«(...) Não admira, por isso, que Vitor Gaspar e o BCE tenham concordado em declarar a operação [de regresso aos mercados] como um "enorme sucesso". Ainda assim, vale a pena temperar o optimismo e procurar explicações sobre o que levou os investidores a correr pela dívida portuguesa (além da taxa que vão cobrar). (...)
Uma operação sindicada por bancos não tem o mesmo valor duma acção directa no mercado. (...)
O risco de apostarem a prazo de uma década revela "a crescente confiança na determinação da Europa em manter a zona euro intacta.
Mas há sobre este comportamento dos investidores um juízo sobre a situação interna que vale a pena considerar. A começar, as ameaças do PS e os seus pedidos de antecipação das eleições nada valem nesta equação. A bicefalia do governo entre a ala Gaspar e a ala Portas são ignoradas. O que continua a ter peso no comportamento dos investidores é a famigerada austeridade. Só isso explica o momento escolhido para a operação: as águas políticas estão turvas, mas nada disso importa se o governo mantiver firme a promessa de cortar 4800 milhões de euros na despesa do Estado.
[in Editorial do PÚBLICO, 8 Maio]