As responsabilidades da direcção do PS:
«(...) [Temo] que o PS não esteja em condições para protagonizar uma verdadeira alternativa. Considero que se o PS não for bem sucedido, não trouxer uma ruptura, uma alteração corajosa em relação ao que temos, corremos o risco de que se esgotem as soluções disponíveis na Segunda República, porque não vejo para onde poderá o eleitorado português transferir a sua esperança.» (...)
Ideologia social-democrata e ideologia neo-liberal:
«Quando falamos em radicalismo, será possível ultrapassar em radicalismo a violência social que está neste momento a ser posta em prática pelo governo? Os partidos socialistas são hoje partidos conservadores, cuja finalidade é defenderem um adquirido de civilização. A direita é que é revolucionária. Põe tudo em causa, está a desmantelar furiosamente, por razões ideológicas, um adquirido de civilização que nós julgávamos que não admitia regressão.» (...)
A política, a finança, o poder real e a democracia:
«Há realmente uma prioridade, que é a prioridade da comunidade financeira, que se apoderou de todos os centros de irradiação de ideias e de todos os centros de poder. Vemos isso na Europa. (...) Se todos os partidos, com histórias diversas, aceitam converter-se em serventuários dessa cartilha, a democracia converte-se num ritual vazio e isso dá cabo de tudo, dá cabo da política, dá cabo dos políticos e dá cabo dos partidos.» (...)
A política, a comunicação social e a democracia:
«Como é possível um político que exerce temporariamente funções poder impor-se a certos potentados privados que são donos da comunicação social, que têm recursos inesgotáveis e que não têm mandatos de quatro anos, estão lá há quarenta? Como é que a democracia se defende destes potentados?» (...)
A América e a Europa, o capitalismo anglo-saxónico e o estado social:
«Existe uma grande diferença de cultura entre nós e os americanos, ou seja, as sociedades onde floresceu o pensamento anglo-saxónico, o capitalismo com aquela orientação fortemente liberal. Onde prevalece uma cultura de pioneiros. Eles chegam a um país continental, com recursos virtualmente infinitos. E portanto a melhoria da condição de cada indivíduo e da sua riqueza resulta do seu esforço, da sua cultura de trabalho, da sua iniciativa. É isto que está por trás do capitalismo anglo-saxónico. Nós na Europa somos uma península ocidental da Ásia, sobrepovoada há milénios, e vivemos em permanente guerra civil a disputar recursos limitados. Por isso é que nós, sem contrato social, vamos parar à guerra. (...) Não há meio termo nenhum, é uma questão de tempo. É por isso que nós temos que defender a Europa, e temos que defender o estado social. (...) A ideologia do direito fundamental à acumulação ilimitada é impossível na Europa e conduz-nos à guerra.» (...)
As nossas elites:
«Mas ainda me angustia mais a ideia de, afrouxando as nossas amarras à Europa, ficarmos entregues a nós próprios. Eu tenho medo das nossas elites... (...) As nossas elites várias vezes na História falharam ao país...»
[Entrevista a Sérgio Sousa Pinto, in PÚBLICO de hoje]