Viradeira
O facto é que depressa
nos cansámos. De fazer andar as fábricas de panos, de plantar vinhas novas, de
aprender alguma coisa nas escolas, de blasfemar contra a fatalidade. E de ver
espirrar o sangue azul dos Távoras, que nos enterneceu o manso coração. De modo
que, morto el-rei, voltámos aos marialvas, às procissões, à fadistagem e aos
pátios das cantigas.
Ele havia umas
estradas, no reino, por fazer. E logo se mandou que uns alvenéis lavrassem,
numa serra, uns marcos monumentais, para assinalar cada légua aos viandantes.
Dispunha cada marco dum relógio de sol. Porém algumas léguas terminavam à
sombra, como é frequente acontecer. E, ou bem que se ofendia o rigor das
medições, ou se esbanjavam as custas dos relógios.
Não chegou o desempate
a ir a cortes, nem se lhe alcançou resolução. E as estradas lá ficaram por
fazer.
Veio-me à lembrança um
tal aperto a propósito duma linha de comboio, que também andou aí nas mãos da
viradeira.