Ganhas um doce, leitor, se puseres ali abaixo os nomes que lá não estão!
Sobre os equívocos literários que nos abusam do tempo, (cozinhados pelo mercado que mete a Literatura na Bimby do refogado), Manuel de Freitas dá-se ao trabalho de dizer o essencial. Só estão ausentes os nomes, porque ele sabe que essa tarefa nos compete a nós.
- Qual é o nosso melhor olheiro de talentos, que possui em carteira uma invejável colecção de prémios Saramago?!
- Quem é aquele adolescente a pedir colo, um tipo passa por ele e não resiste, faz-lhe uma festinha na cabeça?!
- Qual é o nosso escritor que ainda não venceu as guerrilhas da gramática, contra a sintaxe de quimbo dum sertão?!
- Quem é que se gasta a elaborar enigmas e charadas, e não precisa de mais, porque já tem o Nobel prometido?!
- Quem será este arquitecto que faz construções no ar, de belíssima estrutura, sem ter ninguém que as habite?
Vai um doce, leitor?!
A verdade, digam lá o que disserem,- Qual é o nosso melhor olheiro de talentos, que possui em carteira uma invejável colecção de prémios Saramago?!
- Quem é aquele adolescente a pedir colo, um tipo passa por ele e não resiste, faz-lhe uma festinha na cabeça?!
- Qual é o nosso escritor que ainda não venceu as guerrilhas da gramática, contra a sintaxe de quimbo dum sertão?!
- Quem é que se gasta a elaborar enigmas e charadas, e não precisa de mais, porque já tem o Nobel prometido?!
- Quem será este arquitecto que faz construções no ar, de belíssima estrutura, sem ter ninguém que as habite?
Vai um doce, leitor?!
é que tivemos muito pouca sorte
com os poetas (?) nossos contemporâneos.
Um nasceu em Galveias e tatua-se
ou alfineta-se para disfarçar um vazio evidente;
outro gosta de andar nu em Braga,
muito depois - e aquém - de qualquer Pacheco*.
(Ignoram, ambos, que a única pila maior
do que o mundo era a do João César Monteiro.)
Um terceiro, cujo nome nunca escreverei,
é a mulher moderna da edição
às cegas e da sacanice quotidiana. O quarto
e o quinto (gabo quem os logra distinguir)
arrotam melancolia e não admitem
o mínimo desvio à sacrossanta transfiguração da lírica.
O sexto - não, não me apetece falar aqui do sexto.
Consola-nos, isso sim, saber que uns se tornaram
entretanto romancistas (pilim, pilim), e que os restantes
hão-de ser, muito em breve, ministros
ou somente pulhas (é, no fundo, a mesma coisa).
Enquanto, de esgoto em esgoto,
Portugal progride a olhos vistos
e é bem capaz de levar, um dia destes,
com outro Nobel nas trombas.
ou somente pulhas (é, no fundo, a mesma coisa).
Enquanto, de esgoto em esgoto,
Portugal progride a olhos vistos
e é bem capaz de levar, um dia destes,
com outro Nobel nas trombas.
Manuel de Freitas, Inventário Plebeu, in "Resumo - a Poesia em 2012", edição Documenta (Fnac).
[* Luiz Pacheco, em passeio pela sacrílega "Idolátrica Braga".]
NOTA: Bom sintoma ou mau prenúncio, dei eu com este Inventário no caderno de Economia do Expresso.
[* Luiz Pacheco, em passeio pela sacrílega "Idolátrica Braga".]
NOTA: Bom sintoma ou mau prenúncio, dei eu com este Inventário no caderno de Economia do Expresso.