sábado, 12 de agosto de 2017

Verão

Publicado há meia dúzia de anos, mais parece que foi hoje. Nem o linguajar francês de além-Pirinéus mudou de acento. 
" (...) Saudoso já de alguma realidade, vai acabar o seu dia na feira, onde anda tudo numa roda-viva em azáfamas de última hora. Já está montada a tômbola das rifas, à entrada, para distribuir ursinhos de peluche e batedeiras eléctricas a quem acertar na lotaria.
Logo depois vem o poço da morte, andam a acabar-lhe a escadaria. Entre braços de carrocéis voadores , pistas de engenhos de choque e as diversões costumeiras, sente o viajante a falta dos espelhos aldrabões da sua infância distante, e do comboio fantasma, e da rampa do canhão. Terão passado de moda, que já estão aqui as quinquilharias de plástico, e as barracas das bonecas matrafonas que vieram das fábricas chinesas, e os colares e os couros e as missangas que chegaram do Magrebe. Há balcões ambulantes de churros e farturas, e está pronta a exposição dos automóveis, tanto novos como usados. E também a das máquinas industriais e agrícolas, que tanta falta fariam nesses campos. (...)"
[Portugalmente, Peregrinação da Lapa a Riba-Côa, Jorge Carvalheira, Lx 2012, pág. 137]