Não aparecia há dois anos, Yuri, o ucraniano. Nesse tempo perdera o trabalho certo que tinha na construção, esmolava sem pedir, era polido e humilde e alimentava a esperança com expedientes. O aspecto escorreito que mantinha era uma afirmação disso.
Agora já fala bem português e deixou crescer a barba. Fala dos estrangeiros que vivem lá para o Sul, em montes isolados, e guardam milhares de Euros no colchão, porque não têm multibancos perto. Às vezes vêm assaltantes da mafia e levam dinheiro aos sacos. O mundo está muito estranho.
O passaporte já perdeu a validade e ele ficou ilegal. Mas ir à Ucrânia arranjar outro custava-lhe meio ano, e uma fortuna de que nunca vai dispor. Uma piorreia séria começa a levar-lhe os dentes, acentua-lhe a degradação. Ele sorri... que às vezes faz uns ganchitos...
O Paulo frequentava a metadona, pedia uma moeda todas as manhãs, e metia petas que eu lá deixava passar, para comprar o passe do autocarro. De vez em quando recebia os filhos, que vinham de Coimbra a visitá-lo. Agora há muito tempo já desapareceu, que o levou a heroína, ou a sida, ninguém sabe.
O Joaquim já era velho. Usava barbas compridas e trazia num plástico tudo quanto possuía. Pedia umas moedas para comprar remédios. Pelos vistos também o não salvaram.