Atende-os no rés-do-chão, enquanto o dia durar. E na sala de
espera tem fotos do James Dean penduradas nas paredes, entre cursos de massagem
desportiva e diplomas de fisioterapeuta. A um canto há uma gravura dum Isaac, e
um Abraão de cutelo já nas unhas, e um anjo que ergue a mão sobressaltada, a
suspender a bíblica insânia do velho que endoideceu.
Mestre Santos há-de ser o anjo salvador, mas cultiva outras
facetas. Numa caricatura mais conservadora, ali dependurada, faz lembrar o
Estaline, debaixo da bigodaça. Na outra, de traço mais modernista, é um Trotsky
arrebatado.
Em volta há expositores de canetas, e colecções
numismáticas, e relógios de bolso com tampa basculante. Quem se divertiu a
vê-las foi esta adolescente, e mais a prima, que agora se sentaram no sofá. Ela
conta, entusiasmada, as peripécias da parva da stôra, que a pôs na rua por lhe
chamar paneleira. A tia gorda ri muito, de cadeiras enfaixadas nas calças de
licra, e sopra balões de chuinga que faz rebentar no fim, sobressaltando a
plateia.
Duas freiras carmelitas entraram com ar sisudo e interrompem
a conversa. Padecem de artroses várias, têm fé nas mãos do mestre. E uma vez
que foram relaxadas ao braço secular, vêm acompanhadas por uma assistente, a mulher
jovem que as trouxe na carrinha do convento.
Mestre Santos manda entrar um paciente. E eu aproveito-lhe a
deixa e fujo para o James Dean. Para as ilusões que havia no tempo dele.