Nos regimes democráticos representativos como este, a ignorância é o primeiro calcanhar de aquiles do cidadão eleitor. Entra por ela o farpão do lacrau e adeus viola.
O segundo calcanhar é a estupidez alienada do eleitor, que não sabe, nem quer saber, que o terreno está minado. Vagamente fia-se na virgem e vai a pé até Fátima.
Mas há ainda um terceiro, que é a ingenuidade, igualmente corrosivo e anestesiante. Quem o conhece bem é o lacrau.
Maria do Rosário Gama é presidente duma associação de reformados. Enquanto activa, dirigia a Escola Secundária D. Maria, em Coimbra, um exemplo de excepção. Militava no PS e participou activamente na guerrilha contra a ministra sinistra (dum governo de Sócrates), em que se alistaram todos os canalhas que existem em Portugal, sem qualquer excepção. Quando se trata de guerra, não se limpam as armas, toda a gente sabe isso. E agora, já reformada, esta excelente directora decidiu fundar a APRe! Não somos descartáveis! Porque isto que aí está tem sido uma loucura. Matam-nos. Matam-nos mesmo. (...) Isto é terrorismo social. Não tem outro nome.
Aí perguntamos nós, por interposta pessoa da jornalista que a entrevista no PÚBLICO de hoje:
- Como é que entendeu a postura de Paulo Portas (...)?
- Perante o que disse o dr. Paulo Portas, das duas uma: ou caem os cortes (todos os cortes, retroactivos ou não), ou cai o governo. Sinceramente, já é a nossa única esperança.
- Está satisfeita com a oposição?
- Naturalmente que sim, em relação ao PCP, ao Bloco de Esquerda, aos Verdes, à CGTP, e em particular com a posição assertiva dos dirigentes do PS e da UGT.
- [O Presidente] devia ter demitido o governo?
- Devia. (...) [O Presidente] é uma desilusão. (...) Resta-nos que um desentendimento entre os membros da coligação faça cair o governo.
- Nesse cenário, a APRe! aconselharia o voto em quem?
- Não aconselharia. A APRe! é uma associação apartidária. Na direcção temos simpatizantes do CDS e militantes do PSD, do PS e do Bloco de Esquerda. Aconteceu por acaso, mas ainda bem que aconteceu.
Esta APRe! sofre da síndrome do albergue espanhol, é muito natural. E a sua presidente, com reiteradas provas de não ser ignorante nem estúpida, é ingénua. Só por isso não escapará ao ferrão do lacrau, que já sorri, desdenhoso. Nem ela nem os seus acompanhantes.
Com o maior dos respeitinhos, o povo, que é libertino, define muito bem estes equívocos: o pior deste serviço é encanar a perna à rã, nem lá vou nem faço minga; quer-se dizer, é não foder, nem lhe sair de cima!