sábado, 23 de março de 2013

HAJA LUZ! - 31

[Vacinação pública de carneiros contra o antraz em Pouilly-le-Fort - Eugène Damblans, 1881]
«(...) Todos os anos, vários homens, mulheres e crianças eram mordidos por cães raivosos. Sabia-se que, uma vez declarada, a doença era fatal. Pasteur não era médico, estava proibido de administrar tratamentos, e só podia fazer inoculações com o consentimento e na presença de um médico. (...) Em Dezembro de 1885, quatro crianças americanas, filhas de trabalhadores do porto de Newark, em New Jersey, foram mordidas por um cão raivoso. (...) No regresso à América foram exibidas numa montra da Bowery (uma rua popular de Nova Iorque), para gáudio de cerca de 300 000 curiosos! Em Março de 1886 foi a vez de 19 russos de Smolensk, todos violentamente mordidos por um lobo raivoso; Pasteur conseguiu salvar desasseis. (...)
Um ano antes da inauguração do Instituto, Pasteur respondera a um anúncio do Governo de New South Wales (Austrália), publicado no jornal Le Temps, pedindo ajuda no combate à praga de coelhos no território australiano. Pasteur pensou imediatamente num ataque bacteriológico, aproveitando o facto de o micróbio da cólera das galinhas ser também letal nos coelhos. Como só confiava nos seus colaboradores directos, enviou o seu sobrinho e assistente Adrien Loir, com as suas culturas de micróbios da cólera aviária. Mas o método não foi aplicado, porque outros interesses mais altos se levantaram  (a caça exterminadora do coelho tornara-se uma profissão lucrativa). (...)
Em 1891, Sarah Bernhardt chegava a Sidney para uma tournée australiana, acompanhada dos seus cães. Saíra da Europa loura, e desembarcara no quinto continente de cabelo castanho. O problema era a quarentena forçada dos cães. (A quarentena dos cães e gatos tinha sido inventada para prevenir a introdução dessa mesma raiva no continente). Loir ofereceu-se para acolher os cães da sua ilustre compatriota no Instituto, prometendo tratá-los com todos os mimos e regalias. Em paga de tal favor, Loir teve a honra e o gosto de desempenhar o curto (e mudo) papel de amante da divina Sarah, na peça Fédora (1882), de Victorien Sardou. (...)»