terça-feira, 30 de abril de 2013

Toma e embrulha!

Cabrãozeco psicopata!

Alpajares

Depois não digas que ninguém te avisou! No próximo dia 25 de Maio, que é um sábado, acontece a caminhada da Calçada de Alpajares. O pequeno esforço que reclama é larguíssimamente compensado pelas emoções que provoca. Vinha já do tempo dos romanos, e muitas gerações achavam nela a porta de entrada única para o planalto mirandês. Isto antes de haver um governo do cabrão do Sócrates, que mandou fazer umas estradas novas.
Dormes na sexta em Freixo-de-Espada-à Cinta, que é onde tudo começa. Levam-te num autocarro e dispõem-te uma bucha no Penedo Durão. Almoças numa tenda a cargo de Poiares. E, achando dificuldades no percurso, no mínimo tens um burro mirandês ao teu dispor. No máximo há um carro dos bombeiros. Estás à espera de quê?!

Ao sol

Em 1976 encontrei em Berlim dez mil chilenos refugiados, mas só conheci dois deles. Eram irmãos, e estávamos sentados ao sol dum jardim, muito perto do teatro de Brecht. Um deles sugeriu uma ida ao teatro nessa noite, e eu achei a proposta impertinente. Como é que se pode acompanhar a intriga, não conhecendo da língua uma palavra?!
Eu não conhecia a língua, menos ainda o que um palco nos pode mostrar sem ela. E levaria muitos anos a aprendê-lo. Mais do que eles podiam gastar à minha espera.
Dei ao mais novo umas botas que me ficavam escassas, e nunca mais nos tornámos a ver.

Swaps?!

Se a questão te interessa, tens aqui verdades como punhos.

Por este rio acima 5

Romance de Diogo Soares

Diogo Soares
O grande general
Chamado "o Galego"
O homem dos olhares fatais
Comanda sessenta mil homens
De terras estranhas
Vencendo e lutando
Por quem paga mais
Eficaz nos sermões
Insinuante pois
Ganhou a simpatia
De príncipes e samurais
Já é governador
Do reino de Pegu
Mais forte do que o rei
Mais rico por golpes mestrais.

Naquela cidade
Vivia um mercador
De nome Mambogoá
De fortuna sem fim
E naquele dia
O dia das bodas
Casava uma filha
Com Manica Mandarim
Diogo Soares passou por ali
Ao saber da festa
Felicitou noivos e pais
E a noiva tão linda
Ofereceu-lhe um anel
Agradecendo a honra
Por gestos puros e sensuais
Então o galego
Em vez de guardar
O devido decoro
Prendeu-a e disse-lhe assim:
"Ó moça formosa
És minha, só minha
A ninguém pertences
A ninguém, senão a mim".

O pai Mambogoá
Ao ver pegar o bruto
Tão rijo na filha
Ouvindo este insulto de espanto
Levantou as mãos aos céus
Os joelhos em terra
No retrato da dor
Pedindo e implorando num pranto
"Eu peço-te Senhor
Por reverência a Deus
Que adoras concebido
No ventre sem mancha e pecado
Não tomes minha filha
Não leves meu tesouro
Que eu morro de paixão
Que eu morro tão abandonado".(...)

Não

Vai ver este filme - NÃO - antes que esgote!
A CIA, que em 1973 desencadeou o assassinato de Salvador Allende, chegou a 1988 e adaptou-se aos tempos. Por isso promoveu um plebiscito no Chile, sobre a permanência de Pinochet no poder.
António Skarméta produziu a novela que dá conta da disputa entre o NO e o SI. E o filme conta-nos o que aconteceu. O NO ganhou e o ditador foi à vida, acabando a refugiar-se no regaço duma defunta célebre.
Como é que isto foi possível?! Pelas artilharias modernas que foram postas em marcha! Vai vê-las, antes que esgotem! E avisa das novidades o comité central, que bem precisado anda. Diz-lhe que hoje o Palácio de Inverno já se não conquista ao modo antigo. Diz-lhe que já não se partem os dentes ao inimigo mostrando a porta de saída ao Barros Moura, ao João Amaral, ao Carlos Brito, aos melhores dos melhores, aos mais dignos do nosso respeito e emoção.
Pede-lhe contas do caso de Caminha, uma autarquia em poder do PPD desde há uma dúzia de anos. As estruturas locais do PS, do BE e do PCP, iniciaram conversações para uma coligação eleitoral. Ao segundo encontro, o representante do comité central já não compareceu, proibido pelo diktat duma múmia muito antiga. Diz-lhes que sirvam a angústia do povo e se deixem de merdas, e aprendam alguma coisa com os modernismos da CIA!

Ponte das barcas

Retábulo? Ex-voto? Padrão? Memorial? Seja o que for, está ali exposto numa igreja à Cordoaria. E lembra o que foi a aflição da cidade, a hecatombe do povo, no desastre da Ponte das Barcas, em 1809.
O que ele não diz é que as tropas que defendiam o Porto esperavam que Soult se apresentasse vindo da margem sul. Acontecendo isso, os franceses só entrariam na cidade atravessando a ponte. Foi por isso que retiraram os cabos de aço que prendiam as barcas, como quem sabota a ponte no seu sector mediano, uma esparrela onde cairiam os invasores.
Mas Soult apareceu na margem norte, e quatro mil portuenses foram levados pelo Douro. Isto não pode ser dito, porque desrespeita os códigos académicos. Fica aqui, só entre nós.

Deslocalização

Um dia alguém disse na América, e dito na América tem outro valor, que o Vasco da Gama tinha sido o pai da globalização. Quem sabe se não foi mesmo o avô da Internet!
O que não disseram, e foi por ser verdade, é que Portugal foi o pioneiro da deslocalização. Deslocalizaram-lhe a alma, há muitos anos, para o golfo de Bengala. Tal como hoje, alguns ganharam com isso, mas o país perdeu e não foi pouco.

Artistas dum circo

E as redes do dito.

Bautizo!

[Pirateado aqui]

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ó Seguro!

Hás-de ir longe, com estas tuas farroncas de galaroz de aviário! Tu e a tralha dos aparelhistas que te entronizaram! Tu e nós todos, meu cabrãozeco de meia-tigela!

Globalização

Finalidade primordial da globalização era pôr o mundo inteiro a consumir Coca-Cola em todos os estancos do planeta. Qualquer análise do processo que desconheça este dado, há-de ser atilada e verdadeira. Mas é apenas uma parte da verdade.

Olha lá!

Vem aqui rever aquilo que já esqueceste.

Por este rio acima 4

O que a vida me deu.

Mar

[clicar]
Quem vai ao mar avia-se em terra. E traz dele uma arca de tesouros, ou lembranças de naufrágios.
O destino português nunca foi um mar qualquer, nem real nem metafórico. Que o mar não é destino de ninguém. 
O destino que as elites, desde há séculos, traçaram a Portugal, foi o dos naufrágios nele. Metafórico ou real. Ainda hoje continua a sê-lo.
[A Cilinha em acção patriota, em chão manjaco]

Da capo

Litografia
[Sá Nogueira]
Então a mãe voltava-se para a janela, creio que para ver melhor e não errar. Entalava o corpo da galinha nos joelhos, a esquerda segurava-lhe a cabeça por cima da tigela, enquanto a mão direita lhe apontava, ao comprido da crista, o fio duma faca.
A galinha esperneava ao golpe na cabeça. E à medida que o sangue gotejava, tingia-se a malga de vermelho, até ela quedar apaziguada.
A mão que, às manhãs de gelo, me trazia à boca ainda adormecida uma colher de mel, era a mesma mão que manejava a faca.
E agora que eu já cresci, e me fiz velho, e descobri que todas as galinhas têm alma igual à minha, como é que eu resolvo isto?

Olhar

[Alfredo Cunha]

domingo, 28 de abril de 2013

Nau Catrineta

Fausto Bordalo Dias.

Vai um doce?!

Ganhas um doce, leitor, se puseres ali abaixo os nomes que lá não estão!
Sobre os equívocos literários que nos abusam do tempo, (cozinhados pelo mercado que mete a Literatura na Bimby do refogado), Manuel de Freitas dá-se ao trabalho de dizer o essencial. Só estão ausentes os nomes, porque ele sabe que essa tarefa nos compete a nós. 
- Qual é o nosso melhor olheiro de talentos, que possui em carteira uma invejável colecção de prémios Saramago?!
- Quem é aquele adolescente a pedir colo, um tipo passa por ele e não resiste, faz-lhe uma festinha na cabeça?!
- Qual é o nosso escritor que ainda não venceu as guerrilhas da gramática, contra a sintaxe de quimbo dum sertão?!
- Quem é que se gasta a elaborar enigmas e charadas, e não precisa de mais, porque já tem o Nobel prometido?!
- Quem será este arquitecto que faz construções no ar, de belíssima estrutura, sem ter ninguém que as habite?
Vai um doce, leitor?!

A verdade, digam lá o que disserem,
é que tivemos muito pouca sorte
com os poetas (?) nossos contemporâneos.

Um nasceu em Galveias e tatua-se
ou alfineta-se para disfarçar um vazio evidente;
outro gosta de andar nu em Braga, 
muito depois - e aquém - de qualquer Pacheco*.
(Ignoram, ambos, que a única pila maior
do que o mundo era a do João César Monteiro.)

Um terceiro, cujo nome nunca escreverei,
é a mulher moderna da edição
às cegas e da sacanice quotidiana. O quarto
e o quinto (gabo quem os logra distinguir)
arrotam melancolia e não admitem
o mínimo desvio à sacrossanta transfiguração da lírica.

O sexto - não, não me apetece falar aqui do sexto.

Consola-nos, isso sim, saber que uns se tornaram
entretanto romancistas (pilim, pilim), e que os restantes
hão-de ser, muito em breve, ministros
ou somente pulhas (é, no fundo, a mesma coisa).

Enquanto, de esgoto em esgoto,

Portugal progride a olhos vistos
e é bem capaz de levar, um dia destes,
com outro Nobel nas trombas.


Manuel de Freitas, Inventário Plebeu, in "Resumo - a Poesia em 2012", edição Documenta (Fnac). 
[* Luiz Pacheco, em passeio pela sacrílega "Idolátrica Braga".]

NOTA: Bom sintoma ou mau prenúncio, dei eu com este Inventário no caderno de Economia do Expresso.

sábado, 27 de abril de 2013

Por este rio acima 3

Por este rio acima.

Literatura para Totós - Tese 6

Aproveitando as modas da escrita criativa, tirei-me de cuidados e fui ver um workshop. Cheguei tarde. Oito bicos discutiam o acordo ortográfico, enquanto iam fazendo as apresentações. Havia três professores.
Este porque gosta de torturar as palavras. Já aquele prefere brincar com elas, enquanto a esposa vai ao folclore. Nesta despertou há um mês o interesse pela escrita. Faz poemas, escreve um diário, que é jovem mas corre bem.
A mestra não sabe o que quer dizer printar, nunca ouviu falar de um print. E tem ao fundo um ecrã onde projecta instruções: Escrita Criativa - Uma Questão de Semântica? 
Ao fim de um quarto de hora já a turma está industriada nos segredos da escrita em harmónio, arriscando mesmo um exercício prático de narrativa sanfonada. O frenesi correu bem.
O tópico seguinte era o texto descritivo, e o respeitinho devido a adjectivos e a imperfeitos verbais. Eu inventei um pretexto e fui à vida, porque o preço do parque dos Poveiros não tem descrição possível.
De forma que, leitor empedernido, se vierem impingir-te herbários de folhas secas, portfolios de prémios do mercado, e lapelas cobertas de medalhas da escrita criativa, diz-lhes que a escrita verdadeira começa por longos anos de humilde leitura em voz alta. E depois disso não dispensa tripas, nem suor, nem merda, porque é da vida que nasce.

No ponto

«(...) "Sou um pouco poliglota. Se eu quiser falar de mecânica ou de parafusos, o inglês ou o holandês são as línguas indicadas. Para falar de sentimentos e de emoções nem o italiano. Sabe o que dizia o Carlos V? Não?! Você não sabe mas é nada! Dizia ele: Eu falo francês com as mulheres, falo italiano com os diplomatas, falo alemão com os meus soldados e falo espanhol com os cavalos. A língua portuguesa para mim é uma delícia. O que sinto não é orgulho nem prazer. É uma mistura de respeito e de alegria por encontrar as palavras e os sons que me permitem dizer o que sinto. É um bocado absurdo mas é verdade. Da combinação de sons dentro duma frase você pode ultrapassar o significado das palavras e dar ao leitor um outro sentimento que ele é capaz de não saber definir e que é próximo do que a música nos transmite. A música transmite-nos emoções para as quais não há palavras". E tudo procurando a maior simplicidade. "É muito difícil. O ponto máximo que um escritor pode atingir é dar aos inocentes a ideia de que aquilo que escreveu é a coisa mais fácil do mundo". (...)»
[José Rentes de Carvalho, in ÍPSILON]

Não era disto que o PS precisava, e o país que ainda é o nosso muito menos

É verdade que não sou, nem estou em vias de ser, militante do PS. Ou doutra coisa qualquer, uma vez que só milito naquilo em que acredito. 
Mas não é menos verdade que esta questão nos diz respeito a todos, e me consente a palavra. A um lado, porque qualquer solução para este intrincado imbroglio envolve obrigatoriamente o Partido Socialista. E a outro lado, sendo esta a minha casa, falo cá dentro daquilo que entender.
Oiço endechas ao Seguro, no Congresso, e encómios e mais louvores. Não me agradam. Porque em tempos, uma vez corrido o governo de Sócrates por toda a escumalha junta, o país elegeu o Relvas como era de prever, e o PS escolheu um secretário-geral novo, conforme lhe competia. Seguro saiu daí. 
Era outro filho da Jota, como tantos, e do aparelhismo do PS. Ninguém lhe reconhecia experiência nem currículo, profissional ou político. Não possuía carisma nem discurso, nem pensamento visível. Tinha boas relações no aparelho, foi isso que o elegeu.
Durante um ano de oposição cultivou o silêncio, absteve-se, foi ausência. Deixou o campo livre aos marginais que aí andam, facultou-lhes todo o tempo e todo o espaço para injuriar o PS e metralhar os governos de Sócrates. Mesmo em assuntos que seriam natural motivo de orgulho patriótico.
Um dia sentiu que a terra lhe tremia debaixo dos pés, a contestação subia dentro do PS. Então Seguro acordou e acelerou em frente. Apresentou uma moção de censura de que o governo se riu, e adoptou um discurso duro, interventivo, centrado sempre numa primeira pessoa extravagante. O Costa guardou a espada na baínha, outras vozes quedaram apaziguadas. E agora estamos aqui. O governo espera que um gato-pingado venha amortalhá-lo. E o PS discute o que é urgente fazer.
Os encómios e louvores a Seguro não me agradam, que o homem é todo plástico e não convence ninguém. Troca favores com o ranço burocrático e aparelhista do PS, que é coisa que lá não falta. Mas não era nada disto que o PS precisava, e o país que ainda é o nosso muito menos.

Se o discurso fosse tudo

Este era o certo. O pior é que não basta, por vir tarde. E porque isto não está para rapazolas.

Por este rio acima 2

O barco vai de saída!

Estilhaços

Foi então, a meio duma tarde, que chegou um alferes do batalhão da Cuimba, com o pelotão de morteiros. Tinha um vago estilo aristocrata, amamentava exóticos ideais monárquicos, e frequentava o quarto ano de medicina quando o recambiaram para São Salvador do Congo. Estacionou os dois burros do mato em frente do que sobrava da sé catedral resumida às paredes, apresentou de raspão uma guia de marcha na secretaria do comando, mal saudou os aviadores que despejavam bidões de combustível nuns bombardeiros cobertos de poeira e dirigiu-se a casa.
A mulher era legista, praticava de notária, servia de magistrada. Morava numa casa da avenida, e estava ausente em Luanda, na companhia dum alferes médico. 
O artilheiro reuniu o pelotão, montou nos burros do mato e regressou à Cuimba. Mandou formar no meio do terreiro, meteu uma bala na câmara da Walther que lhe pendia à ilharga, e descarregou os nove milímetros dela nos miolos. Uma semana depois a história já estava morta. Ninguém gosta de viver com estilhaços que matam.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Opus magnum, disseste?!

E o que é que se faz com este, de 1979? Na altura o FMI rondava aí...

Por este rio acima 1

Parece que cada artista tem na sua vida um opus magnum. Verdade ou não, Fausto Bordalo Dias brindou-nos em 1984 com um trabalho de génio, que não se repetiu. Alguns ter-se-ão dado conta disso, a pátria sonolenta não deu claros sinais.

[NOTA: Esta série de composições de Fausto aparece aqui como exemplo maior da criação musical ligeira, em que a história, o mar, e uma reminiscência épica encontram expressão na tradição popular, com resultados que se sublinham. Mas seja claro que se não pretende aqui celebrar as epopeias, que se fizeram de equívocos e ruínas, de miséria e nevoeiros, e da fumarada inútil dos canhões!]

Com uma lente especial

Vi-a sempre a setecentos quilómetros por hora, mal a via. E vejo agora, com esta lente especial, que a Guiné é uma terra tão bonita e comovente, como qualquer outra terra comovente e bonita.
A pátria, essa galdéria, ou alguém em nome dela, não me permitiram vê-la, quando a via.

Ó p'ra eles!

Convirá, e muito, ouvi-los! Pois que melhor cicerone, na caverna dos ladrões, do que o próprio Ali-Babá?!  

IC5

Em 1974, ir de Lisboa a Braga demorava sete horas. Quem viesse de Faro até ao rio Minho seguia as curvas de nível e fazia testamento, para algum acaso imprevisto. Coisa parecida sucedia, ainda ontem, a quem subia o Marão e demandava o planalto.
Claro que isso não tirava o apetite a uns burgueses salafrários, parasitas, decadentes, que reduzem a pátria ao perímetro da barriga, à freguesia da Lapa e ao estuário dum rio. Para eles a A23, a A24, a A25 são excessos que temos que redimir, porque isso está para além do que merecemos. Vão-se foder, com o maior dos respeitinhos! 
O IC5, por exemplo, é um milagre recente. Do alto do Pópulo até Alijó, a Vila-Flor, a Carrazeda de Ansiães, a Alfândega da Fé, a Moncorvo, a Mogadouro, a Freixo-de-Espada-à-Cinta, à Miranda do Douro Internacional... é um salto ao paraíso. 
Os alemães não permitem?! Queriam-nos ver a subir a calçada de Alpajares, do tempo do Júlio César, para chegar a Trás-os-Montes?! Vão-se foder outra vez!

Realidade virtual

Desemprego em Espanha - 27%;
Desemprego jovem em Espanha - 57%;
Desemprego na Ibéria - Mais de sete milhões de pessoas;
Desemprego na UE - Trinta e sete milhões de pessoas.
Nem uma fuga para a realidade virtual salvaria esta Europa!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Se podes olhar, vê.

[Biblioteca do Convento de Mafra]
Se podes ver, repara. [Saramago]
E pasma, se te apraz, que eu já embasbaquei!

Outros cucos

Outras falas!

Cucos

O cuco já chegou mas não se mostra, é manhoso. Cala o seu oportunismo e põe-se a cantar ao longe, emboscado nos carvalhos. 
Ao rouxinol distraído em madrigais e devaneios, deixa-lhe no ninho um ovo e parte, a flautear. Vai pregar a outra freguesia.
Um dia vai para Marrocos, deixa atrás a filharada, aos cuidados do asilo. É um Gaspar em natural e sem olheiras, com sotaque mais fluente.

Voyeurismos

Ainda a manhã andava por Castela, já se lhe ouviam cochichos na escuridão do beiral. Dele ou dela, vá-se lá saber agora!

Andorinhas estrelas e palavras


«Como hão-de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras.»*
E distintas também das andorinhas, pois não retêm paisagens. As palavras, essas aves, também chegam um dia e incendeiam o céu. Se lhes não lanças a mão e as fazes tuas, logo tornam a partir. Nunca regressam.
[*Pe. António Vieira]

Carrilho e Rita, ou vice-versa, sei lá

Este modo frenético do Carrilho, a pôr a mãozita canhestra atrás das costas para proteger as misérias, desperta em mim a costela do humor negro.
Certa manhã, quando a Rita se atrasou, logo uma colega disparou:
- Ó Rita, trazes cuecas de aço?! É que o chefe já chegou!

O que estes espantalhos temem é o pontapé no cu

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Intermezzo

Gracioso.

25A


Apesar dos cínicos, apesar dos salteadores, apesar dos escroques e dos decadentes, e sobretudo por causa deles todos, SEMPRE!!!

Meus senhores, como sabemos, há diversas modalidades de Estado: o estado social, o estado corporativo e o estado a que isto chegou. Nós vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!
Salgueiro Maia, às tantas da madrugada, em 25Abril74

Todos mortos

Como analista ou como comentador, com aspirações políticas futuras ou sem elas, Sócrates está aos domingos na TV1. E faz bem.
Ao menos podemos uma vez correr os olhos na pantalha, sem que alguma coisa nos cause vergonha, ou nos provoque nojo, ou nos viole o pudor.
Faz-me lembrar uma frase que um dia o André Malraux deixou cair, talvez não expressamente para esta circunstância: A Gioconda sorri, porque todos os que lhe puseram bigodes já estão mortos.

Faz-te falta um retrato personalizado da vergonhosa elite decadente do país a que pertences?!

Tens um aqui!

domingo, 21 de abril de 2013

O diabo e a mãe dele


Cá em casa ninguém é socratista. Cá em casa, quanto existe é um pai-adão das Caldas de faxina a malfeitores, a escroques, a bandalhos decadentes, e aos seus cúmplices canalhas que há dois anos carpiram baba e ranho contra o PEC IV e correram com Sócrates. 
Uns e outros, todos juntos, foram muitos. E cá em casa ninguém se esquece deles, porque se guarda a memória das traições.
Iam livrar o país dos braços do diabo, e atiraram-nos para as unhas da puta da mãe dele. Cá em casa, a pena é a de Talião, para essa gente. Nem o tubo inteiro da vaselina com que estão habituados a viver lhes garante melhor sorte!

Luxo!

Digno herdeiro da extinta PERIFÉRICA, este blogue é um multifacetado exercício de inteligência supina. Nos tempos que correm é um luxo!

Assombração e andorinhas

É impossível dizer mais mal deste governo, dos seus enganos e malfeitorias, do que o mal que dele dizem hoje os seus amigos. Aqueles náufragos tristes, e são muitos, que durante anos não pouparam na calúnia, na inverdade, na injúria, no manobrismo e na manipulação, para o porem de pé.
Por isso não se ouvirá aqui mais uma palavra sobre esta assombração. Ademais a primavera e as andorinhas que há nela, essas tais que voltam sempre, estão aí!

Cosmogonia prática

Os Deuses moram no éter do Olimpo, disparam raios de longe e são quem manda.
Os Titãs habitam as estrelas deste céu, com mais ou menos luz, conforme o caso. E todos eles trazem nas queixadas os freios dourados que os Deuses lhes impõem, mas não mostram.
Nós, os bichos reais, de carne e osso, habitamos na Terra, o único lugar que ficou livre e ainda resiste. Sujeitados à chuva ou ao bom tempo. 
Há que sermos frugais, ordenarmos a cabeça, e ajustarmos as passadas ao tamanho da perna. E darmos ao desprezo os estoicismos austeros e penitenciais que ouvimos apregoar. Não passam de muletas com que nos confundem os Deuses que não vemos, e os Titãs que estão à nossa vista. Para nos trocarem os olhos, enquanto eles afagam a barriga redonda.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O do rabo longo


[da capo]
O abelharuco, que tem o rabo longo, passa o tempo a estudar o relvado, saltitando entre a faia e a figueira. Não são, a bem dizer, os figos que o motivam, mas os grilos. Quando algum se arrisca no carreiro, mergulha em cima dele. Crucifica-o no bico, vai sentar-se num galho e come-o. Passou a manhã nisto.
Fora disso abriga-se na sombra e alarga as penas à brisa, a refrescar-se. Só volta ao chão se um grilo se aventura.
Mas mal a gralha, que tem a fala dura, espanejou as asas e desce do carvalho, logo o abelharuco desampara o relvado. Esquece grilo e tudo.

Guerras

« (...) O extremismo doméstico é um fenómeno em crescimento e pouco percebido nos Estados Unidos. (...) Nos últimos anos, os terroristas da extrema-direita têm sido mais activos nos EUA do que a Al-Qaeda. (...)» [ John Horgan, Pennsylvania State Universitiy, in PÚBLICO]
- Oklahoma, 1995, 168 mortos, centenas de feridos; 
- Columbine, 1999, 13 mortos, 21 feridos; 
- Twin-Towers, 11 Set 2001, quantos foram?!; 
- Virgínia, 2007, 32 mortos, 17 feridos;
- Boston, 2013, três mortos, 167 feridos; 
West, Texas, ontem, em estudo...
Acidentes da natureza?! Guerras do bem contra o mal?! Do império contra a Al-Qaeda?! Da liberdade contra o terror?! Da National Riffle Association contra um presidente chamado Obama?! Da plutocracia financeira contra os povos todos do mundo?! 
Não estamos na véspera de o saber. O único dado certo é tratar-se de uma guerra da barbárie contra a civilização.
Quem há muito tempo o sabe há-de ser G.W.Bush, e Dick Chenney, e Donald Rumsfeld, e os plutocratas do Goldmann Sachs, e os agiotas da City e de Wall Street, e os fantasmas cinzentos do grupo de Bilderberg, e da Comissão Trilateral, e do CFR, que puxam os cordéis todos. Mas esses estão muito calados, enquanto o mundo se vai esfacelando.

Paleio de cona

Louçã foi entrevistado ontem na TV1. Fez um bonito discurso, enquanto estudioso dum conjunto de conceitos a que chamam economia, e praticante de um conjunto de outros a que chamam política.
A dada altura, num contexto que já escapa, o jornalista introduziu a questão magna: Passos Coelho, enquanto primeiro-ministro, é uma criatura de meter medo?!
Louçã iludiu esta questão, mas desencravou uma outra: O que andava a sonhar a lucidez cristalina de Louçã, quando em Março de 2011 despachou o PEC IV de Sócrates, e empurrou o povo ignaro para este matadouro?! É que um cidadão atento podia então intuir a resposta, mesmo sem ter carta de pesados! O resto é paleio de cona, que às vezes confundimos com inteligência.
A iliteracia discursiva patente e a correspondente desarrumação do pensamento, o primarismo intelectual, a cultura menos que rudimentar, a inadequação do momem à função, a impreparação humana, técnica e política, o improviso oportunista como forma de acção, a ausência de qualquer currículo salvo o videirismo da Jota, o carreirismo oco, a dependência de onagro dum golpista como o Relvas, a flagrante ganância golpista do poder, a mentira como argumento essencial, a ausência de gravidade, o tacticismo dum meliante vulgar... tudo isto era já patente no retrato. Se ainda não metia medo, já prometia borrasca. E Louçã estendeu-lhe o tapete vermelho.

V Império

«Nesse momento ingente, mais do que confessor e pregador régio, Vieira é o amigo e confidente do rei [D. João IV] e seu avisado conselheiro. Divulga então as linhas mestras do V Império, ideal utópico e profético com que, pregador, seduz ouvintes e mobiliza vontades, numa sociedade [pós-filipina] dividida e ainda em estupor. Além da filosofia e da força, quase vidente, de um discurso, anuncia para breve o "tempo oportuno" em que a paz, o amor espiritual, a abastança e a justiça reinarão no mundo.»
[in ATUAL, 13 de Abril]

O bom Vieira inventou o V Império, fez o que tinha a fazer no seu momento. Para resgatar a alma portuguesa dos escombros, do desespero e do erro.
Mas Portugal tomou-lhe à letra o tal império, e continuou a sonhar. Muitos visionários ainda sonham hoje, sem aspirar a mais nada.

O problema

O problema é que isto são sermões a uns caralhos duns peixes que não têm caixa craniana onde caiba um simulacro de cérebro. É gastar latim com asnos sem vergonha. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Se quiseres aprender

Basta ir ler.

Pavana para uma cabra defunta, que viveu na insânia e morreu na insanidade

Viveste a vida do lado escuro da lua, cabe-te na morte o lado escuro da terra:
- pelas vidas dos militantes do IRA que sentenciaste à morte pela fome;
- pelos trezentos marinheiros do cruzador Belgrano, que mandaste sepultar em águas livres, muito longe do teatro da guerra das Malvinas;
- pelo conúbio moral incestuoso, que mantiveste com o teu irmão Pinochet;
- pela insânia que soltaste pelo mundo e ainda hoje sopra aos quatro ventos;
- pelo desprezo insensível e arrogante que votaste aos teus irmãos mais fracos.

O povo inglês, que é ilustrado e algumas vezes lúcido, tem-te dado respostas adequadas. E hoje manda que este teu funeral de dez milhões seja também privatizado e posto em praça, para custear os dez quilos de cal viva que te esperam.

Que esta nossa generosa terra te aconchegue com um calor de 1.500 graus, e te cubra com 50.000 atmosferas, pois só assim o carbono de que és feita poderá transformar-se em diamante!
Depois disso, voltamos a falar.

Aberração semântica

Manuel Alegre é um poeta, um homem de letras e cultura, por força há-de ser um jardineiro da língua. Isto para não dizer que mais lhe incumbe, no jardim da gramática, o papel de arquitecto paisagista.
Na televisão, ele acaba de dizer que Mário Soares esteve em perigo de vida.
E isto é uma irritante aberração semântica. Porque uma coisa é ter a vida em perigo, equivalente a estar em perigo de morte. Outra coisa bem diferente é estar em perigo de vida, que é coisa que não existe. Salvo enquanto sarcasmo metafórico, como acontece em Portugal nos dias que vão correndo, em que estar vivo significa estar em perigo.
O linguajar indígena já fez desta expressão lugar-comum. Porque pensa pouco na gramática, para não dizer que tem mais em que pensar. Não é esse, porém, o estatuto dos jardineiros da língua, muito menos dos paisagistas dela. Cá por mim, ainda me lembro muito bem da meninice, quando todos os postes de ferro da EDP assinalavam em placa: PERIGO DE MORTE! ALTA TENSÃO! Com um raio de Zeus que me assustava.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Ecos da Sonora - LIV

A avaliar pelo que se vê nos escaparates dessas livrarias, não há por aí cão nem gato que não segregue o seu romance histórico. Uma rainha antiga, alguma cortesã, uma curva qualquer mais escabrosa da História, e lá vai disto! Lá lhes parece que está ali o material à mão, a papinha já feita, não há mais que inventar nem construir. Há mesmo quem nos explique esta crise medonha, na forma dum romance. Os editores agarram no produto e fazem-no render, à sombra das malas-artes da literatura. E a estatística demonstra que muitos leitores caem na esparrela, tal e qual como aos patos acontece.
Ora nem a literatura se ocupa de inventariar e analisar as peripécias da História, nem lhe compete fazê-lo. Que isso é labor de académicos e ensaístas. A literatura não reproduz realidades particulares, inventa mundos mais vastos. Constrói quadros verosímeis, que nunca foram, nem são. E bem poderiam sê-lo. Mas só o são ali, com tudo o que isso implica, no texto literário. Ora isso é uma coisa que dá muito trabalho e rende pouco.
É assim que alguns escribas amolgam a História, defraudam a Literatura, e abusam da ingenuidade dos leitores. A sua única vantagem é afagar-lhes a preguiça, trocar-lhes as partes chatas por um resumo Reader's Digest, em troca duns patacos.
Não é que o romance histórico não exista, com proveito geral e bom exemplo, enquanto género da literatura. E esta obra de Garcia Márquez aí está para o demonstrar. Ocupa-se da figura de Simón José António de la Santisima Trinidad Bolívar y Ponte Palacios y Blanco, o Libertador da América espanhola, e do seu falhado sonho de unidade dos povos da Venezuela, da Colômbia, do Peru, do Equador, da Bolívia, da Guiana e do Panamá, no início do séc. XIX. Utiliza da História as datas, os lugares, a onomástica, os dados biográficos da personalidade do protagonista, e provavelmente as peripécias, percursos e itinerários diacrónicos em que assenta a narrativa. Já a construção da personagem central e das inúmeras figuras que a acompanham, a elaboração da sua densidade humana e psicológica, a teia do seu quotidiano, é um trabalho invejável de ficção narrativa. Dificultada pelas balizas que a História impõe como realidades obrigatórias, muito mais difícil se torna a ficção que a segue a par, e bem mais fácil anda quando marcha sozinha. O resultado é um trabalho de mestre.   
Perdidos os sonhos e a fortuna, esgotado o vigor físico e a três passos da morte, acompanhado pelo escravo José Palácios nunca formalmente alforriado, o general parte de Bogotá para Cartagena de las Índias, onde promete embarcar para a Europa. É durante o tempo da viagem que, em sucessivos regressos cuja estrutura se repete, o passado da personagem nos é apresentado. 
Morre a caminho do mar, perante "a pressa sem coração do relógio octogonal, desenfreado para o encontro inelutável de 17 de Dezembro, à uma hora e dezassete minutos da sua tarde final".
De forma que, leitor empedernido, se te oferecerem romances históricos que te dispensam de conhecer a História em troca duns patacos, e te dão a ilusão de estares sentado à mesa da literatura, manda-os contar histórias aos netinhos!

Quanto mais se lê mais se conhece

Já sobre o resto... sobre a verdade e tal... isso é outra questão!

Os costumes da pátria

«(...) O reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, num comunicado publicado no site da Reitoria, reagiu ao despacho de Vitor Gaspar (...).
Pela voz de António Rendas, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) fez saber que não acompanhava Sampaio da Nóvoa nas suas críticas, e que tinha escrito uma carta ao ministro da Educação, para ver se seria possível arranjar uma solução particular... (...).
A cartinha de Rendas é o melhor exemplo possível (o pior exemplo de facto) da forma como a hierarquia da Universidade portuguesa se habituou a funcionar: sempre medrosa, sempre subserviente perante todos os poderes, sempre habituada a jogar a carta da panelinha e do pedido de favor nos gabinetes dos ministros, em detrimento de uma posição pública digna e transparente, e duma defesa clara do bem comum. 
Perante a degradação da democracia, a degenerescência do Presidente da República, o colaboracionismo do Governo, a promiscuidade do Parlamento, o sectarismo dos partidos, os privilégios da Igreja, a iniquidade da Justiça e o descrédito dos media, penso que a Universidade é uma das raras instituições com uma réstia de respeitabilidade na sociedade portuguesa, e felizmente que existem no seu seio intelectuais de coragem que não alinham pela voz do dono. (...)
[In PÚBLICO, José Vitor Malheiros]

Refrigério

A olaia, compassiva, soube das nossas misérias. E antes mesmo que as folhas abrolhassem, desfez-se em cachos de flores. Para refrigério dos olhos.

Boston

Sobre o que ali se passou, já sabemos, por Cavaco, que tudo aconteceu no delicado momento em que as rodas do avião lhe tocavam no chão, dumas terras por onde também andou Simão Bolivar. E não esperamos, dali, saber mais nada. Ele já nos disse o que é mais importante.
Já de Obama esperamos muito mais. Esperamos saber tudo, e bem explicado. Porque nos lembramos das Twinn Towers, há uns anos, que vieram alterar o mundo e a nossa vida. E tudo o que nos deram, então, como explicação, não convenceu ninguém, porque não é a verdade. O pouco que nos mostraram não escondeu o muito que ficou por revelar. E que um dia saberemos, quando já não fizer falta.
As tragédias pessoais são questões que a compaixão ressalva.
Aguardemos então. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Reflectindo

Bernard-Henry Levy: «(...) Se a Europa não se constituir como entidade política, o euro desaparecerá com consequências imprevisíveis. (...)
Antes dizíamos: socialismo ou barbárie. Agora devemos dizer: união política ou barbárie. Ou melhor ainda: federalismo ou ruptura. E, no seguimento da ruptura, regressão social, precariedade, explosão do desemprego, pobreza. Já não temos escolha: união política ou morte.»
Zygmunt Bauman: «(...) Há uma tendência europeia para ser simultaneamente o caixote do lixo dos desafios globais e um laboratório de ponta, onde são testadas formas de resolver desafios. Existimos hoje em suspenso, em contínuo estado de conflito, e o modelo Estado-Nação está posto em causa, se não ultrapassado. (...)
Vivemos numa época de globalização 'negativa', referindo o que resiste ao controle político (capitais financeiros, comércio, tráfico de armas ou drogas), sem que tenhamos ainda conseguido alcançar a globalização 'positiva', isto é, um organismo político capaz de controlar os danos da convergência acelerada, e de centralizar, por exemplo, decisões económicas.
Nas actuais condições, determinadas pela globalização 'negativa', cada nação tem maiores possibilidades de preservar a identidade se conceder parte da soberania à União, do que se enveredar por um combate isolado na tentativa de a preservar, acabando por ser vítima das forças do mercado que a destruiriam. (...)»
Domenico de Masi: «(...) Um dos paradoxos do capitalismo é que a riqueza não se distribui de forma igual, mas agrega-se na mão de poucos, se não existir regulação. Quando a riqueza se agrupa em poucos, o consumo cai. E se o consumo diminui, o mercado encolhe. Outra contradição resulta de os bancos comercializarem mais do que a riqueza real. (...)»

Tooiiinnngghh!!!

Como?! 
Ou melhor: O QUÊ?!

A tragédia repete-se como farsa

Há dois anos, os aventureiros do BE, de mão dada com as múmias do comité central, ataram-nos as patas com um barbante e levaram-nos ao açougue. A tragédia está em palco.
Agora encenam a farsa, atirando fora a máscara.

Epifania

Nesta nossa estrada de Damasco, chegou ontem a minha epifania. Tardio, o meu cepticismo, que finalmente cedeu.
É necessário, urgente, inadiável, despejar este governo na vala comum. Um vazio qualquer no seu lugar será menos funesto.

Memória futura, que convirá guardar, desta comédia trágica

Acto I.
Acto II.
Acto III.
Cai o pano. É quando finalmente descobrimos que, no palco deste teatro patético, há uma única figura com tomates. Espantando-nos com aquilo que não tem.

sábado, 13 de abril de 2013

Para quem ainda tinha dúvidas

«... so he is [Gaspar is] a troika's finance minister
Este inacreditável link foi tomado AQUI.

Observe-se atentamente a cena:
Jornalista da tv irlandesa - Refere que o sr. Ashoka Mody, antigo chefe de missão do FMI na troika irlandesa, afirmou: Mistakes were made, when so many austerity measures were imposed on Ireland, as part of the baillout deal.

Voz de Ashoka Mody, que reconhece o erro - The risks of the program succeeding were such, that this complete reliance on austerity was not a reasonable way to go.

Comentador económico irlandês - Compara os casos de Portugal e da Irlanda, e diz que Gaspar sustenta o ponto de vista contrário ao de Ashoka.

Linguajar do Gaspar - For many years, Portugal had excess demand, and a very low productivity growth, and a very low grouth. So excess demand does not automatically bring grouth, which means that expansionary demand policies does not work all the time. The problem in an adjustment program, is that you have in essence to allways ballance the shorten (?) cost from austerity , with the need to have a credible process of regaining market access, to have a credible path towards sustainable public finances. (Sugestão: Durante muitos anos, Portugal teve excesso de procura, e um crescimento da produtividade muito baixo, e um crescimento muito baixo. O excesso de procura não traz crescimento automaticamente, o que significa que políticas expansionistas da procura nem sempre funcionam. O problema num programa de ajustamento é que, nas essência, é necessário sempre balancear o custo dos cortes (?)da austeridade com a necessidade de ter um processo credível de reconquistar acesso aos mercados, de ter uma trajectória orientada para umas finanças públicas sustentáveis.)

Jornalista, irónico - O ministro das finanças português está de facto a defender a troika!

Comentador - Diz que Gaspar é um top level economist, um alto quadro no BCE e na UE, e concorda: He is, I suppose, a troika´s finance minister!

( Nota: É hora de concluirmos que estamos de facto, e directamente, nas mãos dum gangue supranacional de facínoras financeiros. O Gaspar, que de facto manda no governo e sustenta a ideologia, é um alienado de luxo, companheiro natural de jornadas de António Borges, Draghi, Monti, Lagarde, Barroso e muitos, todos saídos dela e às ordens da pirataria do Goldman Sachs, do Citygroup, e outros. 
E o PPD nacional, que lhes dá cobertura interna e nos meteu nisto, acabou a dar nesta triste seita de traidores ao povo e à pátria, por pura ganância de poder e suas benesses. Cada um meta a mão na consciência e tire as suas conclusões. Porque, sucumbir talvez; mas saber às mãos de quem, é o mínimo exigível.]

Há cinco anos

Primavera indecisa
Tenho à espera a Feira Cabisbaixa atrás dum microfone, a Feira do O'Neill, a feira de nós todos, que um cego encomendou à biblioteca sonora. Mas encontro no jardim de S. Lázaro a primavera a hesitar.
As camélias já andam pelo chão e a primavera a hesitar, incham os botões dos rododendros e a primavera a hesitar, os rebentos das tílias a explodir e a primavera a hesitar, os velhos da sueca, são quinhentos, a improvisar a banca e a primavera a hesitar, e a mimosa das coxas tentadoras a faltar-me no passeio, o riso quotidiano, bons-dias mimosinha, e os dentes de marfim, o drapejar da pestana, o peito da mimosa a faltar-me nos olhos, as formas arredondadas a morder-me no ventre e os pombos num badanal, a mulher desdentada a pedir-me um cigarro, a levar dois para a amiga encostada na esquina, a solicitar-me o favor dum lume, a mesura brejeira a agradecer-me, a aventurar se gosto de ir ao quarto e eu a dizer-lhe que não, um trunfo a cair na mesa a esquartejar a manilha e os pombos amotinados, e a mimosa que lá vem dobrando a esquina num riso de Gioconda a tentar-me de longe, os pés que já não comando na direcção dela, um instinto a farejá-la, a correr-lhe a garupa, o flanco acolchoado, o lago misterioso, quanto vale o teu riso mimosinha, a primavera ainda a hesitar e eu a deslizar-lhe a nota na palma acetinada, um roçagar de leve, uma aflição de seda...
E vou-me então à Feira Cabisbaixa, à Feira do O'Neill, à feira de nós todos, que um cego precisa dela, e a primavera enfim se decidiu.

Contentamento descontente

Estava ali a ouvir ladrar na televisão. Que num encontro dos boys do PPD, apareceu um voto de louvor e agradecimento pelo trabalho dum ministro já defunto. E que houve, pelo menos, uma voz que disse não, duas ou três que hesitaram, e que tal...
Fiquei todo contente com a surpresa. Porque afinal, nesta caverna do Ali Babá, resiste ainda um rizoma de vergonha e dignidade. 
E lembrei-me de que, num tempo antigo, também andaram por lá (oh ledo engano!), um Emídio Guerreiro libertário, a própria Helena Roseta, e o furacão da Natália Correia, vejam só! Fiquei todo contente com a surpresa.
Logo em seguida aparece-me o Seguro, a visitar as tropas fronteiriças, que são as tropas que o vão reconduzir. Na liderança, e tal... E lá se foi o meu contentamento.

Confissão

Carlos Vargas era um viçoso apêndice do ministro Álvaro, chamado para assessor há cerca de um ano. Por razões que pouco interessam, foi agora abatido ao efectivo.
É depois disso que surge a confissão: «Gaspar é um psicopata social». Isto assim, dito de chofre, a nós que víamos nele um gangster das finanças a fingir de inimputável! 

A procura do conhecimento permanente

Nos longos tempos do cavaquismo antigo (porque há outro que é moderno), tivemos na Educação uma constelação de especialistas que deixaram legenda. Foram eles, entre muitos, João de Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, um tal Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite herself.
Eram as décadas de oitenta e de noventa, dos dinheiros baratos da Europa (essa canela duma Índia nova), da bolsa eufórica, dos investidores arrojados, dos empresários do futuro e do pugresso. As universidades públicas não davam para as encomendas, o mercado andava numa fona, e os próprios estudantes, quem diria, ninguém pegava neles. 
Foi então que as universidades privadas romperam a nascer como tortulhos à chuva. Nem vale a pena aqui enumerá-las, cada uma delas era um caça-níqueis a abarbatar as  propinas, e a regra única era a do livre mercado.
Em Fevereiro de 2010 eram ministrados no ensino português 5.262 cursos superiores, com as designações mais extravagantes, e o número de analfabetos funcionais diplomados nunca foi tão extenso. Até que um ministro do Sócrates, o Mariano Gago, pôs finalmente a funcionar a A3ES (Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior), tendo sido eliminados até hoje 1.457 cursos. Salvou-se à justa a procura do conhecimento permanente, o lema da vida dum renomado ministro.

Ó Portas!

Então essa coisa do Simplex não era um truque de cartas que usava o cabrão do Sócrates?!

Pensamento e linguagem

Não há pensamento sem linguagem. É ridículo dizer que tenho um belíssimo soneto aqui debaixo da língua e não me sai!
Menos ainda existe um pensamento elaborado, sem um discurso adequado a dar-lhe corpo. O pobre do Passos que o diga!
Alfredo Barroso pensa, e bem. E sabe exprimir o pensamento num discurso cristalino. Não é um espontâneo dos comuns. Vai vê-lo aqui.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Deus pensou o mundo

E os homens fizeram-no. Os plutocratas chegaram já tarde.

Leva algum tempo

Mas deixar de ser carneiro vale a pena.

Dá-lhes música

Desta!

O último judeu

Agora judeus já os não há, como os houve antigamente. O que há hoje são uns tipos de franjinhas, a bater com a cabeça na parede. Lá disso anda o mundo todo cheio.
No tempo em que os havia, o caso era muito grave. Eram letrados e médicos, alquimistas e filósofos, e não gostavam de missa. Faziam contas à vida, emprestavam a el-rei, agarravam-se ao trabalho, ensinavam a viver. Ora dinheiro é poder.
Por tudo isso, ou em parte, é que o massacre se deu. Em Lisboa, há uns quinhentos anos, saiu a carnificina da igreja de São Domingos. E durante uns bons três dias aconteceu a sangueira. Quatro, cinco, seis milhares, até não sobrar nenhum.
O que sobrou foram os frades, e é deles bom exemplo o Mário Crespo. Um dominicano sem fardeta a oficiar num ecrã, e a reduzir tudo aquilo a uma obscura questão de racismo e de xenofobia. 
Ora onde há dominicanos sem haver judeus, forçosamente algum teremos que inventar, para lhe fazer o papel. Tem sido assim desde então, ao longo da nossa história, com satisfação geral. E foi assim também que o Sócrates se tornou no último judeu que nós tivemos. 
Não era ele um homem inteligente e esforçado? Era. 
Não foi ele um ministro diligente e patriota? Foi. 
Não conseguiu ele, antes da crise, o mais baixo défice que tivemos (2,9)? É verdade. 
Não lutou ele por melhorar o ensino e a escola pública, para combater a nossa ignorância, com a ministra então sinistra? Assim foi. 
Não introduziu reformas na Segurança Social para a tornar mais sustentada, com o Vieira da Silva? Sem dúvida. 
Não deu ele as primeiras caneladas nos interesses da corporação dos magistrados, para nos livrar dessa nova corte de reizinhos absolutos e de eminências de palha? É verdade, e pagou pela ousadia. 
Não iniciou ele, na economia das energias renováveis, um campo em que alcançámos posições cimeiras? Quem diria, mas assim foi! 
Não abriu com ele, no projecto Magalhães, o campo das novas tecnologias, que alimentam hoje mercados estrangeiros? Basta ver. 
Não foi com ele, e o Mariano Gago, que a universidade pública deu um enorme salto em frente, que nos orgulha ainda hoje? Quem duvida!
Não lutou ele para combater os atavismos da nossa história, e tornar Portugal um país melhor e mais moderno? Como poucos.
Não cometeu ele muitos erros (o Sabor, o vale do Tua, um aeroporto novo, talvez algumas estradas, que outras eram, e ainda são, indispensáveis...)? Acontece com marqueses! 
Não era ele determinado e corajoso, a pontos de parecer um arrogante? Era. 
Não possuía ele os dotes duma oratória invejável? As oposições que o digam. 
Não reduzia ele à sua insignificância os diletantes adversários parlamentares que enfrentava nos debates, e só estavam interessados nas intrigas do poder? É só lembrar. 
Não foi a crise internacional, nascida em 2007 do subprime americano, criadora dessa grande ratoeira das dívidas soberanas na Europa, que levou as instâncias europeias a recomendar em 2009 políticas nacionais contra-cíclicas, como forma adequada de a enfrentar? Só para quem nunca soube isso, ou já não lembra. 
Não foram tais decisões que passo a passo levaram ao plano inclinado dos défices orçamentais, na Europa e em Portugal? É só ir ver. 
Não foi a queda da Grécia que acelerou o descalabro? É ver o filme. 
Não foi a perversidade histérica do rating, e a ganância da finança de Wall Street e da City, que não largou a presa enquanto não fez dobrar os joelhos aos povos da`Europa com as tretas da austeridade? Só o não foi para aqueles que ainda acreditam no Pai Natal. 
Não resistiu Sócrates com inteligência e firmeza, enquanto lhe foi possível, ao fatal recurso à troica? Está escrito, gravado, documentado. 
Não foi Sócrates brindado, desde o primeiro momento, com a calúnia decadente da panasquice? Mentiroso compulsivo? Autocrata? Intratável? Incapaz de criar consensos? Corrupto? Traficante de negócios e influências que nunca ninguém provou? Conspirador em escutas contra a República, que vieram a revelar-se exactamente ao contrário? Violador das liberdades da pátria? Controlador de jornais? Receptador de envelopes castanhos e caixas de robalos? 
Não foi Sócrates, em pessoa, o grande inimigo público, a causa de todo o mal?
Não foi Sócrates o político português mais odiado, numa cena que já se não vivia desde o Marquês de Pombal?
Não foi o mesmo Marquês totalmente ostracizado, depois que lhe faltou o apoio dum rei morto, e chegou uma rainha esparvoada, que entregou o país à Viradeira?  
Não foi Sócrates perseguido, execrado, estorrado em lume brando, por uma oligarquia de pulhas e os seus sabujos dos media, durante os seis anos de governo? 
Não foi Sócrates o último judeu da nossa história? 
Muitos portugueses acreditaram que sim, porque o ouviram dizer a uns dominicanos que aí andam. Uns de fardeta, que lhes está no sangue, na natureza e na classe. Foram sempre o que hoje são. E outros sem farda, futricas, como é o caso do Crespo, da esquerdalha geral, e das múmias do comité central. Todos eles em conjunto o levaram à fogueira.
Depois foderam-se todos, isso é claro! E Portugal também se fodeu com eles, o que é mau. Não é esta a vez primeira! Nem segunda!

E levanta-se o padeiro às quatro da manhã!

«De caminho, B.P. de Lima retoma outras perplexidades a que dez anos de distância não diminuem o impacto, e as três mais importantes passam por perceber o que levou à escolha das Lajes como palco desse encontro, por que razão Jorge Sampaio não teve mais visibilidade nesse processo (como se o seu silêncio fosse uma espécie de compensação pela crescente influência do Presidente na política interna), e qual o papel que essa semana desempenhou, mais tarde, na escolha de Durão Barroso para presidir aos destinos da Comissão Europeia.»

Faço a pausa da ventilação. E questiono-me como escreverá este marmelo, quando não está a fazê-lo exactamente para a revista LER.
Mais um dos tais que não foi capaz de ler o Memorial do Convento, porque abusa da frase muito longa e não respeita a pontuação!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Do que aqui se diz romano...

... há quem sustente que é godo. Tanto faz! Que a maravilha, romana ou moura, é igual!

A César dar o que de César é

[Evacuação pós-emboscada - Guiné]
«(...) O exército é o espelho da nação, e isto era o que se lia nos panfletos colados a esmo nas ruas da cidade, virava-se uma esquina e logo tropeçavam os olhos naqueles rectângulos de cor envergonhada e baça, não tão baixos que pudesse mão herética meter-lhes a unha e silenciá-los, nem tão altos que risco houvesse de perder-se na atmosfera da tarde a jaculatória patriótica, o exército português é tão bom como os melhores. Muito melhor que os melhores, diremos nós para que a verdade se saiba, pois convém a César dar o que de César é, e para o provar vamos ali à foz do Massanza, um destacamento avançado onde um pelotão de atiradores vai defendendo a soberania, do outro lado do rio alastra na paisagem, entre arames farpados, uma sanzala de realojados, que estendem ao sol as misérias da lepra. Um dia os rústicos soldados saíram dos abrigos e deram-se a construir uma pista de aterragem, tinham-lhes prometido uma avioneta que poisaria ali uma vez por quinzena, não há nada melhor para romper o isolamento, para resistir à loucura ou receber o correio que houver, sempre se tem a ilusão duma ligação ao mundo. À custa de tempo e de suor aplainaram à mão esta faixa com dez metros de largo, esquartejaram umas dúzias de mangueiras bravas que arrastaram para as bermas, a pista começava logo à beira do rio e alongava-se até tropeçar ao fundo na colina, o resto do milagre haviam de fazê-lo os aviadores. E um deles o terá feito, uma vez sem exemplo, aterrou um dia a passarola mas só saiu daqui deixando atrás a carga toda e metade da gasolina, que a pista foi celebrada com cerveja mas não ia além de sessenta metros mal medidos, tudo quanto podemos fazer é passar em voo rasante e largar os sacos de biscoitos e massa, é largar as latas da marmelada e do atum, é largar os sacos do chouriço e da carne, se a houver. E foi a partir daí que toda a canzoada da sanzala passou a regular a vida por um estranho calendário, mal se ouve ao longe o roncar dum avião e logo os bichos se põem a atravessar o rio, espadanando na água as patas frenéticas. Cada um escolhe o seu terreno ao longo da pista, e é vê-los a disputar aos irados soldados os restos dalgum saco rebentado, lá vai este a fugir para o mato com um par de chouriços nos dentes, aquele abocanhou um pão, a princípio ainda se ouviam tiros e rajadas a afugentar os bichos, agora já nem isso, toda a gente afinal concluiu que a vida custa a todos, que todos ficam parecidos no retrato, o exército português é melhor do que os melhores.(...)»
[in As Aves Levantam Contra o Vento - 2007]