Graça Moura é uma figura de intelectual respeitável. Tem intimidades privadas com as musas. Partilha o mundo espiritual dos grandes clássicos. Traduz Dante, Shakespeare, Petrarca, Racine. E tem desempenhado, ao longo dos anos, funções importantes na área da cultura. É deputado ao Parlamento Europeu.
Politicamente dedica-se ao culto do PSD, cujos pontos de vista sustenta na imprensa há muito tempo. A racionalidade dos seus enunciados nunca se afasta do grau zero. E a linguagem incendiária a que se arrima ressuma a fúria demente contra os adversários, e confunde-se muitas vezes com o vómito. Mas enfim... o mundo é grande!
Recentemente toldou-se-lhe a razão, desnorteou-se-lhe o vulto, cedeu-lhe a figura ao desespero e destila ódio de classe. E não sem forte motivo, uma vez que a tendência das sondagens lhe não favoreve os devaneios.
Mas Graça Moura vai à raiz do problema, e diagnostica de pronto o desconchavo: tudo é ingratidão dos portugueses, que não merecem o PSD que têm! O verdadeiro busílis é "a natureza calaceira dos portugueses; o seu feitio de incumpridores relapsos; a sua irresponsabilidade nas exigências desenfreadas; o corporativismo imperante nos sectores socio-profissionais; os péssimos níveis de qualificação escolar e profissional; a iliteracia generalizada e irremediável; uma certa propensão para a estupidez e a crendice fácil (que) explicam algumas vitórias socialistas.”
O respeitável intelectual perdeu o pé, e escapa-lhe a realidade mais singela: na divina comédia do PSD, desce o patético cidadão ao labirinto, e fica preso no círculo do inferno. Acontece ao mais pintado!