É verdade que não sou, nem estou em vias de ser, militante do PS. Ou doutra coisa qualquer, uma vez que só milito naquilo em que acredito.
Mas não é menos verdade que esta questão nos diz respeito a todos, e me consente a palavra. A um lado, porque qualquer solução para este intrincado imbroglio envolve obrigatoriamente o Partido Socialista. E a outro lado, sendo esta a minha casa, falo cá dentro daquilo que entender.
Oiço endechas ao Seguro, no Congresso, e encómios e mais louvores. Não me agradam. Porque em tempos, uma vez corrido o governo de Sócrates por toda a escumalha junta, o país elegeu o Relvas como era de prever, e o PS escolheu um secretário-geral novo, conforme lhe competia. Seguro saiu daí.
Era outro filho da Jota, como tantos, e do aparelhismo do PS. Ninguém lhe reconhecia experiência nem currículo, profissional ou político. Não possuía carisma nem discurso, nem pensamento visível. Tinha boas relações no aparelho, foi isso que o elegeu.
Durante um ano de oposição cultivou o silêncio, absteve-se, foi ausência. Deixou o campo livre aos marginais que aí andam, facultou-lhes todo o tempo e todo o espaço para injuriar o PS e metralhar os governos de Sócrates. Mesmo em assuntos que seriam natural motivo de orgulho patriótico.
Um dia sentiu que a terra lhe tremia debaixo dos pés, a contestação subia dentro do PS. Então Seguro acordou e acelerou em frente. Apresentou uma moção de censura de que o governo se riu, e adoptou um discurso duro, interventivo, centrado sempre numa primeira pessoa extravagante. O Costa guardou a espada na baínha, outras vozes quedaram apaziguadas. E agora estamos aqui. O governo espera que um gato-pingado venha amortalhá-lo. E o PS discute o que é urgente fazer.
Os encómios e louvores a Seguro não me agradam, que o homem é todo plástico e não convence ninguém. Troca favores com o ranço burocrático e aparelhista do PS, que é coisa que lá não falta. Mas não era nada disto que o PS precisava, e o país que ainda é o nosso muito menos.