segunda-feira, 30 de maio de 2016

A cidade

O Porto recebe-me de boa catadura, por uma vez primaveril, amistoso e soalheiro. Só a central de camionagem destoa. O seu estado geral é cada vez mais ruinoso. As lajes de granito da entrada, ainda passeio da Alexandre Herculano, estão todas partidas e traiçoeiras. O trânsito de passageiros e turistas é crescente, e é neste falanstério que a cidade os recebe, sem vergonha. 
O serviço na messe dos almirantes é cada vez mais precário, a sublinhar o facto de que as Forças Armadas têm sido um dos principais sectores das grandes malfeitorias do governo de piratas que aí houve. Por restrições orçamentais, os pilotos da Força Aérea realizaram 18 mil horas de voo das 25 mil programadas. Pondo em causa a prontidão de alerta sem horário, a vigilância, a busca e o salvamento no espaço aéreo e marítimo, cuja cobertura põe a salivar os espanhóis há muito tempo.
O Estatuto dos Militares das Forças Armadas (EMFAR) foi alterado pelo governo, sem contraditório.
Os hospitais militares foram reduzidos à unidade do Lumiar, onde é impossível albergar todos os outros, que foram desactivados quando ainda não vendidos. O resultado é uma brutal degradação do serviço prestado às FA, em benefício dos hospitais privados.
Os Serviços Sociais das FA foram desmembrados, e o IASFA que daí resultou foi transformado em instituto público, entregue à gestão duns futricas boys e girls do PPD, com a presença dum único general que nunca foi designado.
A contribuição individual para a assistência na doença (ADM) subiu para 3,5%, e engloba responsabilidades da Associação dos Deficientes das FA  a que o governo se comprometeu mas nunca respeitou.
O Fundo de Pensões dos militares, criado e financiado pelos sócios, foi simplesmente liquidado. As Associações Socio-profissionais são menosprezadas, para não dizer clandestinas, numa Europa onde há décadas existem sindicatos de militares, aceites e respeitados.
A congelação de carreiras, os cortes de salários e pensões e a redução de apoios a idosos têm sido uma sucessão de agravos à condição militar, sendo lícito dizer que as FA hoje não existem. Se um dia for necessário lá teremos que ir chamar de novo o Conde de Lippe e alegar o mito da aliança inglesa da ínclita geração para dar um jeito à coisa.
No dia seguinte regresso à Lapa mas já chove. Passo a ponte do Infante a olhar com nostalgia as escarpas da margem, a despenhar-se no rio.

Quotidiano matinal

Há muitos anos, trouxe a Bonitona do Brasil um pai-nosso pagão, consensual, sem fingimentos nem unções farisaicas. Era assim:

Grande Foco, vida do universo
Manda-nos a tua luz!
E cumpram-se as tuas leis
Neste e nos outros planetas!

domingo, 29 de maio de 2016

Horda

1 - Uma horda juntou-se em frente da Assembleia em defesa dos contratos de associação, da "liberdade de escolha" dos desgraçados pais e dos pobres alunos. A jornalista faz a um responsável uma pergunta ousada, inesperada, surpreendente. O que se vê por trás de tudo tem lá dentro um cardeal, e pressupõe uma organização, fala-se duma agência de comunicação. E ela pergunta quem paga o preço disso tudo.
- São ex-alunos, reconhecidos, em sinal de agradecimento!
Ouve-se isto e pasma-se, de tanto despudor. Na certeza de que o Ministério e o Costa vão saber resistir.
2 - A Cristas gorda, mamuda, parideira e mãe (traços que lhe garantem tolerância e estado de graça da parte de 50% dos sonâmbulos portugueses que confundem o género humano com o Manel Germano) diz em Trás-os-Montes que onde houver dúvidas deve ser sacrificada a escola pública.
Ouve-se isto e volta-se a pasmar, estranhando que ninguém corra esta cabra à pedrada, de Trãs-os-Montes para fora.

sábado, 28 de maio de 2016

O embuste

Há tempos fui encontrar na Latina uma publicação de Pedro Eiras sobre as Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro, editada pela Assírio e Alvim.
Enquanto leitor atento logo as levei para casa, por saber que havia ali uma lacuna importante. 
Li o livro atentamente. E vim a saber depois, por umas portas travessas, que estava perante uma ficção. Voltei a ler com cuidados redobrados.
É certo que, formalmente, o texto não tem as características habituais da literatura de ficção. É um conjunto de cartas, com introdução preambular do seu autor. É verdade que tropecei em pormenores de alguma implausibilidade. E os conteúdos são estranhos. Mas vê-se modernamente um conjunto de textinhos irrelevantes a que chamaram romance e vão passando. 
O próprio autor Pedro Eiras aparece na pág. 11 a garantir ao leitor que o que parece implausível o não é, pois "contra toda a inverosimilhança, assim foi." E embarquei inteiramnte nas Cartas, que tomei por reais e não o são.
Por fim lá encontrei a solução: já tínhamos o romance, a novela, o conto e as historinhas que hoje andam por aí, a reportagem e a crónica, esse género jornalístico que é literatura pura em casos mais felizes. Agora passou a haver o embuste, reservado a ficcionistas de relevo, com currículo académico e armas menos comuns. Pois equivale a colocar um leitor dentro da arena, em frente dum autor que se diverte a farpeá-lo de capote nas unhas, com um editor reconhecido sentado na bancada, a urrar olés e a pedir música. 
Por mim considero isso pouco ético e menos ainda lícito, salvo em sociedades doentes em que tudo é de esperar. De farsantes como o Professor Pedro Eiras, esse exemplo brilhante dos académicos que orbitam por aí nas faculdades de Letras. A dar lições, imaginem, havendo tantas matas para limpar!

À espera

Leio um livro dum criativo culto, ilustrado, que escreve muito bem e domina as artes da palavra. De imaginação tão galopante e desenfreada que provoca vertigens. Mas é um cabotino tão enraizado que não produz um texto que mereça a pena.
Passa um rapazola baixo, de barbicha, pede-me um cigarro e logo sobe para dois. De costas leva os jeans a cair ao fundo do traseiro e o rego do cu à mostra.
Passa uma Lolita de mochila ao ombro e é lindíssima, os olhos, a flor vermelha dos lábios a morder a chicla...
Passa um rasta com uma molhada de arbustos entrançados com elásticos no alto da cabeleira. Parecem ramos de carvalho inverniço, desses cobertos de líquenes.
Passa esta cabeleira juvenil, de longos caracóis, nos olhos uma doçura plácida e bovina. O corpo lembra a caixa dum violoncelo, coberto por um camuflado do afeganistão, ao cimo dumas coxas que são colunas de Hércules na renda dos collants. Tem umas ancas larguíssimas até à desmesura, da fêmea parideira que há-de ser.
Dizem que é saudável e ecológica a biodiversidade ambiental. Se calhar é...

sexta-feira, 27 de maio de 2016

O que nos devia preocupar

"(...) O populismo é hoje uma questão dos meios, das mediações, e não uma questão política. Não é um apelo ao povo, mas às audiências. Não é um discurso político, mas um modo de funcionamento em que não há senão mediação derivada e a ilusão de que tudo pode ser induzido. Dá-se assim este fenómeno estranho: as televisões — sobretudo elas — inventaram um “povo” que não existe em nenhum lado senão nos estúdios e só é conhecido pelos apresentadores de televisão. E, de um modo geral, a informação e toda a comunicação jornalística medem o seu público por baixo. (...)."
António Guerreiro, no Ipsilon.

Majestades

[foto de AC]
Onde esta majestade ensimesmada, num espírito analítico atento aos pormenores?
O leito do carril é o mais acolchoado aos novelinhos dos pés!

domingo, 22 de maio de 2016

Tomar à colher!

Manifestação dum particular lirismo, portugueses o criaram, ninguém o sabe imitar.
Ainda bem que há no fado uma renovação e se limpa de gangas.

A um propósito!

E a despropósito fosse (já que oportuno é-o sempre), este texto que algum dia aqui andou.

Salamaleques
Falo por mim, tiro o resto pelo sentido. No banco tratam-me por senhor doutor. Outros sobem a parada, põem-me galões ao ombro, derreiam-me o peito com medalhas de lata. O arrumador titula-me engenheiro. E só amigos me tratam pelo que sou, um cidadão assaz irrelevante.
- Que mal vem daí ao mundo?!
Pois ao mundo não virá, mas a nós vem. Que faz de nós figuras num teatro, e da vida real uma encenação.
Para alguém que venha de fora, a nossa gramática das formas de tratamento mais parece uma charada. Podia ser a marca dum requinte. E afinal é tudo manha, em troca dum favorzinho.

Calvinistas

Raum, Natur, Luft, Sonne! No seu linguajar, eis o que uns nibelungos alemães nos não perdoam, chamando-lhe preguiça. Exactamente o que lhes falta por lá.

sábado, 21 de maio de 2016

A "querela" que não houve

Este texto de A. Guerreiro no Ipsilon é benévolo. Porque na verdade o que aí passa por arte contemporânea  é um embuste de farsantes. Alimentou círculos restritos e fechados de elitistas das artes, que fazem o seu mercado, e são povoados por tribos de criativos, galerias, marchands, curadores, críticos de avença, iluminados, mirones... É ouvir ou ler o Julião Sarmento, que fala do assunto sem grandes papas na língua, quando calha. 
Em redor havia filas de pacóvios, desejosos de penetrar no círculo pelo investimento em arte, comprando pedigree. E a coisa acabou a propagar-se. O que depois se passou em museus, centros de artes e outros institutos foi o aproveitamento da onda, para fingir movidas culturais.
O farsante-mor da confraria foi o Wahrol (dessa América donde vem todo o futuro segundo Álvaro de Campos!), instalado na sua Factory, a produzir Marilyns, e latas de sopa Campbel, e que tais.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Resumo para distraídos, antes de mandar esta merda para arquivo

Uns mails denunciam que o Banif foi uma oferta ao Santander, imposta pelos burocratas da Concorrência em Bruxelas, que perderam a paciência com o far niente do Passos e da loira dos balões de hélio. O Banif tinha que ser vendido, mesmo sem compradores, e nem valia a pena tentar outras alternativas. O Santander levou-o por tuta e meia à custa do bolso dos portugueses, que lentamente acordam da síndrome do rebanho.
Devido aos estilhaços do Banif (uma vergonha da responsabilidade da loira e do sipaio), o défice de 2015 vai além dos 3%. E o PPE das direitas europeias exige o máximo rigor orçamental ao Costa, sob pena de sanções, enquanto a Comissão do Juncker dá mostras de alguma tolerância, a ver se salva o pêlo. Claro que o sipaio Passos apoia o PPE, enquanto escreve numa cartinha que... puta que pariu tanto fariseísmo! 
Diferentemente da Espanha onde ela não pôs as patas, nós só chegámos aqui pelas mãos da troika. Em três simples andamentos, aqui ficam, da coisa, os comos os porquês.
1 - Durante uma eternidade, a câmara do meu município foi do PPD. Só mudou para o PS nas últimas autárquicas. O estado das finanças municipais é surrealista e ruinoso: em três PPP's inúteis ficou uma dívida bancária de 4 milhões e meio, fora o que escorre. Tudo apurado numa auditoria. Só em juros diários, por cerca de 30 anos, traz o município às costas mais de 3.000 euros. Foi imperioso pedir um apoio de emergência.
2 - Antes das últimas autárquicas, a câmara de Gaia andou nas mãos do famoso visionário Meneses, que transformou o município antes do salto falhado para o Porto. E o Marco António Costa, que já tinha ajudado a arruinar Valongo, veio para Gaia e juntou-se ao Meneses. Dirigia a Gaianima, empresa municipal. Por fim a Gaianima faliu, com uma dívida assustadora.
A nova presidência (do PS) encontrou valores "maquilhados" em 2013, que reduziam para 217 milhões uma dívida real de 250 milhões. Teve que pedir 40 milhões de emergência para pagar o regabofe.
3 - Sócrates (esse ladrão megalómano!) entrou no seu primeiro governo em 2005, com um défice de 7% herdados do Barroso e do Santana Lopes. Em 2007 o défice era inferior a 3% (2,9%?).
Em 2008 chegou em força da América a maior crise financeira de há um século: a lepra do sub-prime, com a falência do Lehman Brothers, da Enron e outras barbaridades. 
Sócrates perguntou à Europa qual a fórmula para responder à crise. E foi-lhe dito que a resposta era anti-cíclica, era indispensável investimento público. Sócrates abriu os cordões à bolsa e a dívida pública disparou, para não falar da bancária e da privada.
Em 2009 a Europa mudou a palavra de ordem, ordenou austeridade e contenção. Os chacais do rating andavam agitados, os juros subiram até ao impensável. A troika arreganhava os dentes e apenas Sócrates mostrava capacidades para lhe resistir. Engendrou o PEC 4, e assegurou-lhe o assentimento da Europa. 
O resto já está na história da pulhice humana. Um dia o Marco António chegou-se ao camarada Passos e segredou-lhe ao ouvido: - Olha aqui, menino! Ou tens eleições no país ou no partido. E lá vais tu de patins! Ora o Passos (que por arranjos do Ângelo Correia foi gestor da Tecnoforma onde formou centenas de funcionários municipais na manutenção de aerórodromos inexistentes; esse marginal saído do sertão que não pagou à Seg. Social alegando desconhecer que não era obrigatório; e a loira dos balões de hélio, que aceitou trabalhar para uns ingleses especuladores com a dívida, e só estavam interessados na sua agenda de contactos de ex-ministra), o Passos, esse sipaio servil que ainda hoje é, mentiu descaradamente e recusou o PEC 4. A múmia do Cavaco, antes de ter um espasmo, declarou que havia limites para os sacrifícios impostos ao bom povo. E incitou a juventude a vir a público baixar as calças e mostrar o cu.
Sócrates teve que apresentar a demissão do seu governo e vieram eleições. Os bons tugas meteram o pescoço no laço da forca e elegeram a direita. E a esquerdalhada toda acompanhou ao altar uma noiva furada, pelo braço do padrinho Relvas.
O que depois sobreveio é aquilo que se esperava. Ou semelhante. Só o não sabia o Francisco Louçã, ainda estou a vê-lo declarar na televisão: recusar o PEC 4 é já iniciar a saída da crise. O pequeno filho da puta!

terça-feira, 17 de maio de 2016

Pensamento lúcido, escorreito, claro

Por isso tão difícil de encaixar pela carneirada.

Fellini

Em 1983 (um tempo em que os animais ainda falavam no cinema europeu), Fellini realizou o filme E la nave va, traduzido por O Navio. 
Dentro dele, em 1914, um vasto grupo de representantes das artes líricas musicais italianas vai realizar um funeral ao largo da ilha de Erimo: a dispersão das cinzas da defunta diva Edmea Tetua, a maior cantora de ópera de Itália, a voz duma deusa. Entre os passageiros vai o seu admirador arquiduque de Herzog, uma alteza do império austro-húngaro. Nem lá faltam ecos do mítico rinoceronte tratado por um turco, o tal que veio do sertão das arábias e o venturoso rei D.Manuel I mandou ao papa de Roma, no séc. XVI, chegando empalhado ao Vaticano depois de ter naufragado à vista de Génova! 
Ao terceiro dia de viagem o navio recolhe um grupo de populares sérvios, à deriva no mar quando fugiam da Sérvia para a Itália, depois do atentado de Serajevo. Na coberta há cantares e danças populares com os sérvios. 
O pior é quando o grande paquete é abordado por um poderoso couraçado austro-húngaro, que exige a entrega dos náufragos, em violação das normas internacionais do salvamento marítimo. Os náufragos são entregues através de balsas. Mas um deles atira uma bomba que penetra pela boca dum canhão e incendeia o couraçado, que dispara e afunda o navio. E tudo acaba num naufrágio geral, a embarcar nas balsas de salvamento.
Com ironia crítica e sarcasmo quanto baste, é a guerra de 14 em causa? É o fim do império austro-húngaro? É a Europa louca de há cem anos? É a humana condição? É a arte e os tiques das elites? É o cinema, vitimado então pelo ecrã da televisão? 
O génio tem sempre leituras múltiplas. E multifacetadas.

No escuro

Três aldeias além na cumeada. Um manto de névoa ao fundo. Ao lado um galo que acorda. O cuco a cantar ao longe. Tão cedo a quê?

XXXI
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me, 
Porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
[Poemas de Alberto Caeiro, Ed. Ática, Lx]

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Tatuagens

Passou o tempo de os trogloditas assaltarem o poder através dos canhões e dos blindados mandados pela CIA. Agora só se pode fazer isso usando tatuagens democráticas. No Brasil já começou a ser feito, outros virão.

domingo, 15 de maio de 2016

No prado

Os grilos saem das tocas, cricam alegres no prado. É bom sinal.

Mínimas coisas

Viver num mar de penúrias, do espírito e das outras, não é exercício simples, sem o aconchego de elixires sucedâneos. É como andar à beira dum precipício.
Um dia acorda contigo uma nostalgia estranha, misteriosa. Nem tu sabes bem de quê. Do que houve, do que há, do que imaginas além, em "Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo"... É um melaço insidioso que se te cola aos pés!
Depois desta manhã de caminhada, que mais queres tu?! Toma atenção à base, aos rudimentos, olha as árvores, as flores, a Natureza. E ouve os cucos parasitas, indiferentes, tanto cantam e festejam e florescem. E te enraivecem.

Fado novo

Felizmente para nós e a nossa alma, para a música popular, para a arte, para a cultura, para alguma sanidade, o fado despiu as gangas antigas e renova-se. Mais ninguém o inventou no mundo, nem o imita.

sábado, 14 de maio de 2016

O que aí anda

Um ovo de serpente é como todos, começa por ser posto e o calor choca-o. Um dia um monstro nasce.
Se tens curiosidade, vai ver o que aí anda. Para depois não te queixares.

Apressado

Nas frias névoas matinais oiço esganiçar-se um papa-figos. Ou eu me engano muito ou é um cavalinho, que chegou apressado com saudades da figueira.
Mais um melro a confundir desejos com realidades, que não sabe interpretar os tempos que aí andam.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Direito de quê?!

Pois é!

O CEP dos intervencionistas

Em tempos foi aqui apresentado um relato em redondilha, escrito por um soldado que tomou parte no CEP da Flandres, em 1917.
Este de que hoje se dá notícia, recentemente editado pela Âncora, é um relato do mesmo tipo, escrito por um cabo de Valpaços. Embora mais pobre em rimas do que o anterior (alterna excertos em verso com relatos em prosa), é muitíssimo mais ilustrado e informativo e útil. A ortografia é muito mais correcta e clara. Um documento indiscutivelmente histórico, em boa hora dado a conhecer.
Perante a entrada iminente dos EUA no conflito, a chacina de La Lys foi um movimento explícito dos alemães para romper as linhas das trincheiras aliadas. Escolheram para isso o sector defendido pelas tropas portuguesas, que era mais frágil e mais desguarnecido. 
A ruptura defensiva teve lugar, 7.500 soldados foram dizimados. Alguns foram aprisionados e levados para a Alemanha, e andaram por campos de prisioneiros que passaram pela Polónia e a Rússia.
Gritante e penoso, revela-se o abandono a que o contingente do CEP acabou votado pelo governo português; quer no front, quer no cativeiro, quer no regresso à pátria. Cuja fama (e bom proveito) de galdéria já vem de muito longe.
[indispensável clicar]

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Esse Brasil?!

Quando se vota em palhaços (lembras-te?), dá nisto. Lá ou cá.

Manigâncias

A que não assisto, por descrença.

O Meças

A intriga desta história de José Rentes de Carvalho é extremamente engenhosa mas simples. Num espaço rural transmontano remoto, o Meças é uma figura violentíssima e imprevisível, perseguida desde sempre por um trauma infantil: ter visto na meninice o "sr. Engenheiro" a violar a irmã Deolinda, com a qual o irmão manterá toda a vida uma relação ambígua. Um dia, muito depois de o Meças ter degolado o engenheiro com uma navalha de barba, vem a saber-se que o próprio Meças é fruto dessas violações. Quer dizer, a mãe do Meças é a sua própria irmã. 
E os quatro capítulos em que a mesma intriga está organizada alternam entre dois narradores: um primeiro heterodiegético (3ª pessoa), que lentamente constrói a figura do Meças; e um segundo, homodiegético (1ª pessoa), que acaba por revelar ser filho do engenheiro. Isto é, a personagem e um dos narradores são meio-irmãos, ambos filhos do mesmo pai. 
O Meças tem um filho que despreza, e uma nora que tortura e deseja. E a violação um dia acaba por ter lugar. Todo o romance está no formalismo narrativo, no modo de o contar.
O resultado é polémico e dá ao leitor grandes trabalhos. A lentidão, a violência, o entendimento das figuras e dos seus comportamentos, a intercalação de tempos e lugares, a fragmentação narrativa, o frequente discurso reflexivo, o desencanto céptico, provocam momentos de leitura quase dolorosos.
As mudanças no modo de narrar arrastam alterações estilísticas patentes. Se no começo o discurso é luminoso e promissor, com frase breve e clara e quase musical, a dado ponto perde harmonia e torna-se comum. É pena. Pessoalmente, este universo da escrita não é o que mais me motiva, nas artes literárias. Aqui fica um texto crítico, outros juízos não os conheço.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

O céu está roto, e esta chuva persistente já deprime

Enquanto resistimos no covil, oiçamos o Caruso de 1904. Para o ver à vontade abrir a boca, os seringueiros de Ferreira de Castro construíram-lhe um teatro em Manaus (1896), no coração da Amazónia.

Austeridade

O conceito já não é recente, nem foi utilizado só agora, com o significado de que é preciso cortar na ração dos povos, e economias, e países que têm dívida avultada. Para tornar a pílula mais digerível aos espíritos simplórios, confunde-se deliberadamente uma gestão familiar doméstica com a gestão da economia dum país. Quando nada têm que ver, mas adiante. O conceito está nas raízes do pensamento liberal, afinado pelos teóricos da escola de Chicago. E significa basicamente que "quanto menos Estado, melhor é o estado"; quando menos funções o Estado desempenhar, mais bem governado é um povo e uma economia; porque é da natureza de tudo quanto é estatal ser desperdício; um gestor eficaz é privado; e quanto menos regulação e intromissão houver, melhor será!
Daí resulta que, quanto mais se cortar na Educação, e na Ciência, e na Saúde, e na Segurança Social, e na protecção aos mais carenciados; quanto mais o Estado abdicar das suas funções; quanto menos direitos tiver o trabalho, e menos meios forem gastos em salários e pensões; quanto menor for o número de magistrados, e professores, e polícias, e médicos, e enfermeiros, e auxiliares, nos variadíssimos patamares da administração; quanto mais as empresas, os seguros, os bancos, e a economia forem deixados ao mercado... mais bem governado é um país. Austeridade significa, por conseguinte e apenas, reduzir o Estado ao mínimo possível.  
Reagan e Thatcher foram, a seu tempo, os coveiros de serviço a este cemitério absurdo e criminoso. E a insana Dama de Ferro resumiu tudo numa frase: Essa tal de sociedade é coisa que não existe! O que há são apenas indivíduos! Uma tal aberração sociológica vomitou-a ela em finais da década de setenta.
Esta treta é sobretudo eficaz em sociedades precárias e desinformadas, como a portuguesa. Porém, historicamente, e como se começa a ver, as contradições e absurdos a que este pensamento leva acabam por explodir.

Entente


Ainda se ouvem no alpendre os estampidos dos bombardeiros da nato de há um ano. Estultícias. Que o melhor é sempre uma boa entente, construída à volta duma mesa arredondada.
Foi o que fez a forneirita e o casal das andorinhas, durante a minha ausência. Conversaram, entenderam-se, criaram harmonias. E futuro.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Calibração

Tempos houve, no sertão africano, em que levávamos uma aeronave para um terreiro, com um mecânico atrás e uns aparatos na mão. Seguíamos-lhe as instruções: 90 graus à direita, 180... Rodávamos sobre a cauda, enquanto ele fazia medições. A pedido, repetíamos, era preciso calibrar as bússolas jurássicas.
Lisboa é o único lugar em Portugal com vagos laivos de cosmopolitismo. A dimensão, os acontecimentos, os sotaques, os multiculturalismos, os horários, o formigar que não pára... Não é um lugar para velhos, mas é indispensável visitá-la: para relativizar as coisas, marcar bóias, calibrar as bússolas mentais. Depois deixá-la. 

domingo, 8 de maio de 2016

A choldra

Se a História não falasse, era mais fácil para os mixordeiros. Mas fala. Pode levar anos, ou décadas, ou séculos. Mas acaba sempre por falar.
Vem isto a propósito da divergência existente entre aquilo que o Barroso afirma ter dito ao Presidente Sampaio aquando da Cimeira dos Açores, e o que Sampaio sustenta. Que o fantoche maoísta o informou de que a Cimeira seria a derradeira oportunidade de evitar a guerra no Iraque, quando afinal preparava a criminosa invasão. O prémio do desempenho desse burgesso Barroso foi a presidência da CE, no olimpo de Bruxelas.
O Barroso pertence à quarta extracção duma choldra partidária (o PPD) a quem o poder caiu nos braços, depois do 25 de Abril. Ainda hoje dormiriam todos no regaço do fascismo que nos coube, se essa impensável coisa não tivesse acontecido. Barroso então, de livro vermelho na mão, tirocinou a levar mobiliário da Faculdade de Direito de Lisboa para a sede maoísta da Álvares Cabral. 
Mas a quinta geração dessa choldra traiçoeira, a do sipaio do Passos, foi a que mais fundas feridas deixou na alma da pátria. Que anda aí a caldos de galinha e a benzeduras de bruxa, a ver se aprende.

Ó prolixíssimo J.P.George!

Era bom que a "realidade" não existisse. Porém existe e impõe-se. 
Na crítica, é a literariedade existente no texto, conforme sustentavam os formalistas russos, que foram escorraçados pelo estalinismo ao serviço de razões vagamente sociológicas. Tudo o mais é estranho à literatura. Que me importa a mim lembrar que Mozart morreu na penúria, quando o ouço? 
Os acidentes do autor, sociológicos ou outros, iluminarão a génese dum texto. Mas não lhe dão conta da essência. E ao leitor, se for mais que um voyeur, são-lhe indiferentes.

O túnel

Comparável ou não à Ponte sobre o Tejo, o túnel do Marão é obra de envergadura. E foi lançada por Sócrates, por quem havia de ser?!
Claro que o triste Passos não lhe compreendeu o simbolismo. Que um bisneto de negreiros mal compreende, do mundo, a ponta dum caralho.

Contra a desinformação desta escumalha

Marchar marchar!

Bertolucci - 1900

É uma belíssima saga de 1976:
- a medievalidade rural italiana do latifúndio na transição do século;
- a 1ª guerra mundial;
- a belle époque e a sua loucura transbordante e desbragada;
- a mecanização agrícola, que em Portugal apenas aflorou cem anos depois;
- os equívocos da ruptura estética futurista;
- o crescimento e a violência do fascismo italiano;
- o sonho salvífico dos ideais socialistas;
- o precipício social de há cem anos, que hoje se repete com ingredientes novos;
- o fim da 2ª guerra mundial;
- a decadência inelutável das elites;
- a excelência do cinema europeu, antes do rolo compressor da indústria do entretenimento global americano.
Já tinha visto este filme há muito tempo. Mas custa tanto, e leva tanto tempo, aprender a ler!

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Mala-pata

Contava este leitor com uma epifania, quando não ia pela estrada de Damasco! Assim foi que levou o livrinho na viagem e leu boa parte dele. Mas chegou apressado ao seu destino e esqueceu-o no banco. 
Não foi parar aos perdidos e achados porque o povo afinal gosta de ler. E o que podia ter sido uma boa novidade, era antes um sinal de mala-pata. Comprou outro na Latina, e quando voltou a casa tinha-o lido até ao fim.
João Ricardo Pedro já nos presenteara há tempos com um belíssimo romance. Tão belíssimo como inesperado. A coisa foi celebrada, e premiada, e traduzida. E talvez lhe tenha subido à cabeça, ou não teve artes de a repetir agora. 
O romancinho faz uso dos vastos recursos das artes literárias: a linguagem que lhes é própria, a frase longa e a curta, a repetição,  a enumeração significante, uma imaginação criadora fértil, quando não galopante. O narrador interpela o narratário, as personagens defrontam-se fora da trama narrativa, o próprio autor chega a invectivar o leitor, sinais de modernidade. Mas o romancinho é  excessivo em tudo, ao ponto de resultar desconchavado e perder afinal o sentido global.
É daqui que tudo parte:
"A 11 de Setembro de 1985, pelas 18 horas e 37 minutos, no troço de via única que liga a estação de Nelas ao apeadeiro de Alcafache, deu-se a colisão de dois comboios - o Sud Express, que aprtira da estação de Campanhã com dezassete minutos de atraso, e o Regional, proveniente da Guarda. Números oficiais referem 49 mortos e sessenta e quatro desaparecidos. Segundo os testemunhos de vários envolvidos nas operações de salvamento, é provável que tenham morrido cerca de 150 pessoas. É considerado o pior desastre da história dos Caminhos-de-Ferro Portugueses. 
Entre os passageiros do Sud Express  encontravam-se duas pessoas minhas conhecidas - uma sobreviveu, a outra não. Em 1985 nada as unia, para além da circunstância de viajarem no mesmo comboio, com destino a Paris.
Por mais que procure, nenhuma delas poderá ser encontrada nas páginas deste livro, mas as páginas deste livro não existiriam sem elas. Quanto ao resto, é tudo inventado."
Lá para o fim:
"Querido leitor, prometo-te desde já que esta é a última vez que te interpelo nestes termos. Na verdade, detesto fazê-lo. Porque o faço, então? Para te lembrar que deste lado está um homem doente, e que este livro que seguras nas mãos é apenas uma das muitas manifestações da sua doença. Se ainda guardas alguma expectativa a respeito das páginas que te restam, apelo à tua boa vontade, faz uma de duas coisas: deita fora as expectativas ou deita fora o livro. (...)".
Quanto ao enredo, só lendo. Mas a insânia que atingiu as nossas vidas não poupa a literatura. É forte pena!

Qual Weihnachtsoratorium qual carapuça!

Que entre os bárbaros do Sol também há polifonia! Embora discutida, a questão inclina-se para o Bragança de Vila Viçosa, como autor desta composição. O D. João IV tinha mais de músico do que de Restaurador.  

Asno

Este filho da puta deste espantalho desqualificado e ignorante só saiu dum saudável anonimato, graças a um processo por calúnias intentado por Sócrates há muito tempo, que lhe correu favorável. Fora disso vivia dissolvido na charneca alentejana, entre chaparros.
Desde então alimenta-se do ódio a Sócrates e ao PS, enquanto fizeram dele jornalista, e comentador, e especialista na parte vaga. E estrela da televisão e da TSF, numa tropa de humoristas cabotinos.
É ouvir-lhe o zurrar e suportá-lo!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Cataratas

O velho Portugal sofre de cataratas. Pelos vistos sem remédio. Há séculos que elites oligárquicas, de mão dada com a Igreja, lhe parasitam a alma, a modernidade e o futuro.
Nunca isso foi tão claro como é hoje, apesar dos burladeros. Porém Portugal não vê, distraído com espantalhos.

(1870)
"Ao meio-dia na cama,
Branca fidalga o que julga
Das pequenas da su'ama?!
Vivem minadas da pulga,
Negras do tempo e da lama.

Não é caso que a comova
Ver suas irmãs de leite,
Quer faça frio, quer chova,
Sem uma mamã que as deite
Na tepidez duma alcova?!" 
[Cânticos do Realismo, O livro de Cesário Verde, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lx, 2015]

Cieiro

Plácido o Sol que o solstício traz, plácidas as flores que devagar despontam, placidíssima a paisagem na encosta.
Agreste só a nortada que não cansa, e o cieirão que ela traz.

Gargantas

Mil vozes gorgeiam à Primavera. Mas cai a noite e só o rouxinol se ouve.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Pré-romance

Em 1944 a tísica era um terror e um tabu. A estreptomicina já existia na América, mas ainda não estava disponível para uso universal comum. O tratamento da tuberculose eram os bons ares, era o pneumotórax da Montanha Mágica. E é esse o calvário de João Pereira da Costa, em serviço militar nos Açores, depois que a doença lhe foi diagnosticada por um físico inglês. 
O casamento com uma penélope dedicada, que passou a vida à espera da cura do amado, teve entretanto lugar. E o João passou pelo Caramulo, uma estância criada pelo antigo modelo do sanatório Berghof, visitado por Hans Castorp. A penélope acabou por visitar o marido no Caramulo, onde engravidou. É daí que o neto provém.
Nuno Costa Santos é jornalista da Visão. E da meninice na Estefânia guarda lembranças do avô, sobrevivente da tísica, com a garrafa metálica de oxigénio ao lado. Ao longo da sua luta com a doença, o avô reunira vasta biblioteca. E foi dela que o neto acabou a alimentar-se culturalmente. E onde achou um dia um livro que o avô escrevera e ficou sem edição. Dele constava: "Se tiver um descendente que se interesse pela escrita, peço-lhe para ir a São Miguel e trazer no regresso um conjunto de histórias do presente da ilha. Mas não se fatigue demasiado. Que viva a vida que não consegui viver."
E o Costa Santos cumpriu o pedido, melhor incentivo não é fácil de encontrar. Conheci-o há dias, em sessão de apresentação na BMEL. E dou-me conta de que é um pré-romance. Há nele duas partes narrativas, que correm em paralelo: o relato que o avô deixou e a passagem do neto pelos Açores, onde reuniu histórias de São Miguel. 
Muito embora se trate dum romance que ainda não chega a sê-lo, o que parece é que o Costa Santos é dum barro que há-de lá chegar. Há ali um saber, uma cultura, um pensamento organizado, uma capacidade, uma linguagem. Diferentemente doutros casos consagrados pelo mercado que ainda andam à procura (como o Peixoto que apenas pede colo, o Hugo Mãe em busca dum discurso, o Tordo a ver se encontra uma realidade, o Tavares que demanda a justificação do Nobel prometido), o Costa Santos vai lá. Quando aprender que o discurso da literatura não é o da reportagem jornalística.

Fado novo

Sendo ou não a canção nacional, o fado é um produto cultural português por excelência, uma forma específica de expressão de alma. Caberá aos musicologistas definir como isso aconteceu, e porquê. Que atavismos lá estão dentro, ou que manias, ou quanto da saudade existe nele.
Hoje o fado está a mudar, e ainda bem, aqui temos um exemplo. Servido por um poema de luxo, de João Loio, pela voz rouca da fadista, liberto dos trinados marialvas e castiços que metem mulheres e toiros e severas com tabuinhas, respira renovação. Nem lá faltam os mitológicos lugares-comuns da História. 
É a voz portuguesa do real, da vida, do desejo ou da paixão, que os portugueses criaram. Não há mais ninguém no mundo que o pudesse ter criado, que o entenda, que o possa imitar sequer. Verdes de inveja, os calvinistas disfarçam.

domingo, 1 de maio de 2016

Créditos em mãos alheias

Viajo por estradas principais, e secundárias, e que não vêm no mapa. Urbanos ou rurais, oitenta por cento dos carros com que me cruzo são BMW's de trezentos cavalos, são Mercedes reluzentes, são Audi's enfeitados de argolinhas. Lá de horas em quando passa um Ford, dois Toyotas, três Seat's, quatro Renault's...
São assim, os condutores indígenas. Não alinham em genéricos, nem deixam créditos nas mãos do vizinho. E são mais requintados e exigentes quanto mais inadimplentes.
Há burgessos que ainda hoje sustentam que a pimenta... coisa e tal!

Ribeirinha

 Vê-la e ouvi-la passar, enquanto passa. Pintar-lhe imagens antigas, pensar-lhe mundos para além da margem, sentir-lhe emoções que não são novas... 
Para quê, se tudo está nela?!

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
[Excerto de Poemas (V) de Alberto Caeiro, Ed. Ática, Lisboa]