia-se na virgem e vai a pé até Fátima.
Mas há ainda um terceiro, que é a ingenuidade, igualmente corrosivo e anestesiante. Quem o conhece bem é o lacrau.
Maria do Rosário Gama é presidente duma associação de reformados. Enquanto activa, dirigia a Escola Secundária D. Maria, em Coimbra, um exemplo de excepção. Militava no PS e participou activamente na guerrilha contra a ministra sinistra (dum governo de Sócrates), em que se alistaram todos os canalhas que existem em Portugal, sem qualquer excepção. Quando se trata de guerra, não se limpam as armas, toda a gente sabe isso. E agora, já reformada, esta excelente directora decidiu fundar a APRe! Não somos descartáveis! Porque isto que aí está tem sido uma loucura. Matam-nos. Matam-nos mesmo. (...) Isto é terrorismo social. Não tem outro nome.
Aí perguntamos nós, por interposta pessoa da jornalista que a entrevista no PÚBLICO de hoje:
- Como é que entendeu a postura de Paulo Portas (...)?
- Perante o que disse o dr. Paulo Portas, das duas uma: ou caem os cortes (todos os cortes, retroactivos ou não), ou cai o governo. Sinceramente, já é a nossa única esperança.
- Está satisfeita com a oposição?
- Naturalmente que sim, em relação ao PCP, ao Bloco de Esquerda, aos Verdes, à CGTP, e em particular com a posição assertiva dos dirigentes do PS e da UGT.
- [O Presidente] devia ter demitido o governo?
- Devia. (...) [O Presidente] é uma desilusão. (...) Resta-nos que um desentendimento entre os membros da coligação faça cair o governo.
- Nesse cenário, a APRe! aconselharia o voto em quem?
- Não aconselharia. A APRe! é uma associação apartidária. Na direcção temos simpatizantes do CDS e militantes do PSD, do PS e do Bloco de Esquerda. Aconteceu por acaso, mas ainda bem que aconteceu.
Esta APRe! sofre da síndrome do albergue espanhol, é muito natural. E a sua presidente, com reiteradas provas de não ser ignorante nem estúpida, é ingénua. Só por isso não escapará ao ferrão do lacrau, que já sorri, desdenhoso. Nem ela nem os seus acompanhantes.
Com o maior dos respeitinhos, o povo, que é libertino, define muito bem estes equívocos: o pior deste serviço é encanar a perna à rã, nem lá vou nem faço minga; quer-se dizer, é não foder, nem lhe sair de cima!
Golpes de estado
A actuação, em 2009/10, dum grupo de mercenários da Justiça - os ditos magistrados de Aveiro - na questão das escutas que envolviam Sócrates como corrupto no processo Face Oculta - o das sucatas da Refer - e a novela da destruição delas, ordenada então pelo STJ - foi UM dos ensaios de golpe de estado montados por esta escumalha da direita contra o povo, o estado de direito, e o governo de Sócrates. Teve a cumplicidade de muitos jornalistas avençados, e mesmo de partidos ditos de esquerda, que dela apenas têm o aventureirismo irresponsável, ou o tacticismo de quem procura preservar um nicho de mercado eleitoral, e umas cadeiras no Parlamento, que os contribuintes pagam a bom preço.
Aqui se lembra o assunto e Ali também.
O OUTRO ensaio de golpe de estado, contra o estado de direito, contra a democracia, e sobretudo contra o governo de Sócrates, foi o das escutas a Belém, montado pelo assessor Fernando Lima ao serviço de Cavaco, esse vergonhoso presidente deste país desgraçado.
Hoje é claro que tudo isso foi pura conspiração contra um homem que chefiava o governo. Hoje é claro que esse governo foi, apesar dos erros e alguns equívocos dele, o último governo digno e patriota que Portugal conheceu. O velho Portugal medieval esteve em riscos de mudar de cara. Mas os portugueses, que são pimpões e foram domesticados por séculos de miséria, ignorância, superstição e atavismos mentais, elegeram em 2011 a escumalha que aí anda, e puseram outra vez tudo na ordem. Os múltiplos traidores de serviço agora já estão calados. E os portugueses vão-se mas é foder, e não se queixem.
Aqui se lembra o assunto e Ali também.
O OUTRO ensaio de golpe de estado, contra o estado de direito, contra a democracia, e sobretudo contra o governo de Sócrates, foi o das escutas a Belém, montado pelo assessor Fernando Lima ao serviço de Cavaco, esse vergonhoso presidente deste país desgraçado.
Hoje é claro que tudo isso foi pura conspiração contra um homem que chefiava o governo. Hoje é claro que esse governo foi, apesar dos erros e alguns equívocos dele, o último governo digno e patriota que Portugal conheceu. O velho Portugal medieval esteve em riscos de mudar de cara. Mas os portugueses, que são pimpões e foram domesticados por séculos de miséria, ignorância, superstição e atavismos mentais, elegeram em 2011 a escumalha que aí anda, e puseram outra vez tudo na ordem. Os múltiplos traidores de serviço agora já estão calados. E os portugueses vão-se mas é foder, e não se queixem.
sábado, 11 de maio de 2013
Que faz o homem que acredita na Razão, quando uma lágrima aflora?!
Cerra os dentes, segue em frente. Por um momento cede, para permanecer humano.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Maré-vaza
Gostava muito dele e ainda gosto, que havemos de fazer do coração. Durante um ano foi quem me matou a fome. Saiu um dia do Porto Brandão e fez-se um homem, nascido de pescadores.
Hoje trabalha as mil figuras que há na pedra, habita num palacete com acácias muito antigas, navega num iate às costas do Brasil. Sou o primeiro marítimo da família que não vai ao mar a ver se mata a fome.
Eu gostava muito dele e ainda gosto. Mas pica-me no olfacto um travo de maré-vaza, quando vou ali ao Parque dos Poetas.
Hoje trabalha as mil figuras que há na pedra, habita num palacete com acácias muito antigas, navega num iate às costas do Brasil. Sou o primeiro marítimo da família que não vai ao mar a ver se mata a fome.
Eu gostava muito dele e ainda gosto. Mas pica-me no olfacto um travo de maré-vaza, quando vou ali ao Parque dos Poetas.
Top da semana
Dez por cento das pensões dos reformados serão pagas em títulos. Do Correio da Manhã.
[Anticrise, RTP1]
Prova real
A ignorância será pecha venial.
Já a arrogância é defeito capital.
Acumular as duas é uma chaga fatal.
E é no Passos que temos a prova real.
Já a arrogância é defeito capital.
Acumular as duas é uma chaga fatal.
E é no Passos que temos a prova real.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
"Tenho medo das nossas elites."
As responsabilidades da direcção do PS:
«(...) [Temo] que o PS não esteja em condições para protagonizar uma verdadeira alternativa. Considero que se o PS não for bem sucedido, não trouxer uma ruptura, uma alteração corajosa em relação ao que temos, corremos o risco de que se esgotem as soluções disponíveis na Segunda República, porque não vejo para onde poderá o eleitorado português transferir a sua esperança.» (...)
Ideologia social-democrata e ideologia neo-liberal:
«Quando falamos em radicalismo, será possível ultrapassar em radicalismo a violência social que está neste momento a ser posta em prática pelo governo? Os partidos socialistas são hoje partidos conservadores, cuja finalidade é defenderem um adquirido de civilização. A direita é que é revolucionária. Põe tudo em causa, está a desmantelar furiosamente, por razões ideológicas, um adquirido de civilização que nós julgávamos que não admitia regressão.» (...)
A política, a finança, o poder real e a democracia:
«Há realmente uma prioridade, que é a prioridade da comunidade financeira, que se apoderou de todos os centros de irradiação de ideias e de todos os centros de poder. Vemos isso na Europa. (...) Se todos os partidos, com histórias diversas, aceitam converter-se em serventuários dessa cartilha, a democracia converte-se num ritual vazio e isso dá cabo de tudo, dá cabo da política, dá cabo dos políticos e dá cabo dos partidos.» (...)
A política, a comunicação social e a democracia:
«Como é possível um político que exerce temporariamente funções poder impor-se a certos potentados privados que são donos da comunicação social, que têm recursos inesgotáveis e que não têm mandatos de quatro anos, estão lá há quarenta? Como é que a democracia se defende destes potentados?» (...)
A América e a Europa, o capitalismo anglo-saxónico e o estado social:
«Existe uma grande diferença de cultura entre nós e os americanos, ou seja, as sociedades onde floresceu o pensamento anglo-saxónico, o capitalismo com aquela orientação fortemente liberal. Onde prevalece uma cultura de pioneiros. Eles chegam a um país continental, com recursos virtualmente infinitos. E portanto a melhoria da condição de cada indivíduo e da sua riqueza resulta do seu esforço, da sua cultura de trabalho, da sua iniciativa. É isto que está por trás do capitalismo anglo-saxónico. Nós na Europa somos uma península ocidental da Ásia, sobrepovoada há milénios, e vivemos em permanente guerra civil a disputar recursos limitados. Por isso é que nós, sem contrato social, vamos parar à guerra. (...) Não há meio termo nenhum, é uma questão de tempo. É por isso que nós temos que defender a Europa, e temos que defender o estado social. (...) A ideologia do direito fundamental à acumulação ilimitada é impossível na Europa e conduz-nos à guerra.» (...)
As nossas elites:
«Mas ainda me angustia mais a ideia de, afrouxando as nossas amarras à Europa, ficarmos entregues a nós próprios. Eu tenho medo das nossas elites... (...) As nossas elites várias vezes na História falharam ao país...»
[Entrevista a Sérgio Sousa Pinto, in PÚBLICO de hoje]
«(...) [Temo] que o PS não esteja em condições para protagonizar uma verdadeira alternativa. Considero que se o PS não for bem sucedido, não trouxer uma ruptura, uma alteração corajosa em relação ao que temos, corremos o risco de que se esgotem as soluções disponíveis na Segunda República, porque não vejo para onde poderá o eleitorado português transferir a sua esperança.» (...)
Ideologia social-democrata e ideologia neo-liberal:
«Quando falamos em radicalismo, será possível ultrapassar em radicalismo a violência social que está neste momento a ser posta em prática pelo governo? Os partidos socialistas são hoje partidos conservadores, cuja finalidade é defenderem um adquirido de civilização. A direita é que é revolucionária. Põe tudo em causa, está a desmantelar furiosamente, por razões ideológicas, um adquirido de civilização que nós julgávamos que não admitia regressão.» (...)
A política, a finança, o poder real e a democracia:
«Há realmente uma prioridade, que é a prioridade da comunidade financeira, que se apoderou de todos os centros de irradiação de ideias e de todos os centros de poder. Vemos isso na Europa. (...) Se todos os partidos, com histórias diversas, aceitam converter-se em serventuários dessa cartilha, a democracia converte-se num ritual vazio e isso dá cabo de tudo, dá cabo da política, dá cabo dos políticos e dá cabo dos partidos.» (...)
A política, a comunicação social e a democracia:
«Como é possível um político que exerce temporariamente funções poder impor-se a certos potentados privados que são donos da comunicação social, que têm recursos inesgotáveis e que não têm mandatos de quatro anos, estão lá há quarenta? Como é que a democracia se defende destes potentados?» (...)
A América e a Europa, o capitalismo anglo-saxónico e o estado social:
«Existe uma grande diferença de cultura entre nós e os americanos, ou seja, as sociedades onde floresceu o pensamento anglo-saxónico, o capitalismo com aquela orientação fortemente liberal. Onde prevalece uma cultura de pioneiros. Eles chegam a um país continental, com recursos virtualmente infinitos. E portanto a melhoria da condição de cada indivíduo e da sua riqueza resulta do seu esforço, da sua cultura de trabalho, da sua iniciativa. É isto que está por trás do capitalismo anglo-saxónico. Nós na Europa somos uma península ocidental da Ásia, sobrepovoada há milénios, e vivemos em permanente guerra civil a disputar recursos limitados. Por isso é que nós, sem contrato social, vamos parar à guerra. (...) Não há meio termo nenhum, é uma questão de tempo. É por isso que nós temos que defender a Europa, e temos que defender o estado social. (...) A ideologia do direito fundamental à acumulação ilimitada é impossível na Europa e conduz-nos à guerra.» (...)
As nossas elites:
«Mas ainda me angustia mais a ideia de, afrouxando as nossas amarras à Europa, ficarmos entregues a nós próprios. Eu tenho medo das nossas elites... (...) As nossas elites várias vezes na História falharam ao país...»
[Entrevista a Sérgio Sousa Pinto, in PÚBLICO de hoje]
Catarse
[Foto de Alfredo Cunha]
Quando Savimbi foi abatido num sertão do Moxico, em 2002, alguém escreveu em Lisboa que tinha acabado o flagelo de Angola. E se a frase não era mais exaustiva, no respeitante a flagelos referiu o maior deles.
Esta catarse, a que não mais se voltará aqui, é uma homenagem a um alferes que ficou sem cabeça, e a dezasseis soldados que foram trucidados numa picada angolana, já depois de Abril de 74, a mando do libertador de Angola. Paz a eles, paz à pátria, e paz também a todos os coveiros dela, se puderem!
[Guarnição, tabanca e pista do Guilege, Guiné]
[Evacuação pós-emboscada, Guiné]
[Encontros de paz com o PAIGC, pós-Abril]
[Destroços de T6G num pântano, Angola]
[Idem]
[Combatentes do PAIGC, em encontro de paz, num quartel]
[Tropa colonial, num quartel em Angola]
quarta-feira, 8 de maio de 2013
A Guerra, de Joaquim Furtado
[clicar!]
Acabar de ver, na RTP1, o último episódio, é como rever ao espelho uma pátria esfacelada há muito.Sei bem como estas coisas são infinitamente pessoais. Por isso calemo-nos agora, até que venha a manhã.
Compaixão
O balcão da farmácia está às moscas. A papelaria devolve os jornais. No café andam as mesas cada vez mais devolutas. Até na padaria escasseiam os clientes.
Eu bem me esfalfo a apregoar ao bairro que é preciso consumir, que é patriota fazer girar o dinheiro. Para ajudarmos os banqueiros, pobres deles, a sofrer tais prejuízos.
O bairro já lhes meteu na bandurra a ninharia de sete mil milhões, para arredondarem as contas. E um tal nada pouco é. Mas o bairro, esse casmurro, não denota compaixão.
Eu bem me esfalfo a apregoar ao bairro que é preciso consumir, que é patriota fazer girar o dinheiro. Para ajudarmos os banqueiros, pobres deles, a sofrer tais prejuízos.
O bairro já lhes meteu na bandurra a ninharia de sete mil milhões, para arredondarem as contas. E um tal nada pouco é. Mas o bairro, esse casmurro, não denota compaixão.
Ecos da Sonora - LV (revisto)
Primeiro foram as peripécias vividas por quinze regimentos espanhóis, em 1808, mandados para a Dinamarca a resistir aos ingleses, nas campanhas do Petit Cabrão do Bonaparte. Aqueles que não lograram atingir a nado os barcos ingleses, que os devolveriam a Espanha, foram parar a um campo de concentração em Hamburgo. E acabaram alistados à força, em 1812, para a campanha da Rússia, ao serviço da Grande Armée. Encontraram uma cidade fantasma, desfalcados pela carnificina de Borodino e pelas desgraças de Sbodonovo. Mais uma vez ensaiaram passar-se para o outro lado. E aquilo que os impediu vem lá no texto.
Qualquer texto narrativo que mereça registo responderá ao menos a três questões do leitor mais comum: O que é que ele nos conta, de que maneira o faz, e com que finalidades.
Esta novela A Sombra da Águia responde a tudo isso com eficácia notável. Usando um sarcasmo persistente e um humor magistral, a voz narrativa, que é sempre espanhola, revela-nos uma visão mordaz e descarnada da guerra e da condição humana. Está escrito na badana. Mas se não levarmos a coisa tão a sério, o seu objectivo é divertir-nos. Diria mesmo encantar-nos. É essa uma das funções, entre outras mais sisudas, da geral arte e da mais particular literatura.
Está o bom do leitor a rebolar-se de contentamento, quando lhe caem em cima os dois últimos capítulos, a contar-lhe a retirada duma Moscovo em chamas e a fuga ao inverno russo. O que era prazer estético transforma-se em pathos trágico e compaixão humana. Anos mais tarde, dos quinze mil espanhóis originais, onze regressam a casa. E o leitor não chegará a distinguir o que é histórico daquilo que o não é. Porque a história não é tarefa da literatura, salvo o respeito pelos seus dados mais prosaicos. O que à literatura incumbe são as emoções humanas, as melhores e as piores. E Reverte trata delas muito bem.
A tradução de Helena Pitta é irrepreensível. E será de aproveitar, leitor empedernido, no deserto impenitente e satisfeito que aí anda!
AO moribundo
Apesar deste discurso canhestro que nem parece dum homem de Letras, e apesar de tudo o resto, aqui está um assunto que me aproxima deste homem.
Nunca escreverei uma frase que siga as normas do AO. Nem preso.
O que é que terá levado o Carlos Reis a pugnar pelo Acordo, como se fosse um negro condenado?!
Nunca escreverei uma frase que siga as normas do AO. Nem preso.
O que é que terá levado o Carlos Reis a pugnar pelo Acordo, como se fosse um negro condenado?!
Património
[Guiné, ilha de Bolama]
Chamam a isto, alguns, o património imorredouro da pátria.
Cá para mim é mais um túmulo, onde embalsamaram Portugal.
CO2
Lê-se que, na atmosfera terrestre, não havia uma tal concentração de CO2 desde há quatro mil e quinhentos milhões de anos. E nada indica que a situação seja encarada a sério, pois que os dois maiores produtores de CO2 (os EUA e a China) nem querem ouvir falar do assunto.
É certo que o problema das alterações climáticas é um processo extremamente lento. Mas isso só nos conduz à triste sorte da rã. Meteram-na na panela, ligaram o gás devagarinho, e a temperatura foi subindo lentamente. A pobre dela cozeu sem se dar conta.
É certo que o problema das alterações climáticas é um processo extremamente lento. Mas isso só nos conduz à triste sorte da rã. Meteram-na na panela, ligaram o gás devagarinho, e a temperatura foi subindo lentamente. A pobre dela cozeu sem se dar conta.
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