terça-feira, 1 de setembro de 2015

Muros

[1956, refugiados húngaros numa estação austríaca]
O Pavelca era um pilúcio ruivo que nos apareceu um dia, na aldeia da meninice. Vivia acolhido em casa do padre, mas depressa cedeu às tentações da rua. Aprendeu connosco rudimentos de palavras, e um dia ouvimos dizer que ele vinha da Hungria, onde estava aprisionado atrás dum grande muro. 
Nenhum de nós percebeu a conversa. E o Pavelca jogava à bola connosco, e ao feijão, e às escondidas, foi aos ninhos pelos valados quando veio o tempo deles. Um dia desapareceu sem deixar rasto. 
Calculo hoje que tenha ido para a América, num barco a fumegar, duvido muito que tenha voltado a casa. Quem estava preso atrás dum grande muro, não ia agora voltar para fazer muros novos.