Nestas troikas há sempre um presidente, que é quem manda e governa o município. Este tem mandado desde há muitos anos, desde há tantos que já nem pensa neles. Pôs um açaime ao voto popular e simplesmente fez o que lhe deu na gana.
Um Centro de Interpretação da Cultura Judaica faz muita falta à vila e à cultura dela, e às revoadas de turistas judeus que hão-de chegar aí à procura das raízes, à procura dos processos dos marranos que a Santa Inquisição fez arder no Rossio, à procura dos produtos Kosher ali da Beira Baixa. Vai ser um corrupio, o futuro do turismo passa por aí.
O Museu da Cidade faz-nos aqui muita falta. Ainda não sabemos bem o que meter lá dentro, mas isso agora não interessa nada. E uma vez que já lá vai quase um milhão no negócio das ruínas do Paço Ducal... sempre é melhor levar a coisa avante.
Outra coisa que faz falta ao progresso da vila é um Museu do Tempo. Trouxemos aí uns visionários bandarristas luso-brasileiros do Tribunal Europeu do Ambiente, a palestrar sobre a Arte e a Ciência, e um comendador que não sabe o que há-de fazer a uns quatrocentos relógios que lá tem. Um tal museu é que vem a calhar.
Faz-nos falta a Central de Camionagem, que todas as terras têm. De pouco nos servirá, mas tudo é negócio e obra.
Requalificar este Largo das Portas e o Campo da Feira é grande necessidade, uma vez que já são ambos muito velhos. E um Centro Cultural em Vila Franca há-de trazer mais-valias, mesmo que só venha a abrir as portas nas provas do vinho novo.
Tais são as atribulações dum presidente da câmara atento ao futuro e ao bem dos seus munícipes. Donde virá o dinheiro é que ainda não sabemos, mas viremos a saber em lá chegando.
O atelier dum arquitecto renomado já desenhou os projectos, é ele a segunda perna desta troika. Trata-se do senhor Gonçalo Byrne, e aqui o nome é meio caminho andado. Alguém há-de pagar os honorários.
Quem faz as obras é um empreiteiro, a perna que aqui faltava para manter em pé esta tripeça. E como não há dinheiro, ele mesmo se encarrega dessa questão maior. Umas PPP's resolvem o assunto. Os banqueiros vão lá fora, trazem dinheiro barato, para isso é que eles existem.
[Entre tantas PPP's, só sobreviveram três. A dívida que deixaram é de 8,5 milhões, a ladrar por 25 anos. E os encargos anuais contraídos sobem a 800 mil. Se num improvável dia deixarem de ser pagos, o empreiteiro é o dono do Rossio da Feira de São Bartolomeu. Mas onde é que está o problema?! Não é verdade que foi o cabrão do Sócrates que nos levou à miséria?!]