Em 1976 encontrei em Berlim dez mil chilenos refugiados, mas só conheci dois deles. Eram irmãos, e estávamos sentados ao sol dum jardim, muito perto do teatro de Brecht. Um deles sugeriu uma ida ao teatro nessa noite, e eu achei a proposta impertinente. Como é que se pode acompanhar a intriga, não conhecendo da língua uma palavra?!
Eu não conhecia a língua, menos ainda o que um palco nos pode mostrar sem ela. E levaria muitos anos a aprendê-lo. Mais do que eles podiam gastar à minha espera.
Dei ao mais novo umas botas que me ficavam escassas, e nunca mais nos tornámos a ver.