quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Lido aí, em comentários

«Os grupos da esquerda verdadeira só são ouvidos e seguidos por pequenas franjas do povo. E porquê? Porque o povo, na sua generalidade, é bem mais prático do que tais esquerdas julgam. O povo sabe, intuitivamente, que não se pode alcançar o óptimo para todos e, muito menos, que isso possa ser realizado de um momento para o outro. O povo sabe que há imensos obstáculos (interesses) em jogo, que têm de ser considerados; que somos todos diferentes e estamos todos amarrados uns aos outros, de uma forma ou de outra. 
Cada um sabe, a não ser que seja meio maluco idealista ou suicida, que não pode, sem mais aquelas, vergar as vontades de uma multidão ao seu próprio ideal. As ditaduras tentam-no, com os resultados que todos conhecemos. O diálogo sério, duro e persistente é a alternativa humanista e democrática. 
A nossa esquerda verdadeira não aceita uma governação em diálogo e só admitem o “oito ou oitenta”. Quando entram no dificil jogo da democracia, como fez o Syriza, acabam por “cair na real”. E a realidade, aqui e agora, é bem filha da puta, numa UE que perdeu a alma humanista. 
Tsipras compreendeu que, a bem do mal menor para a generalidade do seu povo, tinha que dialogar, séria e fortemente, com os estupores que assumiram o controle da UE. O radicalismo dos que abandonaram o Syriza é comparável ao radicalismo da nossa esquerda verdadeira de Jerónimo, Louçã, Catarina e afins. 
Os mesmíssimos que não hesitaram um segundo em entregar o poder absoluto a Cavaco, Passos e Portas. Podem negar esta barbaridade um milhão de vezes, mas eles sabem muito bem o que fizeram por causa do seu radicalismo cego. Por via deles, estamos a poucos passos de ver aniquiladas as preciosas conquistas de Abril: SNS, Escola Pública, Segurança Social. Sem estes serviços básicos, para que servem a liberdade de expressão e as outras? 
Ironia das ironias: quando a esquerda verdadeira deteve o poder real para determinar o rumo dos acontecimentos, como aconteceu no fatídico ano de 2011, usou esse poder colando-se à direita radical para derrubar a esquerda dialogante, que lutava com todas as suas forças contra as bestas que dominam esta Europa do início do século XXI. 
Louçã e Jerónimo foram carrascos de Abril. Na hora do confronto decisivo entre o radicalismo da direita e a postura dialogante da esquerda democrática, aqueles dois ratos fedorentos da política escolheram os radicais da direita.»