1 - Talhada assim pelas elites de séculos, a pátria portuguesa nunca foi a mãe dos filhos todos. Fizeram-na para amamentar um terço, e amadrastar os restantes: um gado de exportação que nunca foi cidadão, que nunca teve direito à dignidade, e que só matou a fome quando fugiu para a Europa, ou para um canto qualquer deste planeta. Toda a doença de Portugal vem daí.
Este quadro mudou nos últimos trinta anos, com o voto, a escola, o médico, a habitação, o almoço, o hospital, as férias, o sindicato, a liberdade, a palavra mesmo se mal soletrada, a opinião mesmo se estúpida.
Mas para tanto não chega Portugal, que o não fizeram para isso. Só haverá equilíbrio nas fórmulas antigas, mesmo se retocadas, como a História impõe: ajustando o tamanho dos pés à dimensão da cama que lhes foi feita.
As nossas elites novas consideram que chegou o momento adequado para pôr os pontos nos is. E o FMI é uma excelente alavanca: impõe o que elas sozinhas não têm capacidade para fazer.
2 - Demais se tem aqui falado de políticos nefastos e seus mantras vazios. E hoje se falará dos jornalistas que lhes trombeteiam a vozearia. E de como os seus mantras são os mesmos.
"Nestas eleições joga-se, evidentemente, o problema essencial da responsabilidade por quem nos deixou neste estado. Sócrates está ou não na origem da nossa pre-falência?"
"Imaginem os próximos anos com Sócrates, mesmo sob a vigilância da Comissão Europeia, actuando de forma imprevisível, manipulando números, insistindo em conflitos com o Presidente da República e cada vez mais isolado."
"Será que o inapagável défice de credibilidade de Sócrates e do governo augura uma boa representação? Ninguém confia, ninguém acredita".
Este senhor, um tal Lomba, é colunista do PÚBLICO. Tem direito às suas opiniões. Mas convém-lhe um mínimo de rigor naquilo que nos oferece, para não se confundir com o cão que ladra à voz do dono. Para além do ódio a Sócrates, de que coisas, concretas e objectivas, é que ele está a falar?